sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Cidade da grécia :a outra Esparta

Cidade da grécia :a outra Esparta

Ela era mais democrática do que se imagina e tão heróica quanto as lendas contam. Conheça a verdade da cidade mais controversa da Grécia antiga

por Texto Reinaldo José Lopes

Mesmo para os turistas do Império Romano, gente mais do que acostumada a espetáculos sangrentos, aquela era uma atração especial. O sucesso era tanto que, por volta do ano 200 da nossa era, até a construção de um anfiteatro em volta do templo foi autorizada, para que os visitantes pudessem acompanhar cada detalhe do ritual. Um adolescente nu tentava apanhar o queijo depositado sobre o altar da deusa Ártemis, enquanto um dos sacerdotes o chicoteava sem dó, fazendo o sangue espirrar no altar. O jovem que agüentasse mais era saudado como campeão – isso quando tinha a sorte de sobreviver à cerimônia. Os estrangeiros provavelmente deixavam o anfiteatro romano muito satisfeitos: tinham testemunhado um legítimo costume da lendária cidade-Estado de Esparta.
Para muita gente, a imagem de um adolescente torturado resume à perfeição o significado de Esparta para a história. Na escola, aprendemos que, entre as cidades gregas de 2500 anos atrás, Atenas foi o berço da democracia e da liberdade de pensar e criar que valorizamos tanto, enquanto os espartanos viviam sob um regime totalitário, cuja única preocupação era a guerra, e submetiam os jovens ao treinamento militar mais desumano do planeta. Desse ponto de vista, passar de superpotência grega a parque temático sadomasoquista teria sido um destino mais do que merecido.
Acontece que, assim como a visão dourada de Atenas, essa imagem dos espartanos não passa de caricatura. Embora também esteja repleto de erros históricos (leia a seguir), o filme 300, que acaba de chegar aos cinemas, acerta em cheio ao mostrar que, sem a liderança dos espartanos, a Grécia e talvez boa parte da Europa teriam virado mera província do Império Persa, com conseqüências imprevisíveis para o mundo de hoje. Em 4 grandes batalhas contra os persas (veja os infográficos nas páginas 67, 69, 71 e 73), os espartanos ajudaram a proteger o que seria a origem do mundo ocidental. Por mais estranho que isso soe agora, Esparta esteve entre as primeiras cidades gregas a criar um governo constitucional, onde todo cidadão era igual diante da lei, e seus exércitos foram vistos como libertadores perto da ambição de Atenas. Por tudo isso, vale a pena tentar enxergar através das distorções que cercam a cidade mais controversa da Grécia.
Conquistadores
Mito e arqueologia concordam num ponto: Esparta é um produto do primeiro grande desastre da história grega. Até por volta do ano 1200 a.C., o Peloponeso (como é conhecida a região do extremo sul da Grécia, onde fica a cidade) estava cheio de pequenos reinos. Inscrições e objetos achados nos palácios do Peloponeso mostram que seus habitantes já falavam uma forma primitiva de grego e levavam uma vida de luxo, comerciando cerâmica, metais preciosos e marfim com o Egito, a Palestina e a atual Turquia.
Uma onda de invasões e saques, porém, acabou com essa vida mansa. Boa parte dos grandes palácios do Peloponeso foi queimada, e a região voltou a ter um estilo de vida rústico e rural durante cerca de um século. É então que, pouco antes do ano 1000 a.C., como sugerem mudanças na cerâmica e em outros objetos do dia-a-dia, chegou ali um novo povo: os dórios, ancestrais dos espartanos.
Na mitologia grega, a chegada dos dórios ficou conhecida como “o retorno dos filhos de Héracles”. Os descendentes desse herói (conhecido entre nós como Hércules) seriam os legítimos herdeiros dos reinos do Peloponeso, expulsos injustamente de lá. Mas os filhos de Héracles reuniram um exército, formado por 3 tribos do norte da Grécia, e recuperaram no braço o que era seu. A parte da herança é claramente invenção para legitimar a invasão, mas os dó­rios realmente tinham uma origem étnica comum e falavam um dialeto nortista.
Parte dos recém-chegados ocupou a Lacônia, o vale fértil do rio Eurotas, e fundou 4 vilarejos perto de um assentamento da época dos palácios. Por volta do ano 900 a.C., as 4 aldeias se uniram politicamente para formar Esparta. Unificada, a cidade partiu para uma expansão das mais respeitáveis. Toda a Lacônia caiu nas mãos de Esparta: alguns habitantes (provavelmente os que resistiram aos ataques) engrossaram as fileiras dos servos, chamados de “hilotas”, enquanto outras aldeias conseguiram manter a autonomia interna, desde que reconhecessem a soberania espartana. Os moradores desses lugares ficaram conhecidos como periecos (“os que habitam em volta”). A expansão foi até por volta do ano 700 a.C., quando a cidade, sozinha, dominava dois quintos do Peloponeso.
Democráticos
Tantas conquistas, claro, trouxeram prosperidade. “Historiadores como o francês Claude Mossé consideram que, já no século 7 a.C., Esparta tem uma aristocracia amante das artes e desenvolve atividades comerciais marítimas”, diz a historiadora Maria Aparecida de Oliveira Silva, autora do livro Plutarco Historiador. Os poetas e músicos de Esparta ficaram conhecidos na Grécia inteira, e sua elite levava uma vida luxuosa, com finos objetos de bronze e metais preciosos fabricados localmente ou importados da Ásia. No entanto, há indícios de que só alguns espartanos se beneficiaram de verdade com as vitórias, virando senhores do grosso das novas terras, enquanto outros empobreciam. Em outras palavras: tensão social – que veio acompanhada por problemas militares para conter as constantes rebeliões.
A tradição espartana, que chegou até nós por relatos de historiadores como Heródoto, Xenofonte e Plutarco, diz que a solução para esses problemas foi bolada pelo sábio Licurgo, tio e tutor de um dos reis da cidade. Ele teria implantado uma reforma política profunda. Todos os cidadãos – ou seja, todos os homens livres de Esparta – passaram a eleger os 28 membros da Gerúsia, o Conselho dos Anciãos, encarregado de elaborar as leis da cidade. Os reis continuaram a ter uma série de privilégios simbólicos (o mais bizarro era o direito de ficar com a pele e o lombo de todos os animais sacrificados aos deuses), mas, na prática, viraram simples generais hereditários. O poder de decisão final ficava nas mãos do damos – o povo, versão dória da palavra que é uma das raízes do termo “democracia”.
Reunidos em assembléia, os homens de Esparta podiam aprovar ou vetar as propostas da Gerúsia, usando um método que parece ter saído de um programa de auditório – o “sim” ou o “não” ganhava dependendo da quantidade de barulho produzida de cada lado. Houve também uma reforma agrária: cada espartano recebeu um lote de terra suficiente para sustentar sua família. A reforma se completou mais tarde com o surgimento dos éforos, 5 magistrados eleitos anualmente por todos os espartanos que, na prática, passaram a deter a maior parte do poder de executar as leis.
Na época em que foi criado, esse sistema era revolucionário. O Oriente Médio ainda era dominado por monarcas absolutos, considerados semideuses. Atenas, futuro símbolo da democracia, estava nas mãos de um grupo minúsculo de famílias nobres e ricas, assim como outras cidades gregas. Esparta parece ter inventado a idéia de que mesmo um plebeu pobre tinha o direito de eleger seus representantes e ser eleito, e de que ninguém, nem mesmo os reis, estava acima da lei. Não é só conversa: a história espartana está cheia de relatos sobre soberanos que pisaram na bola e foram presos ou exilados. Os hilotas e periecos, é verdade, continuavam sem direitos políticos – mas o mesmo valia para a massa de escravos em todas as outras cidades gregas.
A partir daí, numa sociedade quase democrática, começou a se criar a futura fama de Esparta como potência militar. Também por volta do século 7 a.C., os gregos passavam por uma revolução na arte da guerra. Antes, o costume era que só os nobres e sua guarda pessoal lutassem, e os combates não passavam de expedições pequenas para roubar o gado ou as mulheres da vila vizinha. Mas a população e a riqueza da Grécia tinham crescido, e os conflitos cresciam na mesma proporção. O ideal era juntar o máximo possível de soldados no campo de batalha. Os exércitos das cidades-Estado passaram a agir como grandes unidades: os guerreiros, usando pesadas armaduras de bronze e lanças, só eram eficazes lutando em conjunto. O escudo protegia só o lado esquerdo de quem o carregava: o outro lado do corpo era resguardado pelo escudo do soldado ao lado. Se alguém fraquejasse, todos eram prejudicados. Ora, se a massa dos cidadãos passa a ser importante na guerra, a cidade não tem como se defender sem eles. Isso coloca um poder considerável nas mãos do damos de Esparta: o povo ganha força para exigir direito de voto ou uma fazenda nos arredores.
O sucesso das reformas foi indiscutível. Enquanto a Grécia inteira passou do século 7 a.C. ao 5 a.C. sofrendo com ditadores e revoluções, Esparta virou um oásis de estabilidade.
Guerreiros
Para manter as conquistas e o sistema político, todo cidadão de Esparta passou a ser preparado desde pequeno para ser um supersoldado. O treinamento era conhecido simplesmente como agogué (“criação”, em grego). “A única descrição da agogué que temos é do ateniense Xenofonte, que escreve tarde, por volta do ano 400 a.C.”, afirma o historiador Paul Cartledge, da Universidade de Cambridge (Rei­no Unido). Segundo Xenofonte, os testes começavam no nascimento: os bebês eram lavados com vinho e levados aos anciãos de seu clã para inspeção. Os disformes ou fracos demais eram abandonados para morrer. (Até aí, nada de mais: todos os gregos praticavam o infanticídio em situações parecidas.) Os meninos ficavam até os 6 anos com a mãe; depois, passavam a ser criados em pequenos grupos por um supervisor, dormindo em barracões, aprendendo a cantar, dançar (exercícios adequados para se acostumar ao ritmo da marcha militar), ler e escrever.
Quando chegava a adolescência, o cabelo dos garotos era raspado. Eram obrigados a usar apenas um manto leve, fizesse chuva ou sol, e a andar descalços o tempo todo. Recebiam pouca comida; podiam complementar a dieta roubando, mas, se fossem apanhados, levavam uma surra terrível. As chibatadas às vezes vinham em rituais religiosos, como o descrito no começo desta reportagem.
Aprendiam a falar só o essencial – daí a expressão “laconismo”, derivada da Lacônia, o vale fértil onde Esparta foi fundada. “Seria mais fácil ouvir as vozes de estátuas de pedra do que as daqueles rapazes”, afirma Xenofonte. Os jovens praticavam a dança e o canto, em cerimônias elaboradas que simulavam os movimentos da guerra. Relacionamentos amorosos entre adolescentes e rapazes mais velhos eram comuns e até incentivados – os adultos eram considerados mentores dos mais novos.
Aos 19 anos, o rapaz se tornava soldado pleno, mas ainda não era considerado cidadão. Deixava crescer o cabelo – todos os espartanos adultos tinham longas madeixas, que enfeitavam com flores. Podia se casar, mas ainda não tinha permissão de passar a noite com a mulher. Isso – junto com os outros privilégios da cidadania, como votar – só era possível quando ele fazia 30 anos. Uma última obrigação o acompanhava pelo resto da vida: fazer diariamente as refeições com sua unidade de combate, geralmente formada por 15 guerreiros espartanos. O prato principal costumava ser a intragável sopa negra, feita com cevada, sangue e carne de porco.
Esse sistema tornava os espartanos resistentes e corajosos, mas sua principal função era criar espírito de equipe. A lenda de que os soldados de Esparta nunca se rendiam ou recuavam é balela: não havia vergonha nenhuma em baixar as armas se essa fosse a ordem do rei ou do general. Abandonar os companheiros é que era considerado intolerável, porque um escudo a menos na formação significava expor todo mundo ao risco de morte.
Não havia glória maior do que tombar na linha da frente, morrendo lado a lado com os companheiros: essa, para os espartanos (e para a maioria dos outros gregos) era a “bela morte” (leia boxe na página 70). Mas eles só agiam como camicases quando não havia outra escolha. Uma frase registrada pelo historiador grego Tucídides é emblemática. Perguntaram a um espartano capturado se os colegas mortos tinham sido mais valentes que ele. “As flechas seriam muito espertas se conseguissem distinguir os valentes dos covardes”, retrucou o guerreiro. “Es­sa é uma coisa na qual o filme 300 acerta: ele mostra esse humor negro com o qual os espartanos enfrentavam a guerra”, diz Paul Cartledge.
Outro ponto que sempre se omite sobre Esparta é a condição das mulheres. Elas levaram uma vida bem melhor que as do resto da Grécia. Eram incentivadas a praticar exercícios físicos e a ficar ao ar livre, ao contrário das atenienses, quase sempre trancadas em casa. Também podiam herdar terras. “No entanto, isso não quer dizer necessariamente que as mulheres de Esparta fossem vistas pelos homens de forma diferente das outras gregas”, diz Isabel Romeo, historiadora da UFRJ que estuda o tema. “Para os gregos, a função da mulher era sempre ter filhos saudáveis. A diferença é que os espartanos achavam que, para desempenhar, ela precisava ter uma vida ativa”, afirma.
Defensores
O engraçado é que, embora o Exército espartano fosse mais poderoso do que nunca, a expansão direta da cidade parou. “Esparta temia que as cidades vizinhas apoiassem as revoltas dos servos e procurou alguma forma de convivência pacífica com elas”, diz Robin Osborne, da Universidade de Cambridge. Os espartanos forjaram uma aliança que acabaria englobando todo o Peloponeso. As cidades-Estado tinham voz nas decisões, mas era Esparta a cidade líder, que tinha mais peso na hora de ditar a política externa do bloco e decidir como e quando guerrear.
Essa liderança relativamente democrática acabou sendo providencial para a Grécia. Enquanto as cidades-Estado continuavam brigando entre si, o Império Persa nascia e virava um gigante no Oriente, o grande inimigo dos gregos. Por volta de 540 a.C., as cidades gregas da Ásia caíram nas mãos dos persas. O novo império trouxe paz e estabilidade à região, mas também sufocou os desejos gregos de uma política mais democrática (os persas apoiaram ditadores fantoches por ali). O bolso grego também foi afetado, porque a Pérsia cobrava impostos ferozes e mutilava o comércio. Os gregos da Ásia se revoltaram, com o apoio de Atenas, mas levaram uma sova. A ajuda ateniense era a desculpa perfeita para a Grécia européia ser incluída no alvo das invasões. Assim pensou o rei persa Dario, cujo exército desembarcou perto de Atenas no ano 490 a.C.
Nas primeiras batalhas, os persas foram totalmente derrotados. Mas até as pedras do Eurotas sabiam que a coisa não ia ficar por isso mesmo. Xerxes, filho e sucessor de Dario, jurou vingança e preparou o maior exército que o mundo já tinha visto (talvez 120mil soldados) e a maior marinha (cerca de 1000 barcos) para invadir a Grécia. Nenhum dos súditos do rei tinha muita escolha nessa história: todas as regiões do império tinham de contribuir com sua cota de homens, e a palavra de Xerxes era lei sagrada. Atenas e Esparta (que tinha apoiado os atenienses na primeira invasão) estavam no topo da lista negra de Xerxes. A lenda, reproduzida no filme 300, conta que as duas cidades tinham atirado dentro de um poço os mensageiros do rei, que pediam terra e água como sinal de submissão, dizendo: “Aí tendes terra e água”.
Além de enfrentar o reino mais poderoso da época, a Grécia tinha que lidar com a desunião interna. Na primavera de 480 a.C., quando a segunda onda de invasões persas começou, poucas cidades gregas queriam saber de aliança. “De 700 cidades-Estado que poderiam ter se unido à resistência, só cerca de 30 o fizeram”, diz Cartledge. Dessas poucas cidades corajosas, metade integrava o grupo dos “lacedemônios”, como eram chamados os espartanos e aliados, grupo que hoje nós chamamos de Liga do Peloponeso. “A resistência simplesmente não teria sido possível sem a Liga do Peloponeso”, diz o historiador de Cambridge. A ela se juntaram Atenas e pequenas cidades, como Plataia.
O comando supremo, tanto na terra quanto no mar, ficou nas mãos de Esparta, já que ela era a líder do bloco que formava o coração da resistência. Mais do que o comando, porém, os aliados tinham do seu lado os soldados espartanos, “a infantaria pesada mais bem treinada da Grécia – na verdade, a única infantaria profissional de que os gregos dispunham”, afirma Peter Green, professor da Universidade do Texas em Austin e um dos principais especialistas nos conflitos entre gregos e persas.
Os líderes espartanos nem sempre estiveram à altura de seus guerreiros. Há sinais de que a cidade e os outros membros da liga queriam se arriscar o mínimo possível fora do Peloponeso. Essa é uma das explicações (além da coincidência de um festival religioso, durante o qual Esparta normalmente não guerreava) para o fato de que o rei Leô­nidas tenha levado consigo só 300 espartanos para o desfiladeiro das Termópilas, no centro-norte da Grécia (veja na página 65). A missão dos 300, ao lado de cerca de 7 mil aliados gregos, era tentar impedir o avanço de Xerxes em terra, enquanto a frota grega adotava a mesma estratégia no mar, no estreito de Artemísio.
Por 3 dias, Leônidas e os 300 – que foram vistos penteando os longos cabelos com toda a calma quando os primeiros persas surgiram – detiveram forças imensamente superiores e mataram dois irmãos de Xerxes. Mas sua retaguarda não estava bem coberta. Graças a um grego traidor, Leônidas acabou cercado e lutou até a morte com seus homens e mais 1000 voluntários aliados, ganhando tempo para que o resto do exército fugisse. Xerxes mandou decapitar o rei e crucificar seu corpo.
A sorte grega deu uma guinada cerca de um mês depois, quando a frota aliada destroçou as trirremes persas na ilha de Salamina, perto de Atenas. O próprio Xerxes decidiu voltar para a Ásia e, no ano seguinte, suas forças terrestres foram esmagadas pelo sobrinho de Leônidas. Os persas jamais pisariam outra vez na Grécia européia.
Xerxes, ao contrário do que se diz em 300, não era a versão metrossexual do capeta. Em parte, o governo do Irã tem razão em ficar fulo da vida com o filme, como afirmou em nota ofical no começo de março. O domínio persa poderia até ter posto um fim nas eternas briguinhas fúteis entre cidades, que eram a praga da vida grega (pelo menos em termos de progresso econômico). Ao mesmo tempo, porém, ele teria encerrado o primeiro grande experimento de liberdade política e de pensamento da história, forçando os gregos a se curvar a um Grande Rei todo-poderoso. Democrática ou não, Esparta jamais aceitaria o domínio de um só homem que estivesse acima da lei – e se dispôs a lutar para que a Grécia não sofresse esse destino.
Personagens
Depois de botar os estrangeiros para fora, a Grécia pôde viver seu esplendor. Em Atenas, um ano depois de os persas darem no pé, nasceu Sócrates, um dos grandes alicerces da filosofia ocidental, seguido por Platão e Aristóteles. Com os invasores contidos, a obra deles e de pensadores anteriores, como Tales de Mileto e Pitágoras, pôde sobreviver até hoje. Em 438 a.C., no lugar de um antigo templo destruído pelos persas, Atenas construiu o Partenon, símbolo máximo do período clássico grego.
No entanto, já que derramar sangue era como um passatempo para os gregos, as guerras não pararam por ali. As cidades voltariam a lutar entre si: Atenas, poderosa demais depois de vencer os persas, se tornou um império maldoso demais para as cidades conquistadas. Aliados de Atenas mandavam mensagens secretas para os espartanos, suplicando que eles “libertassem a Grécia”. O conflito era só uma questão de tempo – e as alianças passaram as 3 últimas décadas do século 5 a.C. afundadas nele. A guerra terminou com a vitória de Esparta, financiada por ouro persa.
A influência espartana agora dominava a Grécia inteira. Mas, sem o menor tato, os espartanos instalavam governadores militares impopulares ou apoiavam oligarcas que perseguiam os opositores políticos. O resultado? Mais guerra, dessa vez promovida por um novo poder: a cidade de Tebas, ao norte de Atenas. O confronto decisivo entre a desafiante e a campeã aconteceu na Batalha de Leuctra, em 371 a.C. A derrota de Esparta foi completa. A cidade virou ruínas. Tornou-se irrelevante e foi absorvida pelo Império Romano, junto com o resto da Grécia, em 146 a.C.
Diante da arte e do pensamento ateniense, pode parecer que Esparta só teve importância militar. Mas não é de mais voltar a 480 a.C. e ao punhado de homens que ousou se colocar no caminho dos persas. Heródoto diz que um rei espartano exilado, Damárato, acompanhava Xerxes nas Termópilas. O rei persa teria perguntado se os espartanos, sendo tão poucos, ousariam enfrentá-lo. “Rei”, respondeu Damárato, “embora sejam livres, eles não são livres em tudo. Acima deles está a lei, um senhor a quem eles temem muito mais do que os teus servos têm medo de ti. Eles fazem o que a lei ordena, e a sua ordem é esta: não fugir diante de nenhuma multidão de homens, mas ficar em seus postos.” Poucas idéias foram tão capazes de mudar o mundo.

Termópilas - 19 a 21 de agosto de 480 a.C.

“Ficou evidente para todos, e não menos para o próprio Xerxes, que havia muita gente com ele, mas poucos homens de verdade.”
Heródoto
1. Inimigo maior
Com 120 mil guerreiros, os persas invadem a Grécia por uma faixa montanhosa do litoral.
2. defender é preciso
Os 300 guerreiros de Esparta, mais 7 mil aliados, bloqueiam os persas no desfiladeiro das Termópilas. Quem tenta passar é atirado ao mar.
3. derrota inevitável
Depois de 3 dias, um grego traidor guia as forças persas por uma trilha. Os espartanos são atacados pela retaguarda e dizimados.
Peso-pluma
Os persas eram uma infantaria leve. Carregavam escudos mais fracos, lanças curtas e uma espada. A grande arma era o arco, com alcance de 200 metros.
Modelo de herói
Maior herói de Esparta, o rei Leônidas deteve os persas por 3 dias, até ser morto com todos os seus guerreiros.
Nos trinques
Era tradição entre os espartanos pentear os longos cabelos antes da batalha, e também enfeitá-los com grinaldas de flores. Como os outros gregos, eles costumavam entrar em combate cantando.
Turbinado
Com armadura, escudo de bronze ou lança de 3 metros, o soldado de Esparta levava vantagem. O escudo tinha a letra lambda, de Lacedemônia (outro nome de Esparta).

Artemísio - 19 a 21 de agosto de 480 a.C.

“Vendo os bárbaros fazer um crescente com suas naus, preparando-se para envolvê-los por todos os lados, os gregos saíram para enfrentá-los.”
Heródoto
1. Ao ataque!
Os persas avançam contra os gregos com 800 barcos. A idéia é eliminar a frota naval grega e partir para o continente.
2. Abraço de urso
Na defesa, os 300 barcos gregos se juntam para se defender dos persas, que formam uma espécie de tesoura de ataque.
3. Empate técnico
Depois de 3 dias de batalha, tempestades diminuem a superioridade persa. Os gregos recuam para o sul e batalha termina em empate técnico.
Corpo a corpo
Quando o barco inimigo teimava em não afundar, o jeito era invadir o convés e partir para o combate direto.
Triplex
Os barcos de guerra das duas esquadras eram as trirremes: tinham 3 andares, com 50 remadores em cada um. Chegavam a 35 metros de comprimento e 5 metros de largura.
Tropa faraônica
Os egípcios estavam entre as melhores tropas anfíbias do Império Persa. Usavam armaduras com escamas de aço, grandes escudos e lanças, além de ganchos para abordar os navios inimigos.

Nós e os gregos

Como a filosofia explica os heróis
Texto Leandro Narloch
Por que os gregos gostavam tanto de sangue? A Batalha de Termópilas mostra que os jovens da Grécia antiga sonhavam morrer como heróis das lutas. Todo cidadão de respeito, de políticos como Péricles a poetas como Sófocles, participava de batalhas. São muito diferentes, por exemplo, do cristão que tenta levar uma vida pacífica, sem pecar. Mas a razão de os gregos adorarem brigar é muito parecida com a do religioso que não falta a nenhuma missa. Os dois querem atingir a salvação.
No jeito cristão de pensar, a pessoa se salva da morte tendo uma vida baseada no amor e na compaixão. Se viver corretamente, seguirá existindo numa boa na eterna colônia de férias chamada céu. Um motivo e tanto para viver cheio de culpa por qualquer errinho. Mas os gregos viveram antes do cristianismo. Como não acreditavam que alguém, uma pessoa onisciente, tinha criado o Universo, não deviam explicações ou culpa para ninguém maior que eles. E não tinham nenhuma esperança de que se dariam bem depois da morte. O jeito que encontravam para eternizar a vida era pela fama, praticando atos heróicos que ficassem para sempre na história.
“Morrer de forma gloriosa era muito mais importante que ter uma vida longa e pacífica”, diz o filósofo Roberto Bolzani Filho, da USP. Os guerreiros odiavam ser designados para cargos leves, como mensageiro, e competiam para saber qual seria eternizado nos escritos dos poetas. “A glória valia mais que a vida”, diz Fernando Santoro, professor de filosofia antiga da UFRJ.
Já hoje, quando cada vez mais gente acredita que a morte é só um apagar de células, procuramos nos agarrar à vida. Talvez seja por isso que, bem ao contrário dos gregos, fazemos de tudo para fugir do serviço militar, comemos salada e praticamos esporte para viver. Mas claro que ainda temos a noção de pecado dos medievais. E o enorme fascínio dos gregos por heróis.

Salamina - 20 de setembro de 480 a.C.

“Os gregos, qual homens que arpoam atuns ou outro cardume de peixes, esmagavam a cabeça de seus inimigos com remos quebrados.”
Ésquilo
1. Armadilha
Convencidos por uma falsa mensagem dos gregos de que eles fugiriam, os persas partiram para o ataque.
2. Tudo ou nada
Ao entrar nos canais de Salamina, o maior número dos persas deixou de ter valor: ali não era possível manobrar muito.
3. Finta de mestre
Surpresos com a força naval grega, os persas têm seus navios invadidos. Os que chegam à praia são mortos ali mesmo. Os gregos vencem.
De camarote
Xerxes, rei dos persas, mandou montar seu trono em frente a ilha de Salamina para assistir o combate.
Glub glub
Um dos meios de vencer uma batalha naval antiga era usar o esporão (o “bico” de bronze do navio) para furar o casco do adversário e levá-lo a afundar.

Para saber mais

História
Heródoto, Prestígio, 2002.
A Guerra do Peloponeso
Donald Kagan, Record, 2006.
The Spartans
Paul Cartledge, Penguin, 2003.

Plataia - 27 de agosto de 479 a.C.

“Nesse dia o comandante persa Mardônio pagou o justo preço pela morte de Leônidas; e a mais bela vitória de que temos conhecimento foi obtida por Pausânias.”
Heródoto
1. Retirada confusa
A batalha começou quando os gregos resolveram fingir um recuo. A idéia era dar tempo para tropas de várias cidades se agruparem.
2. Ao ataque
Entusiasmados, os persas cruzaram o rio que os separava dos gregos e atacaram.
3. Derrota final
Parte do Exército grego levou a pior, mas eles agüentaram a pressão e acabaram derrotando os persas de vez.
Cavaleiros do rei
Os cavaleiros persas eram muito importantes nos combates em campo aberto. Usavam arcos e lanças leves, de arremesso, e irritavam o adversário ao fazer ataques rápidos e recuar logo depois.
À moda da Davi
Cercado por 1 000 guerreiros, o general persa Mardônio acabou tendo o crânio esmagado por uma pedra.
Barraca armada
O acampamento persa era uma festa. Havia tendas bem decoradas, peças de ouro e prata e a companhia das concubinas dos chefes.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Walmart lança cartilha para redução do uso de sacolas plásticas

Walmart lança cartilha para redução do uso de sacolas plásticas
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Dando continuidade as ações para reforçar a diminuição do consumo de sacolas plásticas, o Walmart disponibiliza para download em seu hotsite a cartilha “Sacolinhas, e eu com isso?”.
Com um conteúdo rico sobre o tema, a publicação aborda diversos aspectos como as principais informações sobre as consequências para o Planeta deste consumo de forma inconsciente, as alternativas que podem dispensar sua utilização, o ciclo de vida deste item e todos seus possíveis destinos na hora do descarte. “A cartilha fala diretamente com o consumidor, deixando claro que ele é o agente da mudança, e que cabe apenas a ele escolher alternativas mais sustentáveis, como por exemplo, a sacola retornável”, explica a diretora de Sustentabilidade do Walmart, Camila Valverde.
No Portal, o cliente do Walmart também terá acesso a notícias, diversas campanhas ativas da rede, dicas úteis para transporte das compras e até jogos com o intuito de educar a população. O Walmart é parceiro do Ministério do Meio Ambiente em pesquisas e campanha institucional sobre o tema.
A rede lançou no Brasil há cinco anos o programa “Cliente consciente merece desconto”, que dá descontos de R$ 0,03 (valor da sacola) a cada cinco produtos adquiridos para quem não usa as sacolinhas plásticas nas compras.
De 2009 até junho de 2013 foram mais de R$ 3,7 milhões em descontos e 123 milhões de sacolas que deixaram de ser usadas por clientes na rede.
O programa de redução do uso de sacolas plásticas inclui treinamento com os funcionários para o melhor aproveitamento das sacolas no ato de empacotar as compras.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Ambulantes indianos usam energia do sol para gelar sorvete

Ambulantes indianos usam energia do sol para gelar sorvete

  • Carrinhos com painéis instalados economizam energia e pesam menos que os convencionam, mas ainda custam o dobro
MARCIO BECK

Carrinho de sorvete com painéis solares pesa 50% menos que o convencional Foto: Reprodução da internet/The Hindu

Carrinho de sorvete com painéis solares pesa 50% menos que o convencionalReprodução da internet/The Hindu
RIO - Que tal usar a luz do sol para gelar o sorvete? Pode parecer um paradoxo, mas é o que os sorveteiros ambulantes da Índia estão fazendo, de acordo com o jornal local "The Hindu". Carrinhos adaptados com painéis solares no teto já circulam pelas ruas das principais cidades do país, como Mumbai, Delhi e Bangalore.
Com o calor intenso do verão indiano, os refrigeradores à base de etileno glicol, substância química utilizada na maioria dos equipamentos atuais, têm dificuldades para manter as baixas temperaturas, e evitar que os sorvetes derretam. Os sorveteiros precisam recarregar as baterias três ou quatro vezes por dia.
Além de ser uma fonte mais limpa e eficiente de energia, os novos carrinhos solares pesam cerca de 50% menos. Os painéis ainda geram o suficiente para abastecer a bateria do veículo o suficiente para durar a noite toda, mantendo os produtos na temperatura adequada (abaixo de -15º C), de acordo com o inventor do carrinho revolucionário, Kothapeta Kodanda Ramu.
O único problema é que o investimento inicial - 62 mil rúpias - ainda é o dobro de um carrinho a base de glicol.


em http://oglobo.globo.com/economia/ambulantes-indianos-usam-energia-do-sol-para-gelar-sorvete-11523045#ixzz2tCitDqOL 

Ajude a ONU a eleger os Campões da Terra 2014

Ajude a ONU a eleger os Campões da Terra 2014

Débora Spitzcovsky - Planeta Sustentável - 

charamelody/Creative Commons



Está aberta a chamada para indicações de pessoas e entidades que merecem ganhar a próxima edição do Campeões da Terra. Até 14/03, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) convida os internautas a sugerir nomes de possíveis vencedores para
o prêmio em 2014. 
Os interessados podem postar suas indicações, em inglês, no site da iniciativa. A ONU aceita sugestões de pessoas e entidades do governo, do setor privado e da sociedade civil que, ao longo do último ano, tenham desempenhado importante papel na proteção e conservação do meio ambiente, em quatro categorias:
- Política e Liderança;
- Ciência e Inovação;
- Visão Empreendedora e
- Inspiração e Ação.

O Pnuma pede para que, nesta edição, os internautas priorizem a indicação de candidatos jovens, do sexo feminino e que tenham envolvimento com o combate às mudanças do clima - assunto urgente que está em evidência por conta da possível definição de um novo acordo climático global em 2015.

Todas as indicações dos internautas serão avaliadas por um painel de Alto Nível do Pnuma. Os grandes vencedores do prêmio Campeões da Terra 2014 devem ser divulgados, apenas, no final do ano, em cerimônia de gala.

Criada em 2005, a iniciativa está em sua décima edição e já premiou três brasileiros:
- a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em 2013;
- o presidente executivo da Abril S.A, Fábio Barbosa, em 2012 e
- a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, em 2007
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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Empresas de ônibus reutilizam água da chuva para economizar o recurso

Empresas de ônibus reutilizam água da chuva para economizar o recurso


Uma empresa de ônibus do Espírito Santo, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, tem adotado uma medida eficiente para a empresa e benéfica para a manutenção do líquido mais precioso da terra. Com 150 veículos para lavar todos os dias, a Viação Flecha Branca criou há oito anos um sistema que capta água da chuva e também reutiliza parte do líquido que foi usado durante a lavagem da frota. A economia é de 2 milhões de litros por mês.
Além de economizar a água, a iniciativa evita que milhões de litros reutilizáveis acabem na rede de esgoto com resíduos de material de limpeza, como sabão, detergentes e desinfetantes, o que polui diversos sistemas marinhos.

No pátio da lavagem da frota existem valas. É nesses espaços que a água é escoada e pré-filtrada para passar pelo processo de decantação. “Toda impureza vai para o fundo da caixa (decantação) e devido aos 18 filtros por onde a água vai passando, quando chega no produto final ela praticamente está limpa”, detalhou o gestor ambiental da empresa, Alcimar Lemos, ao programa Bom Dia Espírito Santo.
“Essa ideia teve início quando a gente construiu nosso galpão de manutenção que tem aproximadamente três mil metros quadrados e daí nós pensamos em captar a água da chuva e reaproveitá-la. Foi no início da construção e o pensamento principal foi no meio ambiente”, contou o proprietário da empresa, Eduardo Carlette.

Programa cria regras para elaboração de listas e proteção de espécies ameaçadas

Programa cria regras para elaboração de listas e proteção de espécies ameaçadas


FOTO: Onça-pintada é um dos símbolos da biodiversidade ameaçada no Brasil. CRÉDITO: Marcus Obal/Wikimedia
Herton Escobar / O Estado de S. Paulo
As novas listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção no Brasil — que estão em fase de elaboração — atenderão aos padrões internacionais de avaliação de risco e passarão a ser atualizadas continuamente, ano a ano, e não mais apenas em intervalos isolados, como ocorre atualmente. Além disso, para cada espécie identificada como ameaçada, deverá ser desenvolvido um plano de ação para  retirá-la da lista o mais rápido possível.
É o que prevê o novo Programa Nacional de Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção (Pró-Espécies), que deveria ser criado hoje, com a publicação de uma portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) no Diário Oficial da União. Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas da pasta, Roberto Cavalcanti, o programa “agrega uma série de elementos que já vêm sendo desenvolvidos” dentro de uma estratégia nacional de conservação da biodiversidade, “dando muito mais solidez ao processo”.
Daqui para frente, todas as listas nacionais de espécies ameaçadas obedecerão aos critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), que não foram seguidos nos procedimentos anteriores. As listas oficiais atuais não trazem nem mesmo uma categorização do grau de ameaça de cada espécie (se estão criticamente em perigo ou apenas vulneráveis, por exemplo).
“O programa traz um avanço muito significativo nesse sentido”, avalia Gustavo Martinelli, coordenador do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNC Flora) do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), que participou da elaboração da portaria. “É a primeira vez que o Brasil adota oficialmente esses critérios internacionais de avaliação. Antes, isso não estava explicitado.”
O JBRJ será a instituição responsável por avaliar o estado de conservação das espécies de flora do país, enquanto que as avaliações da fauna caberão ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).  Essas avaliações servirão, então, como subsídio científico para a elaboração e atualização periódica das Listas Nacionais Oficiais de espécies ameaçadas de plantas e animais, respectivamente.
Segundo a portaria, “as atualizações das Listas Nacionais Oficiais serão divulgadas anualmente” pelo MMA. Isso não significa, porém, que uma nova lista será publicada a cada. Segundo Cavalcanti, as atualizações serão feitas pontualmente, para espécies ou grupos de espécies específicos, à medida que novas informações científicas sobre o seu estado de conservação se tornarem disponíveis (por meio das avaliações periódicas coordenadas pelo Jardim Botânico e pelo Instituto Chico Mendes). “Uma das grandes vantagens do Brasil é que não nos faltam pesquisadores com qualificação internacional nessa área”, aponta o secretário. A meta é fazer uma revisão completa de cada lista “com uma periodicidade máxima de cinco anos”, segundo a portaria.
É o que a IUCN faz há 50 anos com sua famosa Lista Vermelha de espécies ameaçadas no mundo, que é revisada periodicamente por grupos de especialistas em determinados grupos taxonômicos. O grupo reavaliado mais recentemente foi o de peixes cartilaginosos (tubarões, raias e quimeras), revelando que 1/4 deles está ameaçado de extinção.
Defasagem. As listas oficiais do Brasil estão bastante defasadas. A de fauna é de 2003, e a de flora, de 2008. Segundo Cavalcanti, as avaliações científicas que vão subsidiar a elaboração das novas listas já foram submetidas ao MMA; porém, não há prazo definido para a publicação das listas oficiais. O JBRJ publicou recentemente, em dezembro de 2013, o Livro Vermelho da Flora do Brasil, com uma avaliação de 4.617 espécies de plantas brasileiras, das quais 2.118 foram consideradas ameaçadas de extinção (muito mais do que as 472 mencionadas na Lista Nacional Oficial de 2008). Ainda assim, ressalta Martinelli, “é menos de 4% de toda a biodiversidade de flora do Brasil”, estimada em mais de 43 mil espécies.
Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo ICMBio, é de 2008. Segundo ele, há 627 espécies de animais já extintos ou ameaçados de extinção no país. Esses livros, porém, são apenas referências científicas — não são listas oficiais, com poder de lei (que o Ibama pode usar para prender ou autuar um infrator, por exemplo).
Além das regras para elaboração das listas, a portaria prevê a elaboração de Planos de Ação Nacionais (PANs) para a conservação de todas as espécies ameaçadas. “Não adianta só dizer que uma espécie está ameaçada; é preciso estabelecer metas para tirá-la da lista o mais rápido possível”, diz Cavalcanti. “O objetivo da lista não é ser apenas um depósito de nomes, é dar subsídio para ações que permitam resolver a situação dessas espécies.” Exemplos de sucesso como os do mico-leão-dourado e da arara-azul, segundo ele, mostram como é possível resgatar populações e melhorar o status de espécies ameaçadas, com conhecimento científico e projetos eficientes de conservação.
A página do ICMBio possui uma lista de 53 PANs já elaborados nos últimos dez anos; alguns deles para espécies específicas, como o lobo-guará, outros para grupos de espécies ou hábitats, como as cavernas e os lagartos e anfíbios (herpetofauna) de ilhas. Vários deles, segundo a avaliação do próprio instituto estão atrasados ou com problemas de execução, como os da onça-pintada e dos papagaios da Mata Atlântica.
Apenas dois dos 53 PANs existentes são para flora: um para cactáceas e outro, para as sempre vivas. Segundo Martinelli, a metodologia para elaboração desses planos para plantas está sendo revista, para torná-los mais eficientes e abrangentes. A estratégia proposta, em vez de olhar para espécies ou mesmo grupos individuais, é fazer planos de ação regionais para áreas que abriguem um grande número de espécies ameaçadas simultaneamente — como, por exemplo, a Serra do Espinhaço, nos Estados de MG e BA.
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Estado de conservação da flora e da fauna do Brasil será reavaliado

Estado de conservação da flora e da fauna do Brasil será reavaliado



Animais e vegetais serão reclassificados seguindo padrão internacional.
Objetivo é elevar proteção e cumprir meta que reduz ameaça a espécies.

Eduardo CarvalhoDo G1, em São Paulo
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Exemplar de onça-pintada que vive em fazenda de Goiás; foco de ONG é tratar e readaptar animais desta espécie antes deles retornarem à natureza (Foto: Evaristo Sa/AFP)A onça-pintada é um dos animais classificados como 'ameaçados' no Brasil. Com a mudança, deverá se enquadrar em uma das novas categorias do sistema internacional  (Foto: Evaristo Sa/AFP)

O país tem atualmente três listas distintas, duas para animais (vertebrados e invertebrados) e outra para plantas, que separam as espécies apenas em ameaçados ou não.
O Brasil vai reavaliar o estado de conservação de todas as espécies de sua fauna e flora com o objetivo de produzir uma nova lista de animais e vegetais ameaçados com padrão internacional. Os dados devem auxiliar na implantação de planos mais eficazes de proteção.

Nesta quarta-feira (5), o Ministério do Meio Ambiente publicou portaria no Diário Oficial da União instituindo o Pró-Espécies, programa que nomeia o Instituto Chico Mendes (ICMBio) e o Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro como responsáveis pela nova classificação.
De acordo com o ICMBio, até 2013 o Brasil tinha 627 animais ameaçados. Já um levantamento do Jardim Botânico que avaliou 4.617 espécies de vegetais, afirma que 2.118 (45,9% delas) receberam essa classificação.
Veja as novas classificações:
- extinta;
- extinta na natureza;
- criticamente em perigo;
- em perigo;
- vulnerável;
- quase ameaçada de extinção;
- menos preocupante;
- dados insuficientes;
- não aplicável;
- não avaliada;
Nova metodologia
Agora, haverá a subdivisão dos organismos analisados em categorias como criticamente em perigo (correm risco extremamente alto de extinção na natureza), vulnerável (quando há alerta de risco) e menos preocupante (quando não há algum perigo à espécie).
Esse padrão já é utilizado por outros países, como a União Internacional para Conservação da Natureza, a IUCN, órgão ligado às Nações Unidas e que concentra informações sobre a fauna e flora do planeta, além de possuir a Lista Vermelha, com dados sobre espécies em risco.
“O maior ganho disso é que teremos graus de ameaças. Isso vai melhorar nas ações de preservação, principalmente de espécies com grau de ameaça mais alto”, explica Carlos Scaramuzza, diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente.
Ele explica, por exemplo, que poderão ser beneficiadas imediatamente espécies que vivem na região do “arco do desmatamento", faixa territorial que mais sofre com a degradação na Amazônia Legal que vai de Rondônia, passa por Mato Grosso, e segue até o Pará
A meta é concluir o diagnóstico até dezembro deste ano e lançar as listas, no máximo, até 2015.
Metas nacionais de Biodiversidade
Essas medidas, segundo Scaramuzza, vão ajudar o Brasil a cumprir com as metas nacionais de Biodiversidade, previstas na Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CBD), que foram divulgadas em 2013.
Segundo elas, o país pretende até 2020 reduzir em 50% em relação às taxas de 2009 a perda de ambientes nativos e, na medida do possível, zerar a degradação e fragmentação dos biomas.
Até o mesmo ano, o risco de extinção de espécies ameaçadas terá sido reduzido significativamente, “tendendo a zero, e sua situação de conservação, em especial daquelas sofrendo maior declínio, terá sido melhorada”.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Casa à prova de enchente

Casa à prova de enchente

  • Anfíbia, edificação feita de bambu flutua durante a chuva



A Lift House, construída em Bangladesh, tem uma área central em tijolos e concreto e duas laterais em bambu capazes de flutuar nos dias de enchente
Foto: Divulgação

A Lift House, construída em Bangladesh, tem uma área central em tijolos e concreto e duas laterais em bambu capazes de flutuar nos dias de enchente Divulgação
RIO - Uma casa anfíbia. Fincada no chão, mas capaz de flutuar em dias de enchente, inibindo inundações. Não só é possível, como já existe. Em Bangladesh. A primeira unidade da Lift House (ou casa elevador) foi construída na cidade de Dhaka, numa comunidade que costuma sofrer com chuvas fortes e enchentes, e vem sendo testada há quatro anos.
O mecanismo é simples. A casa é composta de três partes. A central, estática, é feita de tijolos e concreto e funciona como a espinha dorsal da edificação, responsável por mantê-la em pé. Presa a ela, há dois módulos laterais de bambu construídos sobre dois tanques, que têm estrutura de cimento e funcionam como fundação da casa. Dentro dos tanques, ficam colchões de garrafas pet usadas. Quando chove forte e o rio localizado logo atrás da casa enche, a água invade os tanques e sua força levanta os colchões de pets e as duas laterais da casa. Assim, o imóvel flutua na água, ao invés de ser invadido por ela. Quando o nível da água baixa, a casa volta a seu lugar. Para evitar infiltrações, o piso recebeu tratamento especial.
— Com soluções econômicas eficazes e simples, a arquitetura da Lift House se adapta ao ambiente natural dando, a comunidades carentes urbanas, a chance de viver em casas seguras, de baixo custo e que não necessitam de reparos a cada enchente. As inundações, uma das forças mais destrutivas em comunidades pobres de grandes cidades, são uma realidade na vida de muita gente ao redor do mundo. Esta é uma forma de conviver com elas — diz Prithula Prosun, arquiteta que desenvolveu o projeto em tese de mestrado.
Natural de Bangladesh, onde viveu até os 9 anos, Prithula vive desde então em Toronto, no Canadá. Mas em seu mestrado quis pesquisar soluções para habitações de comunidades pobres de seu país. E como a intenção era criar um projeto sustentável, a arquiteta optou por usar materiais baratos e que estivessem disponíveis em quantidade no local da construção.
Caso tanto do bambu, material versátil, leve e de baixo custo, quanto das pets, disponíveis aos milhares em qualquer canto do mundo e que, quando não recicladas, acabam enchendo os lixões. Na casa de Bangladesh, por exemplo, foram usadas oito mil pets.
Logo, uma escolha que, além de ecológica, facilita a exportação do projeto e a construção da casa em outros países. No momento, Prithula vem trabalhando em parceria com a organização Architecture for Humanity, para construir cem lift houses na Colômbia. Estão na fase de captação de recursos. O custo de cada módulo é de cerca de R$ 11 mil. Ou seja, uma casa, como a de Bangladesh, custa R$ 22 mil e pode ser erguida em três meses. E será que o projeto poderia chegar também ao Brasil?
— É claro. Embora a primeira Lift House construída levasse em consideração as condições e necessidades de uma família de Bangladesh, os conceitos básicos do design anfíbio podem ser aplicados em qualquer área que sofra com enchentes — diz a arquiteta, que continua com sua pesquisa para desenvolver outros tipos de habitações anfíbias.
Mas, segundo Prithula, não há restrições de tamanho ou peso para cada módulo móvel. Para construir uma casa maior, basta fazer um tanque, ou fundação, também maior. O design é totalmente adaptável até mesmo às condições climáticas. Só é preciso fazer adaptações que seriam estudadas de acordo com cada lugar.
Presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA Rio), o arquiteto Vicente Giffoni acredita, no entanto, que no Brasil a técnica só poderia ser aplicada em áreas afastadas dos centros urbanos, como as regiões ribeirinhas da Região Norte.
— O conceito é bom, mas não sabemos se poderia ser aplicado com eficácia no Rio de Janeiro. O uso de materiais sustentáveis e o estilo de construção são relevantes, mas, por outro lado, não se sabe se, na prática, isso seria suficiente, para se evitar o estrago causado por uma enchente — avalia Giffoni.
Casa é autossuficiente
E a casa asiática ainda tem outras características sustentáveis. Em sua parte central, foram construídos os banheiros e abaixo deles há uma grande composteira. Assim, é possível produzir adubo a ser usado em hortas ou no jardim que cerca a edificação, por exemplo. Além disso, o imóvel foi projetado para ser autossuficiante e não tem conexões com os sistemas de abastecimento da cidade, muito precário no caso daquela comunidade. Por isso, conta com dois painéis num sistema de captação de energia solar, suficientes para abastecimento da casa.
A posição da casa no terreno levou em consideração a incidência tanto do sol como dos ventos, para diminuir a temperatura. Os janelões localizados nas fachadas frontal e lateral dos módulos de bambu também permitem uma ventilação cruzada que ajuda a resfriar o interior do imóvel.
Há ainda duas grandes cisternas, enterradas no solo. Uma para captação de água da chuva e outra para armazenamento da água já usada nos banheiros, que passa por tratamento e pode ser novamente utilizada em descargas e na irrigação da área verde.
— Espero poder erguer futuros modelos da casa Lift em diferentes partes do mundo. Acredito que a ideia tem um potencial imenso e estou ansiosa por explorar como o design do imóvel pode ser aplicado em diferentes paisagens e culturas — destaca Prithula, acrescentando que está pesquisando o que será preciso fazer para usar essa mesma arquitetura na construção de centros comunitários e também em escolas.
“A arquitetura da Lift House se adapta ao ambiente natural dando a chance a comunidades carentes de viver em casas seguras, de baixo custo”

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/imoveis/casa-prova-de-enchente-11478654#ixzz2tIH83l4W 
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Maior usina solar do mundo começa a gerar eletricidade

PERDEU, ABU DHABI

Maior usina solar do mundo começa a gerar eletricidade

Débora Spitzcovsky - Planeta Sustentável - 
Business Wire/Divulgação




Começou a funcionar nesta quinta-feira (13) a Ivanpah Solar Electric Generating Systemmaior usina de energia solar do mundo, que está localizada na Califórnia, nos EUA.

O título de maior complexo produtor de eletricidade proveniente do sol era da Shams 1usina localizada em Abu Dhabi, capaz de gerar 100 megawatts de energia. Mas hoje, após resolver questões regulatórias e problemas jurídicos e entrar em funcionamento, a Ivanpah desbancou bonito a concorrente árabe.

Em um terreno de 13 km², a usina abriga 300 mil espelhos para coletar a luz do sol e tem capacidade bruta de produção de 392 megawatts de energia - quase quatro vezes mais que a Shams 1, em Abu Dhabi.

Com o tanto de eletricidade que produz, a nova usina solar -que pertence às empresas NRG Energy, BrightSource Energy e Google - será capaz de abastecer cerca de 140 mil casas da Califórnia. Segundo comunicado oficial, ao passar a utilizar energia limpa, esses domicílios deixaram de gerar 400 mil toneladas métricas de CO2 por ano - o que equivale a remover 72 mil veículos das ruas.