sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Dia Mundial de Limpeza de Praias, Rios e Lagoas: ação em Lagoa de Cima


Neste sábado (20) será comemorado o Dia Mundial de Limpeza de Praias, Rios e Lagoas. A data é comemorada há 14 anos em 155 países. Em Campos vai acontecer uma ação em Lagoa de Cima. O objetivo é promover a conscientização sobre a limpeza ambiental. Até agora, já está confirmada a presença de 70 voluntários. A ação vai acontecer das 9h às 12h.

Segundo o secretário de Meio ambiente, Zacarias Albuquerque, é uma dura realidade, constatar que o planeta cada vez mais está repleto de lixo.

- Muitas das vezes as pessoas não têm a noção de que descartar um lixo numa praia, por exemplo, vira uma catástrofe ambiental. Se  de repente chove , aquele lixo é levado pela chuva para o mar, rio ou lagoa e assim, provoca além da poluição, o comprometimento da vida dos animais da fauna aquática. Portanto, é muito importante se entender de uma vez por todas que ficar descartando lixo por aí é muito prejudicial ao nosso planeta e nós também sofremos as consequências – alertou o secretário.

Estarão participando da ação, a Associação de Moradores de Lagoa de Cima, a Associação de pescadores de Lagoa de Cima, o Projeto Rema Campos e os alunos do Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade Estácio de Sá. As Secretarias de Limpeza Pública, Praças e Jardins e de Educação, Cultura e Esportes também estarão participando de forma ativa.

A Secretaria de Limpeza Pública vai fornecer 10 voluntários e irá atuar na parte de apoio da logística, transportando o lixo coletado para o Aterro Sanitário de Conselheiro Josino. Já a Secretaria de Educação conta com voluntários que ficarão responsáveis pela animação cultural, que estará encerrando as atividades do dia.


Hidrelétrica é nova ameaça ao Paraíba

Hidrelétrica é nova ameaça ao Paraíba

A retomada do projeto de construção de uma usina hidrelétrica entre Itaocara e Aperibé pode ser muito mais grave para os municípios do Norte Fluminense do que a polêmica transposição do rio Paraíba do Sul proposta pelo governo de São Paulo, que reduziria a vazão no rio Jaguari para abastecer o Sistema Cantareira. A afirmação é do ambientalista Aristides Soffiati, que não recomenda mais nenhuma intervenção no Paraíba e compara: a transposição afeta muito mais a capital fluminense do que o interior, porque a partir de Três Rios o Paraíba volta a receber água de outros afluentes, enquanto a barragem, cuja licitação foi anunciada ontem pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para 28 de novembro, vai desviar água do Paraíba para Minas Gerais e voltar em outro ponto, com vazão menor, chegando mais fraco à região da foz.
Os projetos de construção de novas barragens estão parados há pouco mais de um ano por obstáculos ambientais e burocráticos. As unidades, incluindo a hidrelétrica Itaocara I, já haviam sido licitadas entre 2000 e 2002. Agora, o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, diz que o leilão A-5 ocorre em novembro. Além de Itaocara I, ele inclui outras duas barragens no Rio Piriqui, no Paraná. A barragem prevista para Itaocara, no trecho médio-baixo do rio Paraíba do Sul, envolveria cinco municípios: Cantagalo, Santo Antônio de Pádua, Itaocara e Aperibé, no Estado do Rio, e Pirapetinga, em Minas Gerais.
— Embora haja esta seca agora no Paraíba, não seria a transposição em São Paulo o grande prejuízo para as regiões abaixo de Três Rios. Isso afeta muito mais a cidade do Rio de Janeiro. Os afluentes no caminho fazem o Paraíba voltar a crescer. Mas quando se fala em uma barragem em Itaocara, incluindo trecho de Minas Gerais, é que teríamos problema com a vazão d’água no Paraíba em nossa região — diz o ambientalista.
Ele insiste na opção por outras fontes de geração de energia.
— Não se deve autorizar mais nenhuma barragem no rio Paraíba do Sul. O governo tem que dar alternativas para os investimentos em energia eólica, solar e de marés. Há um estudo da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) mostrando o grande potencial não explorado especialmente do Norte Fluminense, região ensolarada, com muitos ventos por se tratar de planície e com a força marítima. Não se deve insistir em nenhuma intervenção no rio Paraíba do Sul, seja para geração de energia ou regularização — defende.
Soffiati adverte que esta não é uma competência do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), e sim do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Agência Nacional de Águas (Ana) e do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul (Ceivap).
— Tem que proibir. Se não resolver, o Ministério Público Federal tem que atuar.
A Folha tentou falar com a Procuradoria da República, mas o procurador Eduardo Oliveira, que atua no caso da transposição do Paraíba do Sul, estava em reunião até o fechamento da matéria.
J.M.A.
Foto: Folha da Manhã
fonte FOLHA DA MANHA


Reprodução do jornal O Dia
Reprodução do jornal O Dia


Ainda é cedo para eu pensar no 2º turno, ainda temos três semanas de campanha pela frente, mais dois debates (Record e Globo) e muito chão para andar. A única colocação que faço em relação a essa análise do jornal O Dia é que realmente uma coisa é o candidato, Crivella e Lindbergh, apoiarem a mim ou a Pezão, outra coisa bem diferente é os seus eleitores os seguirem. 

Brasil tem 202 milhões de habitantes, diz IBGE

O Estado mais populoso é São Paulo, com 44.035.304 de moradores

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O Brasil tem 202.768.562 habitantes, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados específicos sobre cada município foram divulgados nesta quinta-feira, 28, e estão presentes em resolução publicada no Diário Oficial da União. Os números são aplicados nos cálculos de repasses de recursos aos municípios e são utilizados também pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A posição reflete a população no começo de julho deste ano.
O Estado mais populoso é São Paulo, com 44.035.304 habitantes. Roraima tem a menor população: 496.936 habitantes. Minas Gerais fica em segundo lugar, com 20.734.097 habitantes. O Estado do Rio de Janeiro tem a terceira maior população do País, com 16.461.173 habitantes.
 
O município de São Paulo é citado com 11.895.893 habitantes; o município do Rio de Janeiro, com 6.453.682 habitantes; Belo Horizonte, com 2.491.109 habitantes; Porto Alegre, com 1.472.482 habitantes; Recife, com 1.608.488 habitantes; e Manaus, com 2.020.301 habitantes. As tabelas apresentadas hoje mostram, também, que o País tem municípios com pequena população, como Borá, em São Paulo, com 835 pessoas. A localidade fica a cerca de 500 quilômetros da capital paulista.
 
O IBGE explica que as "Estimativas da População para Estados e Municípios", com data de referência em 1º de julho de 2014, atende exigências estabelecidas pela Lei nº 8.443/1992 e pela Lei complementar nº 143/2013. Essas leis estabelecem que a "entidade competente do poder executivo federal fará publicar no Diário Oficial da União, até o dia 31 de agosto de cada ano, a relação das populações dos municípios, e até 31 de dezembro, a relação das populações dos Estados e do Distrito Federal, para os fins previstos na Lei nº 8.443".

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Divulgada análise sobre árvores com risco de queda na Capital

08/2014 

Foto: Sérgio Louruz/Divulgação PMPA
Avaliação levou em conta aspectos internos e externos dos vegetais
Avaliação levou em conta aspectos internos e externos dos vegetais
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) apontou a necessidade de remoção de 38 das 150 árvores que foram analisadas interna e externamente pelos especialistas contratados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam). Outras 73 árvores terão prioridade nas ações de poda. O relatório foi apresentado à imprensa na tarde desta sexta-feira, 29, na sede da Smam. 
 
O chefe do Laboratório de Árvores, Madeiras e Móveis (LAMM) do IPT, Sérgio Brazolin, ressaltou que o resultado do trabalho, que consistiu no levantamento de características de dendrometria, fitossanidade, condições de entorno, estado geral e análise externa e interna, era esperado. “Trabalhamos com árvores que já eram vistas como críticas pelos técnicos da Smam, em função da idade avançada e do grande porte. É natural que tenhamos recomendado a priorização de remoções e podas, pois gosto sempre de ressaltar que a árvore é um ser vivo que uma hora morre”, destacou.  
 
Conforme o secretário Cláudio Dilda, a Smam dará prioridade ao atendimento das remoções. “Já iniciamos o trabalho pelo Parque Farroupilha, onde dois eucaliptos que apresentavam risco foram retirados. Após o término do serviço na Redenção, vamos cobrir as outras áreas da cidade, por ordem de emergência. Nossa meta é finalizar as supressões e podas até o fim deste ano”, disse. As remoções serão compensadas posteriormente, obedecendo às diretrizes do plano diretor de arborização urbana.
 
O biólogo do IPT, Vinícius Felix Pacheco, explicou que 17 das 150 árvores não precisaram passar por análise interna. “Verificamos já na avaliação externa a necessidade de manejo, não estando o risco de queda atrelado a problemas internos do vegetal. Sendo assim, das 150 árvores, aferimos com equipamentos 133, estando 56 sadias e 77 com algum tipo de deterioração”, afirmou.
 
Curso – Ao longo desta semana, os especialistas do IPT ministraram curso de capacitação para 30 técnicos da Smam, que trabalham diretamente com o manejo da arborização urbana, com o objetivo de aperfeiçoar o diagnóstico e a análise de risco de árvores. O curso, com 40 horas de aulas teóricas e práticas, integra conjunto de ações da Smam para aprimorar a prestação de serviços e reduzir os riscos de quedas de vegetais a partir de vistorias técnicas. 
 
O diretor de Parques, Praças e Jardins, Sergio Tomasini, que participou do curso, destacou que esta é a primeira vez que os técnicos da Smam recebem capacitação em avaliação de risco. "Estamos todos muito satisfeitos com o curso, pois alinhamos a terminologia e tomaremos decisões sobre manejo com maior embasamento técnico. Quem ganha é a cidade", disse.  
 
O secretário enfatizou que a Smam, de forma permanente, vem buscando alternativas viáveis para reduzir os riscos de queda de árvores e qualificar o serviço. “Apenas outras três capitais do Brasil – São Paulo (2005), Brasília (2010) e Manaus (2012) – já realizaram este curso para o corpo técnico. Nossa próxima grande ação será o apoio à realização de um seminário internacional da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, em março do ano que vem, a fim de aprofundar o debate sobre o assunto”, destacou. Dilda disse ainda que há previsão orçamentária para 2015 de compra de equipamento para análise interna das árvores. 
 
O supervisor de Praças, Parque e Jardins, Léo Antonio Bulling, ressaltou que os técnicos receberam instruções de como lidar com equipamentos de análise interna e que, a partir de agora, ajudarão a decidir qual o melhor equipamento a ser utilizado na cidade. “A decisão sobre a necessidade de compra do equipamento e da melhor ferramenta a ser usada será tomada após avaliação do corpo técnico da secretaria, com apoio da Assessoria de Planejamento”, disse.
ECONOMIA DE ÁGUA

Designers criam prato que não precisa ser lavado

Vanessa Daraya - INFO Online - /08/2014
Divulgação



Nada é mais desanimador do que ver uma pilha de louça suja te esperando depois da janta. Mas esse sofrimento pode acabar com os pratos que se limpam por conta própria, invenção de designers do estúdio sueco Tomorrow Machine

Os pratos foram feitos em parceira com o Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo. Além de acabar com a louça suja, a invenção ajuda a poupar água

Os pratos são feitos com um material baseado em celulose e revestidos com uma cera dissolvida em dióxido de carbono em alta pressão e temperatura. O sistema faz com que a superfície da louça seja resistente à sujeira e à água. 

Como não precisa de água, é uma boa alternativa para o meio ambiente. Segundo os criadores, o produto poupa recursos durante o processo de fabricação e durante o seu ciclo de vida, já que não necessita de água e produtos químicos. 

No entanto, a linha de louça autolavável ainda é um protótipo. O próprio estúdio diz que atecnologia é muito recente e que não está pronta para a indústria. Portanto, deve demorar alguns anos para ser comercializada.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Nova espécie de serpente brasileira é descoberta em MG

ANIMAIS

Nova espécie de serpente brasileira é descoberta em MG

Time de pesquisadores brasileiros achou o pequeno réptil no Parque Nacional da Serra do Cipó, uma região de rica biodiversidade, que abriga três biomas: Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica

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Mauro Teixeira Jr./Divulgação
Mauro Teixeira Jr./DivulgaçãoPesquisadores de três instituições brasileiras encontraram nova espécie de serpenteAtractus spinalis, embaixo de rochas e cupinzeiros do Cerrado, na Serra do Espinhaço, que abriga grande diversidade biológica. A região está localizada no Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais.

Pertencente à família Dipsadidae, o réptil mede aproximadamente 30 centímetros de comprimento, possui cauda curta e coloração avermelhada, com estrias escuras. De acordo com os pesquisadores, a espécie não oferece risco à saúde humana e é endêmica da região.

Apesar de a descoberta ter sido oficializada em março de 2013 com a publicação de artigo na revista Papéis Avulsos de Zoologia, do Museu de Zoologia da USP, só foi divulgada agora. O estudo teve apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Os pesquisadores responsáveis pela descoberta são: Paulo Passos, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Mauro Teixeira Junior, Renato Recoder, Marco Aurélio de Sena, Francisco Dal Vechio, José Cassimiro e Miguel Trefaut Rodrigues da Universidade de São Paulo (USP); Hugo Bonfim e Sonia Mendonça, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Repteis e Anfíbios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (RAN-ICMBio).
CONSERVAÇÃO
Até o momento, não se sabe qual o grau de ameaça de extinção da nova espécie. Porém, ela já conta com ações de proteção no Plano Nacional de Conservação de Répteis e Anfíbios Ameaçados de Extinção na Serra do Espinhaço, elaborado pelo RAN-ICMBio.

Previsto para estar concluído em cinco anos, esse documento prevê a implementação de ações que reduzam ameaças às espécies, o aumento de conhecimento sobre elas e a
conservação de habitats.

Atractus spinalis se soma às 1.815 espécies de répteis e anfíbios identificados no Brasil, listadas pela Sociedade Brasileira de Herpetologia, mas os pesquisadores acreditam que existem muitas outras que ainda não foram descobertas.

"Nosso conhecimento sobre a diversidade brasileira ainda é pequeno, principalmente quando migramos para áreas de difícil acesso, como é o caso da Serra do Espinhaço. Por isso, investir em pesquisa científica é indispensável para a descoberta de novas espécies e também para identificar as ameaças às já descritas", disse o biólogo Hugo Bonfim.

O que acontece enquanto você dorme

O que acontece enquanto você dorme

Nunca dormimos tão mal - e tão pouco. Os brasileiros estão dormindo 1h30 a menos, em média, do que na década de 1990, e 63% têm problemas de sono. Agora, pesquisas de última geração começam a desvendar o que acontece durante a noite - e revelam qual é a verdadeira chave para dormir bem.

por Anna Carolina Rodrigues
Foto: Dulla | Design: Ricardo Davino | Adaptação: Laura Rittmeister e Abraão Marcos Corazza
 
Ken Parks, de 23 anos, era casado e tinha uma filhinha de 5 meses. Morava com a esposa e a criança em Toronto, no Canadá. Até que um dia perdeu o emprego. Os sogros, com quem ele se dava extremamente bem, se ofereceram para ajudá-lo financeiramente. Então Ken pegou seu carro e foi até a casa deles. Quando chegou, matou a sogra a facadas e tentou enforcar o sogro. Seria apenas mais um caso de crime em família, exceto por um detalhe: Ken estava dormindo, tendo uma crise grave de sonambulismo, quando fez tudo aquilo. Durante o julgamento, ele foi submetido a exames de eletroencefalograma, que apontaram grandes distorções em suas ondas cerebrais, típicas de sonâmbulos. Acabou absolvido - e, desde então, mais 68 casos do chamado `homicídio sonâmbulo¿ foram registrados no mundo.

São casos extremos de distúrbio do sono. Mas dormir mal não tem nada de extremo. Na verdade, é a coisa mais comum do mundo - e está piorando. Hoje, os brasileiros dormem em média 1h30 a menos do que há 20 anos, segundo uma pesquisa feita pelo Instituto do Sono de São Paulo com 1.024 pessoas. São apenas 6h30 por noite, bem menos do que os entrevistados desejariam dormir (em média, 8h10). E 63% têm algum problema de sono.

Mas a ciência finalmente começou a decifrar os segredos desse mundo misterioso no qual ficamos mergulhados por quase um terço da vida. Novos estudos estão revelando por que estamos dormindo tão mal, como resolver isso e o que realmente acontece no corpo durante a noite.
Por que a gente dorme?

Dormir é uma delícia - mas, do ponto de vista da evolução, é um comportamento difícil de explicar. Para o homem das cavernas, dormir podia significar nunca mais acordar, pois a chance de ser atacado por um predador era grande. E, mesmo hoje, em que esse risco é muito menor, o sono continua sendo meio paradoxal, porque nos faz desperdiçar um terço do nosso tempo de vida consciente.

O sono é uma das áreas mais jovens da ciência. Até a metade do século 20, os cientistas acreditavam que o cérebro se desligasse totalmente durante a noite, com o único objetivo de descansar. Hoje, sabemos que não é bem isso. Dormimos por três motivos: para economizar energia, para fazer manutenção do corpo e para consolidar a memória.

O primeiro é fácil de entender. Enquanto você dorme, seu corpo consome menos energia - pelo simples fato de você estar imóvel e relaxado. Se não dormíssemos, teríamos de consumir um número muito maior de calorias para sobreviver, o que seria extremamente difícil para os homens primitivos. Num mundo onde o alimento era escasso, dormir era fundamental para não morrer de fome - mesmo que isso aumentasse o risco de ser atacado por animais selvagens durante a noite.

A segunda função do sono tem a ver com os processos reparadores que seu corpo executa enquanto você dorme. Na década de 1980, cientistas da Universidade de Chicago comprovaram isso realizando um teste com ratos. Após duas semanas impedidos de dormir, os bichos simplesmente morreram. Eles tinham desenvolvido manchas e feridas que não saravam e, independente da quantidade de comida que ingerissem, só perdiam peso. Até que, de uma hora para a outra, apagavam e não acordavam mais. Morte. O mesmo estudo foi repetido no ano 2000, e a conclusão foi a mesma: não dormir mata. Mas os pesquisadores nunca tinham conseguido entender o porquê disso.

A possível explicação só veio no ano passado, em um estudo da Universidade de Surrey, no Reino Unido. Os cientistas mantiveram pessoas acordadas por 29 horas e perceberam uma alteração: o nível de células brancas no sangue delas aumentou bastante, atingindo a mesma quantidade registrada em pessoas feridas. As células brancas são o elemento central do sistema imunológico. Quando você fica sem dormir, ele dispara - o que, em tese, poderia comprometer a habilidade do organismo de combater infecções.

Não é só. "O organismo libera hormônios como cortisol e adrenalina, respostas típicas de situações de estresse", diz a médica Luciana Palombini, do Instituto do Sono. E isso desencadeia uma série de processos já nas primeiras 24 horas. Primeiro, a pressão sanguínea aumenta. Logo depois, o metabolismo se desregula, e a pessoa sente uma vontade incontrolável de comer carboidratos (um estudo da Universidade Northwestern, nos EUA, constatou que quem dorme tarde e/ou mal tende a ingerir quase 250 calorias a mais por dia). Em seguida, se a pessoa continuar acordada, começam as alucinações. Sim, alucinações.

Veja o caso do estudante americano Randy Gardner. Em 1965, ele aceitou participar de uma experiência na Universidade Stanford - na qual ficou 264 horas (exatos 11 dias) sem dormir. É a maior experiência de privação do sono já registrada cientificamente; e teve efeitos terríveis sobre o pobre Randy. A partir do terceiro dia, ele começou a perder a capacidade de raciocínio, a ficar paranoico e enxergar coisas que não existiam. Ao final da experiência, Randy dormiu 14 horas seguidas. Segundo apontaram testes na época, não ficou com nenhuma sequela do experimento.

Mas não dormir, ou dormir mal, pode estar na raiz de doenças neurológicas gravíssimas. Num estudo recém-publicado, pesquisadores da Universidade de Rochester, em Nova York, mostram que o cérebro aproveita o sono para fazer uma limpeza - descartando células mortas e moléculas da proteína beta-amiloide, cujo acúmulo impede as conexões entre neurônios e provoca Alzheimer, doença incurável que leva à perda de memória. O que nos leva à terceira função do sono: gravar - e destruir - as suas memórias.


Sono, sonhos e memória
O seu cérebro não fica `desligado¿ enquanto você dorme. Longe disso. O sono é neurologicamente agitado, com quatro etapas que se sucedem e se repetem durante a noite (veja no infográfico da página 49). A mais interessante é justamente a quarta, identificada pela sigla REM - "movimento rápido dos olhos", em inglês. É o momento em que a pessoa mais descansa, e também é a fase em que ela sonha -movendo os olhos rapidamente, como se estivesse vendo coisas.

Quando uma memória se forma na sua mente, o cérebro constrói uma relação semipermanente entre os neurônios envolvidos com aquilo. Por exemplo. Vamos supor que você vá a um churrasco. Está fazendo um sol insuportável, o churrasqueiro deixa queimar a carne, você fica com fome. Mas nem tudo foi ruim - você conheceu uma nova pessoa, Maria, que se tornou sua amiga. Essas experiências todas ativam uma enorme quantidade de neurônios no seu cérebro - os que registram a sensação de calor, os responsáveis por processar cheiros (no caso, de carne queimada) e vários grupos que analisam todas as características da Maria, como sua altura, formato do rosto, voz, cor dos olhos, etc.

E o cérebro fortalece as ligações entre essa rede de neurônios. É como se eles ficassem "amigos". Passam a se comunicar mais facilmente entre si. Aí, quando você se lembrar de algum detalhe do churrasco ou da Maria, aquele mesmíssimo conjunto de neurônios será acionado - e todos os detalhes daquele dia voltarão à sua mente. É assim que a memória humana funciona.

Mas ela também age enquanto você dorme. Sabe quando você vivencia algo durante o dia, e aquela memória reaparece - muitas vezes exagerada ou distorcida - durante os sonhos? Acontece com todo mundo. Um estudo feito pelo psicólogo inglês Mark Blagrove constatou que os acontecimentos costumam aparecer nos sonhos pelo menos três vezes: na primeira, na quinta e na sétima noite de sono após vivenciados. Mas por quê? E por que as memórias surgem distorcidas, às vezes apimentadas com fantasia e coisas que jamais aconteceram? Existe uma teoria para explicar isso.

É a hipótese da homeostase sináptica (SHY, em inglês), criada por dois psiquiatras da Universidade de Wisconsin. Apesar do nome complicado, o conceito é simples: durante o sono, o cérebro desfaz algumas das conexões entre neurônios, ou seja, ele apaga memórias. O corpo libera ácido gama-aminobutírico, uma substância que enfraquece as relações entre os neurônios e deleta algumas das memórias adquiridas durante o dia. Objetivo: liberar `espaço¿, capacidade cerebral, para que você continue sendo capaz de aprender coisas novas.

Essa tese foi reforçada por uma pesquisa do National Institutes of Health (laboratório do governo americano), que este ano descobriu algo intrigante. Durante o sono, os neurônios do hipocampo, região cerebral que coordena a formação de memórias, disparam "ao contrário". Ou seja, eles emitem sinais elétricos na direção oposta de quando a pessoa está acordada. Para os cientistas, isso é um indício de que há memórias sendo apagadas.

Para determinar quais lembranças são menos importantes e podem ser deletadas, o cérebro vê se elas têm ligação com outras informações já armazenadas na sua mente. É por isso que, se você e a Maria tiverem algum conhecido em comum, a chance de que você se lembre dela é maior. Senão, o cérebro irá apagá-la. "Esse processo funcionaria como um desfragmentador de disco no computador, arrumando as nossas memórias", explica a neurologista Dalva Poyares, da Unifesp.

Esse apagamento supostamente acontece na terceira fase do sono, que antecede os sonhos. Ou seja: quando os sonhos começam, é possível que o cérebro ainda esteja sob influência da destruição de memórias, ou haja resíduos incompletos delas - e isso explique o teor de fantasia nos sonhos. Mas não existem estudos comprovando a relação. Já a conexão entre sono, memória e aprendizado é fartamente conhecida. Diversas experiências demonstraram que nossa capacidade de aprender é maior de manhã, logo após acordar, do que de noite. Dormir ajuda a aprender. Mas não é só isso. Também é possível aprender... dormindo. Nos anos 70 e 80, essa promessa era muito usada por charlatães, que tentavam vender cursos de inglês "durante o sono". A pessoa escutava uma fita com lições do idioma enquanto dormia e supostamente acordava sabendo falar inglês. Não funcionava, claro. Mas um estudo feito pela Universidade Northwestern constatou que é, sim, possível manipular - e reforçar - o aprendizado de uma pessoa enquanto ela dorme.

Na experiência, 50 voluntários foram expostos a uma longa sequência de imagens. Cada imagem vinha acompanhada de um som específico (como o barulho de uma explosão, por exemplo). Feito isso, os voluntários foram dormir. Só que metade deles recebeu um estímulo durante a noite. Quando eles atingiram a terceira fase do sono, os cientistas tocaram os sons que tinham sido associados às imagens. No dia seguinte, todo mundo acordou e os voluntários fizeram um teste de memorização. Quem tinha sido exposto aos sons conseguiu se lembrar de mais imagens, e em ordem mais correta. "Estímulos externos durante o sono podem ter influência (sobre o aprendizado)", diz o psicólogo Ken Paller, líder do estudo. "A nossa pesquisa mostra que a memória é reforçada, com a reativação de informações durante à noite", explica o psicólogo Paul J. Reber, coautor da experiência. Ou seja: não é possível aprender algo do zero enquanto se dorme. Mas é possível reforçar, dormindo, a memorização de algo que se aprendeu acordado.

Vale lembrar que a experiência da Northwestern envolve informações triviais (uma sequência de imagens). Não há comprovação, ao menos por enquanto, de que esse efeito se estenda a aprendizados mais complexos, como idiomas ou as disciplinas da faculdade. Não vale a pena dormir ouvindo uma fita com a voz dos seus professores. Melhor garantir uma boa noite de sono. Só que isso está ficando cada vez mais difícil.
 
Medieval versus moderno

Um estudo da Universidade de Virgínia estudou a rotina das pessoas no século 15, e descobriu que as pessoas costumavam dormir em duas etapas. Primeiro, elas dormiam do entardecer até a meia-noite. Aí acordavam, ficavam despertas por uma ou duas horas e depois voltavam a dormir até o dia clarear. Isso foi comprovado na prática pelo psiquiatra americano Thomas Wehr, do National Institute of Medical Health. Nos anos 90, ele confinou um grupo de voluntários em alojamentos sem luz elétrica. Eles eram obrigados a realizar atividades durante o dia, com o sol, e descansar durante a noite, por causa da ausência de luz. Após algumas semanas nessa rotina, algo curioso aconteceu: os voluntários passaram a apresentar o mesmo tipo de sono segmentado da Idade Média. E estavam sempre super-relaxados - descobriu-se que, no intervalo entre esses dois sonos, o corpo liberava prolactina, o mesmo hormônio que causa a sensação de relaxamento após o orgasmo.

Hoje em dia, dormimos de outra forma, em apenas um bloco. Isso é um subproduto da revolução industrial, que elevou a jornada de trabalho a 16 horas por dia - e limitou quando, e quanto, as pessoas poderiam dormir. Até hoje, dormir durante o dia é visto com preconceito. "Precisamos descansar. Descanso faz parte da vida. Ele ajuda nossa produtividade, melhora nosso humor e nos deixa mais criativos", diz a psicóloga americana Sara Mednick, autora de estudos que mostram o efeito positivo da soneca. "As pessoas tomam café para ficarem acordadas e quando chega a noite tomam um remédio para dormir. Será que esse é mesmo o melhor jeito de encarar uma semana de trabalho?", questiona.

Por isso, cada vez mais gente toma remédios para dormir. No Brasil, os três medicamentos tarja-preta mais vendidos (Rivotril, Lexotan e Frontal) são ansiolíticos, que acalmam e ajudam a dormir - e juntos vendem quase 15 milhões de caixas por ano. O problema é que eles, como todos os remédios que induzem sonolência, podem causar dependência física. A indústria farmacêutica ainda não conseguiu desenvolver uma droga para dormir que seja totalmente eficaz e tenha risco zero. Mas continua tentando. Sua nova esperança é o suvorexant, um remédio que inibe a hipocretina, um neurotransmissor responsável pela vigília. Ou seja: em vez de induzir o sono, como os medicamentos atuais, simplesmente anula a substância que deixa a pessoa acordada. "Estamos entusiasmados, pois a expectativa é que esse remédio não seja viciante", diz Belen Esparis, médica do hospital Mount Sinai, em Nova York, e uma das principais especialistas do mundo em sono. Mas o suvorexant foi barrado pela FDA (órgão do governo americano que aprova a comercialização de remédios), que pediu mais testes.

Uma solução mais segura, e possivelmente muito eficaz, é um aparelho chamado Somneo. Ele nasceu de pesquisas da Darpa (divisão de projetos avançados do Pentágono), que queria encontrar um jeito de fazer soldados ficarem até cem horas acordados sem sofrer. Não deu certo, mas levou à criação do aparelho, que usa várias técnicas para melhorar a qualidade do sono. Trata-se de uma máscara que cobre o rosto, as orelhas e parte da cabeça e aquece levemente a região dos olhos - o que, estudos comprovaram, faz a pessoa adormecer mais rápido e passar mais rapidamente à fase de sono profundo. A máscara também permite ao usuário programar exatamente a quantidade de tempo que deseja passar dormindo. Ela tem sensores de eletroencefalografia, que monitoram a transição entre as fases do sono e determinam qual o melhor momento para despertar a pessoa - liberando uma luz que aumenta de maneira gradual. A ideia é que essa máscara seja distribuída aos militares em guerras. Mas, como muitas das tecnologias inventadas para uso militar, ela provavelmente acabará tendo uma versão comercial.

Uma possibilidade ainda mais ousada é manipular diretamente as ondas cerebrais, ajudando a pessoa a se manter dormindo ou pular para estágios mais profundos do sono. A técnica se chama ETCC (estimulação transcraniana por corrente contínua), e consiste em aplicar uma corrente elétrica bem fraca, por meio de eletrodos, em certas áreas do cérebro. Cientistas da Universidade de Lübeck, na Alemanha, usaram a ETCC para fazer com que voluntários passassem mais rapidamente pelas duas primeiras fases do sono e ficassem mais tempo na terceira, mais profunda e relaxante. Uma experiência similar, desta vez na Universidade de Wisconsin-Madison, mostrou que é possível desencadear diretamente o sono profundo emitindo campos magnéticos sobre o cérebro. Segundo os pesquisadores, isso significa que seria possível ter os mesmos benefícios fisiológicos de oito horas de sono em apenas seis. Isso seria o equivalente a um mês `de vida¿, acordado, a mais por ano. Algo extremamente tentador para muita gente. E os voluntários não apresentaram efeitos colaterais. Mas as máquinas necessárias ainda são grandes, caras e seu uso constante pode ter conse-quências imprevisíveis a longo prazo. Não devem chegar ao seu quarto tão cedo. Mas existe uma solução para dormir melhor. E não é remédio nem máquina.

A chave do bom sono

Você já deve ter ouvido as recomendações mais manjadas. Faça exercícios. Tenha uma alimentação balanceada. Tente evitar o estresse. Não tome café de noite. Maneire no álcool. Tudo isso é verdade - e é essencial para dormir bem. Mas a epidemia de insônia no mundo tem outra raiz.

O sono é coordenado por um hormônio chamado melatonina. Ela é produzida pela glândula pineal, bem no meio do cérebro, e é a chave do "relógio interno" que nos faz dormir e acordar em ciclos de 24 horas. A melatonina também está presente em outros animais, em plantas e até em micróbios. Ela é um mecanismo que a natureza criou para adaptar os seres vivos ao ritmo do Sol. Conforme começa a escurecer, o organismo começa a liberar mais melatonina - e você sente cada vez mais sonolência, até apagar. De manhã, com tudo claro, o nível de melatonina cai, e você acorda.

Essa é a ordem natural das coisas. O problema é que o mundo moderno, e em especial a tecnologia, está bagunçando essa ordem. Depois que anoitece, continuamos a ver televisão e usar celular, computador, tablets, etc. A humanidade vive rodeada por telas que emitem luz. E isso desregula o ritmo do organismo. "Como o cérebro não sabe qual a diferença entre luz artificial e a do Sol, ele pensa que ainda é de dia", diz Simone Petera, especialista em medicina do sono. Com isso, o corpo reduz a produção de melatonina, e a pessoa não consegue dormir bem.


Existe gente que toma melatonina em comprimidos para tentar dormir melhor. Ela não tem registro oficial na Anvisa, mas não é proibida - pode ser encontrada em lojas de suplementos nutricionais. Mas não é recomendada. "A melatonina não é uma pílula para dormir muito boa, pois o organismo já a produz naturalmente", diz Belen Esparis. Se for tomada em doses erradas, pode atrapalhar o sono. Isso sem contar possíveis efeitos colaterais de longo prazo, como alterações no ciclo menstrual. O melhor a fazer é controlar a iluminação durante a noite - e com isso aumentar naturalmente o nível de melatonina no corpo.

As telas de TV e de gadgets emitem luz com temperatura (tonalidade) de 5.500 graus Kelvin, a mesma que o Sol emite ao meio-dia. Ou seja: são especialmente ruins para o sono. Mas uma experiência feita pela Universidade de Basileia, na Suíça, constatou que a luz avermelhada, típica do pôr do sol, é muito menos danosa. E você pode regular suas telas para que elas tenham esse tom. Na televisão, basta selecionar o modo "Cinema". Nos celulares e tablets Android, instalar um aplicativo chamado Twilight. E no PC e Mac, um programa chamado F.lux. São todos grátis, ou seja, não custa experimentar (no iPhone e no iPad, só é possível instalar o aplicativo F.lux por meio de jailbreak - destravamento do sistema -, pois a Apple não autoriza o uso do programa). E nunca use lâmpadas de luz fria no quarto. Fazer esses ajustes deixa o ambiente mais agradável e dá resultado: o estudo de Basileia mostrou que as pessoas expostas à luz "quente" durante a noite produzem até 40% mais melatonina do que quem recebe luz fria.

Mas à noite o ideal é deixar as telas de lado e ler algo que não emita luz, como um livro ou revista. E, se mesmo assim o sono não vier, não se culpar por isso. Dormir meio mal, de vez em quando, é a coisa mais normal do mundo.

Mapa do verde em São Paulo

Mapa do verde em São Paulo

Preservar os recursos naturais é um dos maiores e mais importantes desafios que as metrópoles de hoje enfrentam. Em nossa cidade, as áreas da natureza remanescentes estão constantemente ameaçadas - seja pela especulação imobiliária, por falta de ação do poder público, seja pela invasão de plantas estrangeiras. A seguir, apresentamos uma perspectiva do cenário atual

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Luisa Cella
Arquitetura & Construção - 05/2014
rvcroffi/creative commons/flickr
Em meio à preocupação com o baixo índice de água nos reservatórios da cidade - e de atenção mundial à possível escassez de outros recursos -, iniciamos uma pesquisa a fim de descobrir como anda a base natural de São Paulo. Além de benéfica à qualidade de vida, a convivência com áreas de natureza é vital ao ser humano, e a preservação da fauna e da flora nativas, essencial ao equilíbrio do meio ambiente. Mas a forma como nos organizamos hoje, aqui, aponta a direção oposta, e os problemas superam a mera falta de chuva.

A vida num ecossistema pressupõe causas e consequências correlacionadas. Então, se no avanço da mancha urbana se fizeram constantes questões como a especulação imobiliária e o descumprimento às leis e aos projetos urbanísticos, estava ali o embrião de diversos dos atuais problemas: altos índices de impermeabilização do solo, contaminação de mananciais, escassez de trechos verdes, poluição do ar, doenças respiratórias e, claro, uma qualidade de vida ruim. "A mentalidade de que terrenos verdes estão disponíveis como uma reserva a ser usada para o que for necessário se faz bastante comum. Desde o começo do século 20, planos defendiam a criação de parques, mas nada era feito, e os lotes acabavam retalhados por avenidas e prédios", conta Vladimir Bartalini, docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

No centro, por exemplo, os perímetros estipulados para os parques Dom Pedro e Anhangabaú logo deram lugar a outras construções. E é justamente ali onde se chegou ao índice de 0,60 m² de cobertura vegetal por habitante (um dos mais baixos do mundo), enquanto o defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ideal mínimo é de 12 m².

Some-se aí o crescimento de bairros periféricos sem regulamentação que estipule a obrigação de pontos com cobertura natural, o que acentuou a desigualdade do verde.Ou seja, se em Pinheiros o índice de cobertura por habitante consiste em 22,50 m², em outros locais, como São Miguel Paulista e Itaim Paulista, é de apenas 3 m² e 2,10 m², respectivamente. "Por causa disso, a temperatura na metrópole chega a variar até 14 °C de região para região, o maior valor já registrado no planeta", revela a pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Magda Lombardo.

A Zona Sul, onde estão localizadas as Áreas de Proteção a Mananciais (APMs) das represas Billings e Guarapiranga, é considerada um dos maiores eixos de expansão da cidade nas últimas três décadas, com crescimento intensificado nos anos recentes. Segundo o levantamento da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), entre 1991 e 2000, enquanto o avanço urbano em pontos de parques e reservas florestais foi de 15,8%, o número chegou a 28,3% nas APMs. Os dados evidenciam a preocupante falta de conservação das zonas que armazenam nossos recursos hídricos.

No caso da Billings, a margem leste tem predomínio de casas de alto padrão e chácaras, as ruas são pavimentadas, existem iluminação e coleta de lixo. No entanto, a margem oeste revela uma realidade oposta: os terrenos que beiram as águas estão tomados de favelas e domicílios precários, as ruas não são asfaltadas, há carência de infraestrutura, equipamentos públicos e saneamento, além de alta densidade populacional. Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a represa recebe cerca de 400 toneladas de lixo por dia. Com capacidade quatro vezes maior do que a da Guarapiranga, ela teria potencial para abastecer toda a região metropolitana da cidade de São Paulo por um ano. Mas esse mar de água-doce encravado no ABC está poluído, inutilizado e ignorado pelo poder público.

Partindo para o extremo oposto do mapa, na Zona Norte, está em pauta outra questão ecológica, que envolve o Rodoanel e a Serra da Cantareira - perímetro com remanescentes da Mata Atlântica, considerada a maior floresta urbana do país.

Diante dos inevitáveis danos causados por uma construção de tal porte, a pressão dos moradores e de ambientalistas fez com que as obras fossem paralisadas, e o trajeto, repensado mais de uma vez a fim de amenizar impactos.

Engenheiros se associaram a pesquisadores de botânica para encontrar soluções, e ficou estipulado como compensação ambiental o plantio de 1,7 milhão de mudas de espécies nativas. Especialistas atentam à importância de fiscalizar essa medida. "É essencial, para reduzir o dano, que o plantio seja, ao menos, de espécies típicas da região. Não adianta trazer 5 mil pinheiros, pois os benefícios não são os mesmos", alerta o botânico Ricardo Cardim.

Um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica nativa no centro de São Paulo também chama a atenção: desde 2013, a luta pela instalação do Parque Augusta no terreno de 25 mil m² ganhou força. Quando as incorporadoras Setin e Cyrela anunciaram a construção de um condomínio de alto padrão ali - seguindo o processo de verticalização da região, já absolutamente tomada de prédios -, movimentos sociais surgiram para reivindicar um parque público no local.

O atual prefeito, Fernando Haddad, respondeu sancionando o projeto de lei que estabelece sua criação. Contudo, as empresas proprietárias do lote fecharam os portões e anunciaram o uso de 20% do espaço para levantar torres residenciais. "Na minha opinião, elas deveriam doar 100% dessa área a São Paulo, num gesto simbólico de compromisso com a qualidade de vida aqui. Afinal, o que vêm fazendo pela cidade? Estão privatizando os poucos trechos verdes que temos e transformando em condomínios de luxo", comenta o vereador Ricardo Young.

Outro anúncio recente indica nova ameaça a uma área da Mata Atlântica localizada num respiro da tão impermeabilizada e pavimentada margem do Rio Pinheiros, vizinha do Parque Burle Marx, no Panamby. O local, com cerca de 5 mil árvores nativas, foi dividido entre as empresas Cyrela e Camargo Corrêa. Essa última reivindica, segundo a Associação de Moradores do Morumbi e da Vila Suzana (Samovi), pela segunda vez (a primeira foi negada), um alvará para construir no terreno.

Por essas e outras, como podemos ajudar nossa cidade? Pedimos ao botânico Ricardo Cardim para apontar algumas espécies nativas que podem ser cultivadas em casa. Ao optar por plantas locais, e não estrangeiras - que já são a maioria por aqui -, você colabora com o equilíbrio ambiental. Entenda o porquê a seguir.

NÚMEROS DA MATA ATLÂNTICA EM SÃO PAULO

18% é o que resta de Mata Atlântica no estado de São Paulo, com as maiores frações nas serras da Cantareira e do Mar. Abaixo, dados da desigualdade verde no estado, da comparação de áreas de vegetação e construídas, ilhas de calor...
Fontes (gráfico acima): Atlas de Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa); Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica 2011 e 2012; Fundação SOS Mata Atlântica (Sosma); Ilhas de calor nas metrópoles (Magda Adelaide Lombardo); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); Organização Mundial da Saúde (OMS); Prefeitura de São Paulo; Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA).

terça-feira, 16 de setembro de 2014

″Tratamos os animais de forma primitiva″

″Tratamos os animais de forma primitiva″, diz neurocientista parceiro de Stephen Hawking

Em entrevista a INFO, o canadense Philip Low expõe um paradoxo cruel: a ciência já provou que os animais são conscientes. Apesar disso, tratamos os bichos como objetos – utilizados em testes de laboratório ineficazes que podem, em sua opinião, ser substituídos por técnicas mais avançadas

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Marcus Vinícius Brasil e Vanessa Daraya INFO Online - 09/2014
Svenia Schreiner/Creative Commons/Flickr
De passagem pelo Brasil, onde participou do 3º Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-Estar Animal, o neurocientista canadense Philip Low expõe um paradoxo cruel: do ponto de vista científico, sabemos que os cérebros de mamíferos possuem oscilações complexas, como dos humanos. Temos a prova de que eles são conscientes. Apesar disso, tratamos esses animais como objetos -utilizados em testes de laboratório ineficazes que podem, na opinião de Low, ser substituídos por técnicas mais avançadas.

Além dos estudos com animais, uma das abordagens propostas pelo canadense é a de entender melhor o funcionamento do cérebro humano, e tratar doenças antes de os sintomas se manifestarem, quando ainda aparecem apenas como rotinas cerebrais problemáticas.

A empresa que fundou e atua como CEO, a NeuroVigil, temElon Musk entre os investidores e oferece essa solução para grandes laboratórios farmacêuticos, e até para Nasa, que planeja monitorar o cérebro de astronautas da Estação Espacial Internacional.

Low foi ainda responsável pelo desenvolvimento da interface cerebral que ajuda o renomado físico Stephen Hawking a se comunicar.

Confira a seguir a entrevista exclusiva que ele concedeu a INFO.

Você esteve envolvido com pesquisa animal e agora explora o cérebro humano. O que conecta esses campos de pesquisa?iBrain. Ele é o menor monitor de ondas cerebrais do mundo. Temos 3 versões. A primeira, de 2009, está sendo utilizada pelas grandes empresas farmacêuticas. Temos a segunda, que foi desenvolvida para o Stephen Hawking. A terceira, ainda em protótipo, pode ser utilizada pela Nasa para monitorar astronautas em tempo real na Estação Espacial Internacional.

Qual o grande avanço desse dispositivo?É a Matemática. Em minha tese eu desenvolvi um algoritmo capaz de ler e interpretar ondas cerebrais de forma muito sensível. Não é preciso que a pessoa vá até o hospital para que consigamos coletar toneladas de dados. Na eletroencefalografia, se você quiser dados de qualidade, enfrenta o problema de que o escalpo da cabeça suprime muitas frequências cerebrais. Meu algoritmo resolve esse problema trazendo essas frequências de volta ao espectro.

Como o iBrain e seu algoritmo funcionam no estudo da consciência animal?Quando apliquei essa matemática aos animais, percebi que nós os tratamos de forma primitiva. Eles têm oscilações cerebrais muito avançadas, e eu não sou o único a dizer isso. Sou um viciado em dados. Não uso o julgamento de ninguém para me dizer o que é real ou não. Eu olho para os dados.

Você acha que essa abordagem mais técnica pode mudar a opinião das pessoas sobre o uso de animais em testes de laboratório?Essa é uma pergunta complicada. Sei que houve a questão do Instituto Royal aqui no ano passado, e acho que é muito importante que se discuta isso. Mas, por outro lado, é importante que as pessoas não se acusem. Os ativistas costumam achar que cientistas são malignos, e os cientistas acham que os ativistas são estúpidos. E isso não é produtivo para ninguém. Nem para os animais nem para os humanos.

Eu vejo a questão da seguinte forma: se os cientistas usam financiamento público, como qualquer companhia, os investidores têm o direito de saber o que está acontecendo, como o dinheiro está sendo usado. Nesse caso, todos os cidadãos são investidores, afinal, o dinheiro é público. Então minha mensagem é: não ataque os cientistas, eles querem ajudar a sociedade. Se você não gosta do que eles fazem, não os pague para fazer isso. É necessário que os políticos respondam ao público e que haja leis que evitem que esse dinheiro seja usado em desacordo com sua opinião.

Também há o aspecto econômico das pesquisas com animais. Se eu chegasse e dissesse: "Olá, tenho uma companhia que mata milhares de animais todo ano, gasto 40 bilhões de dólares nisso, e a chance de testar em humanos é menor que 6%". Você investiria? Não. Mas é isso o que estamos fazendo como sociedade.

Qual seria a alternativa a isso?Eu prefiro trabalhar analisando o cérebro humano, buscando sintomas antes de eles se manifestarem, poupando os animais e todo o dinheiro gasto com isso. O cérebro tem muitos mecanismos redundantes. Antes do aparecimento de um sintoma, esses sistemas falharam em algum momento. Quando há um sintoma, o dano já é enorme. Então temos duas opções: recriar esses danos em animais e tentar curá-los. Ou podemos interagir antes com o cérebro, usar baixas dosagens e efeito colateral mínimo para os testes.

No caso da esquizofrenia, por exemplo, podemos usar o sono como um mapa dinâmico. Há uma fase do sono em que os esquizofrênicos apresentam falta de um tipo de atividade cerebral. Nós trabalhamos com a Marinha americana nesse campo. Quando soldados voltam do Iraque e do Afeganistão, olhamos para esses marcadores. Se encontramos essa ausência, a pessoa pode estar em risco. Então eu prefiro começar a estudar a pessoa imediatamente, em vez de esperar que ela tenha um ataque. É uma abordagem mais pró-ativa.

Além de problemas psíquicos, podemos usar essa abordagem contra doenças infecciosas?Não posso dizer com certezas. Mas o sistema imunológico pode ser mal regulado se você estiver muito estressado, por exemplo. Você passa dias de estresse e pega uma gripe em seguida. Isso acontece porque você suprimiu seu sistema imunológico. Seus padrões mudaram. Claro, pode haver muitas razões para isso. Mas o ponto é dar às pessoas um modelo probabilístico. Se você souber que tem uma chance de 70% de ter um ataque epiléptico nos próximos 15 minutos, pode tomar um remédio e evitá-lo a tempo. É como um sistema de alarme. Seria mais eficiente. Temos que decidir se queremos, como sociedade, aceitar que estamos machucando outras espécies, e esperando até as pessoas estarem quebradas. Ou investir em outra abordagem, que pode começar devagar, mas que depois trará um retorno no investimento.

Você é a favor de que as pessoas acompanhem os resultados de suas análises cerebrais?Nos Estados Unidos há esse grande movimento do "eu quantificado", e todos querem seus próprios dados. Mas eu não concordo com isso. O que acontece quando alguém sem o conhecimento necessário vê que possui propensão ao Alzheimer? A pessoa pode querer pular pela janela! É preciso cautela. Quero trabalhar de uma forma que as pessoas tenham os seus dados, mas que a análise seja feita de uma forma mais sofisticada.

Como você conheceu Stephen Hawking?Estava num congresso em Nova York em 2010. Fui convidado e me encontrar com ele e, para minha surpresa, havia apenas cinco pessoas. Fomos ao museu Metropolitan e então sua filha se aproximou e disse "ei pai, você conheceu o Philip? Ele é o único cara que tem uma tese de pHD mais curta que a sua". Ele ficou interessado, me fez um monte de perguntas e me convidou para um almoço. Eu lia os livros dele quando adolescente e lá estávamos, só o Stephen e eu, falando sobre as coisas. Foi ótimo.

Como começou o trabalho em sua interface cerebral?Um ano depois, eu ia dar uma palestra em Londres e vi uma mensagem de Stephen pedindo que eu fosse visitá-lo. Era um dia chuvoso e fui vê-lo. Não sabia o que ele queria. Quando cheguei, estávamos na cozinha e ele tentava dizer algo, por meia-hora, e não saía. Então a família dele me disse: "temos medo que a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) seja forte ao ponto de nós o perdermos". Foi muito triste. Eles me perguntaram se eu podia ajudá-lo. Falei que não sabia, mas que poderia tentar. Mas para isso haveria três condições: 1) Que o estudo fosse um teste clínico para todos que têm ELA, e não apenas para Stephen. 2) Eu precisaria de comunicação direta - já que caras famosos sempre têm pessoas em volta bloqueando seu acesso. 3) Ele teria que me dar seu feedback direto e fosse conselheiro no projeto.

Começamos os testes imediatamente, pedindo que ele imaginasse o movimento de seus membros para tentar captar os sinais cerebrais. Quando enviei as informações para os Estados Unidos e rodamos meu algoritmo, enxergamos algo. Em maio de 2013, ele soletrou sua primeira palavra - "comunicar". Depois, "comida". É uma grande honra trabalhar com esses indivíduos. Não apenas com Hawking, mas a comunidade de ELA. Quando você vê como é difícil para eles, isso faz todos nossos problemas parecerem pequenos
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