segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Vai faltar água em São Paulo?

Vai faltar água em São Paulo?

BRUNO CALIXTO

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Represas do Sistema Cantareira registram menor nível de abastecimento de água dos últimos dez anos (Foto: Reprodução / Facebook / Sabesp)

No começo desta semana, os moradores de São Paulo se assustaram ao ver um comunicado em rádios e TVs. A Sabesp, empresa que cuida do abastecimento de água na região, está veiculando uma propaganda dizendo que o nível de algumas represas que abastece a cidade chegou a um estado crítico. A empresa pede que moradores evitem o desperdício e economizem o máximo de água possível. Os paulistanos devem ficar preocupados com um possível racionamento de água na maior cidade do país?
Segundo Paulo Massato Yoshimoto, diretor da Sabesp para a região metropolitana de São Paulo, sim. O risco de racionamento de água é real. "De fato, temos um risco. Por isso estamos atuando para evitar um possível rodízio", diz. Isso acontece porque o sistema de represas que abastece cerca de 9 milhões de pessoas está com menos de 23% de sua capacidade total.
Yoshimoto afirma que a Sabesp decidiu pedir ajuda da população após análise da temperatura e das chuvas do último mês de dezembro. Os resultados não foram nada animadores. Toda a água usada no abastecimento de São Paulo vem de várias represas que, juntas, formam sistemas. As represas do Sistema Cantareira, que ficam na região de Bragança Paulista, abastecem quase metade da população da Grande São Paulo. A análise mostrou que essas barragens estão na pior situação de abastecimento desde que o sistema foi criado, em 1975.
Segundo Yoshimoto, São Paulo viveu condições climáticas excepcionais nos últimos anos. Nunca fez tanto calor na região – já é o verão mais quente registrado na área do Sistema Cantareira. As chuvas ficaram abaixo da média por dois anos consecutivos. Em dezembro do ano passado, a região bateu o recorde de menor quantidade de chuvas para o mês. Em janeiro de 2014, o recorde deve ser repetido.
Quem acompanha o Blog do Planeta sabe que cientistas preveem maior frequência de eventos extremos, como as condições que São Paulo está enfrentando, no Brasil e no mundo. Não é possível dizer se a falta de chuva foi causada pelo aumento das médias de temperatura no planeta. Mas um dos principais efeitos do aquecimento global no Sudeste brasileiro será uma mudança no ciclo de chuvas, e o país precisará se adaptar e se preparar para enfrentar secas e enchentes.
Segundo Yoshimoto, ainda dá tempo de evitar o racionamento de água neste começo de ano. A Sabesp traçou duas estratégias para tentar contornar a situação. A primeira foi passar bairros inteiros abastecidos pelo Sistema Cantareira para o Sistema Alto Tietê. Grande parte da Zona Leste de São Paulo, por exemplo, passou a receber água das barragens do Tietê. A outra é uma campanha de comunicação para convencer a população a não desperdiçar água. "Se houver uma boa redução no consumo, devemos conseguir postergar a situação crítica até a segunda semana de fevereiro, quando as chuvas devem voltar ao normal."
Os paulistanos devem economizar água mais do que nunca. E a tendência é de que a cada ano isso se torne mais e mais necessário – não apenas para São Paulo.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

ECOzinha: Conheça os benefícios da laranja

ECOzinha: Conheça os benefícios da laranja



A laranja é uma fruta bastante comum da dieta dos brasileiros. Além de ser rico em vitamina C, o fruto reserva uma série de outros benefícios, incluindo melhores condições para o sistema cardíaco e digestivo.

É importante lembrar que a maior parte dos benefícios da laranja está concentrada no bagaço da fruta, que é rico em fibra e pectina, um polissacarídeo muito importante para auxiliar a digestão e impedir a absorção e o armazenamento de gorduras no corpo.

Devido a todas as suas propriedades naturais, a laranja traz como benefícios diretos à saúde o combate ao colesterol, o controle da pressão sanguínea, o estímulo às funções intestinais e sistema circulatório, além de ajudar a manter a defesa do organismo e deixar a pele mais bonita.

Essa fruta pode ser consumida em sua forma natural ou através de sucos. O ideal é que eles sejam feitos e tomados na hora, sem conservantes e outros químicos que reduzem sua eficiência. Para aumentar o aproveitamento, bata a laranja no liquidificador ou em uma centrífuga, pois assim a casca também é utilizada.

Outra sugestão é fazer o bolo de laranja com casca, confira a receita abaixo:

Ingredientes:

- 2 laranjas médias
- ¾ xícaras (chá) de óleo
- 3 ovos
- 2 xícaras (chá) de açúcar
- 2 xícaras (chá) farinha de trigo
- 1 colher (sopa) de fermento em pó
- Gotas de baunilha

Modo de preparo:

Corte as laranjas em quatro e retire as sementes e a parte branca no centro (deixe a casca e o bagaço). Bata no liquidificador as laranjas, os ovos, o açúcar e a baunilha. Despeje esta mistura em uma vasilha. Acrescente a farinha de trigo mexendo bem e, por último, o fermento misturando levemente. Asse em forma untada. Se preferir, despeje sobre o bolo quente o suco de duas laranjas, adoçando com 2 colheres (sopa) açúcar.


via: CicloVivo

BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FAROL DE SÃO TOMÉ DO LAGAMAR E LAAGOA DE CIMA

ATENTAI-VOS  PARA ESTA IMPORTANTE INFORMAÇÃO:A ÚNICA  PRAIA CAMPISTA ESTÁ TOTALMENTE PRÓPRIA PARA O BANHO DOS VERANISTAS.VIVA O VERÃO DA FAMÍLIA.








sábado, 1 de fevereiro de 2014

ALIMENTOS:Como ler os rótulos

Como ler os rótulos

Algumas expressões usadas nas embalagens de alimentos industrializados mais confundem do que esclarecem. Veja o que dizem os especialistas e as normas

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Fernanda Morelli e Mariele Góes Claudia - 

creative Commons

DIET

O que é: Indica que há restrição de algum ingrediente, como sódio ou gordura, e pode aparecer nos rótulos como "zero". "A maioria desses alimentos não contém açúcar e é voltada para diabéticos", explica a nutricionista Manuela Dias, da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Proteste.

Não se deixe enganar: Esses alimentos nem sempre são mais leves. Um exemplo: o chocolate diet costuma ter alto teor de gordura, para compensar a ausência de açúcar, e até mais calorias que a versão tradicional. "O açúcar fornece quatro calorias por grama e a gordura chega a 9", diz a nutricionista Cecília Rios, do Centro Terapêutico Dr. Máximo Ravenna, em Salvador.

Antes de colocar no carrinho: Observe na tabela nutricional se o produto é menos calórico que o tipo original e se não possui teores elevados de ingredientes nocivos quando ingeridos em excesso, como gorduras e sódio. Na dúvida, compare com um similar não diet - muitas vezes a diferença é grande só no preço.

LIGHT
O que é: Deve apresentar 25% a menos de algum ingrediente em relação ao alimento tradicional. "Pode ser gordura e açúcar, o que diminui o valor calórico, ou sódio ou colesterol", diz Manuela Dias. A partir de janeiro, o valor dessa redução deverá ficar claro na embalagem por meio da comparação entre as duas tabelas nutricionais (a original e a light).

Não se deixe enganar:
 "Por ser light, as pessoas tendem a comer demais e, no fim, acabam ingerindo até mais calorias", alerta Manuela. E pense que o valor nutricional importa mais que o energético - um copo de suco de laranja pode ser mais calórico que um refrigerante, mas certamente é mais saudável.

Antes de colocar no carrinho: Cheque qual ingrediente foi reduzido e se ele gera grandes alterações calóricas. Além disso, atenção à porção de referência da tabela nutricional para descobrir quantas calorias você vai mesmo ingerir (o ideal é calcular de acordo com a medida caseira).

ZERO GORDURA TRANS
O que é: Pela nova resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), podem usar a frase alimentos que tenham apenas 0,1 grama de gordura trans por porção de 100 gramas ou de 100 mililitros.

Não se deixe enganar: A gordura trans pode aparecer nos rótulos disfarçada com o nome de gordura vegetal hidrogenada. Mas o perigo maior está na falsa ideia de que o produto é mais saudável por isso. "O alimento pode ser isento de gordura trans, mas conter alto nível de gorduras saturadas ou totais, que também são danosas por elevar o colesterol", lembra a nutricionista Cecília.

Antes de colocar no carrinho: 
Só acredite que o produto não possui gordura trans depois de checar na tabela nutricional. "O melhor alimento é aquele que não contém gordura trans, tem pouca gordura saturada e muita gordura boa, a chamada insaturada, geralmente encontrada nos alimentos de origem vegetal", afirma Carlos Alberto Werutsky, nutrólogo e diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

NATURAL E ORGÂNICO
O que são: Ainda não existe uma regulamentação da Anvisa determinando o que um produto precisa conter para ser considerado natural. Já os itens orgânicos dizem respeito à forma de cultivo: são produzidos sem agrotóxicos e transportados e armazenados de forma diferenciada.

Não se deixe enganar: 
Existe uma grande diferença entre o alimento conter ingredientes naturais, como frutas, e atestar, na embalagem, que o produto em si é natural. "Se ele passou pelo processo de industrialização, já deixou de ser natural", ressalta a nutricionista Antônia Maria de Aquino, gerente de produtos especiais da Anvisa.

Antes de colocar no carrinho: "Quanto menos caixas e latas a gente comprar, melhor. Alimentos frescos são sempre mais saudáveis que os de pacote", afirma Cecília. Quanto aos orgânicos, procure nos rótulos por selos que atestem sua origem, como o IBD ou o Produto Orgânico Brasil.

BAIXO TEOR DE SÓDIO
O que é: O sódio é um mineral presente na maioria dos alimentos e também o principal componente do sal de cozinha. Consumido em excesso, faz o organismo reter líquidos e aumenta a pressão arterial. Saiba diferenciar: um produto possui baixo teor de sódio quando tem até 80 miligramas do componente por porção de 100 gramas; muito baixo se apresentar até 40 miligramas de sódio nas mesmas 100 gramas; e pode ser dito que o item não contém o ingrediente caso ele leve até 5 miligramas nessa porção.

Não se deixe enganar: O sódio pode aparecer com outros nomes, como benzolato de sódio, sacarina sódica e glutamato monossódico. Mais: olhe também os rótulos dos produtos que não têm paladar salgado, como adoçantes e ketchups, pois eles podem conter doses elevadas do ingrediente.

Antes de colocar no carrinho:
 "Todo alimento com mais de 400 miligramas de sódio por porção de 100 gramas deve ser evitado", aconselha a nutricionista Cecília Rios. Para se ter uma ideia, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é consumir diariamente 2 gramas de sódio (menos de 1 colher de chá rasa de sal), no máximo. Em tempo: o termo "baixo teor" pode ser usado em outros casos - com gorduras, por exemplo - e o valor de referência para adotá-lo muda. É permitido que um alimento anuncie "baixo teor de gordura" quando apresentar até 3 gramas de gorduras totais por porção de 100 gramas. Os valores de cada substância constam em tabela no site da Anvisa.

INTEGRAL
O que é: São alimentos que contêm grãos ou cereais, como aveia, trigo ou centeio, e não passaram por um processo de refinamento. Não existe uma regulamentação sobre a quantidade mínima de grãos ou fibras necessária para um produto ser considerado integral.

Não se deixe enganar:
 Muitas vezes, a diferença é maior apenas no preço, já que cada marca adota o critério que deseja. Alguns fabricantes, apenas pelo fato de o alimento conter farinha integral ou farelo de cereais, já o denominam integral.

Antes de colocar no carrinho: Olhe com atenção a lista de ingredientes. Nela, os componentes do produto aparecem em ordem decrescente. "O ideal é que a farinha integral ou os cereais estejam entre os primeiros itens", afirma a nutricionista Manuela Dias. Se farinha refinada e açúcares vierem antes, redobre a atenção.

NÃO CONTÉM COLESTEROL
O que é:
 O colesterol é um tipo de gordura produzido naturalmente no organismo. E não só no nosso: todo alimento de origem animal contém colesterol, assim como produtos que levam ingredientes desse tipo (a exemplo do ovo, presente em tantas receitas). Mas um item pode se dizer isento se apresentar até 5 miligramas por porção de 100 gramas, como informa a nutricionista Antônia Maria.

Não se deixe enganar: Não conter colesterol não significa ausência de gorduras ou de açúcar nem que o alimento é menos calórico. E atenção: o consumo máximo de colesterol, segundo a Organização Mundial da Saúde, é de menos de 300 miligramas por dia.

Antes de colocar no carrinho: Uma pegadinha é empregar a frase em alimentos que já não conteriam a substância, como óleo vegetal. Aí você é levada a crer que o produto daquela marca é mais saudável que o de outras. "A partir de 2014, será obrigatório informar que o item não contém colesterol como qualquer um do mesmo tipo", diz Antônia.

ENRIQUECIDO COM...
O que é: A expressão aparece em tudo que recebe adição de nutrientes. Esse reforço pode ocorrer tanto para repor o que foi perdido durante o processamento do alimento quanto para reforçar o seu valor nutricional.

Não se deixe enganar:
 A frase pode desviar o seu foco, já que, normalmente, aparece em alimentos ricos em açúcar e gorduras, como os biscoitos recheados, achocolatados e os cereais matinais.

Antes de colocar no carrinho
: A partir de janeiro, só será permitido que um produto ateste que é enriquecido com determinado nutriente se houver uma versão tradicional da mesma marca para servir de parâmetro - e isso deve estar explícito por meio de tabelas comparativas. "No caso das vitaminas e minerais, por exemplo, para ser validado como enriquecido, é preciso ter um aumento de no mínimo 10% daquele nutriente", ensina Cecília Rios
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Não dá mais para ir de carro


Não dá mais para ir de carro

Cada vez mais cidades optam por tirar espaço dos automóveis e dar a ônibus, ciclistas e pedestres. O EXAME Fórum Sustentabilidade discutiu essa e outras soluções para a mobilidade urbana

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Daniel Barros
Exame -

epSos.de/Creative Commons

Quem diria? Chicago, Las Vegas e Los Angeles, nos Estados Unidos, estão copiando cidades como Curitiba, Goiânia e a colombiana Bogotá. Pelo menos na criação em suas ruas de faixas especiais para ônibus, o chamado BRT (do inglês Bus Rapid Transit), que começou a ganhar o mundo com base na experiência latino-americana.

O conceito não é novo. É uma tentativa de emular as características boas do metrô usando ônibus - e investindo um décimo do necessário para fazer um trem subterrâneo. A solução reúne faixas segregadas fisicamente do trânsito, estações fixas, embarque em nível, pagamento da passagem antecipado e veículos mais longos do que o normal. A novidade é que, nos últimos dez anos, o número de cidades que usam o BRT no mundo aumentou de 50 para 166 e essa opção se tornou quase unanimidade entre especialistas em transporte urbano.

"O BRT de Bogotá acabou com o mito de que o sistema não pode ser usado como transporte de massa, pois ele movimenta mais gente do que 95% das linhas de metrô", disse o consultor colombiano Oscar Edmundo Diaz no EXAME Fórum Sustentabilidade, evento que discutiu em São Paulo, no dia 19 de novembro, soluções para a melhoria da mobilidade urbana - e, por consequência, da qualidade do meio ambiente.

Diaz é sócio da consultoria GSD Plus e colaborou na gestão de Enrique Peñalosa como prefeito de Bogotá, no fim da década de 90, perío­do em que o Transmilênio, o BRT local, e dezenas de quilômetros de ciclovias foram feitos. A decisão política de Peñalosa seguiu um raciocínio simples: priorizar o transporte público em vez do individual, representado principalmente pelos carros. "Hoje, não vejo muita perspectiva de melhorar o transporte individual motorizado na cidade de São Paulo", disse Fernando Haddad, prefeito da capital paulista, no encerramento do Fórum.

Pouco mais da metade da população mundial mora em cidades. Em 2050, a concentração será de 70%. No Brasil, a proporção de população urbana já é de 84%. Nos últimos anos, as cidades brasileiras vêm registrando um enorme aumento no número de carros.

A consultoria Ernst&Young fez um estudo que projeta dois cenários para o transporte nas cidades até 2050. A notícia ruim é que a mobilidade pode piorar muito. Hoje, metade do transporte de pessoas no mundo é feita por carro. Se a evolução se mantiver constante, em 40 anos quase 70% dos deslocamentos serão feitos em automóveis. O resultado seria que cada pessoa perderia, em média, 106 horas anuais em engarrafamentos - o dobro de hoje.

Mas, se as metrópoles usarem os mecanismos disponíveis para incentivar alternativas ao carro, a proporção pode mudar para 40% de pessoas se movendo com carros e 60% com transporte público, compartilhado ou a pé. O gasto com transporte seria reduzido de 12% do PIB global para 6% e 180 000 mortes no trânsito seriam evitadas todos os anos - é uma Araçatuba, do interior de São Paulo, salva por ano. "O mundo precisa de cidades compactas, integradas e includentes", disse no fórum Elkin Velasquez, coordenador do Habitat, programa das Nações Unidas dedicado aos assentamentos humanos. A escolha de tirar espaço dos carros e entregar aos ônibus é um símbolo disso. Mas vai ser preciso muito mais para dar um salto qualitativo.

Sistemas como BRT e metrô miram atender o maior número possível de pessoas. Quando Velasquez diz que as cidades precisam ser compactas, refere-se ao adensamento das áreas que têm mais acesso a esse tipo de transporte: o de massa. É o que o Rio de Janeiro vem tentando fazer. Parte da cidade está sendo cortada pela via Transcarioca, um BRT que irá até a Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste e um polo econômico de importância crescente.

A inauguração da Transcarioca está prevista para o início de 2014. Em 2016, a zona norte receberá o Transbrasil, uma ligação até o centro. Hoje, o metrô também já atravessa essa parte da cidade, onde há um grande número de casas. "Como a zona norte terá uma infraestrutura de transporte muito melhor, queremos aprovar um projeto para aumentar o gabarito de construção da região", diz o prefeito do Rio, Eduardo Paes. "O objetivo é adensar ainda mais o entorno das estações de BRT e metrô."

O Plano Diretor que a Câmara Municipal de São Paulo está discutindo parte da mesma premissa e avança em outro ponto vital para melhorar a mobilidade no longo prazo: o uso misto dos bairros. Melbourne, na Austrália, foi eleita pela consultoria Economist Intelligence Unit nos últimos três anos como a cidade mais "habitável" do mundo. Um dos principais quesitos é o equilíbrio entre prédios comerciais - onde estão os empregos - e residenciais, o que diminui a necessidade de mover as pessoas. "Medellín, na Colômbia, também dá exemplo de uso variado dos bairros", diz Velasquez, da ONU. "O trânsito é disperso por vias paralelas e há um número crescente de parques e espaços públicos ao ar livre."

MEDIDAS DE CURTO PRAZO
Mas também há um conjunto de medidas de curto prazo que podem melhorar o transporte público. "Eu não consigo entender por que ainda não é difundido no Brasil o uso da Onda Verde nos semáforos para ajudar o fluxo dos ônibus nos horários de pico", diz Gilberto Peralta, presidente da GE, fabricante de sistemas de controle e equipamentos elétricos. Ele se refere à solução que dá prioridade à passagem dos coletivos em cruzamentos e que é usada corriqueiramente em cidades pequenas, médias e grandes lá fora.

Pelo mundo, costuma ser parte fundamental dos sistemas de BRT, para garantir que os ônibus não percam tempo nos cruzamentos. Mas a tecnologia também pode ser utilizada em linhas de ônibus normais: um dispositivo "avisa" quando o ônibus está se aproximando do sinal para que seja aberto. Na lista de medidas simples também estão o piso baixo, no nível das calçadas, e as portas largas dos ônibus. Eles permitem que mais pessoas entrem com rapidez. "A redução do tempo de viagem com essas melhorias pode chegar a 30% do total", diz Adalberto Maluf, diretor para São Paulo da Rede C40, grupo das cidades líderes no tema das mudanças climáticas do mundo.

Uma contribuição igualmente valiosa que a tecnologia pode dar está na difusão de informações. Que combinação de meios de transporte é mais apropriada para ir de um ponto a outro? É uma questão frequente para quem habita os grandes centros urbanos. São, afinal, dados que deveriam estar à mão.

Londres, Singapura, Hong Kong e Seul oferecem isso com eficiência e em tempo real. Essas cidades mapeiam as opções e indicam como o cidadão pode usar combinações de metrô, trens urbanos, ônibus, bicicleta, táxis, caminhada e até estações de compartilhamento de veículos.

"Quando as prefeituras mapeiam as opções de transporte em detalhe, além de comunicar melhor aos usuários quais são as rotas possíveis, elas descobrem onde estão os pontos subatendidos", diz Susan Zielinsky, diretora do centro de pesquisa sobre mobilidade urbana Smart, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Usar informações em tempo real pode ser determinante para planejar o controle do tráfego e acionar rapidamente órgãos do governo quando acidentes acontecem.

O Centro de Operações que a IBM montou para a prefeitura do Rio de Janeiro já é sincronizado com o aplicativo Waze, em que usuários compartilham informações sobre o trânsito. A ideia é que, quanto mais informações são coletadas, mais previsível se torna a forma como pessoas e veículos se movem. "Os dados coletados por GPS anônimos em carros e celulares permitem análises cada vez mais profundas", diz Ulisses Mello, diretor de operações da IBM no Brasil. Com as tecnologias de hoje, já é possível saber que pontos de ônibus são mais utilizados a cada hora e, assim, modificar o trajeto dos coletivos.

Mas toda essa tecnologia não resolve uma questão inerente a qualquer rede de transporte complexa: a capilaridade. Os sistemas de informação sofisticados devem indicar e fomentar a integração e o uso de mais opções. A boa e velha caminhada, por exemplo, não deve ser subestimada. "A cidade não pode ser feita só para veículos motorizados", diz Oscar Diaz, da GSD Plus. "É preciso estudar o pedestre."

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, parece ter entendido isso. Durante seu mandato de 12 anos, tomou várias medidas para tornar mais agradável a vida de quem anda pela cidade. Na intervenção com melhor custo-benefício, Bloomberg ampliou o tamanho das calçadas na região da Times Square e melhorou a sinalização. Conseguiu elevar 11% o número de pedestres da área e cortar 63% dos acidentes. Mesmo tirando faixas do trânsito, a fluidez dos carros no bairro aumentou 18%. O custo: 1,5 milhão de dólares.

"Se você der às pessoas um ambiente adequado para andar, elas vão escolher andar", diz Helle Soholt, presidente do Gehl Architects, escritório que auxiliou a prefeitura de Nova York na tarefa de dar mais espaço aos pedestres. Atualmente, o Gehl está elaborando um projeto para o centro de São Paulo com a prefeitura. Estima-se que 25% dos deslocamentos de pessoas na cidade são de, no máximo, três quilômetros. Caminhar ou pedalar seriam saídas ideais.

A mesma lógica do espaço para caminhadas, portanto, pode se aplicar ao uso de bicicletas. Em Bogotá, 370 quilômetros de ciclovias foram construídos desde a gestão de Enrique Peñalosa. Hoje, 5% da população se locomove diariamente com as bicicletas. O espaço para os ciclistas em Bogotá é mais do que o dobro do disponível em São Paulo, onde as ciclovias são usadas basicamente para lazer. Se Bogotá já avançou, o que dizer de Amsterdã, onde a proporção dos que pedalam é de 60% da população todos os dias? É a prova de que a ideia de que as pessoas podem ir trabalhar todos os dias de bicicleta não é utópica.

"Uma forma de incentivar é garantir que as estações de metrô, trens e BRT tenham bicicletários", diz Adalberto Maluf, da C40. O sistema de aluguel de bicicletas que já funciona em capitais brasileiras inspirou o setor automotivo, que também não quer um cenário de imobilidade maior ainda, mas que espera dobrar suas vendas nos próximos 30 anos.

Sistemas de compartilhamento de veículos estão proliferando pela Europa e pelos Estados Unidos. O usuário pega um carro perto de uma estação de transporte público e o devolve em vagas especiais perto de casa. É uma aposta de algumas montadoras. "O aluguel de carros para trajetos curtos é uma das saídas para completar a última milha dos trajetos, e acreditamos que essa solução pode pegar", diz Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil. A empresa alemã criou o sistema Car2go, de aluguel de carros em pequenas estações espalhadas por pontos estratégicos e já oferece o serviço em 25 cidades - a maioria na Alemanha e nos Estados Unidos.

Cidades do mundo inteiro estão se movendo para resolver os problemas de transporte e a ordem do dia é conseguir o melhor custo-benefício. "As cidades vão gastar bilhões tentando criar novos espaços públicos, como grandes avenidas e elevados, ou vão se empenhar em usar melhor o que já existe?", diz Paulo Custódio, consultor de transporte do Banco Mundial. A conclusão do EXAME­ Fórum é que a segunda opção é a que faz sentido.

HÁ MÚLTIPLAS SAÍDAS
A discussão sobre como melhorar a mobilidade em grandes cidades tem convergido para um conjunto de soluções de curto, médio e longo prazo.

CURTO PRAZO
Mapear as opções de transporte
Londres e Singapura detalham rotas pela internet, integrando metrô, ônibus, bicicletas, pontos de táxi e até sugestões de caminhada

Prioridade para ônibus
Dezenas de cidades americanas e europeias usam um sistema que dá prioridade aos ônibus nos semáforos — a Onda Verde

Incentivo para andar a pé
Um quarto dos deslocamentos em São Paulo poderia ser feito a pé. Com mais calçadas e sinalização melhor, Nova York aumentou 11% a circulação de pedestres na região da Times Square

MÉDIO PRAZO
Bus Rapid Transit
Corredores de ônibus com pagamento antecipado, estações fixas, pistas exclusivas e linhas expressas. Já há 166 cidades no mundo com BRT

Ciclovias
Bogotá, na Colômbia, conseguiu fazer 5% da população optar por bicicletas no dia a dia. Em Amsterdã, com tradição de décadas, a marca é de 60%

Centros de controle
Câmeras, sensores e GPS seguem o fluxo de veículos em tempo real e ajudam o poder público a administrar o trânsito e a reagir em caso de acidente

LONGO PRAZO
Metrô

Embora custe caro e demore de oito a 14 anos para finalizar uma linha, o metrô atende 187 metrópoles. Na China, há 30 cidades construindo ou planejando sua rede

Planejamento urbano
Levar empregos para áreas residenciais e construir moradias onde há empregos em abundância. Povoar o entorno das principais rotas de transporte. São saídas que Melbourne, na Austrália, está adotando.

Fontes: C40, Embarq GSD Plus, Green Mobility e Gehl Architect
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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Um gelo polar

AQUECIMENTO GLOBAL

Um gelo polar

Uma massa de ar frio vinda do Ártico fez com que a temperatura caísse 30 graus em poucas horas nos Estados Unidos e no Canadá. São os efeitos das mudanças climáticas

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Raquel Beer e Victor Caputo Veja -
Robert S. Donovan/Creative Commons

Na terça-feira, 7, os nova-iorquinos repentinamente acordaram numa cidade a 15 graus negativos, 27 graus a menos do que no dia anterior. Foi a menor temperatura de Nova York nos últimos 118 anos, nesta época do ano. Mais ao norte do Estado de Nova York, na fronteira com a província canadense de Ontário, uma cena impressionante era vista na cidade de Niagara Falls: as águas das emblemáticas Cataratas do Niágara, a mais volumosa queda-d'água do Hemisfério Norte, estavam congeladas. Chicago, em Illinois, chegou a 27 graus negativos (até a Antártica tinha temperaturas mais elevadas naqueles dias). Na divisa entre os estados de Minnesota e Dakota do Norte a sensação térmica era de 50 graus negativos. Frio suficiente para alguém jogar, um copo de água fervente no ar e vê-la se transformar em partículas de gelo antes de tocar o chão. Ao menos 21 americanos morreram por hipotermia e outros 240 milhões foram afetados pelo clima gelado — lojas não abriram e muita gente nem saiu de casa durante a semana.

Tudo congelado, a pergunta que fica é a seguinte: será que o rigoroso inverno americano é prova da inexistência de um aquecimento global, fenômeno aclamado por muitos cientistas como o vilão de nosso século?

Dada a dissonância cognitiva provocada pelo choque entre a expressão "aquecimento global" e um frio danado como o da semana passada nos Estados Unidos e no Canadá, a expressão "mudança climática" tem ganhado cada vez mais espaço. Afinal, como explicar aquecimento global para um sujeito que está sentindo frio abaixo do registrado na superfície de Marte? Mudança climática, portanto, é o nome do jogo.

Nas últimas cinco décadas, a temperatura na Terra subiu 0,7 grau. Parece pouco, mas é o suficiente para desestabilizar o clima global. Enquanto algumas regiões estão mais quentes, como o Ártico e a Austrália, outras esfriaram, a exemplo dos Estados Unidos. O que ocorreu no centro e na costa leste americana é efeito de um fenômeno conhecido como polar vortex, ou vórtice polar. Trata-se de uma massa de ar que circula constantemente pelo Ártico, em um movimento circular, com ventos de 42 graus negativos e a 160 quilômetros por hora. Normalmente, a rotação da Terra fez com que o vórtice fique restrito ao Polo Norte. O aquecimento do Ártico, onde a temperatura subiu 2 graus em cinquenta anos (o triplo do aumento mundial), desestabilizou os ventos frios e fez com que eles rumassem para os Estados Unidos, derrubando a temperatura em até 30 graus em poucas horas, em vários estados.

A desestabilização do vórtice se deve ao fato de que o aquecimento do Ártico intensificou o derretimento do mar congelado que cobre a região. Entre julho e agosto de 2013, o degelo observado foi o dobro da média registrada desde 1969 pelos satélites da Nasa, a agência espacial americana. A extensão da parcela congelada do Oceano Ártico é hoje 25% menor do que a que se via há 45 anos, e a água também está 3 graus mais quente. Ocorre que o contato da superfície maior de água aquecida com o ar, que é mais gelado, acaba por esquentá-lo. Como os ventos mais quentes são menos densos que os mais frios, eles sobem na atmosfera, desestabilizando o vórtice polar. Foi esse ar (quente para os padrões do Ártico, mas extremamente gelado para os dos Estados Unidos), com temperatura de dezenas de graus abaixo de zero, que rumou em direção à costa leste americana. Disse a VEJA o climatologista americano David Robinson, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey: "Esse evento tem acontecido com frequência nas últimas décadas, mas desta vez foi mais grave por ter ocorrido um deslocamento muito rápido do vórtice em direção ao restante do Hemisfério Norte. Não houve tempo para que os ventos se aquecessem no caminho, o que criou o inverno extremamente rigoroso. A duração disso é, porém, curta: em uma semana as temperaturas já devem voltar para o patamar típico de um mês de janeiro".

A perturbação do vórtice polar é cada vez mais frequente. No ano passado, os mesmos ventos frios rumaram em direção à Inglaterra, que sofreu seu inverno mais rigoroso dos últimos sessenta anos. O problema já afetou os Estados Unidos quatro vezes nos anos 80, e a mais recente se deu em 1996. Na última versão do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU, publicada no fim do ano passado, há um alerta: até 2040, a camada congelada na superfície do Oceano Ártico deve desaparecer totalmente durante a primavera e o verão. Isso deixará o oceano exposto, afetando as mudanças climáticas globais.

Ao mesmo tempo em que temperaturas congelantes castigam os Estados Unidos, outros sinais de reviravoltas climáticas são vistos ao redor do mundo. Os termômetros na Austrália bateram a marca de 50 graus na semana passada, recorde dos últimos cinquenta anos. Uma onda de calor, a mais severa em 100 anos, atingiu Buenos Aires, na Argentina, na primeira semana deste mês. No Brasil, altas temperaturas foram registradas neste verão: a sensação térmica no Rio de Janeiro chegou a 50 graus. As causas das mudanças climáticas, porém, não são claras. Segundo o IPCC, é de 95% a probabilidade de que o aquecimento seja fruto de ações humanas, principalmente daqueima de combustíveis fósseis. Por outro lado, cientistas apelidados de "céticos" afirmam que o homem não é responsável pelo aumento das temperaturas. Segundo eles, há ciclos naturais que modificam o clima terrestre em decorrência de diversos fenômenos, como a intensificação da atividade do Sol, cujas explosões na superfície têm sido mais frequentes e potentes. Se o motivo não é evidente, a consequência é, sim: o clima da Terra está se transformando
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Composição da Executiva e Diretório do PR - RJ


Garotinho com o prefeito de São Gonçalo, Neilton Mulim eleito na convenção vice-presidente estadual do PR (Foto de Check Fotógrafo)
Garotinho com o prefeito de São Gonçalo, Neilton Mulim eleito na convenção vice-presidente estadual do PR (Foto de Check Fotógrafo)


Vejam abaixo a chapa eleita na Convenção Estadual do PR por 6.983 votos a favor e apenas 35 contra.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Tem um rio no meio do caminho

EM SÃO PAULO

Tem um rio no meio do caminho

São Paulo esconde em seu subsolo mais de 300 córregos que guardam lendas, histórias e curiosidades que ajudam a decifrar a alma da metrópole

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Branca Nunes  Veja.com - 

Heitor Feitosa

Heitor Feitosa
Vielas, becos, ruas em curvas, galerias pluviais, paredes marcadas por enchentes. Para encontrar os rios de São Paulo, é preciso prestar atenção em tudo isso. Outra dica é olhar para o alto em busca de pedaços de céu. Como não é permitido erguer grandes construções sobre cursos d’água, quando, no meio de um quarteirão, é possível enxergar uma espécie de corredor e, acima dele, uma nesga de céu aberto, é quase certo que ali embaixo exista um rio. São Paulo esconde em seu subsolo mais de 300 rios, córregos e riachos que guardam lendas, histórias e curiosidades que ajudam a decifrar a alma da metrópole.

O Saracura é um desses rios escondidos de São Paulo. Nasce atrás do Maksoud Plaza, que já foi um dos hotéis mais glamorosos da cidade, a duas quadras da Avenida Paulista. O espigão da Paulista – primeira via asfaltada da capital – é o berço de quase todos os rios da cidade. Os que nascem do lado dos Jardins desaguam no Rio Pinheiros. Os que brotam do lado da Bela Vista desembocam no Tietê. Deste lado está a Ribeirão Preto – que apesar de ter nome de rio e de uma cidade do interior do estado, é uma rua –, onde na altura do número 529 existe um desses espaços de céu aberto.
Para encontrar a nascente do Saracura (ou melhor, as nascentes, porque o rio não tem uma só nascente, tem várias. A imagem é a de uma mão: os dedos seriam as nascentes. Eles se encontram e seguem formando o braço, ou seja, o rio) é preciso seguir as curvas da Alameda Campinas e da Rua Dr. Seng. No fim desta rua há o que os geógrafos chamam de combinação ideal: um beco, vegetação abundante, umidade e taiobas, um tipo de planta que só cresce em terrenos com água o ano inteiro.

Ali, o clima é mais fresco, o ar é mais limpo, a temperatura cai alguns graus. É fascinante imaginar que, apesar dos prédios em volta, do asfalto, dos muros delimitando o terreno, aquele pedacinho da cidade é exatamente daquele jeito desde muitos anos antes da chegada do homem (assista abaixo um vídeo que ensina como encontrar uma nascente em São Paulo).

A água que brota até da parede é como a descrita nos livros escolares: insípida, inodora e incolor. Só não pode ser bebida porque o solo da cidade é contaminado pelo esgoto das casas, pela sujeira das ruas, pela poluição dos automóveis. Mas pode ser usada para muita coisa. Onofre Sabino, por exemplo, usa para lavar carros. Ele inventou um decantador que consiste em cinco bacias de alumínio ligadas por mangueiras. A primeira mangueira liga a nascente a uma das bacias. Conforme a água passa de um recipiente para outro, pequenos sedimentos, como areia, pedrinhas e folhas, vão sendo depositados no fundo até que esteja pronta para ser usada. Sabino garante que, desde 1986, quando começou, até hoje, nunca faltou água.

A duas quadras dali, na Rua Almirante Marques de Leão, motoristas de táxi também lavavam seus carros em outra nascente do Saracura. Como não havia o decantador de Onofre Sabino, uma só mangueira capturava a água de um terreno baldio e a jogava nos carros. Mas a prefeitura proibiu o lava-rápido improvisado e agora os taxistas lavam seus carros numa oficina localizada no cruzamento das ruas Una com a Cardeal Leme. A água, que antes vinha da terra, agora vem da Sabesp.

É sob a Cardeal Leme que corre o Saracura. Embora seja uma via sem declives nem aclives, quem anda de bicicleta por ali garante que nesse trecho não é preciso pedalar. É como se as águas carregassem o ciclista até desembocarem na Avenida 9 de Julho, ao lado da escola de Samba Vai-Vai.

Um dos símbolos da Vai-Vai é justamente a saracura, ave de pernas finas abundante naquela região por volta de 1920, quando o asfalto ainda não tinha engolido o ribeirão. A saracura deu nome ao córrego, aos moradores do Bexiga e virou personagem de diversos sambas, como Tradição, de Geraldo Filme:

O samba não levanta mais poeira
Asfalto hoje cobriu o nosso chão
Lembrança eu tenho da Saracura
Saudade tenho do nosso cordão.

Quem nunca viu o samba amanhecer
vai no Bexiga pra ver, vai no Bexiga pra ver.


Para ver o Saracura é preciso sair do Bexiga e caminhar até a saída do viaduto Doutor Plínio de Queirós. Nesse ponto, uma grade no asfalto da 9 de Julho permite uma espiada no rio que corre lá embaixo. De janeiro a março, a estação das chuvas, é o Saracura que vem dar uma espiada aqui em cima. Ele aparece nos jornais levando carro, gente, lixo e animais – e é quando algumas pessoas se lembram de que ali existe um rio.

Apesar do jeitão insubmisso, o Saracura não é caudaloso. Tem pouco mais de dois metros de largura. Ganha fôlego na altura da Praça da Bandeira, bem no centro de São Paulo, quando encontra o Itororó – que corre sob a Avenida 23 de Maio – e o Bixiga – que vem da Rua Japurá –, formando o Anhangabaú. Os três seguem juntos pela Rua Carlos de Souza Nazaré, ao lado da 25 de Março, até desembocarem no Tamanduateí, o rio – esse sim um riozão – que acompanha a Avenida do Estado.

Embora não seja “tamponado”, como são chamados os rios cobertos, as muretas nas laterais fazem com que poucas pessoas saibam que naquela avenida feia e cinza corre um dos rios mais importantes da cidade. Além de São Paulo ter sido fundada em suas margens, o Tamanduateí era a porta de entrada da capital. Por ele navegavam os barcos que iriam atracar no porto localizado ao pé da Ladeira Porto Geral – aquela das lojas de fantasias que ficam abarrotadas na época do carnaval.

Quando o Saracura chega ao Tamanduateí, suas águas jorram tão feias e cinzentas quanto a Avenida do Estado. O esgoto das casas, a sujeira das ruas, a poluição dos automóveis, a negligência do homem, tudo contribui para alterar aquela água que brota insípida, inodora e incolor a menos de 10 quilômetros dali. É esse líquido viscoso que desaguará no Tietê, quase em frente da ponte conhecida como estaiadinha.

O Tietê encontrará o Rio Pinheiros um pouco mais adiante, no chamado ponto zero das marginais, onde passa todo o esgoto da cidade. Ele veio boiando pelos seus dois maiores rios que, por sua vez, foram alimentados pelas mais de três centenas de córregos e riachos que correm no subsolo da maior metrópole da América do Sul.

Trezentos é o número oficial. O geógrafo Luiz de Campos Jr. e o urbanista Roberto Bueno, idealizadores do projeto Rios e Ruas, garantem que são, no mínimo, o dobro – a bacia hidrográfica sob São Paulo teria 3.500 quilômetros de extensão. A dupla organiza explorações pela metrópole com o objetivo de caçar essas águas enterradas vivas. Uma rua sinuosa, vielas, esquinas com muitos bueiros, paredes marcadas por enchentes são alguns indícios de que, naquele lugar, pode existir um rio.

Essa necessidade de reeducação do olhar é relativamente recente. A partir de 1930, com a intensificação da industrialização de São Paulo, os rios foram gradativamente cedendo lugar para as ruas e os automóveis. Como é proibido erguer um prédio em cima de um rio, para evitar a contaminação do lençol freático, a maioria fica sob o asfalto. Luiz garante que nenhum paulistano mora a mais de 200 metros de um curso d’água.

Se tivesse poderes para fazer o que bem entendesse, Bueno optaria pelo que não lhe parece nenhum milagre. Exumaria 300 metros de um desses rios, limparia suas águas e construiria em suas margens uma área de lazer ou um pequeno parque. Ele acredita que o prazer será tanto que os paulistanos desejarão estender a experiência a outras paragens. E exigirão que, para encontrar os rios de São Paulo, baste olhar para baixo.

O mar vai virar sertão

O mar vai virar sertão

Entre tradicional e high-tech, o museu Cais do Sertão Luiz Gonzaga, que abre este mês em Recife, recria o Brasil sertanejo

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Mariana Payno Elle

Divulgação

Não há luar como o do sertão, e quem cantou essa moda o fez como ninguém: da sanfona de Luiz Gonzaga, tradição e inovação saíram juntas, compondo as notas do que se tornou um dos mais fortes pilares da cultura popular brasileira, o baião. Recriando a trajetória do compositor pernambucano e resgatando a história sertaneja, o Cais do Sertão Luiz Gonzaga, com inauguração prevista para o dia 13 de dezembro, chega à beira do mar em Recife um ano depois do centenário de nascimento do rei do baião.


"Queremos mostrar o Brasil sertanejo por meio do sanfoneiro fantástico que foi Luiz Gonzaga", explica o antropólogo Antônio Risério, criador do conceito do museu. Para isso, uma equipe de artistas e especialistas viajou por grotões colhendo material para compor o acervo documental e buscando inspiração para as obras inéditas produzidas para o Cais. "É importante trazer para a beira-mar a cultura do sertão, que é riquíssima e pouco conhecida. E olhar para as raízes como algo que continua pulsando", diz a curadora Isa Ferraz, que também foi responsável pelo Museu da Língua Portuguesa e montou em Recife uma exposição nos mesmos moldes de interatividade da casa paulistana.



Um dos convidados para a empreitada foi o cineasta Kléber Mendonça (pré-indicado ao Oscar 2014 pelo filme O Som ao Redor, de 2012), que passou um tempo sob as estrelas de Ibimirim, a 300 km de Recife, para fazer os takes de sua produção para a mostra permanente, uma instalação sobre as feiras sertanejas. "Queria algo que não falasse apenas do espaço físico das feiras, mas que misturasse a linguagem cinematográfica à carga histórica de conflito e violência, que é muito forte no Brasil e no sertão", contou o diretor a ELLE.



Ao lado dele, com obras de artes plásticas, cinema, música e literatura, estão nomes como Tom Zé, José Miguel Wisnik, Marcelo Gomes, Carlos Nader, Luiz Hermano e Miguel Rio Branco. Assim, o Cais do Sertão vem se juntar à efervescente cena culturalpernambucana - que, mais do que falar sobre o regionalismo, resgata a universalidade do homem. E nada mais justo do que Luiz Gonzaga ser o mentor de tudo isso. Como bem colocou Mendonça: "Gonzaga cantou temas universais. Em algum momento da minha vida, percebi que sabia as letras dele de cor e eu nunca tive um disco do Luiz Gonzaga. É muito bonito isso".



ENQUANTO ISSO, NO RIO...

Pernambuco está mesmo no centro quando o assunto é arte - e não é de hoje. Sabendo disso, o Museu de Arte do Rio reuniu 300 obras na expo Pernambuco Experimental, em cartaz a partir do dia 10 deste mês. Entre pinturas, fotografias, canções e performances, a exposição traz o que de melhor se produziu por lá desde o início do século 20 até os anos 1980. De quebra, o MAR ainda apresenta uma mostra de filmes e lança um livro sobre o assunto.
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