quinta-feira, 10 de abril de 2014

ATENTAI-VOS:Chevron e os danos socioambientais no Equador: crime sem castigo

Chevron e os danos socioambientais no Equador: crime sem castigo, por Luiz Eça

Publicado em março 27, 2014 por 

Resíduos da Chevron no Equador. Foto do CUBADEBATE
Resíduos da Chevron no Equador. Foto do CUBADEBATE

[Correio da Cidadania] A Chevron acaba de ganhar um processo nos EUA contra 30 mil indígenas e sitiantes do Equador. Eles pleiteavam uma indenização por catástrofe ambiental provocada pela gigantesca petrolífera, uma das maiores do mundo.
Que envenenou toda a água de uma região e causou efeitos destruidores em extensas áreas da floresta amazônica, a maior reserva de oxigênio do planeta.
Tudo começou assim. Entre 1964 e 1992, a Chevron explorou petróleo na região de Oriente, no leste da Amazônia equatoriana.
Depois se retirou, levando consigo bilhões de lucros, e deixando derramados no solo um legado de 18 bilhões de galões de resíduos tóxicos, contendo hidrocarboneto aromático policíclico, em níveis muitas vezes mais alto do que o permitido nos EUA.
Com isso, toda a água da região foi contaminada, aumentando em 150% as chances das pessoas de contraírem câncer, além de causar graves doenças e outros problemas de saúde nos atuais moradores e até nas próximas gerações.
Relata a ONG Friends of The Forest: “Morte, abortos e defeitos de nascimento se espalham pelas comunidades, ameaçando alguns grupos indígenas de extinção. A destruição do meio ambiente das florestas foi devastadora”.
Desde 1993, advogados de moradores das áreas afetadas abriram processos contra a Chevron, exigindo que limpasse a sujeira provocada e reparasse os danos causados à saúde das pessoas.
Em 1995, a empresa concordou, em parte. No entanto, a limpeza que fez foi meramente cosmética. Limitou-se a cobrir de lixo fossas de petróleo usadas pela companhia para armazenar permanentemente detritos de petróleo e de produtos químicos, que acabavam penetrando nos suprimentos subterrâneos de água.
O processo prosseguiu e, em 2011, uma corte de justiça equatoriana decidiu a favor dos querelantes, condenando a Chevron a lhes pagar 19 bilhões de dólares.
Houve recursos e a corte superior reduziu as indenizações a 9,5 bilhões de dólares. Mas os pobres índios e sitiantes não receberam nada.
A Chevron já havia se mudado do Equador, não deixou quaisquer recursos para cumprir a sentença a que fora condenada.
A solução seria processá-la nos EUA e outros países, onde ela opera. Começaram por New York, onde ficavam seus escritórios centrais. Um acordo sequer foi tentado.
Em entrevista à revista New Yorker, diretores da Chevron afastaram esta possibilidade: “Nós lutaremos até mesmo se o inferno congelar. E, se isso acontecer, lutaremos no gelo”.
A gigantesca multinacional convocou um time de 60 firmas de advogados para defender sua causa.
Eles alegaram que a Chevron era a vítima, não os 30 mil moradores da floresta, que estariam tentando enganar a justiça com acusações falsas.
Os pobres equatorianos, junto com seu advogado, Steven Donziger, foram acusados de promover uma extorsão contra a Chevron.
A empresa apelou para o estatuto RICO – criado originalmente para processar sindicatos do crime organizado.
Apresentou provas de que um dos juízes equatorianos teria sido subornado por alguém ligado à causa das comunidades atingidas.
O SF Gate – blog de San Francisco (em 23/2/2014) – lembrou memorando que, em 2008, Sam Singer – um expert em gerenciamento de crises – enviou ao executivo da Chevron, Ken Robertson. Aconselhava a Chevron a acusar o judiciário equatoriano de corrupto e montar um ataque contra os indígenas e sitiantes e seus advogados. O que foi feito.
A Chevron apresentou depoimentos de um ex-juiz do Equador, narrando o suborno de um dos juízes do processo para dar ganho de causa aos querelantes.
Essa figura, Alberto Guerra, a testemunha-chave da argumentação em favor da Chevron, acabou admitindo que a “Chevron pagou 48 mil dólares por evidências físicas do suborno e para pagar despesas de viagem dele e de sua família… despesas de advogado…  e comprometeu-se a lhe pagar 12 mil dólares mensais, durante 2 anos, para suas despesas nos EUA”.
Muito em função do que essa testemunha relatou, o juiz Kaplan considerou desnecessário examinar todos os pareceres científicos dos danos causados ao povo e ao ambiente da floresta amazônica leste. E proibiu que fossem apresentados no julgamento pelo advogado dos 30 mil prejudicados.
Esqueceu-se de que os advogados da Chevron violaram lei federal ao pagarem pelo depoimento de uma testemunha e, especialmente, ao subornarem o ex-juiz Alberto Guerra para depor a seu favor.
Pelo princípio de que a árvore doente contamina os seus galhos, tudo apresentado com base no que foi obtido ilegalmente teria de ser desconsiderado.
Mas Kaplan considerou a Chevron inocente.
Para muitos advogados que acompanharam o processo, o juiz estava predisposto contra os autores do processo.
Tentou mesmo decidir de forma definitiva, excluindo a possibilidade de recurso a instâncias superiores, o que, porém, foi recusado.
Os 30 mil pobres equatorianos, sob ameaça do câncer e mortes prematuras, e comunidades indígenas condenadas a desaparecer por abortos, mortes de nascituros e crianças defeituosas, perderam esta batalha.
Mas não a guerra. Há recursos na justiça norte-americana e processos em andamento no Brasil, Canadá e México, onde a Chevron tem negócios e consideráveis ativos.
A lei tarda, mas não falha. Vamos ver se é verdade.
Leia também:
Luiz Eça é jornalista.
Website: www.olharomundo.com.br

Artigo originalmente publicado no Correio da Cidadania, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
EcoDebate, 27/03/2014

Mapa inédito coloca o Brasil em 3º lugar em conflitos ambientais

Mapa inédito coloca o Brasil em 3º lugar em conflitos ambientais

O mapa mostra como os conflitos ecológicos estão aumentando por demanda mundial das classes média e alta


Fonte: BBC Brasil

Em um projeto inédito, a Universidade Autônoma de Barcelona mapeou conflitos ambientais em todo mundo. No mapa, o Brasil aparece em terceiro lugar (ao lado da Nigéria) em número de disputas, enquanto a mineradora brasileira Vale ocupa a quinta posição no ranking de empresas envolvidas nessas questões.
O mapa (veja aqui), uma plataforma interativa, é o resultado do trabalho de uma equipe internacional de especialistas coordenados pelos pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da universidade espanhola.
Entre os 58 conflitos ambientais em curso no Brasil há disputas agrárias como o caso de Lábrea, cidade no Amazonas próxima à fronteira com o Acre e Rondônia, onde agricultores são vítimas da ameaça de madeireiros e grileiros.
Há ainda diversos conflitos indígenas, disputas por recursos hídricos e por reservas minerais.
No caso da Vale, 14 das 15 disputas em que a empresa está envolvida ocorrem na América Latina, especialmente no Brasil, mas há casos também na Colômbia, no Peru e no Chile. O mapa cita ainda um conflito entre a mineradora e agricultores em Moçambique.
Segundo o artigo do pesquisador da Fiocruz Marcelo Firpo Porto mostrado na seção sobre o Brasil, apesar de o país ter passado por um processo de industrialização e não ser mais exclusivamente agrário, seu modelo de exportação “reproduz o padrão da América Latina e continua concentrado na exploração dos recursos naturais, com commodities crescendo em importância em relação a produtos manufaturados nos últimos anos”.
“Conflitos ambientais no Brasil que aparecem no mapa do EJOLT (Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade, um projeto europeu de organizações de justiça ambiental) refletem esse modelo de desenvolvimento adotado pelo governo brasileiro”, afirma o pesquisador.
Porto afirma que vários conflitos estão associados à expansão da agricultura, mineração, hidroelétricas e exploração de petróleo em áreas de terras altas e no litoral – e destaca entre as áreas afetadas os territórios de comunidades tradicionais que, historicamente, viviam de forma sustentável.
“Essas populações continuam vivendo à margem do sistema político e sem políticas públicas que reconheçam e garantam sua subsistência e territórios. Conflitos de terras envolvem disputas entre setores econômicos e índios, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas (como o seringueiro assassinado Chico Mendes), pescadores artesanais e um grande número de comunidades rurais que tradicionalmente exploram coletivamente a terra e os recursos das florestas.”
O pesquisador aponta que muitos conflitos também estão associados à construção de obras de infraestrutura e geração de energia, como estradas, ferrovias, oleodutos, complexos portuários, hidroelétricas e termelétricas, e até fazendas de energia eólica.
E na lista de conflitos ambientais no Brasil apontados no mapa do EJOLT estão empreedimentos como o gasoduto Urucu-Coari-Manaus, da Petrobras, o complexo petroquímico de Itaboraí, no Rio de Janeiro, a usina hidroelétrica de Aimorés, a exploração de petróleo e gás em Coari, no Amazonas, entre outros.

Classes média e alta
O mapa foi apresentado na quarta-feira em Bruxelas, pela Delegação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
“O mapa mostra como os conflitos ecológicos estão aumentando em todo o mundo, devido a demanda por materiais e energia da população mundial de classe média e alta”, afirmou Joan Martínez Alier, diretor do EJOLT.
“As comunidades mais impactadas por conflitos ecológicos são pobres, frequentemente indígenas e não têm poder político para ter acesso à justiça ambiental e aos sistemas de saúde”, acrescentou.
O mapa permite que os usuários localizem e visualizem conflitos por tipo de material (minerais, hidrocarbonetos, água ou resíduos nucleares), por companhias envolvidas e por países.
Na América Latina o maior número de casos documentados pelo mapa estão na Colômbia, com 72 casos, Brasil, com 58, Equador, 48 conflitos ambientais, Argentina, 32, Peru, 31, e Chile com 30 casos.
A iniciativa, que contou com a participação de 23 universidades e organizações de justiça ambiental de 18 países, tem vários objetivos. Entre eles, tornar mais acessível a informação e dar mais visibilidade a estes problemas.
Os criadores do projeto esperam que novas organizações civis e especialistas contribuam para preencher os espaços ainda vazios no mapa com mais pontos de conflito e informações.
Por enquanto, apesar de os milhares de conflitos assinalados ainda despertarem pessimismo, os responsáveis pelo mapa apontam para sinais positivos.
“O mapa mostra tendências preocupantes como a impunidade de companhias que cometem crimes ambientais ou a perseguição dos defensores do meio ambiente, mas também inspira esperança”, disse Leah Temper, coordenadora do projeto. “Entre as muitas histórias de destruição ambiental e repressão política, também há casos de vitórias na justiça ambiental.”
Temper afirma que este é o caso em 17% dos conflitos analisados: ações foram vencidas na justiça, projetos foram cancelados e bens foram devolvidos para algumas comunidades.

Postado por Daniela Kussama

Rio e São Paulo não têm nenhum rio com boa qualidade

AMBIENTE

ÁGUAS TURVAS

Rio e São Paulo não têm nenhum rio com boa qualidade

Fundação SOS Mata Atlântica analisou a qualidade da água de 96 rios, córregos e lagos que passam pelo bioma Mata Atlântica, em sete diferentes estados do Brasil. Apenas 11% apresentam boa qualidade e nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro nenhum passou no teste. Principal fonte de poluição é o despejo de esgoto doméstico

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Débora Spitzcovsky Planeta Sustentável -

Rodrigo Soldon/Creative Commons

Na Semana Mundial da Água, a necessidade de cuidar melhor dos cursos d’água do Brasil urge. Levantamento divulgado nesta quarta-feira (19) pela Fundação SOS Mata Atlântica revelou que a maioria dos rios, córregos e lagos brasileiros apresenta baixa qualidade.

O estudo analisou a água de 96 cursos que correm por sete estados do sul e sudeste do Brasil, no bioma Mata Atlântica. O resultado? 40% deles têm qualidade ruim ou péssima, 49% estão em situação regular e, apenas, 11% podem ser considerados de boa qualidade. Não por coincidência, todos os rios e mananciais que foram aprovados no teste estão localizados em áreas protegidas e que contam com matas ciliares preservadas.

"Notamos na prática a importância de recuperar a floresta. Em seis pontos que monitoramos, por exemplo, nos Córregos São José e da Concórdia e no Rio Ingazinho, na Bacia do Rio Piraí, em SP, a qualidade da água passou de regular a boa após trabalho de reflorestamento", conta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas, da SOS Mata Atlântica, e coordenadora do estudo. Ela conclui: "Isso comprova que para garantir água em qualidade e quantidade é preciso recompor matas ciliares e manter as florestas".

Mas não é só de mais verde que o Brasil precisa. Melhor coleta e tratamento deesgoto, bons planos diretores e um trabalho de conscientização dos cidadãostambém são fundamentais. Isso porque o estudo da SOS Mata Atlântica apontou que as principais fontes de poluição e contaminação nos cursos d’água analisados são a falta de saneamento básico, o lançamento de produtos químicos nas redes públicas de tratamento e a poluição proveniente do lixo, respectivamente.

SÃO PAULO E RIO PASSARAM VERGONHA Em análise inédita feita em rios das 32 subprefeituras da capital paulista e de 15 pontos estratégicos da cidade do Rio de Janeiro, a SOS Mata Atlântica concluiu que nenhum curso d’água desses dois municípios tem água de boa qualidade.

Em São Paulo, o levantamento feito em fevereiro deste ano revelou que 23,53% dos rios têm qualidade péssima, 58,82% apresentam qualidade ruim e 17,65% possuem qualidade regular. Entre eles, estão o Lago do Ibirapuera e a Represa Billings. Em ambos os casos, a água foi considerada "ruim".

Já no Rio de Janeiro, análise feita no mesmo período concluiu: 40% dos cursos d’água estão em situação regular e 60% em situação ruim - como é o caso dos rios do canal do Jockey, no Jardim Botânico, e do canal do Mangue, na Vila Isabel.

VAMOS ÀS BOAS NOTÍCIAS O estudo da SOS Mata Atlântica ainda comparou a situação de 88 cursos d’água, localizados nas cidades de São Paulo e Minas Gerais, em 2010 e 2014. De acordo com o relatório, o número de rios de péssima qualidade caiu de 15 para 17, assim como os de qualidade regular - eram 50 em 2010 e são 37 em 2014.

E mais: a quantidade de rios classificados como bons subiu de 5 para 15, assim como a de rios ruins, que foram de 18 para 29. "Mas isso não significa que aumentou o ruim. Tivemos a diminuição da quantidade de classificações péssima", explica Gustavo Veronesi, um dos organizadores do levantamento.

Confira o relatório Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica, na íntegra
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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Aplicativo brasileiro vai monitorar o desaparecimento das abelhas

Aplicativo brasileiro vai monitorar o desaparecimento das abelhas

Redação - Veja.com - 01/04/2014

wolfraven/Creative Commons



Um pesquisador da USP de Ribeirão Preto e seu filho, um publicitário, criaram um aplicativo de computador, smartphone e tablet para monitorar o desaparecimento de colônias de abelhas. O Bee Alert, como foi batizado o aplicativo, é gratuito e está disponível online.

As abelhas são uma peça-chave para a agricultura e, assim, para a comida que está no nosso prato. Esses insetos polinizam plantações de frutas, legumes e grãos. Nos últimos oito anos, apicultores ao redor do mundo têm percebido que suas colônias estão diminuindo. Entre os motivos que já foram apontados para explicar o declínio das populações estão a ação de vírus, fungos, bactérias e o uso de pesticidas. Segundo dados do Coloss, grupo de cientistas de diversos países que estuda o sumiço das abelhas, algumas regiões da Europa perderam até 53% de suas colônias.

Embora o fenômeno tenha sido detectado no Brasil, não se sabe qual é a sua dimensão — resposta que os criadores do aplicativo querem ajudar a encontrar. "A plataforma é uma ferramenta online para que apicultores, meliponicultores e a comunidade científica possam fazer registros de desaparecimento ou de perdas significativas de abelhas em seus apiários", diz o publicitário Daniel Malusá Gonçalves, que desenvolveu o aplicativo com seu pai, o biólogo Lionel Segui Gonçalves, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e presidente do Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte (Cetapis). O Bee Alert faz parte da campanha Bee or not to Be?, criada por Lionel para proteger as abelhas.

O aplicativo vai funcionar de uma maneira simples: o produtor ou o pesquisador registrará o local do seu apiário e, na ocorrência de sumiço das abelhas, informará a intensidade do desaparecimento (quantas colmeias foram prejudicas e qual a porcentagem da perda), as possíveis causas (doenças, pragas e clima, por exemplo) e os prejuízos. Além disso, o produtor ou o pesquisador deve declarar se os insetos sumiram ou migraram para áreas próximas. "Estamos numa etapa inicial e sabemos que vamos lidar com dificuldades, como o baixo acesso à tecnologia pelo apicultor e seu receio de expor o problema", diz Daniel.

A ferramenta está disponível em português, mas a promessa é que ela seja oferecida em espanhol e inglês no próximo mês. "Acreditamos que o aplicativo poderá ser usado em outros países, pois enfrentamos problemas e desafios similares quando o assunto é a proteção das abelhas", afirma Daniel

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Municípios vão ter audiências

Municípios vão ter audiências

A Frente Parlamentar em Defesa da Bacia do Paraíba do Sul, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) anunciou na tarde de ontem, a realização de uma série de audiências públicas nas regiões cortadas pelo rio, para discutir a intenção do governo de São Paulo de realizar a segunda transposição das águas. De acordo com a presidente do colegiado, deputada Inês Pandeló (PT), o circuito de encontros começará no dia 10 deste mês, às 18h, na Universidade Federal Fluminense (UFF), de Volta Redonda. Em seguida, a Frente Parlamentar chega a Campos e, em maio, à cidade de Sapucaia. Há duas semanas, o governo paulista anunciou que vai pedir a captação de água do Paraíba do Sul, no Sistema Cantareira, que está em estado crítico por causa da escassez de chuvas.
— Os estudos nos dão argumentos para que lutemos em defesa do nosso estado e do Paraíba. Ficou claro que o Rio vai sofrer. Os estudos técnicos mostram que existem alternativas diferentes para São Paulo ter água. A atitude do governador Geraldo Alckmin foi autoritária — disse Pandeló, adiantando que pedirá ao presidente da Casa, deputado Paulo Melo (PMDB), a inclusão do tema nas discussões do Fórum Permanente de Desenvolvimento Econômico do Estado. A deputada destacou também, que enviará ofício à Agência Nacional de Águas (ANA), solicitando uma audiência com o órgão, e que irá organizar um abaixo assinado na internet contra o projeto.
O diretor executivo Agência da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Agevap), André Luiz Marques, apresentou o estudo encomendado pelo governo de SP da Transposição do Paraíba, destacando os possíveis impactos, cenário atual e futuro. De acordo com Marques, o estudo pau- lista não considera o cenário de gestão e controle e as necessidades industrial, urbana e de irrigação. O estudo encomendado pelo Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul (Ceivap) apontou que há um déficit hídrico de oito metros cúbicos por segundo em alguns trechos, e que uma segunda transposição agravaria o problema. A presidente do Instituto Estadual de Ambiente (Inea), Isaura Fraga, ressaltou que uma possível transposição afetaria todo o RJ, e também classificou a medida co-mo autoritária. “Existe uma regra operativa em vigor, e ela tem que ser cumprida”, disse.
Alerta – A proposta de Alckmin, de desviar parte da água do Paraíba para abastecer SP, pode comprometer as futuras gerações do RJ. A informação foi dada através de Nota Técnica do Inea para apontar as possíveis consequências da transposição do rio. O Ministério Público Federal (MPF) em Campos recomendou ao governo paulista que não realize obras de transposição do rio, sem antes ouvir os órgãos e entidades.

FONTE ;folha da manha;
Dulcides Netto
Foto: divulgação

As lições do mico-leão-preto que escapou da extinção

As lições do mico-leão-preto que escapou da extinção

ALEXANDRE MANSUR

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Mico-leão-preto na floresta (Foto: Divulgação)

No meio de tanta notícia ambiental desanimadora, algumas histórias de sucesso realimentam a esperança. Uma delas é o salvamento do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus). A espécie foi considerada extinta por cerca de 65 anos. Nesse período, não houve nenhum registro de sua ocorrência. Foi redescoberta nos anos 1970. Depois de décadas de trabalho de conscientização e conservação, o mico-leão-preto deixou a lista das espécies mais ameaçadas. O estado das populações continua delicado, mas é possível afirmar que o maior perigo já passou. Essa história é contada em detalhes no livro Mico-Leão-Preto - A história de sucesso na conservação de uma espécie ameaçada, da bióloga Gabriela Cabral Rezende, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), que participou do salvamento. Uma das lições do mico é a importância de unidades de conservação. A outra é o envolvimento da população local.
A aventura do mico-leão começou com a redescoberta de uma população no Pontal do Paranapanema (extremo oeste do estado de São Paulo), em 1970. Isso animou os pesquisadores. Em 1983, porém, alguns deles foram informados que a construção de uma usina hidrelétrica inundaria 10% da área de ocorrência daquela população de micos. Era a maior e única capaz de sobreviver por um longo prazo. Na época, o mico-leão-preto era considerado um dos primatas mais ameaçados do mundo, com cerca de 100 indivíduos vivendo na natureza. O risco motivou o início de pesquisas e ações de envolvimento comunitário para salvar a espécie. Assim, surgiu o Programa de Conservação do Mico-leão-preto (PCMLP), que completa 30 anos em 2014. O esforço de salvamento do mico também deu origem a organização socioambiental IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), fundado em 1992 e responsável até hoje pelo plano de conservação da espécie.
Gabriela conta mais sobre as lições do mico em entrevista a ÉPOCA.
ÉPOCA: Como foi possível salvar o mico-leão-preto?
Gabriela Rezende: As principais ações que contribuíram para salvar o mico-leão-preto da extinção incluíram o manejo de populações, feito através de movimentações de micos-leões de um fragmento a outro onde a espécie não era mais encontrada. Isso resultou no estabelecimento de uma nova população. Também houve a criação de unidades de conservação, essenciais para a proteção do que resta de habitat disponível para a espécie. Um exemplo é a Estação Ecológica Mico-leão-preto, criada em 2002 no Pontal do Paranapanema. Também ocorreram ações de restauração do habitat e da conectividade entre os fragmentos de ocorrência de mico-leão-preto. Elas geraram, em 2012, o maior corredor de biodiversidade já reflorestado no Brasil, com 1,4 milhões de árvores plantadas ligando a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto ao Parque Estadual Morro do Diabo. Diversas estratégias de envolvimento comunitário abordaram mais de 20 mil pessoas ao longo dos anos. Algumas oferecem alternativas sustentáveis de geração de renda. Como exemplo, temos o estabelecimento de viveiros comunitários em assentamentos rurais, que produzem mudas direcionadas aos próprios projetos de restauração da região. Atualmente, a população de mico-leão-preto conhecida na natureza é constituída de pouco mais de mil indivíduos, distribuídos em aproximadamente 20 pequenas áreas de floresta pelo estado de São Paulo, entre os rios Tietê e Paranapanema. Devido aos esforços contínuos, em 2008 o mico-leão-preto deixou a categoria de “Criticamente Ameaçado” na Lista Vermelhade Espécies Ameaçadas de Extinçãoda IUCN (International Union for Conservation of Nature), passando a ser considerado “ameaçado”. Apesar dos progressos, ainda há muito a ser feito.
A bióloga Gabriela Rezende com seu livro (Foto: Divulgação)
ÉPOCA: Que garantias temos de que o hábitat dele será conservado agora?
Gabriela: A conservação de uma ou de diversas espécies é completamente dependente da conservação do hábitat em que elas ocorrem. A garantia de proteção do hábitat ainda é muito vinculada a questões políticas. Por isso, apesar de a criação de unidades de conservação ser o mecanismo mais seguro para garantir a perpetuidade das manchas de floresta que ainda restam, essas mesmas áreas podem sofrer perdas, também sob respaldo legal, seja por razões ambientais, políticas,sociais ou econômicas. Por isso, sensibilizar e envolver cada vez mais pessoas na conservação de espécies ou de um ecossistema pode fortalecer essa garantia, de que daqui muitos anos tais áreas ainda existirão e terão sofrido um impacto mínimo ao longo do tempo.
ÉPOCA: Quais são as lições desse caso para esforços de conservação de outras espécies?
Gabriela: As estratégias utilizadas para a conservação do mico-leão-preto podem ser facilmente replicadas para outras espécies ameaçadas ao redor do mundo, desde que adaptadas à realidade local e com objetivos claros. Mas a principal lição que podemos tirar desse caso é a importância de pessoas engajadas e motivadas a lutarem para salvar uma espécie. O mico-leão-preto é um caso de sucesso porque encontrou em seu caminho algumas pessoas, atuantes nas mais diversasáreas (governo, terceiro setor, universidades), que tornaram o objetivo de suas vidas melhorar as condições para que a espécie pudesse sobreviver. Se não fosse o comprometimento e a vontade dessas pessoas, gente como a gente, talvez não encontraríamos mais esse primatinha correndo pelas matas paulistas. Meu desejo em disseminar essa história através de um livro é que mais gente se inspire para que mais espécies sejam salvas.
ÉPOCA: Algumas espécies conseguem atrair a empatia do público. Elas são usadas para justificar e financiar esforços de conservação de grandes ambientes naturais. São as espécies-bandeira. Essa estratégia ainda é eficaz hoje?
Gabriela: A estratégia de espécies-bandeira já foi mais utilizada. Atualmente elas estão perdendo um pouco do foco para a abordagem mais abrangente de ecossistemas. Apesar disso, elas ainda atraem bastante a atenção do público e não devem ser deixadas de lado. Eu, particularmente, acredito no potencial dessas espécies carismáticas em difundir a mensagem conservacionista e engajar mais pessoas na causa. A meu ver, as pessoas tem uma certa facilidade em se identificar com espécies, mais que com hábitats, sensibilizando-se com as ameaças e apropriando-se do problema para buscar uma solução. Se as estratégias atuais de conservação seguem outras tendências, o segredo para não perder o foco é utilizá-las em conjunto.
ÉPOCA: Usar espécies-bandeira como estratégia de conservação não deixa o público menos consciente do papel do próprio ecossistema como um todo? Isso não deixa de fora a importância de uma floresta para equilibrar o clima ou gerar nascentes, por exemplo?
Gabriela: Isso pode acontecer, dependendo da estratégia de divulgação que se utiliza. A função das espécies-bandeira é chamar atenção para a situação de perigo do ecossistema a que estão associadas e auxiliar na difusão da mensagemconservacionista. Se elas forem capazes de mostrar a importância de se conservar florestas, não somente pela sua existência em si, mas por todos os benefícios que estas podem trazer e por toda a biodiversidade que estará sendo salva embaixo do guarda-chuva de uma espécie-bandeira, o uso dessa estratégia estará cumprindo com seus objetivos. Além disso, cada pessoa se sensibiliza com a conservação de uma forma diferente, exigindo essa diversidade de abordagens para conscientização. O que realmente importa, no fim das contas, são os benefícios para o meio ambiente e para todos nós, espécies desse planeta.
ÉPOCA: Qual é o primata brasileiro em estado mais crítico hoje?
Gabriela: Alguns primatas brasileiros estão atualmente em estado bastante crítico e preocupante, sendo a redução de seus hábitats a principal ameaça. Na Mata Atlântica, ecossistema que o mico-leão-preto habita, temos o bugio-ruivo do norte do rio Jequitinhonha (Alouatta guariba guariba) e o muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Na Amazônia,os primatas em estado crítico ocorrem principalmente na região do arco do desmatamento ou próximos aos grandes centros urbanos,tais como o caiarara (Cebus kaapori), o cuxiú-preto (Chiropotes satanas) e o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor). E ainda há a Caatinga, um ecossistema que corre sérios riscos, e que tem uma espécie de guigó exclusiva dela, oCallicebus barbarabrownae, tão ameaçada quanto. Destas, o bugio-ruivo e o caiarara integram a lista de 2012-2014 das 25 espécies de primata mais ameaçadas do mundo, publicada bianualmente pelo Grupo Especialista em Primatas da IUCN. O mico-leão-preto fez parte dessa lista no biênio 2000-2002.


 
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terça-feira, 8 de abril de 2014

INSCRIÇÕES PRORROGADAS DO CADASTRO AMBIENTAL RURAL


Serviços de polinização representam 10% do valor da produção agrícola mundial

Serviços de polinização representam 10% do valor da produção agrícola mundial

Karina Toledo - Agência Fapesp - 2014
da100fotos/Creative Commons



A humanidade tem explorado colônias de abelhas produtoras de mel desde a pré-história, mas somente nos últimos anos se deu conta de que a importância desses insetos para a sua alimentação vai muito além da fabricação do poderoso adoçante natural.


“O mel é, na verdade, um subproduto pequeno quando comparado ao valor do serviço de polinização prestado pelas abelhas, que corresponde a quase 10% do valor da produção agrícola mundial”, destacou a professora da Universidade de São Paulo (USP) Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, durante palestra no segundo encontro do Ciclo de Conferências 2014 do programa BIOTA-FAPESP Educação, realizado no dia 20 de março, em São Paulo.



Cientistas estimam que no ano de 2007, por exemplo, o valor global do mel exportado tenha sido de US$ 1,5 bilhão. Já o valor dos serviços ecossistêmicos de polinização em todo o mundo era calculado em US$ 212 bilhões. Os dados foram levantados em diversos estudos e estão reunidos no livro Polinizadores no Brasil: contribuição e perspectivas para a biodiversidadeuso sustentávelconservação e serviços ambientais, um dos vencedores do Prêmio Jabuti de 2013.



A obra é fruto do Projeto Temático FAPESP “Biodiversidade e uso sustentável de polinizadores, com ênfase em abelhas Meliponini”, coordenado por Fonseca no âmbito do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade de São Paulo (BIOTA).



As verduras e frutas lideram as categorias de alimentos que necessitam de insetos para polinização (cada uma das produções tem valor estimado de € 50 bilhões). Seguem as culturas oleaginosas, estimulantes (café e chá), amêndoas e especiarias. Em média, segundo os estudos, o valor das culturas que não dependem da polinização por insetos é de € 151 bilhões por ano, enquanto o das que dependem da polinização é de € 761 bilhões.



“Cerca de 75% da alimentação humana depende direta ou indiretamente de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização animal. Dessas, 35% dependem exclusivamente de polinizadores. Nos demais casos, insetos como as abelhas ajudam a aumentar a produtividade e a qualidade dos frutos”, afirmou Fonseca, que atualmente é professora visitante na Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), no Rio Grande do Norte.



Pesquisas recentes, contou Fonseca, mostraram que mesmo culturas como a canola (polinizadas pelo vento) e a soja (considerada autofértil) produzem entre 20% e 40% a mais por hectare quando recebem apoio de colônias de abelhas da espécie Apis mellifera ou quando a plantação é feita ao lado de áreas com remanescentes devegetação nativa.



“Quando se usam abelhas, jataí por exemplo, na polinização do morangueiro em ambientes protegidos, diminui em 70% o número de frutos malformados em alguns cultivares. Outra cultura que se beneficia da polinização em ambientes protegidos é a do tomateiro, que precisa de abelhas que vibram nas flores, como as do gênero Melipona. Em geral, as abelhas aumentam a produção de sementes, atuam na qualidade do habitat, tornam os sistemas agrícolas mais sustentáveis e trazem benefícios amplos ao meio, favorecendo outros serviços ecossistêmicos que permitem a preservação da biodiversidade e dos recursos hídricos”, disse Fonseca.



MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Embora a demanda pelos serviços de polinização das abelhas cresça na mesma medida em que cresce a produção agrícola mundial, os habitats favoráveis à manutenção desses insetos diminuem a cada ano. Tal descompasso tem resultado em um fenômeno recente batizado pelos cientistas como desordem do colapso das colônias (CCD, na sigla em inglês).



De acordo com Fonseca, a síndrome do desaparecimento das abelhas foi detectada pela primeira vez em 2007 no Hemisfério Norte. Atualmente, naquela região, a perda tem sido em torno de 30% das colônias por ano e tem se tornado necessário importar abelhas de outros locais para promover a polinização agrícola. A Europa também sofre com o fenômeno, que começou a ser detectado no Brasil em 2011.



“O aluguel de uma colônia de abelhas para fazer a polinização chega a US$ 200 nos Estados Unidos, pois os produtores sabem que o lucro gerado pelo serviço prestado será muito maior. E não há abelhas suficientes. Esta é uma tendência mundial, pois cada vez mais plantamos culturas que dependem das abelhas para sua produção”, contou Fonseca.



Entre os fatores apontados como causa do desaparecimento das abelhas estão o uso inadequado de herbicidas e pesticidas, o desmatamento seguido pela ocupação do solo por extensas monoculturas e a migração de colônias para promover a polinização agrícola.



“O pesticida, quando não mata a abelha num primeiro momento, a deixa fraca e reduz o tempo da atividade forrageira (busca de alimento). Por outro lado, as abelhas têm de percorrer distâncias cada vez maiores em busca de comida quando ocorre a substituição da vegetação nativa por monocultura, pois há menor diversidade de flores. A migração de colônias, por sua vez, pode aumentar a competição por comida entre as espécies e favorecer a disseminação de doenças”, explicou Fonseca.



O cenário, já nada animador, tende a piorar com a chegada de um novo problema: as mudanças climáticas globais. Isso porque os polinizadores, assim como as plantas que os mantêm, têm um raio de distribuição geográfica influenciado pela temperatura e pelas chuvas.



“As previsões do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas] para o Nordeste brasileiro, por exemplo, são de aumento de 4º C na temperatura nos próximos 50 anos. Isso deve impactar fortemente na área de ocorrência das abelhas. Temos feito trabalhos de modelagem de distribuição de espécies e estudos com a metodologia da análise polínica do alimento coletado por elas para saber quais plantas as abelhas visitam. Essas ferramentas permitem fazer uma análise da utilização de recursos florais e, com o auxílio do herbário da flora do Brasil, modelamos as fontes principais de alimento. Cruzando os dados, é possível identificar as áreas naturais mais importantes para serem reconstruídas e preservadas e planejar um programa de mitigação. Isso para que daqui a 40 ou 50 anos as abelhas tenham algum lugar para viver”, contou Fonseca.



Saiba mais no site da Agência Fapesp
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