segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Guerreiros climáticos do Pacífico bloqueiam o maior porto de carvão do mundo

Guerreiros climáticos do Pacífico bloqueiam o maior porto de carvão do mundo



A intenção foi chamar a atenção para as consequências da mudança climática nesses países. A Austrália é o quarto maior produtor de carvão no mundo.


Por Lyndal Rowlands, da IPS Fonte: Envolverde


canoa Guerreiros climáticos bloqueiam o maior porto de carvão do mundo
Um ativista rema rumo a um navio no porto de carvão de Newcastle, na Austrália, para chamar a atenção sobre o impacto da mudança climática nas ilhas do Pacífico. Foto: Dean Sewell/Oculi para 350.org

Nações Unidas, 10/2014 – Trinta ativistas contra a mudança climática oriundos de 12 pequenos países insulares do Oceano Pacífico bloquearam com suas canoas, junto com centenas de australianos em caiaques e pranchas de surf, o maior porto de exportação de carvão do mundo, em Newcastle, na Austrália. Organizado com apoio do grupo ecologista 350.org, com sede nos Estados Unidos, o ato, realizado no dia 17, atrasou a saída de oito dos 12 navios que passaram pelo porto durante as nove horas de bloqueio.
A intenção foi chamar a atenção para as consequências da mudança climática nesses países. Os ativistas, que se autodenominam Guerreiros Climáticos do Pacífico, eram de 12 países insulares do Pacífico, incluindo Fiji, Tuvalu, Tokelau, Micronésia, Vanuatu, Ilhas Salomão, Tonga, Samoa, Papua Nova Guiné e Niue. “Queremos que a Austrália recorde que faz parte do Pacífico e que somos uma família, e ter esta família significa que permanecemos juntos. Não podemos permitir que um dos irmãos mais velhos destrua tudo”, declarou à IPS Mikaele Maiava, um dos ativistas.
A Austrália é o quarto maior produtor de carvão no mundo. “Assim, queremos que a comunidade australiana, especialmente os líderes da Austrália, pensem em algo mais além de seus bolsos… na humanidade, não apenas para o povo australiano, mas para todos”, acrescentou Mikaele, nascido em Tokelau.
Ao discursar na inauguração de uma mina de carvão no dia 13, o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, disse que “o carvão é bom para a humanidade”. Porém, Mikaele discorda. “Falamos de humanidade. A humanidade tem a ver com as pessoas perderem sua terra? Sua cultura e identidade? Tem a ver com viver com medo de que as futuras gerações já não possam viver em uma ilha bonita? Essa é a resposta para o futuro?”, questionou o ativista.
Mikaele afirmou que ele e seus companheiros estão conscientes de que sua luta não se limita ao Pacífico, e que a mudança climática também afeta outros países do Sul em desenvolvimento. “Estamos conscientes de que essa luta não é só pelo Pacífico. A mensagem que queremos passar, sobretudo aos governantes, é que somos seres humanos. Essa luta não se trata só de nossa terra, mas é pela sobrevivência”, ressaltou.
Mikaele contou como seu país já sofre as consequências da mudança climática: “Vemos mudanças nos padrões climáticos e também vemos a ameaça para nossa segurança alimentar. É difícil gerar um futuro sustentável se a terra já não é tão fértil e os cultivos não crescem devido à invasão da água salgada”.
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Mikaele Maiava, de Tokelau, com outros ativistas da Guerreiros Climáticos do Pacífico no porto de carvão de Newcastle, na Austrália. Foto: Dean Sewell/Oculi para 350.org

A costa de Tokelau sofre erosão. “A linha costeira está mudando. Há 15 anos, quando ia para a escola, podia caminhar em linha reta. Agora tenho que andar por uma linha torcida porque a praia sofreu a erosão”, contou Mikaele. Tokelau se converteu no primeiro país do mundo a utilizar 100% de energia renovável quando adotou a energia solar em 2012 para abastecer sua população, de aproximadamente 1.400 pessoas.
Mikaele e seus companheiros ativistas construíram com as próprias mãos as canoas que trouxeram para a Austrália para o protesto, o meio tradicional de transporte e pesca em seus países. Outra “guerreira” climática, Kathy Jetnil-Kijiner, das Ilhas Marshall, fez chorar o público presente na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro, ao ler um poema escrito por sua pequena filha, Matafele Peinam.
“Ninguém se mudará, ninguém perderá sua terra natal, ninguém se converterá em um refugiado da mudança climática. Ou deveria dizer ninguém mais. Aos ilhéus de Carteret, em Papua Nova Guiné, e aos de Taro, em Fiji, aproveito este momento para pedir-lhes desculpas”, afirmou Jetnil-Kijiner, se referindo aos que são considerados os primeiros refugiados climáticos do mundo.
O Fórum das Ilhas do Pacífico qualificou a mudança climática como “maior ameaça para os meios de vida, a segurança e o bem-estar dos povos” da região. Segundo Jetnil-Kijiner, “a mudança climática é uma ameaça imediata e grave para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza em muitos países insulares do Pacífico, e para a própria sobrevivência de alguns”.
“Entretanto, esses países estão entre os menos capazes de se adaptar e responder a esta mudança, e as consequências que enfrentam são desproporcionais em relação à sua minúscula contribuição coletiva para as emissões mundiais” dos gases-estufa, ressaltou Jetnil-Kijiner. As autoridades das ilhas do Pacífico redobraram suas cobranças e desafiaram o governo australiano a não demorar mais na adoção de medidas contra a mudança climática.
“A Austrália é um país do Pacífico. Ao optar por desmantelar suas políticas climáticas, se retirar das negociações internacionais e seguir adiante com a expansão de sua indústria de combustíveis fósseis está totalmente em desacordo com o resto da região”, afirmou Simon Bradshaw, da organização Oxfam. “Os vizinhos mais próximos da Austrália identificam sistematicamente a mudança climática como seu maior desafio e prioridade absoluta. Portanto, é inevitável que as ações recentes de Canberra repercutam em sua relação com as ilhas do Pacífico”, acrescentou.
“Uma pesquisa recente encomendada pela Oxfam mostra que 60% dos australianos acreditam que a mudança climática tem consequências negativas na capacidade da população dos países mais pobres para cultivar alimentos e ter acesso a eles, chegando a 68% entre a faixa etária de 18 aos 34 anos”, destacou Bradshaw.




Postado por Daniela Kussama

Crise hídrica em SP é resultado de anos sem planejamento

Crise hídrica em SP é resultado de anos sem planejamento

Uma crise hídrica da gravidade dessa enfrentada por São Paulo é reflexo de anos de falta de planejamento, e não apenas de um ano com escassez de chuvas. O país cuida pouco de seus mananciais, de seu potencial hídrico. Mas um lugar como São Paulo tem que ter visão de longo prazo, deve se preparar para anos com secas extensas e outros com muita chuva. Os especialistas tem alertado para esse clima de extremos.
Qualquer administrador público precisa ouvir seus especialistas de cada área para se preparar para os cenários. A situação hidrológica em São Paulo veio se deteriorando enquanto o governo do estado negava estar fazendo racionamento, mesmo com o noticiário repleto de casos de falta d´água na casa das pessoas.
Se daqui há muitos anos alguém analisar os índices de inflação de 2014 vai pensar que São Paulo vivia com fartura de água. Isso porque o governo do estado baixou a tarifa para quem diminuiu o consumo. Mas não fez a outra parte, a punição a quem consumiu mais. O resultado é que, por escolha do governo, um produto escasso ficou mais barato.
Ouça aqui o comentário feito na CBN. 

domingo, 2 de novembro de 2014

Os segredos das cidades inteligentes

Os segredos das cidades inteligentes

Prefeituras de várias partes do mundo ganham destaque por terem dado saltos de qualidade na gestão pública. Há exemplos de México, Colômbia, Coreia do Sul e Malásia - mas nenhum do Brasil

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Verena Fornetti
Exame - 08/2014
Wikimedia Commons

Nem todo mundo se deu conta. Mas um marco foi ultrapassado em 2008: a partir dessa data, pela primeira vez, mais de metade da população mundial passou a viver em cidades. Não surpreende, portanto, que o tema urbano ocupe atualmente o topo da agenda global.Especialistas do mundo inteiro discutem como resolver os problemas de nossas cidades - e parece consenso que isso somente será possível com um salto de qualidade na administração pública.

"As pessoas e as empresas estão vivendo a era da informação, mas o governo ainda não. A última reestruturação na administração pública aconteceu na era da TV em preto e branco", disse recentemente o presidente americano, Barack Obama - uma mensagem semelhante à emitida pelas multidões que saíram às ruas no Brasil no ano passado.

Obama não tem lá muita moral para falar sobre gestão pública - não há notícia de grandes avanços em seu governo. Mas é nas próprias cidades que as inovações mais interessantes parecem estar ocorrendo. A Bloomberg Philanthropies, órgão criado pelo bilionário Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, e a Fundação Nacional para a Ciência, Tecnologia e Artes, organização britânica independente, elegeram as 20 equipes de servidores públicos municipais consideradas referência em inovação governamental. 

Os grupos trabalham em cidades espalhadas geograficamente e também com diferentes estágios de desenvolvimento. Estão lá lugares como Nova York, Cidade do México, Bogotá, Estocolmo, Barcelona, Seul e Singapura (entre as 20 não há nenhuma cidade brasileira). "Há muito tempo se discute inovação no setor privado, mas só recentemente os governos começaram a criar equipes dedicadas a isso", diz Ruth Puttick, pesquisadora-chefe da Fundação Nacional para a Ciência, Tecnologia e Artes.

Um dos pontos fortes do ranking é não alimentar a ilusão de que a tecnologia por si só vá resolver os problemas da gestão pública. Para entrar na lista era preciso ter definição clara de objetivos, profissionais preparados, parcerias com o setor privado, transparência e controle de resultados (algo raro por aqui).

Em Singapura foi formada uma equipe de elite de servidores que tinha como uma das metas diminuir a pressão sobre o sistema público de saúde. Depois de analisar os dados sobre internações mantidos por todos os hospitais, o grupo identificou 400 pacientes com histórico de três ou mais internações nos seis meses anteriores e destacou médicos e enfermeiros para tratar dessas pessoas em domicílio. Nos seis meses seguintes, esses pacientes foram hospitalizados, em média, apenas uma vez. Com isso, 9 mil diárias em hospitais foram poupadas. "Estamos combinando vontade política com tecnologia e gestão pública", diz Steve Leonard, vice-presidente da Autoridade de Desenvolvimento de Singapura, órgão do governo local.

Em Barcelona, um escritório da prefeitura escolhe companhias para testar projetos inovadores em espaços públicos. Até agora, 12 empresas implementaram dez ideias numa antiga área industrial. Quatro dos projetos envolvem a instalação de sensores. Eles foram acoplados a lixeiras, postes de iluminação pública, semáforos e vagas de estacionamento. As lixeiras "avisam" a prefeitura quando os resíduos ocupam 70% da capacidade e, assim, reduzem a frequência da coleta.

Os postes medem a umidade, a temperatura, a qualidade do ar e a poluição sonora. Os semáforos coletam informações sobre o trânsito e permitem que a prefeitura tome decisões mais rápidas para gerenciar problemas. Os sensores em vagas de estacionamento monitoram os lugares disponíveis e avisam os motoristas quais são as ruas onde é mais fácil estacionar. Por causa do custo dessas soluções, a maior parte delas fica mesmo restrita a essa região da cidade, que agora é conhecida como o distrito da inovação.

Santander, também na Espanha, não entrou no ranking das 20 cidades escolhidas, mas se inspirou no exemplo de Barcelona. Com a ajuda de um financiamento da União Europeia, a prefeitura instalou 12 mil sensores em diversos locais. Graças a esses aparelhos, é possível regular a intensidade da luminosidade nos postes de luz em razão do movimento de pessoas e carros. O mesmo projeto deve ser replicado em Belgrado, na Sérvia, e Lübeck, na Alemanha.

A HORA DA VIRADA
No recém-lançado The Fourth Revolution: The Global Race to Reinvent the State ("A Quarta Revolução: a corrida global para reinventar o Estado", numa tradução livre), John Micklethwait, editor-chefe da revista inglesa The Economist, e Adrian Wooldridge, um colunista da revista, defendem que a conjuntura política é favorável a mudanças como essas. "As pessoas estão menos tolerantes com o abismo que se formou entre a eficiência do setor público e a do privado", diz Micklethwait.

Enquanto a produtividade das empresas no Reino Unido cresceu 14% de 1999 a 2010, a do setor público caiu 1%. Nos últimos anos, muitos países se viram obrigados a cortar gastos, o que aumentou o escrutínio sobre como o dinheiro é empregado.

Nas próximas décadas, a pressão deve aumentar sobre os prefeitos. Segundo as Nações Unidas, em dez anos o mundo ganhará 100 municípios com 1 milhão de habitantes. Até 2050, 60% da população mundial viverá nas cidades. A boa notícia é que as prefeituras vão se beneficiar dos avanços tecnológicos, como mostra o exemplo de Barcelona. "A administração pública e as cidades serão cada vez mais afetadas pela tendência de digitalização", diz Carlos Ratti, diretor do laboratório Senseable City, dedicado aos estudos urbanos no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

A eletricidade levou 50 anos para chegar a metade dos lares americanos. O telefone, sete décadas. A internet conseguiu esse feito em uma década e hoje também está nas ruas por meio dos celulares. Com tanta novidade a caminho, seria um enorme erro não preparar o funcionalismo para esse novo mundo. As inovações, afinal, exigirão uma capacidade de gestão muito maior.

Não custa lembrar: a outra metade da população mundial está ávida para migrar para as cidades.

HIGH TECH E ESTATAL
Confira no infográfico 
como as inovações tecnológicas conseguiram reduzir custos e aumentar a eficiência dos serviços prestados por várias cidades como Singapura e Barcelona.

Na BR-101, MPF faz campanha sobre uso da água

MPF/Campos quer promover mudança na forma de ver e tratar os recursos hídricos

Na BR-101, MPF faz campanha sobre uso da água

quarta-feira, 29 de outubro de 2014   -      Foto: Filipe Lemos / Campos 24 Horas
MPF água 1MPF água 2O Ministério Público Federal (MPF) , lançou na manhã desta quarta-feira(29), em Campos, a campanha nacional “No Fluxo da Vida, Cada Gota Conta”, em defesa do Rio Paraíba do Sul. A cidade  foi escolhida por causa da influência do Rio Paraíba do Sul na vida dos moradores. O lançamento, que terá a presença de mais de cem alunos entre 6 e 12 anos de idade, pais, professores e representantes da sociedade civil e poder público, ocorrerá na Escola Municipal Pequeno Jornaleiro, no Centro de Campos.
No início da tarde, com apoio da Polícia Rodoviária Federal(PRF), a ação seguiu para a BR-101, diante do Shopping Estrada, onde veículos foram abordados e motoristas e receberam panfletos com informações sobre a campanha.
Posteriormente, panfletos  foram distribuídos a motoristas que passavam em frente à sede do MPF, na Avenida José Alves Azevedo(Beira-Valão).
O procurador da república, Eduardo Santos Oliveira, afirmou que o objetivo da campanha é mudar a crença da sociedade de que a água é um bem renovável e todas as crises são momentâneas.MPF água 3

sábado, 1 de novembro de 2014


Reprodução da Folha de S. Paulo
Reprodução da Folha de S. Paulo


Vejam vocês só faltava essa. Beneficiar os condenados por desvio de dinheiro público com prazo de 15 anos para pagar o que devem, com juros e multas mais camaradas. A Presidente Dilma no entanto já mandou avisar que vai vetar essa "esperteza", que beneficiaria o ex-senador Luiz Estevão, mas também muitos outros condenados por desvio de dinheiro público. 


FONTE BLOG DO GAROTINHO

Campanha em defesa do Rio Paraíba lançada em escola municipal

Campanha em defesa do Rio Paraíba lançada em escola municipal

A Escola Municipal Pequeno Jornaleiro, no Centro, foi palco para o lançamento da campanha nacional “No fluxo da vida, cada gota conta”, do Ministério Público Federal (MPF) de Campos, em defesa do Rio Paraíba do Sul, nesta quarta-feira (29). Além de um panorama sobre a situação crítica do Rio, a campanha envolveu mais de 100 alunos para a multiplicação das ações de preservação do meio ambiente.

A iniciativa será lançada em escolas também das capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo, podendo chegar a vários municípios da região. O procurador da República, Eduardo Oliveira, idealizador da campanha, expôs alguns dados nacionais que já revelam a carência de água, como necessidade de algumas prefeituras investirem em carros-pipas para abastecimento à comunidade.

Alunos do primeiro e do segundo segmentos participaram da abertura da campanha na escola, além de pais e professores. “Em ciências exatas, menos com menos dá mais. Vamos colocar menos desperdício e menos poluição, dando mais vida”, sintetiza o diretor da unidade, Roberto Zofolli.

A aluna do 3º ano, Yasmin Porto de Carvalho, 9 anos, participou do ato simbólico, entregando a arca, com uma gota d’água presa ao cadeado, nas mãos da avó, a aposentada Maria Madalena Carvalho. A encenação retrata a responsabilidade que os adultos devem ter pela preservação da vida de seus descendentes.
— Estou ciente da minha responsabilidade e sempre economizei água na minha casa. Muito antes da situação ficar alarmante desse jeito, reutilizo a água da roupa nas calçadas — cita a avó da menina, acrescentando que é essa educação que tenta passar para as crianças.

A campanha apela também para a consciência de responsabilidade dos adultos com as gerações futuras, já que a preservação da água garante a vida da humanidade. Estiveram presentes representantes das Secretarias Municipais de Meio Ambiente e de Educação, Cultura e Esportes (Smece); do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Por: Nagyla Corrêa - Foto: divulgação -  10/2014

Tudo é água

Tudo é água

Com os reservatórios em seus patamares historicamente mais baixos, o Brasil começa a conviver com a assustadora sombra da escassez do líquido insubstituível, sem o qual não há vida e a economia para

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Raquel Beer, Jennifer Ann Thomas e Gabriel Neri
Veja.com - 10/2014
Jonne Roriz/VEJA

Brasil tem a maior reserva de água doce do planeta. Concentram-se aqui 12% de todos os recursos hídricos globais. O que explica, então, a crise de abastecimento pela qual passa o Estado de São Paulo, o mais populoso e rico do país?

seca histórica que atinge o Sudeste há dois anos, a maior dos últimos 84 anos, efeito contínuo de uma massa de ar quente que estacionou na região, justifica parte do problema. Mas não é prudente atribuir o baixo nível de água apenas às mudanças climáticas pelas quais passa a Terra, e que fazem proliferar climas extremos.

O Brasil é exemplo de descaso na administração de seus recursos hídricos. Em todo o país, desperdi­çam-se 40% da água captada, que vaza por encanamentos precários, de manutenção quase inexistente. Em São Paulo, a perda é de 31,2%. É falha que poderia ser corrigida com melhorias anunciadas desde 2004, quando o estado passou por crise similar.

Muito pouco foi feito. Sem o desperdício, haveria água de sobra. O descaso, porém, não é exclusividade brasileira. Países como China e Índia descuidam de suas reservas, usando-as sem critério. Com isso, o planeta vê dezenas de trilhões de litros indo pelo ralo.

É assustador observar como tratamos o elemento essencial à vida, limitado e insubstituível. Se gastarmos todos os combustíveis fósseis que existem, teremos outras fontes energéticas, como a solar e a eólica. Vivemos dezenas de milhares de anos sem combustíveis fósseis. Sobrevivemos, e sobreviveríamos sem eles. Mas, se dermos cabo dos estoques de água, não haverá alternativa. Água é tudo.

Estima-se o valor do atual mercado global de água doce em 425 bilhões de dólares. Se o estoque um dia acabar, o que é muito improvável, ou for seriamente comprometido, o que é possível, entrará em risco a sobrevivência da humanidade. Tomem-se os atuais exemplos de São Paulo e Minas Gerais para entender que danos, ainda plenamente administráveis, a falta d’água pode provocar.

Na capital paulista, pesquisa Datafolha divulgada recentemente revelou que 60% dos moradores ficaram sem água nos últimos trinta dias. No interior, o cenário se agrava. Alguns municípios, a exemplo de Cristais Paulista, multam quem desperdiça água. Em Itu, há protestos de rua, e caminhões-pipa precisam de escolta para não ser atacados. Ao prejudicar a economia e o abastecimento, a seca dá início a perigosos conflitos.

Desde 1990, a disputa por água foi motivo de 2 200 conflitos diplomáticos, econômicos ou militares pelo planeta. A tensão deve se intensificar. A ONU calcula que faltará água limpa para 47% da população global até 2030. Diz o urbanista americanoMichael Klare, autor do livro The Race for What’s Left (em inglês, A Corrida pelo que Sobrou), sobre disputas por recursos naturais: "A água virou o novo combustível fóssil, causa de batalhas ferrenhas. Guerras que aumentarão em número e dimensão, já que a demanda cresce, enquanto a oferta diminui".

A resposta para a crise hídrica parece simples: temos de consumir menos e diminuir drasticamente o desperdício. Mas são atitudes difíceis de ser implantadas, já que dependem de uma mudança radical de costumes. A demanda de água per capita nos Estados Unidos ultrapassa os 500 litros, dez vezes o recomendado pela ONU. Enquanto isso, áreas pobres quase não têm acesso ao recurso. Moçambique é dono de um dos piores cenários, onde há apenas 4 litros de água limpa por morador.

Para controlar o gasto, todo cidadão precisa rever seus hábitos cotidianos, como deixar a torneira aberta enquanto escova os dentes ou tomar longos banhos. Mas soa injusto cobrar exclusivamente uma nova postura individual. São essenciais também políticas públicas que repreendam o desperdício.

A Califórnia é exemplo mundial nesse aspecto. São Paulo vê secar seu principal reservatório, o da Cantareira, cujo nível está em 3%. Seu primeiro estoque de volume morto, cota que repousa no fundo das represas, abaixo do túnel que costuma drenar a água, e, por isso, mais suja que o usual, deve desaparecer no próximo mês.

A segunda parcela segurará o abastecimento por poucos meses. Enquanto isso, o governo promete entregar obras que aumentarão a captação de água, e já se cogitou importar recursos hídricos de outros estados. São apenas paliativos, que em nada ajudarão a longo prazo se o desperdício não for controlado. Para o Brasil e para o mundo, a crise da água serve como alerta. Se não cuidarmos dos escassos recursos que temos, desenharemos um futuro cada vez mais árido.

Cantareira chega a 3% e bônus para economizar água começa a valer

"Cantareira chega a 3% e bônus para economizar água começa a valer

Agência Brasil

Começa a vigorar hoje (23), em São Paulo, a ampliação do desconto na conta dos consumidores que economizarem água. O bônus foi aprovado ontem (22) pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp).

Com o novo programa de descontos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), as residências que reduzirem entre 10% e 15% no consumo terão desconto de 10% na conta. As reduções entre 15% e 20%, receberão descontos de 20%. Já as que conseguirem reduzir em 20% ou mais permanecem com o desconto de 30%. O cálculo é feito sobre a média de consumo de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Metade das florestas tropicais do planeta já desapareceram

Metade das florestas tropicais do planeta já desapareceram, diz estudo

State of the Rainforest 2014, relatório divulgado na Noruega, alerta para a crescente degradação dos ecossistemas nos trópicos. Além da perda da biodiversidade, a destruição da floresta é responsável pela emissão de milhares de toneladas de CO2 na atmosfera

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Scott Kuo/Creative Commons

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A humanidade conquistou um progresso impressionante nas últimas gerações: as pessoas vivem mais, menos crianças morrem, a extrema pobreza está dimuindo e o ensino e a educação estão pouco a pouco, se tornando direitos universais.

Todavia, na área ambiental, não há motivo para celebração. Estamos emitindo cada vez mais gases de efeito estufa e com isso o planeta está mais e mais quente. O resultado direto deste comportamento é a perda irreparável de espécies da fauna e da flora e da degradação de diversos biomas.

O texto acima está no prefácio do relatório State of the Rainforest 2014, divulgado agora em setembro, na Noruega. Esta é a terceira edição do documento, publicado pela Rainforest Foundation Norway, e que utiliza informações de organizações e comunidades locais do mundo todo para analisar as condições das florestas tropicais do planeta.

O relatório norueguês aponta, entretanto, divergências entre os números calculados por suas duas principais fontes, que utilizaram diferentes metodologias e tecnologias: o Global Forest Resources Assessment, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), de 2010, e o levantamento da Universidade de Maryland, de 2013. De acordo com o primeiro, 130 mil km2 de florestas são perdidas por ano no planeta, a maior parte delas nos trópicos. Já a universidade americana afirma que seriam 92 mil km2.

Mesmo não havendo consenso sobre o número exato, ambas instituições concordam que a destruição atingiu um nível alarmante. Segundo os pesquisadores de Maryland, somente 1,1 milhão de km2 desapareceu entre os anos de 2000 e 2012. Para efeito de comparação, seria o mesmo que três Noruegas tivessem simplesmente sumido do mapa.

Apesar de ocuparem apenas 6% da superfície terrrestre, em regiões equatoriais da América, África, Sudeste da Ásia e Oceania, as florestas tropicais têm papel importantíssimo para a regulação do clima, o equilíbrio ambiental de biomas e a sobrevivência de muitas comunidades. Mas a crescente destruição destas áreas continua, apesar do tema ter se tornado foco principal em várias discussões e encontros globais, e da ciência já ter provado a importância destes ecossistemas para a mitigação do aquecimento global.

No passado, as florestas tropicais cobriram cerca de 18 milhões de km2 da superfície terrestre. Atualmente, esta extensão foi reduzida à metade. Estes biomas são como um termômetro da saúde do planeta.

Estima-se que mais de 50% das plantas e animais terrestres vivam nestas regiões, ou seja, quase 1 milhão de espécies identificadas que têm as florestas tropicais comohabitat. Mas os cientistas acreditam que este número possa chegar a 5 ou 10 milhões -só na Amazônia foram descobertos 441 novos animais e plantas desde 2010. "É a biblioteca biológica da Terra. A maior parte da informação dela ainda nem é conhecida pela ciência", afirmou Dag Hareide, diretor executivo da Rainforest Foundation Norway. "Estamos queimando esta biblioteca".

Além da perda de biodiversidade, as florestas contêm uma quantidade enorme decarbono armazenada. A destruição delas gera emissões de CO2 iguais àquelas provocadas por todos os automóveis do mundo.

O relatório europeu afirma ainda que, a maior parte das perdas das florestas tropicais ocorreu nos últimos 50 e 60 anos. O Brasil recebeu elogios, por ter sido o único areduzir o desmatamento de forma significativa globalmente. Nosso país e a Indonésia têm as duas maiores áreas de florestas tropicais do planeta, mas também aparecem entre os principais emissores de gases de efeito estufa no mundo.

Fazem parte do State of the Rainforest 2014 artigos de especialistas internacionais, entre eles, um assinado pelo engenheiro florestal brasileiro Tasso de Azevedo, curador doBlog do Clima, aqui no site Planeta Sustentável. "Herói florestal, mas ainda campeão em desmatamento" é o título do texto de Azevedo, que afirma que a atual redução na taxa de destruição das florestas brasileiras se deve, entre outros fatores, ao retrocesso provocado pela aprovação do novo Código Florestal. Segundo ele, há necessidade de demarcar mais áreas e reservas de proteção ambiental e incrementar políticas inovadoras, como foi feito no início dos anos 2000.

Por fim, o documento internacional enfatiza a urgência na redução dos indíces de desmatamento. Entre as ações sugeridas estão fazer da proteção florestal uma das prioridades dos novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem estabelecidos pelas Nações Unidas, em 2015, e proporcionar recompensas e estímulos reais aos países com florestas tropicais que investirem na proteção destes ecossistemas.