sábado, 4 de janeiro de 2014

LIÇÕES DE CIDADANIA:A cidade que temos. A cidade que queremos

A cidade que temos. A cidade que queremos

Professora de Geografia em uma escola de Rondônia, Telma Oliveira Medeiros incentivou os alunos a elaborarem propostas de melhoria para o município de Ariquemes, onde vivem. O trabalho escolar foi um sucesso e acabou sendo apresentado à comunidade no auditório do Ministério Público Municipal

Paula Peres/Bruna Nicolielo  Nova Escola -

Ilustração: Melissa Lagôa/Foto: Mateus Andrade-Imagem News

Refletir sobre o desenvolvimento sustentável na prática era o objetivo da professora Telma Oliveira Medeiros quando propôs ao 9º ano da EE Heitor Villa-Lobos, em Ariquemes, a 198 quilômetros de Porto Velho, que elaborasse propostas de melhoria para o município. Assim, ela trabalhou os conteúdos previstos para essa etapa, como turismo ecológico, cidades e hábitos de consumo mundializados, além dos objetivos de desenvolvimento do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) com base na geografia local. Também discutiu dois conceitos indissociáveis – economia e meio ambiente. “Fala-se muito sobre a importância de desenvolver o planeta do ponto de vista econômico, mas ao mesmo tempo colocamos na cabeça das crianças que é preciso preservá-lo. Isso cria um nó. A solução é apresentar o conceito de sustentabilidade”, explica André Mascaro Peres, professor de Geografia do Colégio Ítaca, em São Paulo.

A professora iniciou o projeto apresentando vídeos da coleção Patrimônios da Humanidade, da Unesco, que retratam iniciativas sustentáveis realizadas por algumas cidades europeias. Assim, ela pretendia mostrar possibilidades reais de mudança, fazendo com que os alunos percebessem que se trata de algo que depende de pequenas e grandes ações. Após a apresentação, eles discutiram sobre o que tinham observado. “A ideia era sair dos exemplos europeus que vimos nos vídeos e começar a pensar no nosso entorno”, diz Telma.

A princípio, os jovens não acreditavam na possibilidade de adaptar os modelos a Ariquemes. “Ela nunca vai ficar assim!” ou “Ninguém gostaria de conhecê-la”, lamentavam.

Em seguida, Telma levou os estudantes ao laboratório de informática, onde tiveram acesso a textos sobre desenvolvimento sustentável, turismo ecológico e os objetivos de desenvolvimento do milênio da ONU. Também leram trechos do livro didático. Com base nas pesquisas, todos fizeram anotações e produziram textos individuais sobre o que tinham entendido a respeito do conceito de sustentabilidade.

Na próxima etapa, a classe fez uma mesa-redonda para socializar suas descobertas. À medida que todos apresentavam as informações e discutiam, Telma estimulava paralelos entre o que tinha sido visto e a cidade, levando-os a refletir sobre os problemas locais. Ela perguntou, por exemplo, qual era a relação dos temas presentes nos textos, como coleta de lixo, tratamento da água, reciclagem e saúde, com a cidade.

A turma concordou que os assuntos tratados tinham tudo a ver com Ariquemes. Também ficou encantada com as possibilidades do turismo ecológico. “Quando os estudantes leram um artigo a respeito, começaram a pensar em alternativas. Algumas difíceis, mas possíveis”, explica a docente.

Nesse momento, é importante problematizar a viabilidade das ideias. “É possível fazer isso?”, “Como?” e “Que recursos financiariam nossas propostas?”. Essas perguntas levam a garotada a refletir sobre suas sugestões, considerando que as soluções nem sempre são simples ou dependem apenas da boa vontade das pessoas, mas também exigem a participação de outros agentes, como o governo.

A aula seguinte foi feita em parceria com a coordenadora de mídias da escola, Maria Cecília Correa de Andrade, que ministrou uma oficina sobre diagramação e publicação da revista digital em uma plataforma online.

ESTUDAR A REALIDADE LOCAL
Uma palestra com o promotor de Justiça foi organizada. Ele falou sobre a preservação da mata ciliar no município. A questão é muito debatida na região devido às novas leis de preservação. A vegetação nativa é a Floresta Amazônica e a economia, historicamente exploradora, se desenvolveu no ciclo da borracha e atualmente vive da extração de minérios e de madeira.

A agropecuária também é bastante presente na região, o que levou a mais desmatamento. “Estamos passando por um processo de aceitação dessa lei. Muita gente não admite preservar a vegetação, pois ainda tem aquela concepção tradicional de que área produtiva é floresta derrubada”, explica Telma.

Durante a palestra, os alunos entraram em contato com a legislação ambiental. “Assim, eles perceberam que havia muitas outras pessoas igualmente preocupadas em preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, com o desenvolvimento”, diz a professora.

Por fim, os jovens, divididos em grupos, passaram à formulação de suas propostas. O contraturno foi usado para reuniões e pesquisas em livros e na internet (o Planeta Sustentável é uma boa indicação).

Eles abordaram um leque variado de temas, como a construção de um aquário com peixes da região, a conscientização dos moradores para o uso adequado e o reaproveitamento da água, a implementação de cisternas para captação da chuva, a criação de áreas verdes e de lazer em terrenos abandonados e a preservação da mata nativa.

O grupo de Gabriela de Kassia Fogaça Rosário, 15 anos, escolheu repensar a coleta de lixo, sugerindo que a população fizesse a separação dos materiais em casa. Em Ariquemes, isso ainda não é uma prática disseminada. “A gente sempre ouve falar que tem de reutilizar o lixo, mas isso ainda não é feito.”

Na sala de informática, os grupos organizaram as propostas em slides, com a ajuda da professora e da coordenadora de mídias. Depois, realizaram uma apresentação, na qual a professora fez a primeira avaliação dos trabalhos. Todos receberam retorno do que deveria ser melhorado para a exibição final.

Nesse momento, vale problematizar formas de viabilizar cada proposta novamente. “Construir cisternas é fácil?”, “Como isso seria feito?”, “De que adianta separarmos o lixo em casa se a cidade não possui um programa de coleta seletiva?” e “Como faríamos para transformar os terrenos baldios em áreas de lazer?”, “O município compraria esses espaços?” e “Teria dinheiro para tanto?” são questões que contribuem para o debate.

Depois das correções, foi a vez de reunir os projetos e publicá-los na plataforma virtual. O material foi enviado ao promotor de Justiça, que sugeriu a apresentação dele no auditório do Ministério Público Municipal, com a participação de pais, professores, colegas e comunidade em geral. “Foi ótimo fazer isso. As autoridades puderam nos ouvir e conhecer nossas propostas”, comemora a estudante Gabriela
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As principais catástrofes naturais no mundo em 2013

 As principais catástrofes naturais no mundo em 2013

Veja os furacões, ondas de frio, calor e chuvas que devastaram cidades durante o ano

China Daily/Reuters
Mulher caminha sobre destroços após terremoto em Gansu, na China
Mulher caminha sobre destroços após terremoto em Gansu, na China: terremoto de 6,6 graus Richter em Gansu, na China, deixa 95 mortos, 1.001 feridos, 226.700 evacuados e derruba 51.800 casas
Terremotos
- 6 fevereiro.- Tsunami seguido por terremoto de 8 graus na escala Ritcher atinge as Ilhas Salomão, deixando 11 mortos e três aldeias arrasadas.
- 9 abril.- Um terremoto de 6,1 graus na escala Richter em Buhehr, no Irã, deixa 37 mortos, 950 feridos e 800 casas destruídas.
- 16 de abril.- Um terremoto de 7,5 graus de magnitude, com epicentro no Irã, deixa 32 mortos e 150 feridos em Baluchistão, no Paquistão, com o desabamento de cerca de 200 casas na aldeia de Zawat, e no Irã, um morto e 27 feridos em Saravan.
- 20 abril.- Um terremoto de 7 graus na escala Richter em Sichuan, na China, deixa 192 mortos, 25 desaparecidos, 12 mil feridos, 220 mil evacuados e 13 mil casas destruídas.
- 2 julho.- Terremoto de 6,1 graus na escala Ritcher na ilha de Sumatra, na Indonésia, deixa 35 mortos, 8 desaparecidos, 275 feridos e 4.292 casas destruídas.
- 22 julho.- Um terremoto de 6,6 graus Richter em Gansu, na China, deixa 95 mortos, 1.001 feridos, 226.700 evacuados e derruba 51.800 casas.
- 24 setembro.- Um terremoto de 7,7 graus de magnitude no Baluchistão, no Paquistão, deixa 375 mortos, 755 feridos, 150 mil afetados e 40 mil casas derruídas. Após o terremoto, emergiu a ilha de Zalzala Koh. Outro terremoto de 6,8 graus deixou 12 mortos no dia 28 mortos.
- 15 outubro.- Terremoto de 7,2 graus na escala Richter na ilha de Bohol, nas Filipinas, deixa 156 mortos, 22 desaparecidos e 3,3 milhões de afetados.
Ondas de frio
- 2-7 janeiro.- Uma onda de frio castiga a Índia e deixa 126 mortos, em sua maioria indigentes.
- 6 janeiro.- Temperaturas de até 40 graus abaixo de zero na China deixam dois mortos e 770 mil afetados.
- 23 janeiro.- Onda de frio de até 30 graus abaixo de zero atinge nordeste dos Estados Unidos e deixa três mortos.
- 5 março.- Uma onda de frio castiga a Rússia com temperaturas inferiores a 20 graus abaixo de zero, deixando quatro mortos.
- 18-25 julho.- Seis mortos após onda de frio que castiga Argentina, Brasil e Paraguai.
Ondas de Calor
- Junho.- São descobertos 27 corpos de imigrantes ilegais no deserto do Arizona, nos Estados Unidos, onde as temperaturas superam os 45 graus. No Arizona, Califórnia e Nevada houve centenas de pessoas hospitalizadas, somente 200 em Las Vegas.
Erupções vulcânicas
- 7 maio.- Cinco mortos após uma explosão que sacudiu as aldeias próximas ao vulcão Mayon, nas Filipinas.
- 12 agosto.- Uma nuvem de fumaça de 2 mil metros e a erupção do vulcão Rokatenda deixam seis mortos e 500 evacuados na ilha de Palue, na Indonésia.
Inundações
- 17-18 janeiro.- Graves inundações em Jacarta, na Indonésia, deixam 26 mortos e 33 mil desabrigados.
- 12-30 janeiro.- 48 pessoas morrem em Moçambique, 150 mil são evacuadas e 240 mil afetadas pelas inundações.
- 24-25 março.- As intensas precipitações em Petrópolis, no Brasil, deixam 33 mortos e dezenas de feridos.
- 2-4 abril.- Temporal que castigou cidades de Buenos Aires e La Plata deixam 54 mortos na Argentina.
- Março-6 maio.- 91 pessoas morrem, 98.500 são evacuadas, 700 casas são destruídas e 5.500 hectares de plantações danificados pelos alagamentos no Quênia.
- 1-20 junho.- 27 mortos, milhares de casas e hectares inundados, perdas milionárias e milhares de evacuados no norte e centro da Europa após os rios alcançarem níveis históricos, provocados pelas fortes chuvas e as águas do degelo.
- 17-26 junho.- As chuvas de monção deixam na Índia 882 mortos e 2 mil desaparecidos.
Furacões, ciclones, tufões e tornados 
- 14-17 maio.- 50 mortos, 50 desaparecidos e um milhão de evacuados após a passagem do ciclone "Mahasen" por Mianmar e Bangladesh.
- 20 maio.- Um tornado, de categoria EF5, arrasa Oklahoma City e deixa 24 mortos e 237 feridos.
- 13-16 julho.- O tufão Soulik deixa em Taiwan três mortos, um desaparecido e 123 feridos, e na China, 108 mortos, 183 desaparecidos e um milhão de afetados.
- 14-18 setembro.- A confluência do furacão "Ingrid", no Atlântico, e do furacão "Manuel", no Pacífico, deixam no México 157 mortos, dezenas de desaparecidos e 1,7 milhão de afetados.
- 7-11 novembro.- O supertufão "Haiyan", de categoria 5, deixa nas Filipinas 5.500 mortos, 26.136 feridos, 1.757 desaparecidos e 9,9 milhões de afetados. No Vietnã, o mesmo tufão deixou 13 mortos e 600 mil evacuados, além de oito mortos em Taiwan e 12 mortos e 12 desaparecidos na China.
- 9-10 novembro.- 300 mortos e centenas de desaparecidos e aldeias inteiras destruídas após a passagem de um ciclone tropical por Puntlândia, na Somália. 

Ricardo Abramovay e a riqueza do lixo


Ricardo Abramovay e a riqueza do lixo

Em 2014, a Política Nacional de Resíduos Sólidos entrará em vigência e, com ela, uma nova era para o destino do lixo e a forma como o descartamos. O sociólogo Ricardo Abramovay, que lançou publicação sobre o tema este ano, comenta como isso deve acontecer, destacando a urgência de frear o consumo de recursos naturais e estimular a reciclagem

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Afonso Capelas Jr. e Matthew Shirts Especial Lixo National Geographic -

Alexandre Severo

Responsabilidade compartilhada, poluidor-pagador, logística reversa. Daqui em diante vamos conviver com esses e outros termos até agora estranhos. Eles passam a fazer parte do cotidiano dos brasileiros e revelam uma nova era na destinação do lixo, com o início da vigência, a partir de meados de 2014, da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ela prevê o fim dos malcheirosos lixões a céu aberto e a certeza de que a sociedade terá papel decisivo na destinação adequada do lixo. Inclusive o cidadão comum.


Quem revela o significado dessas expressões e como será a vida quando vigorar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é Ricardo Abramovay, professor de economia da Universidade de São Paulo especializado em desenvolvimento sustentável.

Sobre o tema, ele e colegas lançaram o estudo Lixo Zero – Gestão de Resíduos Sólidos para uma Sociedade Mais Próspera, disponível em formato digital pelo Planeta Sustentável (que lançou Muito Além da Economia Verde, de sua autoria, em 2012), do qual é conselheiro. O economista alerta que se deve frear a exploração dos recursos naturais e estimular a reciclagem: “Lixo é riqueza, não pode ser desperdiçado”.

Qual é o ponto crucial da Política Nacional de Resíduos Sólidos?É a chamada responsabilidade compartilhada. Ela sinaliza que estamos todos incumbidos de dar destinação correta ao lixo produzido: as prefeituras, os governos estaduais e federal, as empresas e o próprio consumidor. É importante delimitar em que consiste o compromisso de cada um; sobretudo, saber quem paga a conta. Para o consumidor, a responsabilidade compartilhada exige que ele separe seu lixo, preparando-o para a reciclagem, sob pena de multa. A lei prevê também o conceito da responsabilidade estendida. Com ela, o produtor ou o importador (denominadospoluidores-pagadores) terão de responder pelo envio apropriado dos rejeitos do que venderem ao consumidor final, incluindo a estruturação da logística reversa – o recolhimento e a devida reciclagem desses produtos pós-consumo –, para que tenham destinação mais adequada que não os aterros.

Mesmo os aterros controlados não são apropriados?Não. Temos três tipos de aterro: os lixões a céu aberto, os aterros controlados e os sanitários. Todos são inadequados porque o resíduo sólido é uma riqueza que pode e deve, em sua esmagadora maioria, ser reaproveitada pela sociedade.

Será preciso fazer campanhas para conscientizar o consumidor?Sim. A experiência internacional mostra que o consumidor só faz a parte dele quando recebe boa educação ambiental. Na Europa, as empresas gastam muito dinheiro com publicidade pedagógica, e aqui será preciso fazer o mesmo. Também é necessário ter um sistema de coleta coerente com essa nova obrigação do consumidor. Em muitas cidades brasileiras é frequente as pessoas mais conscientes fazerem a triagem de seu lixo domiciliar e depois constatarem que o caminhão da coleta mistura todos os rejeitos de novo. Isso desmoraliza o processo. É mais um fator institucional, que precisa ser organizado de forma coerente nos municípios por três atores importantes: as prefeituras, os catadores e as empresas.

O senhor concorda com o pagamento de uma taxa sobre os resíduos produzidos pelo consumidor?É polêmico, mas creio que essa deva ser outra responsabilidade das pessoas. Na cidade de São Paulo, a taxa chegou a ser cobrada, anos atrás, e depois foi suspensa. Houve o erro de demonizar essa cobrança, e sua suspensão foi tratada pelos paulistanos como uma vitória da cidadania. Mas a taxa do lixo continua sendo paga, agora embutida no imposto predial e territorial urbano (IPTU). Sem a cobrança explícita, as prefeituras não podem premiar quem faz a separação correta de seu lixo nem oferecer incentivos às pessoas que produzem menos resíduos e promovem a reciclagem.

Quem irá financiar o sistema de logística reversa?Serão os fabricantes e importadores; por isso, agora são chamados de poluidores-pagadores. O sistema já é praticado, de forma eficiente, no Brasil, com pneus, embalagens de óleos combustíveis e de agrotóxicos, além de baterias automotivas. Esses cinco setores privados organizam e pagam os custos da coleta e da reciclagem dos produtos, antes mesmo da nova lei. Em meus tempos de criança, o que mais se encontrava nos rios Pinheiros e Tietê, em São Paulo, eram pneus velhos. Hoje, eles são reciclados. Há uma agência chamada Reciclanip responsável por essa tarefa. No caso das embalagens de agrotóxicos, o setor gasta R$ 80 milhões por ano para organizar sua logística reversa.
A dificuldade maior está em produtos com venda descentralizada e descarte domiciliar.

Quais são esses produtos?
São embalagens em geral, desde latinha de bebida até garrafa PET e caixinha longa-vida. Nesse ponto, a lei quer aguardar o que os respectivos setores têm a dizer. Aí, há uma queda de braço entre fabricantes e governo: a proposta das empresas é apenas auxiliar com recursos financeiros os catadores de rua, oferecendo a eles infraestrutura para melhorar o trabalho e a produtividade.

E só. No entender desses fabricantes, a tarefa de coleta e logística reversa ficaria a cargo das prefeituras, com os catadores.A alegação é de que não é possível ir aos domicílios recolher as embalagens descartadas. Acontece que esse tipo de argumento está enfraquecido. Ao contrário do que propõem no Brasil, essas mesmas empresas se comprometem com o pagamento da logística reversa nos países desenvolvidos.

Essa responsabilidade empresarial deve ser cada vez maior?Sim. A responsabilidade estendida não pode mais ser vista como excesso ambientalista ou exagero. É uma tendência de comportamento das grandes marcas globais. As empresas cada vez mais começam a pensar em sua cadeia de valor como um todo, e a reciclagem faz parte dessa crescente preocupação.

E o caso de pilhas, lâmpadas e eletroeletrônicos, que contêm substâncias tóxicas?A logística reversa de produtos de difícil manuseio e com grande potencial tóxico também será responsabilidade financeira do fabricante ou do importador. Mas ninguém sabe ainda como se organizará a reciclagem. Isso porque a lei brasileira foi sábia em esperar os próprios fabricantes fazerem suas propostas como ponto de partida. O governo está recebendo essas sugestões.

Qual é a tarefa de prefeituras, estados e União com a PNRS?As prefeituras continuarão respondendo pelo recolhimento do lixo domiciliar e, em parte, pela coleta seletiva porque são elas as primeiras responsáveis pelos resíduos gerados em seus municípios. Portanto, se esses resíduos serão recolhidos por organizações de catadores – além do trabalho das empresas de coleta contratadas –, deverá haver um acordo entre as partes constantes nos chamados planos municipais de gestão de resíduos sólidos. O problema é que, pela nova lei, as prefeituras já deveriam ter elaborado seus planos, e, hoje, menos de 10% delas têm eles prontos. Se não o fizerem, deixarão de receber os recursos para organizar seus sistemas de coleta. Isso revela como o poder público está atrasado, porque a base ainda não fez sua lição de casa.

Além disso, por questões legais, municípios com menos de 15 mil habitantes não podem ter aterros sanitários. Portanto, será preciso montar consórcios municipais e criar aterros conjuntos, o que, é certo, trará dois problemas. Primeiro, o orçamento do lixo no país tem a tradição de ser grande financiador de campanhas eleitorais. Assim, é muito difícil partilhar esse orçamento com outras prefeituras, até porque isso só pode ser feito sob absoluta transparência, o que não é o que vigora no Brasil. Segundo, há aquela velha questão do “no meu quintal, não”. Ninguém vai querer um aterro em sua cidade. Resumindo: os consórcios necessários para acelerar essa transição dos lixões para os aterros sanitários ainda estão muito atrasados e será uma grande dificuldade implementá-los. Hoje, no Brasil, pouco mais de 40% de todo o lixo tem destinação inadequada. A grande maioria está em cidadezinhas das regiões Norte e Nordeste do país.

Os estados também terão papel fundamental, mas, assim como as prefeituras, os estados do Norte e do Nordeste ainda não têm planos concluídos. Por fim, o governo federal está implementando a lei, tem recursos destinados para tal, mas o dinheiro está bloqueado, pois a maioria das prefeituras e muitos estados não fizeram a lição de casa. Esse cenário fortalece a tese de que é preciso haver maior responsabilidade do setor privado. Não se pode esperar que o poder público conclua suas pendências com rapidez e facilidade, porque isso não vai acontecer.

Como resolver a questão dos catadores? Melhor tê-los regularizados ou dar a eles atribuições mais dignas?
O melhor é tê-los regularizados. A cidade de San Francisco, nos Estados Unidos, tem 800 mil habitantes e dois mil catadores de resíduos sólidos regularizados e equipados. É um trabalho digno. O serviço ambiental que essas pessoas prestam à sociedade é inestimável. No Brasil, quem faz esse trabalho é vítima das piores formas de exclusão social; por isso, associa-se essa tarefa à degradação, quando não deveria ser assim. Em uma sociedade saudável, em que não há trabalho indigno, é preciso ter uma forma de coleta destinada à reciclagem como a dos catadores.

As associações de catadores estão procurando organizar a categoria, mas a grande maioria deles está na informalidade.

Incinerar lixo para gerar energia pode ser um bom modelo?Estudo recente compara biodigestores e incineradores convencionais. Biodigestores são mais adequados na produção de energia porque funcionam só com resíduos orgânicos, deixando os inorgânicos para reciclagem. É preciso comparar o valor potencial que provém da reciclagem com o valor do que é incinerado para produzir gás e gerar energia. Mesmo que haja vantagem ambiental e econômica em incinerar, não considero como a melhor solução. Queimar resíduos pode ser um estímulo ao desperdício para uma sociedade que ainda cultua o vício do “jogar fora”. Nós, brasileiros, e também os americanos somos sociedades assim. A vantagem de optar pela reciclagem é que esse fator incidirá também na concepção dos produtos. Até agora, não vi nenhum caso no Brasil de empresa que, com base na PNRS, tenha modificado o desenho de seus produtos em função da necessidade de facilitar a separação dos diferentes materiais para a logística reversa.

No Brasil, a quantidade de resíduos aumenta de forma vertiginosa à proporção do crescimento econômico. Como estancar isso?
Com o aumento na renda, a quantidade de lixo também cresceu. Não há orientação na publicidade ou nas políticas de crédito ao consumidor no que diz respeito ao destino do lixo. Dados recentes apontam que cada ser humano consome 10 toneladas por ano de recursos naturais. É a nossa chamada pegada material, e ela só faz aumentar: no início dos anos 2000, foram extraídos 60 bilhões de toneladas de matéria orgânica, minérios e combustíveis fósseis. Em 2008, esse número saltou para 70 bilhões de toneladas. Esses recursos não são infinitos. Se não tivermos inteligência para usar o que foi retirado do planeta, chegará o momento em que não teremos mais de onde tirar
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ghillean Prance: empresas devem ser motor de desenvolvimento da Amazônia

Ghillean Prance: empresas devem ser motor de desenvolvimento da Amazônia

Para um dos mais renomados botânicos britânicos, a melhor maneira de salvar a região amazônica é explorar seus recursos - inclusive os agrícolas

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Verena Fornetti -Exame -

Duda Arraes/Creative Commons

O botânico inglês Ghillean Prance visita a região da floresta amazônica quase todo ano desde a década de 60. Prance tem um longo currículo na pesquisa das propriedades das plantas brasileiras e na área de conservação ambiental, o que inclui a direção do Jardim Botânico de Nova York e dos Jardins Botânicos Reais de Kew, no Reino Unido.

De acordo com o pesquisador, o Brasil e o mundo precisam da floresta amazônica preservada, mas isso não impede que haja uma intensa atividade econômica na região. Para Prance, o motor desse desenvolvimento deve ser companhias como a Natura, mas ele não descarta o papel da agricultura.

Nas últimas décadas, o que mudou na Amazônia?As cidades cresceram muito. Quando visitei Manaus pela primeira vez, na década de 70, a cidade tinha cerca de 300 000 habitantes. Hoje, existem quase 2 milhões de moradores. Também vejo um interesse crescente em uma abordagem sustentável do desenvolvimento.

Quais são suas maiores preocupações em relação à região amazônica?Temos de conservar a floresta para ajudar na redução do efeito estufa nos climas mundiais. Mas é preciso ser realista e criar um uso sustentável da região. Nas áreas já desmatadas, poderíamos dar lugar a uma agricultura intensiva.

Como isso seria feito?É possível usar a terra de forma mais inteligente. Pode-se cultivar o solo em camadas. Numa mesma área, é possível ter uma árvore frutífera, e embaixo dela colocar uma cultura perene, como o cacau, que não é necessário replantar todo ano, e, junto, plantar outra espécie rasteira. A Embrapa já está estudando esse tipo de técnica. Isso é mais sustentável do que criar uma vaca a cada 5 hectares. Sem falar que traria mais renda para quem mora ali.

É curioso o senhor dizer isso, porque há uma grande resistência dos ambientalistas em desenvolver a agricultura na região amazônica. Isso seria viável?Com a população crescendo, temos de aumentar a produção de alimentos. Mas gostaria de deixar uma coisa bem clara: falo em aproveitar as áreas já desmatadas. Além disso, utilizar o solo com culturas permanentes é melhor do que plantar soja, que precisa ser cultivada todo ano e pode causar erosão. Se não preservarmos as florestas e não cumprirmos a meta de limitar o aquecimento do clima em dois graus até 2050, será um desastre para o mundo.

O senhor acha que é possível atingir essa meta?Às vezes, sou otimista. Às vezes, pessimista. Para conseguir cumpri-la, temos de convencer os políticos de que as florestas preservadas têm muito valor para a sociedade.

De que modo as florestas podem gerar valor?Felizmente, já começamos a ver boas iniciativas. A Natura recolhe sementes de árvores nativas sem precisar derrubá-las. Isso poderia ocorrer com companhias de outros setores, como o farmacêutico e o de alimentos. O Brasil precisa de mais empresas como a Natura.

O que falta para que haja mais bons exemplos?Há muita divergência entre os que defendem a conservação da floresta e os que defendem o desenvolvimento. Além disso, é importante que as universidades e as empresas trabalhem juntas. Sem isso, não dá para avançar
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Afinal, quanto custa um passeio a dois?


Afinal, quanto custa um passeio a dois?

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Afinal, quanto custa um passeio a dois?Há algumas semanas, recebi a sugestão de escrever sobre passeios a dois, em especial aqueles mais românticos. Adorei a idéia e acho a hora bastante apropriada. Explico: na semana passada, completei um ano de casada e, como não podia deixar de ser, estava sonhando com presente e uma comemoração à altura. Muitas opções passaram pela minha cabeça, além das muitas dicas que também recebi. Mas, ao pesquisar, fiquei um tanto quanto indignada com os valores.
Confesso que passei os últimos anos focada na montagem do apartamento no qual moro hoje e na organização do casamento[bb]. Estive um pouco fora do mercado de passeios românticos. São várias as opções: jantar a luz de velas, uma noite especial em algum hotel, uma viagem de fim de semana, uma festa (!) ou algum passeio inesquecível como sobrevoar a cidade de helicóptero. São inúmeras ofertas e, pior (ou melhor?), bastante tentadoras.
Pensando com a calculadora…
Pesquisei restaurantes em São Paulo e conclui que um jantar não sai por menos de R$ 150.  Uma noite em um hotel com decoração temática e jantar custa em torno de R$ 300. Uma viagem? Refúgios famosos como Campos do Jordão, litoral Norte e sul de Minas Gerais custam em média R$ 400 mais todos os gastos com passeios e alimentação.
Então, como ceder ao desejo e não entrar no vermelho?E o passeio de helicóptero? Ah, esse eu nem tive coragem de orçar. Veja bem, pesquisei em hotéis e restaurantes recomendados: não tenho intenção aqui de julgar se são valores abusivos ou não ou a qualidade/importância deles. A análise não entra tanto no mérito da percepção de valor ou do nome do local analisado.
Muitas pessoas nos encorajam a ir em frente, afinal, “não é sempre que comemoramos 1 ano de casados”. Essa é ou não é a frase padrão da sociedade? Acho mesmo que nós devemos comemorar conquistas, datas marcantes, bem como qualquer outra coisa que julgamos importante. Mas, acredito eu, dever por conta disso não é certo. Em suma, devemos optar por comemorações que cabem nos nossos bolsos[bb].
O que deve ser levado em conta é que ainda temos o dia-a-dia. Uma comemoração que mereça um gasto maior deve ser compensada em menos passeios nas semanas posteriores. O mais importante nessa situação é planejar. É colocar no papel o quanto se vai gastar com um passeio atípico e o quanto ele vai impactar nas contas futuras.
Uma forma eficaz de se controlar os gastos com lazer é estipular um montante máximo mensal disponível. Faça as contas com seu namorado(a) ou esposo(a) e determine qual o percentual ideal do salário de ambos para destinar a passeios. Cuidado com o auto-boicote. Se no terceiro final de semana do mês o valor estipulado for atingido, o desafio é não gastar mais nada até a chegada do mês seguinte.
Posso listar diversas atividades gratuitas e divertidas, como reunião de amigos na sala de estar, rever fotos antigas, visitar a família (quem não tem uma avó ou tia que faz um bolo delicioso?), caminhar no parque e etc. Com um pouco de criatividade, esse “problema” pode ser facilmente resolvido.
Como ficam a sociedade e suas expectativas?
A pressão da sociedade para que tenhamos uma vida social ativa é muito grande. Devemos entender que nem todas as pessoas estão interessadas em ter uma vida financeira saudável[bb] e por isso jantam fora várias vezes por semana, organizam happy hours semanais ou convidam amigos para shows e baladas de valores abusivos.
Bem ou mal, devemos respeitá-las. Todos nós somos responsáveis pelos nossos atos e, conseqüentemente, pelo nosso sucesso. Elabore respostas-padrão, invente qualquer outra coisa, mas é essencial se policiar e manter a disciplina. Para ter um argumento mais interessante, somei o valor gasto por um casal em um típico fim de semana livre (valores para duas pessoas):
Sábado
  • 1 hora de boliche: R$ 36
  • Jantar com amigos: R$ 60
Domingo
  • Cinema: R$ 30
  • Pipoca mais refrigerante: R$ 15
  • Estacionamento: R$ 5
Total: R$ 146,00
Se deixássemos de fazer passeios similares pelo menos uma vez ao mês, em 12 meses o total economizado pode chegar a R$ 1.752,00. Um pacote turístico de 8 dias (7 noites) em Itacaré-BA, para 2 pessoas, gira em torno de R$ 1.600. Que tal?
A conclusão é que podemos sim fugir da rotina[bb], contanto que a escapada seja previamente calculada e planejada. A substituição de escolhas pode ser benéfica e sem grandes impactos. Cinemas fora de shoppings costumam ser mais baratos; peças de teatro são mais em conta aos domingos; passeios em alta temporada de inverno ou verão em cidades badaladas tem um custo maior do que fora da temporada. E por aí vai.
O ser humano tem a capacidade de se flexibilizar e devemos exercitar essa característica diariamente. Faça o teste. Ah, sim, você quer saber qual foi a nossa decisão para a comemoração do primeiro ano de casamento? Optamos por passar um fim de semana numa cidade menos badalada do interior de São Paulo, onde a hospedagem é mais em conta e é possível fazer trilhas gratuitas, curtir a natureza e tomar banho de cachoeiras. Boa pedida?
Mariana Prates é economista pela PUC-SP e pós-graduanda em Administração de Empresas pela FGV. Trabalha em precificação de Empréstimo em Folha e adora fazer planejamento financeiro para amigos e familiares.

Londres vai receber floresta sobre o rio Tâmisa

Londres vai receber floresta sobre o rio Tâmisa



Uma nova ponte e duas ilhas artificiais repletas de vegetação nativa poderão ser construídas em Londres até 2017, cruzando o rio Tâmisa, um dos mais conhecidos da Europa. Chamado de Garden Bridge, o projeto inclui áreas de convivência e deverá aumentar a qualidade de vida da população, reduzir os impactos urbanos no meio ambiente e se transformar numa nova alternativa turística e sustentável na capital inglesa.
Com 367 metros de uma margem a outra do rio, o Garden Bridge começará a ser construído em 2015 e será constituído por duas amplas plataformas de 30 metros de largura. As estruturas ficarão suspensas sobre dois pilares no centro do Tâmisa, e serão unidas por estreitas passarelas. O responsável pelo projeto da floresta urbana é o designer britânico Thomas Heatherwick, que criou a pira das Olimpíadas de 2012, celebradas na capital inglesa.

O projeto tem custo total de 150 milhões de libras (cerca de R$ 547 milhões), e o Ministério da Economia já entregou 30 milhões de libras para a verba total. Segundo a INFO, o restante dos investimentos deverá ser rateado pela companhia de transporte público da cidade, a Transport of London, e por um grupo de empresas da iniciativa privada, que tem grande interesse pela instalação da floresta urbana em meio ao Tâmisa.
Embora tenha sido influenciado por projetos de parques ecológicos em outras metrópoles – como Paris e Nova Iorque – o pontapé inicial para o Garden Bridge foi a ideia da atriz britânica Joanna Lumley, que imaginou um jardim sobre o rio e encorajou Heatherwick a realizar o projeto. “Será um lugar sem ruídos, no qual só se ouvirá o som dos pássaros e das abelhas, do vento entre as árvores", descreveu Joanna. "Também será um modo seguro e rápido de atravessar o Tâmisa nessa área. Haverá árvores, flores silvestres e plantas, um lugar único em Londres", completou a atriz veterana, de 67 anos.

O jardim será instalado no centro do Tâmisa, entre as pontes de Waterloo e Blackfriars, esta última, erguida no século XIX. Quando sair do papel, o projeto vai unir a estação de metrô de Temple com o bairro de South Bank, em que estão localizados diversos pontos de interesse, como o Teatro Nacional Britânico.
Redação CicloVivo

Meio Ambiente com diversas ações no Verão da Família no Farol

Meio Ambiente com diversas ações no Verão da Família no Farol

Por Thábata Ferreira
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente vai estar presente no Verão da Família 2014, com diversas ações na praia do Farol de São Tomé. No estande localizado à beira-mar, na Avenida Atlântica, ações de conscientização e promoção do resgate ao cuidado diário e da apreciação do ambiente serão apresentadas aos turistas, veranistas e moradores da praia campista. Entre as ações estão o Ecotur, o aquário e a distribuição de mudas de árvores nativas e frutíferas.

Numa parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Secretaria de Meio Ambiente, administração do Parque Estadual Lagoa do Açu e Projeto Sala Verde, do Instituto Federal Fluminense (IFF), o Projeto Ecotur, que leva os interessados a conhecer diversos pontos ecológicos do Farol, vai acontecer todos os domingos.

O Ecotur vai percorrer, através de um passeio de ônibus, pontos como o Parque Estadual do Açu, Manguezal do Carapeba e Restinga do Xexé. “Vamos retomar os projetos que fizeram sucesso no verão passado. O Ecotur foi um destes”, informou o secretário de Meio Ambiente, Zacarias Albuquerque. O agendamento para o Ecotur será no próprio estande da Prefeitura, a partir do dia 31 de dezembro.

A Secretaria de Meio Ambiente também vai fazer a distribuição de plantas nativas, como pata de vaca, Anda Açu e Ipês, além de árvores frutíferas, como mangueiras e acerolas. No Estande das Secretarias de Desenvolvimento Econômico e Turismo e de Meio Ambiente vai haver ainda, exposição de objetos em sucata eletrônica, um grande aquário com peixes nativos e ornamentais, além de soltura de tartarugas, em parceria com o Projeto Tamar.

Postado por: Secom - 26/12/2013 09:53:11

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Negócio da China

Negócio da China

Ph.D. em ecologia aquática garante que as carpas ajudam na despoluição do Lago Paranoá


Lilian Tahan Veja Brasília -

Joédson Alves

Fernando Starling integrou um dos mais ousados projetos de despoluição de lagos urbanos do mundo. Durante duas décadas, o Ph.D. em ecologia aquáticapesquisou espécies de peixes capazes de melhorar a qualidade das águas do Paranoá.

Descobriu ao longo de suas imersões que as tilápias (85% dos pescados do Paranoá) excretam muito fósforo pela urina no ambiente lacustre. Esse componente contribui para a proliferação das algas, agentes poluidores do lago. O levantamento de Starling foi fundamental para convencer as autoridades a liberar a pesca profissional com tarrafas, proibida entre 1966 e 1999.

Depois de entender o sistema das tilápias, o pesquisador se dedicou ao estudo do impacto de carpas prateadas, de origem chinesa, sobre as águas do Paranoá. Starling chegou à conclusão de que elas conseguem filtrar o sistema aquático. Essa espécie se alimenta das algas e não se reproduz facilmente. Portanto, não oferece o risco de virar uma praga.

Uma carpa de 30 quilos é capaz de purificar 90 mil litros de água por dia. Hoje, elas estão depositadas especialmente no braço do Riacho Fundo, a única área ainda poluída
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