quinta-feira, 16 de abril de 2020




 A briga sobre isolamento chegou ao STF!

STF decide que estados e municípios podem adotar restrições em pandemia


Gabriela Coelho Da CNN, em Brasília
15 de Abril de 2020 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu, nesta quarta-feira (15), que estados e municípios têm competência para adotar medidas de restrição de locomoção durante a pandemia do novo coronavírus.
Reunido pela primeira vez por meio de teleconferência, o Plenário da Corte decidiu manter uma liminar do ministro Marco Aurélio, relator de uma ação sobre a autonomia de prefeitos e governadores.
Os nove ministros presentes à sessão também entenderam que prefeitos e governadores têm legitimidade para definir quais atividades são consideradas essenciais para não serem paralisadas.  
Votaram com o relator os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Rosa Weber, Luix Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Dias Toffoli. 
O ministro Luís Roberto se declarou impedido “por motivo de foro íntimo”: seu antigo escritório atuou na causa como 'amigo da corte'. De licença médica desde janeiro, o ministro Celso de Mello só volta a participar das sessões na semana que vem, segundo informou o gabinete. 
A Advocacia-Geral da União, que representa o governo federal, queria garantir poderes para o Palácio do Planalto derrubar as iniciativas locais de combate à pandemia. 
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é contra o isolamento social como forma de prevenção ao contágio da doença, na contramão do que recomendam autoridades de saúde nacionais e internacionais. 
Segundo o AGU, dar esse poder aos governadores pode criar entraves para "a garantia da coesão social, do abastecimento de insumos básicos e do fornecimento de prestações essenciais à população". O órgão também afirmou que autoridades locais não podem se sobrepor às "normas gerais" da esfera federal.
A decisão de Marco Aurélio foi tomada em uma ação do PDT em meio à queda de braço entre os governadores e o presidente Jair Bolsonaro sobre as competências de cada ente federativo.
O partido questionou a medida provisória editada pelo presidente estabelecendo que somente as agências reguladoras federais poderiam editar restrições à locomoção. 
Para o ministro, o texto da MP não impede estados e prefeituras de atuar. Marco Aurélio entendeu que as restrições sobre os municípios podem ser feitas pelos estados e que a União deve legislar em questões do território nacional.
Na ação, o PDT argumentou que a Constituição Federal estabelece que saúde é atribuição comum da União, dos estados e dos municípios. Portanto, seria inconstitucional concentrar na União a atuação para conter o coronavírus. 




Pandemia faz surgir a era do e-commerce de carros – e já disponível no Brasil

O novo coronavírus e o distanciamento social impulsionaram a oferta de carros pela internet, incluindo o financiamento e até mesmo “lives” na internet. Veja
Crédito: Top Partner
Há alguns meses, seria difícil imaginar um consumidor realizando a compra de um carro pela internet, incluindo até mesmo a contratação de um financiamento. O que muitos clientes tinham à disposição eram portais ou sites que customizam o carro por algum canal digital, tais como a cor, o tipo de mecânica e até incluir itens que proporcionam algum conforto.
No entanto, o coronavírus desafiou a ordem analógica do negócio do setor automotivo ao redor do mundo e impôs uma nova realidade, digamos, virtual. Agora, já é possível realizar uma compra do início ao fim pela internet.

Em queda

Para o mercado de autos, a impressão é que a internet se tornou uma salvação de um mercado praticamente parado por causa do distanciamento social imposto pelo COVID-19. No entanto, há poucos meses a internet tinha uma finalidade quase que exclusivamente voltada para a divulgação de um veículo. Redes sociais e sites eram vistos como ótimos canais de informações e dúvidas sobre um carro. A venda, por outro lado, era realizada pela concessionária ou loja de carro.
Evidentemente que a venda física ainda é decisiva para o setor automotivo. Mas o consumidor decidiu mudar um pouco a lógica da jornada de compra a partir de uma visão mais digital. Uma recente pesquisa recente do Google, por exemplo, mostra mais de 95% dos consumidores buscam a internet como fonte de informação sobre um carro. Mais: 91% iniciam a jornada de compra de um carro por meio digital, ou seja, escolhem cor, modelo, definem as especificações técnicas e os itens de série por meio digital.
A mesma pesquisa, no entanto, trouxe um dado ainda mais curioso e que confirma a mudança de comportamento do consumidor. De acordo com o estudo, a internet não é apenas uma fonte de informação do consumidor, mas seria um lugar onde o consumidor forma a sua convicção sobre o que gostaria em um carro. A loja apenas validaria a convicção do cliente.
O próprio estudo do Google mostra que 41% dos entrevistados disseram que foram a uma concessionária apenas para confirmar a escolha feita na internet. Nesse sentido, ao menos por enquanto, ainda a vale a famosa lógica de São Tomé: só acredite vendo.

Pandemia

O fato é que todo esse cenário acima é anterior a pandemia do coronavírus. Em em uma situação normal dificilmente a jornada de compra seria totalmente digital – ao menos neste momento. Teríamos, na melhor das hipóteses, teríamos uma ou outra venda feita pela internet. Tanto é verdade que o estudo da Anfavea, entidade patronal do setor automotivo, sequer possui dados de vendas de carro pela internet.
Mas o coronavírus acelerou esse processo de transformação digital em uma proporção ainda difícil de mensurar, mas, ao mesmo tempo, com uma convicção: ela veio para ficar. Em uma recente entrevista a revista Exame, Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, resumiu o momento: “A pandemia forçou empresas a evoluir 20 anos em 20 dias”.
Montadoras, assim como outros negócios, não tiveram muita escolha: migraram às pressas para a internet, pois viram o negócio despencar quase do dia para noite. Sem as concessionárias, fechadas pelo poder público, o setor simplesmente não vende carros e isso se compra por meio de outro estudo. Um levantamento feito pela LCM Automotive, consultoria especializada no mercado de autos, afirma que o novo coronavírus resultou em uma diminuição de 13% na quantidade de veículos fabricados ao redor do mundo. Se em 2019 o mundo o setor construiu 88,8 milhões de carros, este ano a expectativa é de 76,9 milhões. Em tempo: antes da pandemia, a expectativa era fabricar mais de 90 milhões de carros.

EUA: de financiamento digital a “live” no show room

Em outras palavras, a aposta no digital virou um meio de sobrevivência – e talvez o único neste momento. Mais do que isso, tornou-se um símbolo de esperança do setor automotivo.
Em países como os EUA, por exemplo, já existem montadoras e até concessionárias oferecendo uma experiência de compra pela internet do início ao fim pela. Para alguns, esse fenômeno teve como ponto de partida o chamado “efeito Amazon” e que foi potencializado com o COVID-19. O resultado dessa mudança ainda em curso se traduz em vendas on-line que incluem desde o financiamento pela internet até uma “live” em show room por meio de um vendedor. Além disso, lojas pequenas e concessionárias americanas se tornaram clientes de última hora de empresas de tecnologia dispostas a oferecer chatbot ou modelos transacionais pela internet.
A Jeep Dodge South Oak Chrysler Ram, em Illinois, nos Estados Unidos, é um exemplo. Uma recente reportagem da CNN mostrou que a loja já era conhecida por seu modelo de venda de carro por telefone ou e-mail. No entanto, recentemente, a empresa mudou a sua experiência para um sistema totalmente on-line, incluindo a seleção do carro, a negociação e até mesmo o financiamento. Ou seja, se o cliente quiser, nem precisa pisar na loja. Conheça o site da loja aqui.
As novidades que surgem em vendas de carro pela internet não param por aí. Mais do que apenas vender e financiar o carro pela internet, há empresas que entregam o veículo em casa. General Motors (GM), Fiat, Chrysler, Ford e Toyota possuem sistemas de compra e entrega em domicílio.
No entanto, o que tem encantado alguns fãs de veículos é o site exclusivamente dedicado a venda de Cadillacs, da GM. Recentemente, a marca lançou o chamado Cadillac Live, um site em que os compradores podem assistir apresentações ao vivo dos carros e utilitários esportivos da marca em tempo real. Veja aqui.
“Se você atualmente possui uma concessionária que possui 10% de suas vendas baseadas em um sistema on-line, talvez, agora, isso possa chegar a um terço”, afirmou, em tom profético, Jack Hollis, responsável pelo marketing da Toyota na América do Norte, em uma entrevista para a CNN.

Brasil também aderiu ao digital

Acontece que esse movimento não ocorre exclusivamente nos EUA. As montadoras brasileiras também oferecem experiências digitais de compra, sendo que algumas delas incluem até a possibilidade de contratar um financiamento. Sim, é possível comprar um carro na internet por aqui.
A Renault, por exemplo, afirma que é a primeira montadora no Brasil a vender todos os seus veículos pela internet. “Sabemos que os clientes estão cada vez mais conectados e fazem diversas atividades e compras on-line. O nosso e-commerce é mais uma forma prática, simples e segura de adquirir um Renault”, afirma Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil em comunicado.
Segundo a empresa, o site da Loja Renault inclui as etapas da aquisição de um automóvel, incluindo financiamento, pré-avaliação do usado e pagamento por boleto.
Outro caso recente é o da Ford no Brasil. A marca também passou a oferecer a venda do veículo pela internet por causa da pandemia do novo coronavírus, uma iniciativa chamada de “Compre Sem Sair de Casa”.
Segundo a empresa, o cliente da marca precisa preencher um cadastro no site da montadora, no campo “Compre Sem Sair de Casa”. Todas as demais etapas do processo são feitas remotamente: desde o financiamento, avaliação do carro usado, seguro, emplacamento e test-drive até a entrega do veículo em domicílio.
“Nesse momento, sabemos que as atenções estão totalmente voltadas para a proteção e saúde das pessoas. Mas também percebemos que alguns clientes mantiveram suas compras, pois precisam de um carro para se locomover com mais segurança”, diz Antonio Baltar Jr., diretor de Marketing, Vendas e Serviços da Ford. “O objetivo desse novo canal é oferecer comodidade e conveniência para que ele possa fazer todo o processo de compra do veículo sem precisar sair de casa.”
A Nissan também disponibilizou um serviço de oferta por meio de uma ação excepcional de venda por causa da pandemia. No site, o consumidor escolhe o veículo, preenche o formulário e afirma que tem a intenção de comprar um carro. A GM possui o chamado Shop, Click and Drive, cuja ideia é também oferecer uma jornada completa de compra por meio do site.
Ao que tudo indica, as montadoras também devem seguir na direção de um modelo mais digital de compra. Uma boa notícia em tempos tão difíceis.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

CIENTISTAS TENTANDO ENCONTRAR A DROGA ANTI CORONA !

Com 100 testes clínicos registrados, nenhuma droga tem eficácia comprovada contra a Covid-19

Levantamento encomendado pela Associação Médica Americana analisou estudos sobre remédios já em uso
FONTE JORNAL O GLOBO 
Ampola da droga remdesivir, usada no tratamento do ebola e testada contra o coronavírus Foto: Ulrich Perrey / REUTERS
Ampola da droga remdesivir, usada no tratamento do ebola e testada contra  Foto: Ulrich Perrey / REUTERS
SÃO PAULO - "Nenhuma terapia se mostrou efetiva até agora", afirma um levantamento recente feito por cientistas da Universidade do Texas analisando mais de 100 testes clínicos de medicamentos para combater a Covid-19. O trabalho, encomendado pela AMA (Associação Médica Americana), lista muitas iniciativas já fracassadas e algumas poucas que deixam cientistas ainda intrigados, sem esconder a frustração com falta de evidência para as drogas usadas até agora.
Publicado no JAMA, o periódico acadêmico da AMA, o trabalho fez uma varredura na literatura médica publicada até 25 de março, quando 350 testes clínicos relacionados ao novo coronavírus estavam registrados. Destes, muitos não eram específicos para a doença, vários se referem a vacinas (não fármacos) e alguns se referem a pacientes pediátricos, que não eram o foco da revisão. Sobraram na lista dos pesquisadores 109 iniciativas mais sólidas para avaliar, além de mais de mil estudos, que incluem também relatos de casos isolados.
Em quase quatro meses de epidemia, entre as drogas candidatas já deixadas para trás está, por exemplo, o Tamiflu (oseltamivir). Efetivo contra gripe, o remédio chegou a ser usado inadvertidamente em janeiro em pacientes com Covid-19 que não tinham recebido diagnóstico adequado. Numa avaliação posterior, médicos já constataram que não funcionava bem. O uso de corticoides para tentar evitar os processos inflamatórios mais nocivos da Covid-19 também falharam.
Em meio ao cenário de incerteza, um dos medicamentos que ainda nutrem certa esperança está o antiviral remdesivir, criado originalmente para combater o ebola, mas ainda não aprovado para comercialização na maioria dos países. Um teste que reuniu dados de 53 pacientes nos EUA, Itália, Japão e Canadá viu melhora em 36 (68%) deles com a droga. Como os voluntários não foram comparados a pessoas recebendo placebo ou outros tratamentos, porém, os próprios autores do trabalho reconhecem que a evidência de eficácia deste fármaco é insuficiente, em artigo publicado sexta-feira (10) no New England Journal of Medicine.
Como é o processo de infecção do vírus Foto: Editoria de Arte
Como é o processo de infecção do vírus Foto: Editoria de Arte
O remdesivir é um dos quatro tratamentos escolhidos para o programa Solidarity, da OMS (Organização Mundial da Saúde) que articula um teste em grupos maiores em vários países, que busca conseguir evidências melhores da eficácia de algumas drogas. Os outros fármacos no projeto são o anti-HIV Kaletra (combinação dos fármacos lopinavir e ritonavir), o interferon-beta, usado para atrite reumatóide, e a variação cloroquina/hidroxicloroquina, usada contra malária.
Nenhuma dessas terapias, porém, obteve resultados que permitam conclusões claras até agora.
A hidroxicloroquina, apesar de ainda ganhar a atenção dos médicos, também não entusiasmou os autores da revisão do JAMA, liderados pelo farmacólogo James Sanders. Testes com resultados promissores na França, afirma, eram em grupos pequenos e não contabilizaram voluntários excluídos do teste por problemas de adaptação à terapia. Um teste similar na China, também pequeno, mas com um grupo mais adequado para comparação, não observou nenhum benefício visível da cloroquina.
O Kaletra, visto como promissor no início da epidemia, também está em uma situação ambígua. Resultados de um teste com 199 pacientes hospitalizados por Covod-19 na China, publicados ainda em março no New England Journal of Medicine, não conseguiram enxergar nenhum benefício da droga. Cientistas acreditam que, talvez, os efeitos só sejam perceptíveis para pacientes graves, que receberão a droga em outros testes por vir.

Esperança e efeitos colaterais

No cenário de incerteza, ainda se sustentam sob um fio de esperanças algumas drogas desenvolvidas fora do eixo EUA-Europa.
Um medicamento chamado Arbidol, aprovado na Rússia e na China para tratamento de gripes severas, por exemplo reduziu um pouco a taxa de mortalidade num teste com 67 pacientes chineses. O mesilato de camostat, uma droga japonesa aprovada para pancreatite, mostrou boa eficácia em testes de tubo de ensaio contra a Covid-19 — grau de evidência que é preliminar mas poucas das outras drogas atualmente em avaliação já possuem.
Sanders e seus coautores alertam que, a despeito da pressa, manter o padrão de segurança das pesquisa é essencial, porque não é incomum uma droga usada para um novo propósito prejudicar os pacientes, em vez de ajudar.
O ribavirin, droga que foi testada contra a SARS e a MERS, doença causadas por outros coronavírus agressivos, está sendo reconsiderado agora para a pandemia. Mas a droga já vem de um histórico complicado de efeitos colaterais.
"O ribavirin causa toxicidade hematológica severa", relatam os pesquisadores. "As altas doses usadas nos testes para SARS resultaram em anemia hemolítica para mais de 60% dos pacientes. Num teste similar com a MERS, em combinação com interferon, 40% dos pacientes acabaram precisando de transfusões de sangue."
A preocupação com toxicidade, em menor grau, é algo que também ronda os testes com a cloroquina e derivados.

Ciência em alta velocidade

Paolo Zanotto, virologista do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, leu o artigo do JAMA a pedido do GLOBO, e disse que o considera "excelente", mas afirma que o ritmo alucinante da produção de pesquisas sobre a Covid-19 já o torna um tanto obsoleto. Na comunidade de pesquisa, outros nomes de fármacos com potencial promissor estão emergindo.
— Essa é uma revisão extensiva e seminal, mas não inclui estudos mais recentes ou drogas como a ivermectina, que está parecendo muito promissora, e o uso de heparina — diz Zanotto.
O pesquisador da USP, que defende a hidroxicloroquina, apesar das evidências inconclusivas, afirma que resultados mais robustos ainda estão por vir.
— Estamos acompanhando um estudo onde deram ao pacientes a escolha de optar ou não pela terapia. A maioria da centena que optou por receber concentrava aqueles com maior risco, devido a comorbidades (doenças preexistentes). O grupo que foi tratado com hidroxicloroquina e azitromicina na fase ambulatorial teve um quinto da taxa de hospitalização — relatou.
Onde as drogas interferem no vírus Foto: Editoria de Arte
Onde as drogas interferem no vírus Foto: Editoria de Arte
No estudo do JAMA, Sanders e seus autores reconhecem o desafio de resumir o conhecimento que vem sendo produzido em tempo real. O Brasil é um dos países que estão contribuindo, ainda que de forma modesta, com protocolos de pesquisa.
A Fiocruz está testando, por exemplo, a combinação atazanavir/ritonavir, e o Hospital Sírio Libanês de São Paulo tem pacientes recebendo cloroquina, inclusive alguns com sintomas leves. Um estudo do Incor (Instituto do Coração), de São Paulo, está usando medicamentos anticoagulantes para pacientes graves.
"O ritmo frenético da literatura médica publicada sobre a Covid-19 significa que as recomendações e descobertas estão evoluindo constantemente com as novas evidências", escreveu Sanders. "O que foi publicado até agora deriva exclusivamente de dados observacionais ou de testes clínicos pequenos, nenhum com mais de 250 pacientes, e isso introduz um risco maior de viés ou imprecisão."

terça-feira, 14 de abril de 2020

O QUE SERÁ QUE ESTA ACONTECENDO .

Coronavírus: mistério sobre queda abrupta de casos na África do Sul intriga especialistas 

FONTE; R7 E BBC BRASIL

Nas últimas duas semanas, país passou por situação excepcional que médicos não conseguem explicar: uma queda dramática e inesperada na taxa diária de novas infecções por coronavírus


Os casos de coronavírus pararam de crescer intensamente na África do Sul nas últimas semanas

Os casos de coronavírus pararam de crescer intensamente na África do Sul nas últimas semanas

Getty Images
Nas últimas duas semanas, a África do Sul passou por uma situação excepcional que os médicos ainda não conseguem explicar: uma queda brusca e inesperada na taxa diária de novas infecções pelo novo coronavírus.
Um sinal claro disso está nos hospitais do país, que tinham se preparado para receber um volume alto de pacientes.
Os leitos e enfermarias estão prontos para eles, cirurgias não urgentes foram remarcadas e ambulâncias foram equipadas, enquanto equipes médicas vêm ensaiando protocolos sem parar e autoridades de saúde passam longas horas em reuniões pela internet preparando e ajustando seus planos de emergência.
Mas, até agora, contra a maioria das previsões, os hospitais sul-africanos permanecem tranquilos: o "tsunami" de infecções que muitos especialistas previram não se concretizou. Pelo menos, ainda não.
"É meio estranho, misterioso. Ninguém sabe ao certo o que está acontecendo", diz Evan Shoul, especialista em doenças infecciosas de Johanesburgo.
Tom Boyles, outro médico de doenças infecciosas, do Hospital Helen Joseph, um dos maiores centros de saúde pública de Johanesburgo, também diz que todos estão "um pouco perplexos".
"Estamos falado que é a calma antes da tempestade há cerca de três semanas. Estávamos preparando tudo aqui. E essa tempestade simplesmente não chegou. É estranho."
A África do Sul adotou medidas de isolamento social desde março passado

A África do Sul adotou medidas de isolamento social desde março passado

EPA
Os especialistas em saúde alertam, no entanto, que é muito cedo para interpretar a falta de casos como um progresso significativo no combate à epidemia e estão preocupados com o fato de que isso pode até mesmo gerar um perigoso sentimento de complacência.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, sugeriu que as duas semanas de isolamento no país até agora são responsáveis por estes índices ​​e prorrogou a vigência das restrições em todo o país, que deveriam terminar em uma semana, para o final do mês.
No entanto, outras países que também impuseram quarentenas não obtiveram resultados semelhantes.

Rastreamento de contatos agressivo

Na África do Sul, até 13 de abril, foram relatados 2.173 casos e 25 mortes por coronavírus. É o país mais afetado do continente até agora.
Quase cinco semanas se passaram desde o primeiro caso confirmado de covid-19 na África do Sul e, até 28 de março, o gráfico do número de novas infecções diárias seguiu uma curva ascendente acelerada.
Até então, tudo era semelhante ao que acontecia na maioria dos países onde os casos também haviam sido detectados nas mesmas datas.
Mas, naquele sábado, a curva caiu bruscamente: de 243 novos casos em um dia, para apenas 17. Desde então, a média diária ficou em cerca de 50 novos casos.
Será que o isolamento precoce e rígido da África do Sul e o trabalho agressivo de rastreamento de contatos com pessoas infectadas estão realmente funcionando? Ou é apenas uma pequena melhora antes de um desastre?
No final da semana passada, o presidente Ramaphosa disse que era "muito cedo para fazer uma análise definitiva", mas considerou que, desde que a quarentena foi introduzida, o aumento diário de infecções diminuiu de 42% para "cerca de 4%".
"Acho que quanto mais pessoas testamos, mais revelamos se isso é uma anomalia ou se é real", disse Precious Matotso, especialista em saúde pública que monitora a pandemia na África do Sul em nome da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Medos de complacência

Na África do Sul, o argumento de que é cedo para tirar conclusões sólidas sobre a propagação do vírus é uma visão comum.
"É difícil prever qual caminho seguiremos: uma taxa de infecção alta, média ou baixa. Não temos evidências amplas", diz Stavros Nicolaou, executivo da área de saúde que agora coordena parte da resposta do setor privado à pandemia.
Na África do Sul, até 13 de abril, foram relatados 2.173 casos e 25 mortes por coronavírus, segundo a OMS

Na África do Sul, até 13 de abril, foram relatados 2.173 casos e 25 mortes por coronavírus, segundo a OMS

Getty Images
"Pode haver sinais precoces positivos, mas meu medo é de que as pessoas comecem a se sentir tranquilas (e baixem a guarda), com base em dados limitados", acrescenta ele.
Mas essa "calma antes de uma tempestade devastadora", conforme descreveu o ministro da Saúde, Zweli Mkhize, na semana passada, está causando inúmeras especulações.
A suposição generalizada é de que o vírus, introduzido na África do Sul e em muitos outros países africanos em grande parte por viajantes mais ricos e visitantes estrangeiros, chegaria inevitavelmente a bairros mais pobres e supepopulosos e se espalharia rapidamente.
Segundo especialistas, essa continua a ser a próxima fase mais provável do surto, e várias infecções já foram confirmadas em vários municípios.
Mas médicos da África do Sul e de alguns países vizinhos notaram que os hospitais públicos ainda não viram qualquer indício de aumento nas internações por infecções respiratórias, o sinal mais provável de que, apesar das evidências limitadas, o vírus está se propagando em ritmo intenso.
Uma teoria diz que os sul-africanos podem ter uma certa proteção contra o vírus. Alguns alegam que isso pode ser devido a uma variedade de fatores médicos, desde a vacina obrigatória contra a tuberculose que todos recebem ao nascer até o impacto dos tratamentos antirretrovirais, ou o possível papel de diferentes enzimas em diferentes grupos populacionais. Mas essas suposições não foram verificadas.
"Essas ideias já existem há algum tempo. Ficaria surpreso se fosse o resultado de uma vacina. Essas teorias provavelmente não são verdadeiras", diz Boyles.
A África do Sul enviou o Exército às ruas para reforçar a quarentena

A África do Sul enviou o Exército às ruas para reforçar a quarentena

Getty Images
O professor Salim Karim, principal especialista em HIV da África do Sul, acredita que essas são "hipóteses interessantes", mas nada além disso. "Acho que ninguém no planeta tem as respostas", afirma.
Shoul, entretanto, diz que o país ainda está se "preparando como se um tsunami estivesse chegando". "O sentimento ainda é de grande expectativa e nervosismo", afirma ele.

Incerteza

A verdade é que essa situação, diferente do acontece na maior parte do mundo, leva especialistas a considerar se não seria uma queda antes do que um médico chamou de possível "aumento astronômico" de novos casos.
Vários críticos manifestaram preocupações de que o sistema de saúde público tenha demorado a implementar um regime agressivo de testes e, atualmente, seja excessivamente dependente de clínicas particulares para detectar novas infecções.
A razão pela qual os novos casos diminuíram é desconhecida

A razão pela qual os novos casos diminuíram é desconhecida

Getty Images
Documentos internos do Departamento de Saúde aos quais a BBC teve acesso apontam para crescentes preocupações sobre má administração dos sistema público, em especial no que diz respeito à baixa testagem.
Mas essas preocupações pela crescente confiança de que a abordagem "baseada em evidências científicas" do governo para a pandemia também pode estar dando resultado.
EMPRESAS SOLIDÁRIAS E  FORNECENDO DINHEIRO AO COMBATE DO CORONA

País já tem R$ 2,2 bi em doações para o combate ao coronavírus



Itaú anuncia R$ 1 bi para um fundo de apoio ao SUS e para enfrentar a pandemia. Para especialistas, iniciativa deve estimular envolvimento ainda maior das empresas
Presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher Foto: Marcos Alves / Agência O Globo
Presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher Foto: Marcos Alves / Agência O Globo
SÃO PAULO E RIO - O Itaú Unibanco anunciou na segunda-feira que vai doar R$ 1 bilhão para um fundo que coordenará ações de apoio ao SUS e a estados e municípios na crise do coronavírus. A doação é a maior já feita no Brasil para uma causa única e eleva a pelo menos R$ 2,2 bilhões o valor levantado em filantropia no país para o combate aos efeitos da pandemia, segundo a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR).
A conta não considera, porém, doações de valor não divulgado, como a compra de testes por Vale e Petrobras.
A doação para a criação do fundo Todos pela Saúde se soma a outros R$ 250 milhões que o banco já havia divulgado. Os recursos sairão do caixa do banco, sem usufruir de qualquer benefício fiscal, e ficarão em um fundo dentro da Fundação Itaú Unibanco, sob a gestão de um time de sete médicos e especialistas em saúde liderados por Paulo Chapchap, diretor do Sírio Libanês.
O fundo Todos pela Saúde ficará aberto para receber doações de outras empresas e atuará de forma coordenada com gestores estaduais e municipais na gestão da crise.
O presidente do Itaú, Candido Bracher, disse acreditar que os investidores do banco concordarão com a doação, que foi aprovada por unanimidade pelos acionistas controladores e pelo conselho:
- Nenhuma instituição pode ser melhor do que o país em que ela se encontra. Achar que uma instituição pode ir bem num país que não vai bem não está certo. Tenho certeza de que os acionistas saberão reconhecer que o Itaú está assumindo sua responsabilidade como cidadão corporativo.
O presidente do Itaú também respondeu a críticas de que a doação, embora expressiva, represente uma fração de 3,5% do lucro do banco no ano passado, de R$ 28,4 bilhões:
- Podemos sempre discutir o percentual. Mas essa é a maior doação privada já feita no Brasil para uma causa específica. E é muito importante ressaltar que não basta ter dinheiro só, é importante conseguir alocá-lo.
Segundo integrantes de movimentos filantrópicos, o cheque do Itaú muda o patamar das doações corporativas e deve incentivar iniciativas mais incisivas de outras empresas.
— É um marco histórico, porque o dinheiro sai do balanço do banco, não de uma fundação. Demonstra ao setor que é possível fazer algo tendo o país como prioridade, sem depender do governo — disse Carola Matarazzo, do Movimento Bem Maior, iniciativa filantrópica de empresários Elie Horn (Cyrela) e Eugenio Mattar (Localiza).

Mais de cem campanhas

Para João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR, a pandemia está sendo um divisor de águas nos hábitos de filantropia dos brasileiros. Ele lembra que há mais de cem campanhas de financiamento coletivo em curso no país:
- A gente espera que o exemplo do Itaú funcione como mais um incentivo para que outras empresas façam doações de grande porte.
Os R$ 2,2 bilhões contabilizados pela ABCR não capturam todas as ações solidárias das empresas. A Vale, por exemplo, anunciou a doação de 5 milhões de testes rápidos e 15,8 milhões de equipamentos de proteção, mas não informou quanto custaram.
A Petrobras vai doar 600 mil testes do tipo RT-PCR, o mais assertivo, mas também não divulgou o preço. Outro exemplo é o Grupo Pão de Açúcar, que está doando 300 toneladas de alimentos sem informar o custo.
Entre os valores divulgados, os maiores cheques têm vindo do setor financeiro. O conglomerado do Banco do Brasil doou R$ 55,5 milhões, enquanto o BTG Pactual deu R$ 50 milhões. O Bradesco, além de participar de iniciativa com Itaú e Santander para doar 5 milhões de testes, está dividindo com os concorrentes R$ 50 milhões para a compra de 15 milhões de máscaras.
Já a XP está doando R$ 30 milhões para o combate à fome. O Banco Votorantim doou R$ 30 milhões para a compra de respiradores e espera acrescentar mais R$ 10 milhões com uma campanha de arrecadação digital, enquanto o Safra doou R$ 30 milhões para a compra de insumos hospitalares e está distribuindo dez mil cestas básicas.

Drauzio: além do dinheiro

Segunda pessoa mais rica do país, Jorge Paulo Lemann tem mirado suas ações na área de educação, foco de sua fundação, e vem ajudando o poder público a desenvolver soluções para o ensino à distância.
As que desenvolvem apps e outros recursos para 40 milhões de alunos da rede pública. As empresas de Lemann também estão envolvidas em iniciativas na área de saúde, como a doação de um milhão de frascos de álcool em gel e três milhões de máscaras.
A Americanas.com somou esforços com Rede D’Or, Bradesco Seguros, Safra e IBP para montar um hospital de campanha no Rio, ao custo de R$ 45 milhões.
Mas o médico e escritor Drauzio Varella, que também participará da gestão do fundo do Itaú, pondera que apenas destinar recursos não é suficiente:
 — Não é questão de dinheiro só, tem que saber para onde destinar os recursos. Estamos vendo o preço alto de viver na desigualdade. Não podemos ter tanta gente pobre em um país que, em dois ou três dias de isolamento, as pessoas começam a passar fome.

Algumas doações já feitas

Em valores (R$)

  • Itaú: R$ 1 bilhão para fundo de saúde e R$ 250 milhões em outras ações
  • BB: R$ 55,5 milhões em diversas ações
  • BRF: R$ 50 milhões para hospitais
  • BTG Pactual: R$ 50 milhões para hospitais
  • Cacau Show: R$ 32,5 milhões, sobretudo em chocolates para ONGs
  • Banco Safra: R$ 30 milhões para hospitais
  • Banco Votorantim: R$ 30 milhões para hospitais e vulneráveis
  • XP: R$ 30 milhões para combate à fome

Sem valores:

  • Petrobras: 600 mil testes RT-PCR para o SUS e 20 mil equipamentos de proteção individual (EPIs)
  • Vale: 5 milhões de kits de testes rápidos, 15,8 milhões de EPIs e 100 toneladas de insumos
  • Braskem: 370 toneladas de resina de máscaras
  • Raízen: 1,1 milhão de litros de álcool 70%
  • Ambev: 3 milhões de máscaras e 1 milhão de frascos de álcool em gel
  • J&F: 12 mil EPIs, 21 toneladas de alimentos e 405 toneladas de produtos de higiene