terça-feira, 7 de abril de 2015

Por que o Brasil é um mercado fértil para agrotóxicos proibidos

Por que o Brasil é um mercado fértil para agrotóxicos proibidos

Brasil tornou-se o maior importador de agrotóxicos do mundo em 2012.
Desde 2007, número de intoxicações por agrotóxicos mais que dobrou.

Da Reuters
Funcionário aplica agrotóxico em pequena fazenda em Limoeiro do Norte, no Ceará em 16 de janeiro  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Funcionário aplica agrotóxico em pequena fazenda em Limoeiro do Norte, no Ceará em 16 de janeiro (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
Os fazendeiros do Brasil se tornaram os maiores exportadores mundiais de açúcar, suco de laranja, café, carnes e soja. Também conseguiram uma distinção nada boa: em 2012, o Brasil superou os Estados Unidos como maior importador de agrotóxicos do globo.
Pelo menos quatro grandes fabricantes de defensivos agrícolas –a norte-americana FMC Corp, a dinamarquesa Cheminova A/S, a alemã Helm AG e a gigante suíça do agronegócio Syngenta AG– vendem em solo brasileiro produtos banidos em seus mercados domésticos, conforme revelou uma análise de agrotóxicos registrados realizada pela Reuters.Esse rápido crescimento fez do Brasil um mercado atraente para agrotóxicos proibidos ou que tiveram a produção suspensa em países mais ricos por riscos à saúde e ao meio ambiente.
Entre as substâncias amplamente vendidas no Brasil estão a paraquat, que é rotulada como "altamente tóxica" por órgãos reguladores dos EUA. Tanto a Syngenta como a Helm estão autorizadas a vender o produto no mercado brasileiro.
As próprias agências reguladoras do Brasil alertam que o governo não foi capaz de garantir o uso seguro de agrotóxicos, como são conhecidos os herbicidas, inseticidas e fungicidas. Em 2013, um avião pulverizador lançou inseticida sobre uma escola em Goiás. O incidente, que causou vômitos e tontura em alunos e professores e levou mais de 30 pessoas ao hospital, ainda está sendo investigado.
Homem trabalha em fazenda de milho em Limoeiro do Norte, no Ceará  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Homem trabalha em fazenda de milho em Limoeiro do Norte, no Ceará (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
“Não conseguimos acompanhar...”, admite Ana Maria Vekic, chefe de toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão federal encarregado de avaliar os riscos dos agrotóxicos à saúde. “Não temos o pessoal ou os recursos para o volume e a variedade de produtos que os fazendeiros querem usar.”
FMC, Cheminova e Syngenta afirmaram que os produtos que comercializam são seguros se usados adequadamente. A proibição em um país não significa necessariamente que um agrotóxico deveria ser proibido em toda parte, argumentam, porque cada mercado tem necessidades diferentes para suas várias colheitas, pestes, doenças e climas. A Helm, sediada em Hamburgo, não respondeu aos pedidos de comentário.
“Não dá para comparar um país temperado”, explica Eduardo Daher, diretor-executido da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). “Temos mais pragas, mais insetos e mais safras.”
Especialistas em saúde pública rejeitam a justificativa. “Não importa se as safras e os solos no Brasil são diferentes...”, afirma Victor Pelaez, engenheiro de alimentos e economista da Universidade Federal do Paraná. “As pessoas, a saúde do ser humano, são iguais no mundo todo. Veneno em um lugar é veneno em todos, no Brasil também.”
Violação disseminada
Mulher trabalha com bananas na fazenda da Tropical Nordeste S.A  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Mulher trabalha com bananas na fazenda da Tropical Nordeste S.A (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
Avaliações das agências reguladoras mostram que grande parte dos alimentos cultivados e vendidos no Brasil viola as regulamentações nacionais.
No ano passado, a Anvisa finalizou sua análise mais recente de resíduos de agrotóxicos em alimentos de todo o país. De 1.665 amostras coletadas, de arroz a cenoura e maçãs a pimentões, entre outros produtos, 29% apresentavam resíduos que excediam os níveis permitidos ou continham agrotóxicos sem aprovação.
Desde 2007, quando o Ministério da Saúde do Brasil começou a manter uma série de registros mais recentes, o número de casos relatados de intoxicação humana causada por agrotóxicos mais que dobrou – de 2.178 naquele ano passou para 4.537 em 2013. O número anual de mortes ligadas ao envenenamento por esses produtos subiu de 132 para 206.
Especialistas em saúde pública dizem que as cifras reais são maiores, porque o acompanhamento continua sendo incompleto.
As pressões ficam claras em Limoeiro do Norte, município que fica a 197 km de Fortaleza (CE). O Estado era tudo menos um exemplo de fartura, mas a partir dos anos 1990 o Brasil criou um sistema de canais de irrigação na área e o plantio floresceu. E com ele o uso de agrotóxicos.
Em novembro, um tribunal federal manteve um veredicto que força a Fresh Del Monte Produce Inc., gigante global do mercado de frutas, a indenizar a viúva de um trabalhador que sofreu falência dos rins depois de manusear agrotóxicos regularmente. Em Limoeiro do Norte, um tribunal estadual está analisando as acusações contra um latifundiário acusado pela polícia de encomendar a morte de um ativista contrário ao uso de agrotóxicos.
 Faixa contra agrotóxicos foi colocada em Limoeiro do Norte, no Ceará  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Faixa contra agrotóxicos foi colocada em Limoeiro do Norte, no Ceará (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
“A região virou um grande laboratório para o pior da agricultura industrializada”, disse Raquel Rigotto, médica e socióloga da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza. Raquel sustenta que sua equipe de pesquisa encontrou indícios de muitos agrotóxicos na água que sai de torneiras da região e uma taxa maior de mortes ali, ocasionadas por câncer, do que em cidades próximas com pouco plantio.
O mundo tem usufruído muito do boom de cultivo de alimentos no Brasil. A população deve crescer quase 30 por cento ao longo das próximas três décadas, o que representa outros 2 bilhões de bocas para alimentar.
O crescente setor agrícola do Brasil será uma fonte crucial na alimentação. Mas em razão de sua luz solar equatorial, do clima e das plantações que vicejam o ano todo, o Brasil também é um terreno fértil para insetos, fungos e ervas daninhas – e os agricultores aplicam cada vez mais agrotóxicos para mantê-los sob controle.
Lobby poderoso
Em 2013, o último ano com números disponíveis, os produtores brasileiros compraram o equivalente a 10 bilhões de dólares, ou 20% do mercado global desses produtos. Desde 2008, a demanda do país aumentou 11% por ano, mais do que o dobro da média mundial.
Um fator que vem impedindo salvaguardas mais rígidas para os agrotóxicos é o lobby cada vez mais poderoso do setor agrícola do Brasil.
Na eleições do ano passado, o agronegócio só ficou atrás das empreiteiras nas doações de campanha para a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
O apoio da presidente aos grandes projetos de infraestrutura e às fazendas industrializadas vêm revoltando os ambientalistas. As empresas de agricultura e alimentos do país representaram cerca de um quarto do dinheiro que ela recebeu dos grandes doadores, ou 89,5 milhões de reais, de acordo com registros eleitorais. Esta cifra baseia-se em uma análise das 118 maiores doações para a campanha de Dilma, o equivalente a 1 milhão de reais ou mais de cada doador.
No Congresso, quase metade dos 594 parlamentares tem identificação com a chamada “bancada ruralista”, grupo que aliviou as leis que proíbem plantações geneticamente modificadas e diminuiu os limites de desmate na Floresta Amazônica e em outras áreas florestadas. Propuseram, ainda, leis para deixar a regulamentação dos agrotóxicos a cargo de uma única agência, em vez das leis atuais que dão poder a Anvisa e as pastas de Agricultura e Meio Ambiente.
Reserva para sistema de irrigação de fazendas em Limoeiro do Norte, no Ceará  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Reserva para sistema de irrigação de fazendas em Limoeiro do Norte, no Ceará (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
A assessoria de imprensa da Presidência da República não se pronunciou e sugeriu o Ministério da Agricultura. Por meio de uma nota, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Décio Coutinho, afirmou que os agrotóxicos são regidos pelas "leis ambientais mais rígidas do planeta".
"O uso de agrotóxicos no Brasil obedece a normas e leis rigorosas que são cumpridas por grupos de técnicos, cientistas e funcionários públicos qualificados", afirma,
Segundo Coutinho, esses grupos contam com total confiança da comunidade científica nacional e internacional e dos consumidores brasileiros e estrangeiros.
O secretário afirmou ainda que a relação entre o agronegócio e o governo, incluindo doações de campanha, é "ética e transparente". E acrescentou que é um erro tentar insinuar, "sem qualquer indício ou fato", que a administração pública do país seja submetida a influências. "Ou que o peso desta ou daquela bancada estaria limitando a aplicação das leis e o cumprimento das normas", afirmou.
"A propósito: as bancadas são definidas pelo voto livre e soberano dos eleitores e sobre isso cumpre respeitar o direito constitucional do povo brasileiro", acrescentou.
A influência da indústria e os orçamentos apertados das agências reguladoras limitam a capacidade brasileira para aplicar a regulamentação dos defensivos agrícolas.
'Fazendeiros adoram'
Tome-se como exemplo o tempo que a Anvisa leva para avaliar um defensivo agrícola que um fabricante pretende vender no Brasil. Por lei, a agência deve analisar um novo produto químico em no máximo 120 dias, mas a Anvisa pode levar anos. Com uma equipe de menos de 50 cientistas, comparados com as centenas de agências comparáveis dos EUA e da Europa, atualmente o organismo tem mais de mil agentes químicos aguardando verificação.
Também pode levar anos para a entidade tirar produtos químicos perigosos do mercado.
Um esforço para reavaliar 14 agrotóxicos controversos usados no Brasil, a maior parte deles proibida em outras nações, está em seu sétimo ano, atrasado por ações civis de fabricantes e pela oposição de muitos legisladores. “Todo dia tem uma coisa para responder. Se não tem processo, tem audiência pública”, afirmou Ana Maria Vekic, da Anvisa.
Até agora, a reavaliação levou a proibições de quatro agrotóxicos somente. Em dezembro, a Anvisa declarou que iria proibir a parationa metílica, banida nos EUA e na Europa, mas a agência brasileira ainda não explicou quando ou como irá agir.
Como resultado, a dinamarquesa Cheminova, que vende a substância, “não mudou seus planos em relação aos negócios com este produto”, segundo o porta-voz Lars-Erik Pedersen, que acrescentou que a procura atualmente é alta por causa da peste de bicudo-do-algodoeiro no algodão. “Os fazendeiros o adoram”, afirma.
Agricultores e empresas produtoras de agrotóxicos alegam que os atrasos da Anvisa obrigam os produtores a continuar a usar agentes químicos mais antigos e potencialmente mais nocivos, porque agrotóxicos mais seguros e eficazes estão aguardando aprovação.
“Estamos colocando lá produtos novos, mas há um gargalo para poder chegar no mercado”, disse Antonio Zem, presidente da unidade latino-americana da FMC, a fabricante norte-americana do inseticida Furadan. O produto é baseado no carbofurano, um composto a respeito do qual a Agência de Proteção Ambiental dos EUA concluiu em 2008 que “os perigos para a dieta, para o trabalhador e para o meio ambiente são inaceitáveis para todos os usos”.
A FMC afirma que vem tentando limitar as vendas do poderoso produto químico para grandes fazendas e para setores onde sua aplicação pode ser realizada sobretudo por máquinas, como o de cana-de-açúcar.
Morte de trabalhador
O Furadan é um de muitos agrotóxicos usados em fazendas ao longo da Chapada do Apodi, região fértil no leste do Ceará. Ali, graças a 40 quilômetros de canais repletos de água bombeada do rio Jaguaribe, mais de 4.500 pessoas trabalham em campos de 324 propriedades.
As fazendas criaram empregos e levaram alguma prosperidade à região outrora pobre. A cidade de Limoeiro do Norte já foi conhecida como “a terra das bicicletas” porque os moradores não podiam comprar carros. Hoje ela vibra sob o tráfego pesado das caminhonetes e dos utilitários esportivos.
Mas pouco mais foi feito em termos de infraestrutura pública depois dos canais. Como resultado, muitos dos moradores da região obtêm água dos mesmos canais a céu aberto que irrigam as fazendas.
 Morador coleta água de um canal de irrigação usado para abastecer fazendas em Limoeiro do Norte, no Ceará  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Morador coleta água de um canal de irrigação usado para abastecer fazendas em Limoeiro do Norte, no Ceará (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
Os problemas no planalto emergiram ainda em 2008. Funcionários e vizinhos das fazendas começaram a se queixar a autoridades da igreja local e a sindicatos de trabalhadores dizendo ter coceira depois de tomar banho, e que seus animais de fazenda estavam ficando doentes.
Em julho daquele ano, Vanderlei Matos da Silva, empregado de 31 anos da Fresh Del Monte, relatou dores de cabeça, febre, inchaço na barriga e olhos amarelados. Nos três anos anteriores ele trabalhou para a empresa armazenando um agrotóxico em um depósito da plantação de abacaxi.
O emprego, de acordo com documentos e depoimentos de colegas apresentados a um Tribunal Federal do Trabalho, incluía misturar produtos químicos e preparar os borrifadores dos trabalhadores que os aplicavam. Vanderlei também limpava o depósito e muitas vezes armazenava produtos químicos sem uso em recipientes abertos, segundo testemunharam seus colegas.
Com frequência o ar deixava ele e seus colegas tontos. “A poeira dos agrotóxicos ficava no ar”, afirmou José Anaildo Silva da Costa, um dos trabalhadores. Outro deles, Francisco Ricardo Nobre, relatou que os administradores da plantação obrigavam os trabalhadores a esconder certos agrotóxico quando ficavam sabendo de uma inspeção iminente.
A Fresh Del Monte, sediada em Coral Gables, na Flórida, não quis comentar o caso.
'Altamente tóxico'
Um dos produtos, de acordo com as testemunhos, era o paraquat. Herbicida que existe há decadas, o paraquat foi proibido na União Europeia e teve seu uso restrito nos Estados Unidos. No Brasil, Syngenta, Helm e outras três companhias têm licença para vendê-lo.
O paraquat é “altamente tóxico”, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês). Entre outros males, segundo o CDC, o paraquat causa insuficiência renal, cardíaca e hepática.
Ao menos parte do paraquat vendido para a Fresh Del Monte durante a época em que Silva esteve empregado veio da Syngenta, segundo uma nota fiscal de venda obtida pelo Ministério Público do Trabalho e vista pela Reuters. A Syngenta não vai comentar o caso.
Em agosto, Silva já não conseguia mais trabalhar. Em outubro, foi atendido em uma clínica de Limoeiro e transferido três semanas depois para um hospital maior em Fortaleza. Ele morreu um mês depois, deixando um filho de 1 ano e uma viúva que começou uma batalha que já dura anos para receber pagamentos atrasados e indenizações da Fresh Del Monte.
A causa oficial da morte foi insuficiência renal e hepática e hemorragia digestiva. A Fresh Del Monte se negou a comentar a morte de Silva. No tribunal, os advogados da companhia alegaram que ele havia sido diagnosticado com uma forma viral de hepatite que não tinha relação com suas funções. O juiz rejeitou o argumento.
Perto dali, José Maria Filho, agricultor familiar da chapada, começou a se queixar às autoridades locais sobre os animais da fazenda e sobre as coceiras. Ele acusou os grandes latifundiários de usar agrotóxicos em excesso, especialmente com os aviões de pulverização, que espalhavam produtos químicos nos canais e em outras áreas adjacentes a terras de cultivo.
Marcia Xavier, filha do ativista antiagrotóxico José Maria Filho, com sua mãe em frente à sua casa em Limoeiro do Norte  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Marcia Xavier, filha do ativista antiagrotóxico José Maria Filho, com sua mãe em frente à sua casa em Limoeiro do Norte (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
'Mexendo com gente grande'
“Tinha a língua comprida”, lembra Luiz Girão, criador de gado local e ex-parlamentar influente entre os fazendeiros da região.
José Maria Filho conseguiu fazer com que os cientistas liderados por Raquel Rigotto pesquisassem a água na região. Um estudo que conduziram no final de 2008 analisou amostras tiradas de 25 pontos ao longo dos canais e das torneiras de algumas casas.
O estudo investigou a presença de 22 agrotóxicos diferentes. Em cada amostra, os pesquisadores encontraram resíduos de pelo menos três dos compostos, e em alguns casos até 12. Os agricultores da área rejeitaram o estudo, argumentando que a pesquisa não determinou a concentração de cada agente químico na água, deixando assim de provar o quão tóxicos seriam.
Ao longo de 2009, Filho continuou a se pronunciar. Ele compareceu a reuniões da Câmara Municipal de Limoeiro do Norte, e em novembro já tinha convencido um número suficiente de membros da Casa, apesar da oposição de grandes latifundiários a aprovarem uma proibição aos voos de pulverização.
“Eles estavam furiosos”, relembra Reginaldo Araújo, professor local e ativista trabalhista.
Alguns fazendeiros continuaram com as pulverizações mesmo assim.
No começo de 2010, Filho passou a tirar fotos e fazer vídeos de um avião decolando de um campo de voo local. Ele disse às pessoas de Limoeiro do Norte que estava coletando indícios sobre violações com agrotóxicos.
Ele também passou a receber ameaças.
De acordo com um inquérito policial detalhado em uma denúncia vista pela Reuters, uma pessoa não identificada ligou para Filho e avisou que ele estava sendo seguido. A pessoa disse que ele era acompanhado enquanto viajava por estradas locais de motocicleta, muitas vezes com seu filho.
“Você é muito covarde, porque não anda só, só anda com uma criancinha na garupa”, afirmou a pessoa.
No campo de voo, segundo uma queixa que Filho fez à polícia, um segurança o alertou: “Você está mexendo com gente grande. Isso é perigoso.”
Morto a tiros
Maria Lucinda Xavier reza em frente a monumento dedicado a seu marido José Maria Filho, morto a tiros em 2010 (Foto:  Reuters/Davi Pinheiro)Maria Lucinda Xavier reza em frente a monumento dedicado a seu marido José Maria Filho, morto a tiros em 2010 (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
No dia 21 de abril, quando ia para casa através de plantações de banana, Filho foi atingido 25 vezes com uma pistola calibre .40.
Um mês depois, o conselho da cidade revogou a proibição às pulverizações.
Após uma investigação de dois anos, a polícia acusou João Teixeira, um latifundiário, fazendeiro e empresário local que coordenava as pulverizações no planalto, de encomendar o assassinato. Usando exames de balística e registros de chamadas de celular, como afirmou na denúncia, a polícia reuniu ligações entre o capataz de Teixeira, dois moradores e um matador de aluguel, que mais tarde foi morto em uma troca de tiros. Teixeira e outros três foram indiciados pela morte de Filho.
Por telefone, Teixeira declarou: “Nós não tivemos nada a ver.” Ele se recusou a discutir o assunto. Um juiz de Limoeiro deve decidir nos próximos meses se o caso irá a julgamento.
Nesse meio tempo, dois tribunais decidiram a favor de Gerlene Santos, a viúva de Vanderlei. Em 2013, uma corte de Limoeiro ordenou que a Fresh Del Monte pagasse indenizações no valor de 350 mil reais, e uma instância superior manteve a decisão.
Maria Gerlene Silva dos Santos, viúva do empregado da Fresh Del Monte Vanderlei Matos da Silva, mostra fotos do marido morto  (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Maria Gerlene Silva dos Santos, viúva do empregado da Fresh Del Monte Vanderlei Matos da Silva, mostra fotos do marido morto (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
Na chapada, as tensões permanecem.
Uma placa de concreto do lado de fora da associação de fazendeiros está coberta de pichações de caveiras e frases como “Agrotóxico causa câncer”.
Em uma plantação local, a Tropical Nordeste SA, os executivos procuram dissipar a ideia de que os agricultores são irresponsáveis.
“A gente usa o mínimo de produto possível", garantiu Edson Brok, dono da fazenda, que exporta bananas para a Europa e recentemente recebeu um prêmio de excelência de uma associação estrangeira de compradores. “Não posso me arriscar com comprador para eles acharem que aqui não está tudo certo.”
Em outubro passado, um trabalhador da Tropical Nordeste publicou no Facebook fotos que tirou de um tanque vazando agrotóxico no depósito. Ele também postou fotos de botas de trabalho rasgadas que ele alega que a empresa se recusou a trocar quando ele pediu botas novas, o que viola leis de segurança no trabalho.
Homem carrega cachos de banana na fazenda da Tropical Nordeste S.A, em Limoeiro do Norte (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)Homem carrega cachos de banana na fazenda da Tropical Nordeste S.A, em Limoeiro do Norte (Foto: Reuters/Davi Pinheiro)
Diego Oliveira da Silva, o “químico” de 25 anos, como são chamados os fumigadores de agrotóxico na área, declarou em uma entrevista que os capatazes da fazenda também pediram a ele e a seus colegas que esgotassem seu estoque de Furadan, o agente químico da FMC, dias antes de uma inspeção. Dois outros trabalhadores, que pediram anonimato, fizeram a mesma alegação.
Diego foi demitido por publicar as fotos.
Hugo Carrillo, administrador da plantação, disse que o tanque com vazamento era um problema temporário causado por uma torneira quebrada, que foi consertada no mesmo dia. As botas, afirmou, estavam em falta em um fornecedor local, mas na verdade já tinham sido encomendadas.
Quanto à alegação de que encobriu o uso de agrotóxicos perigosos, Carrillo respondeu: “Por que eu esconderia o Furadan? Não é proibido no Brasil.”

Reprodução da Época online
Reprodução da Época online


Para desespero do PT e do governo a mobilização para o protesto marcado para o dia 12 de abril está chegando a cidades das periferias do Rio e de São Paulo. No dia 15 de março as manifestações aconteceram apenas nas capitais. Como de 15 de março para cá a reprovação ao governo aumentou tudo indica que o protesto de 12 de abril mobilizará muito mais pessoas. Se na próxima semana forem aprovadas no Congresso medidas de ajuste fiscal que penalizem os trabalhadores a situação vai ficar ainda pior para o governo e mais gente irá aos protestos. 
FONTE BLOG DO GAROTINHO

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Compostagem doméstica tem incentivo da Prefeitura em São Paulo

Objetivo é estimular a reciclagem de materiais orgânicos em domicílios

A gente vive falando de reciclagem de lixo e pedindo para vocês fazerem a coleta seletiva em casa, separando o lixo seco (reciclável) do lixo orgânico (restos de alimentos). Mas o que muita gente não sabe é que esse lixo orgânico, resultante da nossa alimentação pode sim ser reciclado por meio do processo de compostagem doméstica orgânica, que pode inclusive ser feito em casa. Pensando em tornar este processo viável, a Prefeitura de São Paulo criou, em parceria com a empresa de soluções ambientais Morada da Floresta, o projeto Composta São Paulo, que tem como objetivo levar aos lares paulistanos um incentivo à prática da compostagem doméstica orgânica.
O que é compostagem doméstica?
A compostagem doméstica pode ser definida como um processo de reciclagem ecológica, que oferece um destino útil ao lixo orgânico, transformando os restos de alimentos em adubo para plantas de forma sustentável.
Como funciona o Composta São Paulo?
Cláudio Spínola, coordenador do Composta São Paulo e da Morada da Floresta (FOTO: ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA/ED. GLOBO)
Cláudio Spínola, coordenador do Composta São Paulo e da Morada da Floresta (FOTO: ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA/ED. GLOBO)
Após selecionar 2 mil domicílios para receber as composteiras de forma gratuita, junto a oficinas de compostagem doméstica e plantio durante um período de quatro meses, o Composta São Paulo criou uma plataforma online com informações claras e vídeos explicativos sobre as diferentes etapas do processo de compostagem doméstica. Além de fazer parte de uma comunidade online de troca de conhecimento e experiências, os participantes têm a chance de ajudar a gerar informações e aprendizados que serão utilizados para impulsionar e fomentar a elaboração de uma política pública que estimule a prática da compostagem doméstica na cidade de São Paulo.
O resultado parcial já surpreende: considerando os 2006 domicílios contemplados com as composteiras, o movimento conseguiu fazer com que 6.960 pessoas praticassem a compostagem dentro de casa. Deste total, cerca de 98% se dizem satisfeitos com a compostagem doméstica e acreditam no seu potencial para melhorar a questão do tratamento de resíduos na cidade. O coordenador do projeto, Cláudio Spínola, afirma ainda que 83% das famílias cadastradas realizam a compostagem de mais da metade dos resíduos orgânicos que produzem.
O que você precisa para começar a compostagem doméstica
Nas palavras do pessoal do Morada da Floresta, “Compostar é muito simples, porém, requer alguma dedicação. Além de separar o alimento orgânico em sua residência e juntar matéria vegetal seca, é importante que você reserve tempo para cuidar da sua composteira e entender seu funcionamento. Mas acredite, é muito simples! E com o tempo fica ainda mais fácil”.
O QUE PODE SER COLOCADO NA COMPOSTEIRA DOMÉSTICA?
Frutas, legumes, verduras, grãos e sementes, cascas de ovos,  borra e filtro de café, sachê de chá (sem etiqueta) e erva de chimarrão.
Frutas, verduras e cascas de ovos são alimentos que podem ser usados na compostagem doméstica.
Frutas, verduras e cascas de ovos são alimentos que podem ser usados na compostagem doméstica.
O QUE NÃO PODE SER COLOCADO NA COMPOSTEIRA DOMÉSTICA?
- Carnes
- Limão
- Temperos fortes (pimenta, alho e cebola)
- Líquidos (Iogurte, leite, caldos de sopa, feijão etc.)
- Óleos e gorduras
- Fezes de animais domésticos
- Papéis (higiênico, jornais e papelões em geral)
Aprenda na prática!
Assista ao vídeo em que Cláudio ensina o passo a passo para fazer compostagem doméstica:
Viram como pode ser mais simples do que a gente imagina? :)
Se você já faz compostagem doméstica em casa ou no seu condomínio, escreva pra gente e conte sua experiência! Mande e-mail para condominiosverdes@secovirio.com.br

domingo, 5 de abril de 2015

Palestra no Secovi Rio tira dúvidas sobre cobrança individual de água

Representante da ista Brasil mostra como é possível economizar com o sistema

No dia 30 de março o auditório do Secovi Rio recebeu cerca de 50 pessoas, entre síndicos, conselheiros e moradores preocupados em identificar formas mais eficientes de reduzir o consumo de água. O público teve a oportunidade de ouvir as soluções apresentadas pelo supervisor comercial daista Brasil, Bruno Moraes, para medição e cobrança individual de água em condomínios.
Além de apresentar cases de sucesso em condomínios residenciais e comercias que optaram pela cobrança individual de água, Bruno também mostrou alguns dados (fonte: Sabesp) sobre o consumo de água nos condomínios:
• Banho de 15 minutos com o registro meio aberto gasta 243 litros de água
• Escovar os dentes por 5 minutos com registro meio aberto gasta 80 litros de água
• Barbear de 5 minutos com o registro meio aberto gasta 80 litros de água
• Lavar louça por 15 minutos com o registro meio aberto gasta 243 litros água
• Uma máquina Lava-louças com capacidade para 44 utensílios/40 talheres gasta cerca de 40 litros de água por ciclo de lavagem
• Tanque aberto por 15 minutos totaliza um gasto de 279 litros de água
• Regar o jardim durante 10 minutos gera um consumo de 186 litros de água
O palestrante também deu exemplos de economia alcançada com a medição de cobrança individual de água em condomínios:
“Hoje existem condomínios trabalhando com 35% de redução na conta geral. Individualmente esta redução pode ser muito maior, temos casos de 70% a 90%, uma vez que com a medição individualizada cada morador passa a pagar por aquilo que efetivamente consome” – destaca Bruno, que comenta ainda sobre a valorização de 2% para venda em imóveis com este sistema implantado.
Sobre os hidrômetros
secovirio-cobranca-individual-agua-medidorO tão famoso aparelho utilizado para medir o consumo individual de cada apartamento foi mostrado durante a palestra. De acordo com Bruno, a vida útil do equipamento, que funciona a bateria, fica em torno de 10 anos.
“O diferencial do nosso medidor é a marcação em litros a partir de unidades, o que garante transparência na medição e consequentemente na cobrança individual de água que será realizada” – explicou Bruno.
Sobre os custos do sistema de medição e cobrança individual da água
Depois de entender como funciona a medição e a cobrança individual da água e conhecer os hidrômetros de perto, o público presente estava mesmo interessado no valor do investimento para começar a mudança em seus condomínios.
Segundo Bruno, o custo de instalação fica em torno de R$ 400,00 por medidor. A ista também oferece um modelo de implantação por meio de um sistema de comodato, o ista Fácil, que não exige um investimento inicial do edifício, o que torna possível a diluição do custo total em parcelas para cada apartamento.
Ainda ficou com alguma dúvida sobre o tema de medição e cobrança individual de água? Clique aqui e confira entrevista com a especialista Adriana Jordão!

Economia de água – O seu condomínio é consciente?

Conheça as dicas que vão gerar economia de água e reduzir custos no condomínio

Mais um Dia Mundial da Água chegou e nunca é demais dizer o quanto é importante preservar este recurso natural tão essencial para a vida. A data, criada pela ONU e celebrada anualmente no dia 22 de março, tem por objetivo ampliar as discussões sobre todos os temas que envolvem a preservação da água no planeta. O debate vem a calhar: apesar do aumento do volume de água das bacias hidrográficas que abastecem a região Sudeste ter subido nas últimas semanas, o momento ainda é de atenção e deve servir de lição para que a população entenda cada vez mais o seu papel no cenário de economia de água.
E se a economia de água precisa acontecer, os condomínios cariocas precisam criar sistemas de gestão e manutenção dos edifícios que proporcionem não apenas a economia de água, mas também uma reeducação sobre o uso da água aos seus síndicos e moradores. Assim, reunimos algumas dicas valiosas que prometem ajudar na redução do consumo e na economia de água do seu edifício.
Confira:
10-mandamentos-ajustados
Fica combinado assim: você imprime esse cartaz, leva para o mural de comunicados do condomínio e participa da iniciativa, fazendo com que estas informações sobre economia de água sejam disseminadas para os moradores, síndicos, amigos, vizinhos, funcionários de portaria… A gente quer fazer do seu condomínio um Condomínio Consciente. Quem topa?

sábado, 4 de abril de 2015

O que está ao alcance da Presidente Dilma fazer para atenuar a crise hídrica?


Um discurso possível Fonte: G1 – Blog Mundo Sustentável

“Minhas amigas e meus amigos,
Como se sabe, o Brasil vem enfrentando uma das piores estiagens de sua história, especialmente na região Sudeste, a mais rica e populosa do país.
Acompanhamos de perto a evolução dos acontecimentos nos estados e municípios castigados pela seca, sempre respeitando a autonomia federativa que confere a governadores e prefeitos, dependendo da localidade, a gestão dos recursos hídricos.
De nossa parte, monitoramos a situação dos rios federais que atravessam mais de um estado, como é o caso do Paraíba do Sul, que corta os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Apesar de o país dispor de uma Lei Nacional de Recursos Hídricos, da Agência Nacional de Águas, dos Comitês de Bacias Hidrográficas e de outros instrumentos de gestão e governança, este governo entende que é preciso fazer mais. Nesse sentido, a atual crise hídrica representa uma excelente oportunidade para avançarmos ainda mais na direção de um modelo mais inteligente e eficiente de gerenciamento de recursos hídricos.
Decidimos, portanto, tomar as seguintes providências:
- Estou instituindo um Conselho de Notáveis com os mais prestigiados hidrologistas, cientistas e representantes das mais importantes instituições de pesquisa e universidades brasileiras (com pessoas de todos os estados) para que possam instruir o governo sobre como tornar o Brasil não apenas o país com o maior volume de água doce superficial de rio do mundo, mas também o mais eficiente no uso dessa água. Nosso compromisso é o de ampliar este debate com consultas públicas e trabalhar pela implementação das medidas sugeridas ainda este ano.
- Instruí o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, a convocar representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Agência Nacional de Águas (ANA) para que reapresentem as críticas formuladas por essas instituições contra o novo Código Florestal, no que se refere aos riscos que ele representaria às bacias hidrográficas. Em se confirmando que as alterações aprovadas pelo Congresso no texto original dessa lei carecem de estudos devidamente embasados sobre o seu impacto na resiliência dessas bacias, meu compromisso é o de mobilizar todos os esforços possíveis no sentido de reabrir o debate e, se for o caso, defender uma nova mudança na legislação.
- Ordenei ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que apresente no prazo de uma semana propostas de novos estímulos fiscais a produtos e serviços que promovam a drástica redução do consumo de água e energia nos mais diversos setores da economia. É preciso elevar os parâmetros já existentes e apoiar quem já investe em inovação.
- Determinei à ministra da Agricultura Kátia Abreu que realize um amplo levantamento das técnicas mais eficientes no uso de água pelo setor agrícola. Aproximadamente 70% das águas doces em nosso país são usadas nas lavouras, nem sempre com o devido cuidado ou orientação. O Brasil não pode continuar promovendo o uso perdulário de água nas irrigações com a utilização de pivô central, aspersores ou culturas de inundação, para citar apenas alguns exemplos de técnicas que já estão sendo abandonadas em muitos países. Há muito o que se avançar neste setor e pretendo ainda neste governo condicionar a concessão de crédito agrícola à eficiência no consumo de água no campo.
- Encomendei ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, um estudo identificando quais os empreendimentos que mais consomem energia elétrica hoje no país. Nossa intenção é condicionar a liberação de recursos públicos, via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou outros órgãos de fomento públicos, à apresentação de planos que confirmem a disposição desses setores em serem exemplos de eficiência e inovação.
- Declaro que este governo apoiará ostensivamente a ampla disseminação da água de reúso em todo o território nacional. Instruí o diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, a realizar os esforços necessários para a tão esperada regulamentação técnica da água de reúso, definindo seus parâmetros e características para que não haja mais nenhuma hesitação do mercado em investir nessa direção. Queremos apoiar todas as atividades que utilizem água de reúso em suas rotinas.
- É nosso desejo que todas as companhias públicas ou privadas de água e esgoto no país sejam mais eficientes. Não é possível que registremos em média 37% de perdas de água potável nas redes, desperdiçando preciosos recursos públicos. Para estimular a maior eficiência do setor, pretendemos condicionar a liberação de recursos federais à redução dessas perdas no sistema. Acertaremos caso a caso quais são as metas possíveis e aplicaremos as novas regras de financiamento.
- Este governo deverá encaminhar ao Congresso, logo após a votação para a Presidência da Câmara e do Senado, um projeto de lei determinando a criação de linhas especiais de crédito para todas as construções que sejam comprovadamente eficientes no consumo de água e energia elétrica, e que possuam certificações reconhecidas internacionalmente.
Encerro meu pronunciamento reconhecendo que esta terrível estiagem nos estimula a sermos ainda mais propositivos na Conferência do Clima, que terá lugar em dezembro em Paris. Infelizmente, ao que tudo indica, eventos extremos como esse poderão ser tornar cada vez mais frequentes em função das mudanças climáticas. Mas é meu dever, enquanto Chefe de Estado da maior potência “mega biodiversa” do planeta, preparar o país para qualquer um dos cenários previstos pelos cientistas. Sinto-me pronta para esta missão.
Convoco todos os brasileiros a unirem forças em favor das nossas águas – o bem mais precioso e indispensável à vida, sem o qual nenhuma atividade humana é possível – que a natureza generosamente nos proporcionou e que mantêm o Brasil em condição ainda invejável perante o mundo neste século XXI.
Boa noite.”
OBS: A Presidente Dilma não escreveu esse discurso. Mas neste momento em que a crise hídrica impacta uma população estimada de 46 milhões de brasileiros, qualquer manifestação propositiva da maior autoridade da República seria muito bem-vinda.

André Trigueiro

Energia mais barata, perto de quem consome


Porque a microgeração e seu consumo próximo da produção são o caminho inevitável e moderno” escreve Washington Novaes, jornalista

Por Washington Novaes, jornalista
Fonte: IHU

Passo importante para enfrentar a questão energética no Brasil foi dado há poucos dias pelo Ministério de Minas e Energia, ao autorizar (pela Portaria 44/15) distribuidoras de energia elétrica a contratar em leilão a “energia excedente de autogeradores“, como shopping centers, indústrias, hotéis , cooperativas e outros. E é importante por dois motivos centrais:1) libera a compra de cerca de 3,2 GW já disponíveis nesses setores e não utilizados, que certamente ajudarão a enfrentar a atual crise energética, decorrente de vários fatores, a começar pela redução de água nos reservatórios (que levou à utilização da cara energia de termoelétricas, movidas principalmente a carvão e diesel); e 2) conduz em direção a um modelo mais adequado e necessário para a matriz energética nacional.
Hoje, a compra da energia produzida por microgeradores e sua distribuição – além do consumo no local da produção – depende de autorização em cada Estado. Mas a autorização em nível nacional certamente induzirá a produção no rumo desejável em todo o País. Porque a microgeração e seu consumo próximo da produção são o caminho inevitável e moderno. Megaobras, que exigem também megalinhas de transmissão caríssimas, são uma via cada vez mais anacrônica. Seja pelos vultosos capitais que exigem – e que precisam ser remunerados pelos consumidores -, seja pelos altos investimentos na transmissão e na distribuição, seja pelo desperdício e pelo não uso em certas etapas.
Além disso, a microgeração e o consumo no local disponibilizam essa energia, sem custos elevados, também nas propriedades rurais e comunidades isoladas. Com o adicional de permitirem a geração da energia a partir de resíduos – inclusive de animais como bovinos, suínos, aves – disponíveis nos próprios estabelecimentos rurais. E que podem contar também com bagaço e palha de cana, casca de arroz, efluentes no processamento de produtos como a mandioca, entre outros. Eles podem resultar em biogás e, por meio deste, na geração de energia. E ainda na redução da demanda por lenha em processos industriais, como a secagem de grãos; a produção de biofertilizantes; a refrigeração de granjas, evitando a morte de animais. Não bastasse, a microgeração ainda pode proporcionar renda adicional ao produtor, ao vender à distribuidora mais próxima o excedente que não utilizaria em sua própria área. Não pagará pelo consumo de energia e ainda terá renda adicional.
Caminhos como esse ficaram claros no Estado do Paraná, a partir do Centro Internacional do Biogás, que associou Itaipu àOrganização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), a várias universidades aqui e fora e também à Embrapa. Por aí se caminhou para a instalação de microgeradores em vários condomínios de agricultores associados e também agricultores individuais de grande porte – e o modelo já foi exportado até para o Uruguai.
Agora, caberá à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) medir o potencial da microgeração, instalar equipamentos de controle dessa geração, padronizar modelos para os contratos e autorizar o início das chamadas públicas.
Grande parte do mundo caminha a passos rápidos para a adoção das chamadas energias renováveis, diante da impossibilidade de seguir com os modelos poluentes, baseados principalmente na queima de petróleo e carvão. A geração de energia solar, eólica e de biomassas, em especial, cresce em alta velocidade. Com a resistência de alguns países e produtores nos formatos antigos, mas diante de circunstâncias incontornáveis, como a inegável contribuição dessas fontes poluentes para o aumento da temperatura e das mudanças climáticas no planeta. A transformação já levou até mesmo a uma queda de mais de 50% nas cotações do petróleo. Levou também à geração de energia – principalmente nos Estados Unidos – a partir do gás resultante do fraturamento de rochas. Mas que enfrenta forte e crescente resistência, diante dos efeitos indesejados – problemas com recursos hídricos, poluição química resultante de produtos usados nessa técnica e outros.
O Brasil também tem avançado na produção de energia eólica, apesar da falta de linhas de transmissão e outras estruturas (já tem 4.888 MW implantados, mais 126,7% em 2014; para 2015 estão previstos mais 3.267 MW; para 2021, nada menos que 15.563 MW). As geradoras de energia a partir de radiação solar evitaram já há dois anos a emissão de 11.229 toneladas equivalentes de dióxido de carbono. Em 2014 a geração de energia a partir de biomassas chegou a 20,8 mil GWh, ou 21% mais que em 2013. E ainda poderemos ter usinas movidas pelas marés, por bagaço de cana e outros resíduos. Sem deixar de mencionar a possibilidade de utilizar briquetes - resultantes da compactação de resíduos vegetais – para substituir a lenha. Principalmente na região do Semiárido, ainda é forte o uso de lenha nas cozinhas domésticas.
As agências reguladoras Aneel e ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e a Empresa de Planejamento Energético (EPE) publicaram recentemente resoluções normativas discutidas em audiências públicas, de suma importância para termos no País um bom arcabouço regulatório, determinando as condições para investimentos em microgeração, que, localizada nos centros de carga, como dizem os especialistas, ou junto ao consumo, não necessitam de investimentos em transmissão e distribuição.
E ainda é preciso avançar, sob este ângulo, nas questões entrelaçadas dos recursos hídricos e do clima, tão graves e urgentes. Cientistas têm advertido: sem desmatamento zero na Amazônia e no Cerrado não haverá solução para as questões do clima no Brasil; e já somos um dos países mais atingidos por desastres climáticos (a área urbana exposta a inundações no mundo triplicará até 2030, diz o Global Change). Também não se deve esperar uma solução milagrosa para os problemas da água. Eles ainda estarão presentes nos próximos anos.



Postado por Daniela Kussama