quarta-feira, 16 de outubro de 2013

‘Relatório do IPCC não é apocalíptico’

‘Relatório do IPCC não é apocalíptico’, diz José MarengoDébora Spitzcovsky - site PLANETA SUSTENTÁVEL

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As mudanças climáticas são reais e o homem tem grande responsabilidade nesse fenômeno. Como já comentaram Tasso Azevedo e Suzana Kahn, aqui no blog, esta é a mensagem principal da primeira parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), lançada na última sexta-feira (27/09) pelas Nações Unidas.


“Mas não devemos traduzir esse documento como se fosse o apocalipse. Trata-se, simplesmente, de um chamado de atenção para que o mundo entenda que é preciso agir para desfazer esse nó ou a situação ficará insustentável nos próximos 40 ou 50 anos”, afirma José Marengo, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro dos Grupos de Trabalho 1 e 2 do relatório AR5, do IPCC.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista exclusiva com o especialista.
OS PONTOS PRINCIPAIS
“A mensagem mais importante que esse novo relatório do IPCC traz é que, de fato, o planeta está esquentando. As análises mostram que, desde 1850, no início da era industrial, o aquecimento foi de cerca de 0,9ºC, sendo que mais de 66% dele aconteceu depois de 1950. Pode não parecer muito, mas, se fizermos analogia com algo que conhecemos bem, como o corpo humano, perceberemos que é grave. O aumento de 1ºC na nossa temperatura já causa febre e mal-estar. O mesmo ocorre com o planeta: mais 0,9ºC provoca forte impacto na biodiversidade.
Outro ponto importante é o fato de haver 95% de certeza de que o homem é responsável por boa parte desse aquecimento global, que é natural, mas está se acelerando por ação antrópica. É como se estivéssemos com o carro em uma descida: ele desce pela lei da gravidade, mas se você pisa no acelerador ele vai muito mais rápido. É hora de assumirmos nossa participação nessa situação para revertê-la”.
AS NOVIDADES 
“Um dado que surpreendeu um pouco nesse novo relatório do IPCC é o fenômeno conhecido como hiato do aquecimento. A partir de 1999, a temperatura global caiu um pouco, o que levou muita gente a dizer que a era do aquecimento global acabou e entrávamos na era do resfriamento. O quarto relatório da ONU não tinha muita literatura sobre isso, mas agora a questão é mais estudada e sabemos que um resfriamento similar aconteceu entre 1950 e 1970. Depois disso, no entanto, a temperatura subiu com mais força. Por isso, o que se prevê é que esse período relativamente mais frio acabe em 5 ou 10 anos, quando voltará a esquentar mais intensamente.
Outro dado relativamente novo do AR5 é o papel dos aerossóis no clima. Essas partículas que vêm das queimadas ou da fumaça dos carros resfriam o planeta. No entanto, o volume de gases do efeito estufa é muito maior. Logo, a tendência de aquecimento global prevalece. Isso fica melhor representado nos modelos de agora”.
AS EXPECTATIVAS 
“O IPCC não recomenda políticas, seu trabalho é fornecer evidências científicas. No entanto, o título do painel leva a palavra ‘intergovernamental’ justamente porque os pesquisadores são escolhidos pelos governos. O que queremos é que os países ouçam os resultados do trabalho daqueles que elegeram – e, portanto, confiam – e que a ciência passe a ser considerada pela política.
Esperamos que esse novo relatório leve as bases científicas necessárias para que os governos atuem nas negociações globais da COP19 e estabeleçam metas de redução de emissões. Se não, podemos chegar ao pior cenário apontado pelo AR5, de aumento de 4,8ºC na temperatura do planeta até o final do século, e aí será realmente um ‘salve-se quem puder’.
Não devemos traduzir esse relatório como se fosse o apocalipse. Mas se trata de um chamado de atenção. É preciso agir para ‘desfazer o nó’ que causamos no planeta ou a situação ficará insustentável nos próximos 40 ou 50 anos”.
O BRASIL
“Acredito que o Brasil esteja em uma boa posição. Os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência, Tecnologia e Inovação, por exemplo, uniram-se para implantar o Plano Nacional de Adaptação. E o melhor: essa decisão foi tomada antes da divulgação do AR5 e do relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, o que mostra que o governo está entendendo a importância do assunto.
Como o nosso país é, de certa forma, copiado por outros, essa iniciativa se torna ainda mais importante. A Argentina, por exemplo, já está pensando em fazer o Painel Argentino de Mudanças Climáticas, inspirado no nosso. Então, acho que o Brasil pode assumir liderança nessa área”.
OS DOIS GRAUS 
“O limite de 2ºC no aumento da temperatura do planeta até 2050, sugerido pelo IPCC, chegou a ser mencionado até como compromisso político na COP15, mas eu pessoalmente acho quase impossível não passarmos desse limite. Talvez ultrapassemos muito pouco, mas ultrapassaremos.
Para que isso não ocorresse, seria necessário muito comprometimento e negociação dos países e isso é muito difícil no cenário atual. A economia está muito ruim na Europa, a agenda ambiental foi para segundo plano e é o dinheiro que manda. Um país que está com problemas de desemprego não vai se preocupar em reduzir emissões, porque os governantes não querem ser impopulares.
Os benefícios de manter o desenvolvimento econômico são imediatos, aparecem em 1 ou 2 anos, dentro do mandato do presidente ou do primeiro-ministro. Mas as vantagens ambientais não são vistas tão rapidamente e podem aparecer até dois mandatos depois. Esse é um dos empecilhos das negociações, que já foi sentido em Dohan e na Rio+20, e precisa ser trabalhado para não atravancar a COP19, em Varsóvia, em novembro deste ano”.
Foto: softpixtechie/Creative Commons

Garotinho encontrou a saída para aprovação da MP dos Taxistas


Reprodução do Brasil 247
Reprodução do Brasil 247






Abaixo tem o áudio do trecho do discurso da presidente Dilma, onde cita meu nome e faz justiça à minha proposta que viabilizou a MP dos Taxistas, e foi o caminho para a aprovação. 
fonte:blog do Garotinho

Prêmio e castigo: Por que eles não melhoram a obediência

Escritor Alfie Kohn, autor de Unconditional Parenting, afirma que não se muda comportamento com punições e prêmios

ISABEL CLEMENTE
15/09/2013 10h53 - Atualizado em 30/09/2013 21h09


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Eu sempre me senti desconfortável com essa história de recompensar a criança por um bom comportamento. Do mesmo modo, me sentia mal quando decidia impor como castigo, por exemplo, não contar história na hora de dormir porque ninguém tinha me obedecido. Não me caía bem. 
Como eu não quero embrulhar meu carinho para presente, nem instituir um sistema de trocas sugerido por presentinhos, estrelinhas ou seja lá que nome tiver a moeda da vez, eu busco um ideal de educação que transborde amor, mas que faça essas crianças atenderem a gente pelamordedeus. E olha que, às vezes, a própria vem com a suposta solução. “Se eu passar a dormir cedo você me dá um presente?“. Tentador, mas não obrigada. Elas aprendem rápido a capitalizar, sem necessariamente ter aprendido isso em casa. Bom comportamento não se compra.
Quando compartilhei meu desconforto no texto A pior mãe do mundo (que você pode ler aqui), a leitora Verônica Lacerda me deu uma dica: o livro Unconditional Parenting, de Alfie Kohn, autor de várias publicações sobre educação. Agradeço a Verônica publicamente. O escritor reúne fortes argumentos para mostrar que está tudo errado nessa forma convencional e amplamente utilizada de castigar e recompensar as crianças.
Nesta coluna, vou me ater à primeira parte do livro em que ele explica por que considera a prática de castigar e recompensar nociva. No próximo domingo, vou tratar da parte final em que ele, longe de apresentar uma fórmula como tantos livros de autoajuda parental, aprofunda sua proposta: mostrar as alternativas mais altruístas à mão.
Antes de prosseguir com as ideias de Kohn - como ele mesmo define, um material subversivo por questionar tudo o que vem sendo adotado pelo senso comum como a melhor maneira de educar - abro um parênteses.
Pensar sobre a melhor forma de fazer algo tão importante como criar nossos filhos é um exercício necessário, tanto quanto os aeróbicos para o coração. Deveria estar prescrito por médicos. O correto, no entanto, não existe. Atitudes sensatas não seguem receitas.
Requerem uma avaliação da realidade que se tem à mão, algo sujeito a combinações infinitas entre as necessidades dos pais e das crianças.
Tenho duas meninas pequenas e sei muito bem o que significa dar conta de rituais básicos como fazê-las sair da cama, ir ao banheiro, escovar os dentes, comer, beber, botar a roupa, tirar a roupa, fazer o dever, sair da frente da TV, parar de brigar e também parar de brincar quando eu tenho um horário a cumprir. Por essas e outras, passamos uma boa parte do nosso tempo buscando resultados de curto prazo (obedeça-me pelamordedeus) e sei bem o quanto tudo isso pode se tornar exasperante. Eu já tive os meus momentos de querer jogar as mãos para o céu e perguntar “meu pai, por que me abandonaste?“, mas gosto de olhar pelo retrovisor e rir de mim mesma.
Dito isso, o que eu depreendo da leitura desse livro e passo a compartilhar com vocês é que existe alternativa para tudo, inclusive para a ideia de que precisamos convencer a criança a fazer exatamente o que ditamos para ela o tempo todo.
Em nome da obediência já cometemos nossa cota de frases absurdas da boca para fora e já ouvimos outras ainda piores por aí para nosso consolo, não é verdade? Pais que humilham seus filhos publicamente, ou deixam pra trás uma criança aos berros - que em um minuto estará em pânico - e soltam críticas sorrindo para a pessoa ao lado como se cumprisse um dever cívico. “Que menino feio, esse...“. Esse comentário, Kohn observa dentro de uma outra história, é típico de quem está preocupado em dar uma resposta para o entorno porque, para muitas pessoas, criança bem comportada é aquela que não causa problemas para os adultos agora. Já peguei muito avião com minhas filhas - quando eram ainda menores - e sei o quanto é desconfortável (para não dizer hostil) um adulto fulminar uma criança com o olhar porque ela está falando alto ou tentando se aproximar com brincadeiras.
Neste livro, Alfie Kohn chama a atenção para essas expectativas de curto prazo e rotula como problemática a mais ampla estratégia utilizada com este mesmo fim: castigar e recompensar. Em Paternidade e Maternidade Incondicional (minha livre tradução), Alfie Kohn desenvolve, com o suporte de estudos e pesquisas, uma tese para provar que “há problemas sim em se tentar mudar o comportamento das crianças punindo-as ou recompensando-as“.
O principal questionamento do autor é se a prática diária ajuda os filhos a se tornarem os adultos que esperamos que eles sejam. “Crianças precisam ser guiadas e ajudadas, mas não são pequenos monstros que precisam ser domesticadas ou curadas. Elas têm capacidade para ser agressivas ou amorosas, egoístas ou altruístas, cooperativas ou competitivas. Muito disso dependerá da educação que receberem, incluindo, entre outros fatores, o amor incondicional que receberem“, diz.
Castigos e recompensas, segundo o escritor, ensinam as crianças a agradar para serem amadas. Tanto punir quanto enfatizar elogios, mesmo sendo atitudes tão opostas, derivam de um mesmo conceito problemático, diz. Prêmios são ineficientes como motivações reais. Pesquisas sugerem poucos resultados efetivos no processo de aprendizado porque a motivação parte de fora e não se torna intrínseca. Ela é, no máximo, internalizada, o que não quer dizer a mesma coisa.
“Há uma grande diferença entre a a criança que faz algo por acreditar ser o certo e aquela que faz a coisa certa por compulsão para agradar“, escreve.
Dos castigos mais usuais, Kohn condena o que ele chama de negação de carinho, reproduzida em frases como “se você continuar fazendo isso que eu não gosto, não vou prestar nenhuma atenção em você. Vou fingir que você nem está aqui. Se você quiser que eu te note novamente, me obedeça“. Ele chama essa estratégia de isolamento forçado, um sofrimento emocional tão ou mais prejudicial do que o físico. “Não quero dizer que seu filho está para sempre estragado porque uma vez você o mandou para o quarto pensar sozinho quando ele tinha 4 anos. Ao mesmo tempo, os efeitos dessa prática no longo prazo não é algo que inventei hoje no banho. Não é especulação nem historinha de terapeutas. Pesquisas controladas ligam vários tipos de medos ao uso contínuo da técnica de negação do amor“, diz.
Quem se sentir atacado por afirmações tão duras vai responder “mas eu amo incondicionalmente meu filho“ apesar de recorrer às técnicas que o autor condena. “E é justamente por amá-lo que vou puni-lo“, outros vão argumentar. O autor diz que mais importante do que os nossos sentimentos em relação aos filhos é a maneira como a criança percebe esse sentimento, pela forma como a tratamos. “Os educadores nos lembram que o que conta em sala de aula não é a lição ensinada pelos professores, mas a lição aprendida pelo aprendiz“.
Broncas continuarão fazendo parte dessa história, não tenho dúvidas quanto a isso, mas tem um conteúdo e uma forma de dizer que podem e devem ser trabalhados. Acreditar que castigo é uma lição capaz de ensinar as crianças sobre as consequências de seus atos é, na visão do escritor, uma falácia. A mensagem do castigo é forçar o outro a pensar na consequência do ato para si mesmo.
Educação não é um jogo de causa e consequência direta, mas o que vários estudos de psicologia sugerem é que essa é a lógica do indivíduo que avalia os riscos de uma situação sob uma única perspectiva: o próprio umbigo. Se eu não for pego, então não tem problema, como o político antiético que tenta se justificar de todas as maneiras preso à letra da lei, que não proíbe explicitamente certas práticas condenáveis. São pessoas que não sabem distinguir o imoral do moral, o antiético do ético, o certo do errado.
Parece radical, e é. Dificil encontrar alguém que se enquadre 100% num único padrão. Pais que agem sempre assim. É certo que muitos pais que castigam também se esmeram em transmitir aos filhos conceitos como empatia e solidariedade por palavras e exemplos. Não estariam, portanto, enquadrados no recado do livro. Eu acho que estão. Todos estamos. É certo também que muitas crianças passam incólumes pelas situações mais absurdas e pelas criações mais contraditórias. E o autor faz essas ressalvas. Mas o que várias pesquisas mostram é que a regra geral não é essa. Ao corrigir o rumo de certas atitudes, estaremos tirando do cesto do nosso exemplo a laranja mofada capaz de contaminar todo o resto. É uma questão de lidar com situações de forma a elevar as chances de nossos filhos se tornarem adultos independentes, equilibrados, felizes e capazes de irem atrás do próprio sonho.
Pode ser que muito do que será dito aqui encontre um eco profundo nos nossos instintos. Nunca consegui negar um abraço para a filha que, mesmo chateada com a bronca recebida, procurava em mim (o gatilho da chateação) consolo para a própria tristeza. Muitas vezes eu me perguntava se essa flagrante contradição era algo errado que eu estava fazendo. Sei agora que estava em curso apenas minha maternidade incondicional.
A criança que se sente amada e amparada sob qualquer hipótese desenvolve autoconfiança sem amarras. Ela não está preocupada em agradar para ser aceita. É mais provável que assuma riscos por não ter medo de fracassar. “É do profundo autocontentamento que vem a coragem para alcançar“, diz Kohn.
A leitura ajudou a tirar a nuvem de dúvida que eu ainda tinha sobre certas posturas. Não que eu agora saiba de pronto o que fazer (alguém sabe?) ou esteja contando histórias toda noite, desprendida que só. Se fizerem tudo para postergar a hora do sono, como adoram fazer, elas sabem que estarão consumindo o tempo que temos juntos. Se a hora avançar demais, recebem a informação de que, infelizmente, não haverá história hoje porque elas se importam comigo, sabem que preciso jantar, que tenho interesses para cuidar, ok? Eu temia a ladainha da reclamação, achando que precisava poupá-las do meu desgaste, esse intruso da vida adulta que entra casa da gente adentro. Não é isso. Eu não preciso me queixar o tempo todo mas posso dividir com elas minhas necessidades, quem sabe despertando mais um pouco de solidariedade. E posso garantir que esse papo todo tem surtido mais efeito do que bronca na hora de deitar.
Reproduzo e resumo abaixo alguns trechos dos cinco primeiros capítulos que ajudam a pensar o que pode estar errado. Semana que vem, abordarei os princípios que, segundo Alfie Kohn, devem guiar a paternidade e a maternidade incondicional. Só para não dizer que não adiantei nada disso aqui. São basicamente três caminhos: expressar amor incondicional, dar aos filhos chances de tomar decisões e imaginar como as situações são vistas pelo ponto de vista da criança (empatia!).
SOBRE PALMADAS
Punir crianças, em poucas palavras, é fazer com que algo desagradável aconteça com elas, ou impedir que elas experimentem algo legal, com o intuito de ensiná-las uma lição. Inúmeras pesquisas sugerem tolerância-zero com a ideia de punir crianças espancando-as ou dando palmadas. Se homens batendo em mulheres já é algo doentio, adultos batendo em crianças, independentemente da razão, é ainda pior.
SOBRE GELO O sofrimento emocional de ignorar as crianças é a versão moderna do castigo físico.
SOBRE RECOMPENSAS Não é a quantidade de motivação que importa, mas o tipo. E o tipo de motivação criada por recompensa geralmente tem o efeito de reduzir a motivação que esperamos que nosso filho tenha: um interesse genuíno que persista muito além da duração da recompensa.
A CONTROVERSA AUTO-ESTIMA
Infelizmente, alguns pais que receberam pouco amor incondicional quando crianças terminam diagnosticando mal o problema e assumem que os que lhes faltou foi elogio. Daí eles enchem os filhos de comentários como “bom trabalho“, garantindo o surgimento de uma nova geração que continuará sem receber o que realmente importa.
Muitos pais estão discutindo como fazer com que seus filhos aprendam a ler cada vez mais cedo, em vez de se perguntarem como fazer para que eles realmente gostem de ler.
EXCESSO DE CONTROLE
Particularmente com crianças, e de novo com adolescentes, a meta de controlar prova ser uma ilusão. Mesmo assim, insistimo em perspicazes ou forçadas estratégias com o intuito de fazer com que eles concordem conosco e nos obedeçam. E quando essas técnicas falham, esse fracasso é interpretado como prova de que precisamos fazer mais...do mesmo.
Como pais, precisamos estar envolvidos e estar cientes de detalhes das vidas de nossos filhos. Nada neste livro deve ser interpretado como um argumento a favor de você sentar e deixar as crianças se autogerirem. Podemos até dizer que é nosso papel estar `no controle`, no sentido de criar um ambiente seguro e saudável, dando um rumo e estabelecendo limites, mas não é nossa função ficar controlando, no sentido de exigir absoluta obediência ou contar com pressão e regulação em busca dessa obediência. Na verdade, ainda que soe paradoxal, precisamos estar no controle para ajudá-los a ter controle sobre a própria vida.
POR QUE OS CASTIGOS FALHAM
Deixa as pessoas irritadas. É uma experiência duplamente sofrida, para quem pune e para quem é punido.
Reforça o poder e a hostilidade como meios de solucionar problemas.
Perde a eficiência com o tempo - Quanto mais velha a criança, mais difícil será encontrar castigos suficientemente desagradáveis. Chega um ponto em que as ameaças soam vazias e as crianças dão de ombros. Quanto mais você depender de castigos para se fazer ouvir, menos influência real terá na vida do seu filho.
Mina o relacionamento entre pais e filhos - os pais deixam de ser vistos como aliados carinhosos, algo vital para um desenvolvimento saudável, e são encaradas como os todo-poderosos adultos capazes de fazer as crianças sofrer de propósito.
Funciona como um incentivo à mentira - Crianças com medo dos pais mentem para escapar do castigo.
NOTAS NA ESCOLA
A corrida por boas notas muitas vezes leva os alunos a pensar de forma mais rasa e superficial. Eles podem ler os livros apenas pelas partes que “precisam saber“, fazendo apenas o que é demandado e nada a mais. Podem também considerar truques para tirar notas mais altas. Podem também trapacear. Crianças boas nesse jogo vão tirar A, passar no teste e agradar os pais. Mas eles aprendem realmente o que lhes foi ensinado? Fazem perguntas pertinentes e inteligentes sobre o que o professor disse, ou pensam criticamente sobre o que está no livro? Eles fazem conexões entre ideias diversas e olham para um assunto sob vários ângulos? Às vezes, talvez, elas o façam, mas pequisas sugerem que é menos provável que isso aconteça se o objetivo for apenas produzir um boletim brilhante.
MENSAGENS TOXICAS
Nossas crianças recebem mensagens tóxicas de professores, amigos, companheiros, treinadores, para não citar a mídia e a cultura na qual vivemos. Mas não tem escapatória: a mensagem para ser bem-sucedido, suplantar outros e ser o melhor é uma pressão que muitas vezes começa em casa. De qualquer forma, cabe a nós, pais, desafiar essas mensagens sobre aceitação condicional e garantir que nossas crianças se sintam amadas não importa como nem por quê.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ministério da Justiça abre processo contra cervejaria por suposta prática de publicidade abusiva

Comparação da cerveja com o corpo feminino no comercial motivou a denúncia

CRISTIANE BONFANTI (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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Segundo MJ, há 'fortes indícios' de propaganda abusiva Foto: Reprodução

Segundo MJ, há 'fortes indícios' de propaganda abusiva Reprodução
BRASÍLIA - O Ministério da Justiça abriu nesta sexta-feira um processo administrativo para aplicar uma multa à empresa Brasil Kirin (antiga Schincariol) devido ao anúncio polêmico da Devassa Negra. Veiculada ao longo de 2010 e 2011, a propaganda, além de de evidenciar o corpo da mulher negra, trazia a seguinte frase: “É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra. Devassa negra encorpada. Estilo dark ale de alta fermentação. Cremosa com aroma de malte torrado”. A penalidade pode chegar a R$ 6 milhões. A Brasil Kirin afirmou que não comenta processos jurídicos em andamento. “A empresa reitera que conduz seu negócio com respeito e ética a todos os seus públicos e consumidores”, declarou, em nota.
O diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), Amaury de Oliva, explicou que há fortes indícios de publicidade abusiva, devido ao fato de a produção equiparar a mulher negra um objeto de consumo, por meio da comparação entre seu corpo e a cerveja. Oliva disse que o departamento consultou órgãos como a Secretaria de Políticas para as Mulheres, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o Conselho Federal de Psicologia.


- Há entendimentos de vários órgãos de que há indícios de publicidade preconceituosa. Há uma foto de uma moça negra, comparando-a com uma cerveja - disse o diretor. - Há um limite claro imposto pelo Código de Defesa do Consumidor para que a publicidade não seja abusiva nem enganosa - ressaltou.Entre os argumentos apresentados por esses órgãos estão a de que a publicidade deprecia e desvaloriza a imagem da mulher e reforça a discriminação de gênero e estereótipos racistas no Brasil.

A investigação começou em 2011 a partir de denúncia do Instituto Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon/ES). Segundo Oliva, a Schincariol tem 10 dias, a partir de hoje, para apresentar sua defesa ao DPDC. De acordo com ele, ao longo da investigação, a empresa teve oportunidade de apresentar sua defesa e insistiu que não havia irregularidade na publicada. A propaganda chegou a ser suspensa em 2010 a pedido do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que recebeu cerca de 80 queixas de consumidores que consideraram a produção racista.
Se a empresa for condenada, ela deverá recolher a multa ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) do Ministério da Justiça, voltado a ações de proteção do meio ambiente, do patrimônio público e da defesa dos consumidores. Há a possibilidade de recurso administrativo na própria Secretaria Nacional do Consumidor e, depois disso, as empresas podem recorrer à Justiça.
De acordo com Oliva, embora as propagandas da cerveja Devassa já tenham sido alvo de outras polêmicas, esta foi a primeira denúncia apresentada ao DPDC. Segundo ele, após a apresentação da defesa, a conclusão do processo ocorrerá “em breve”.
- É importante destacar que, muitas vezes, o governo realiza um esforço enorme para implementar políticas afirmativas de defesa das mulheres, de igualdade e é importante que o mercado tenha isso em mente - destacou.
Reportagem publicada pelo GLOBO no mês passado mostra que, embora uma das principais forças de penalizar as empresas seja a aplicação de multas, em geral, o valor recolhido aos cofres públicos é baixíssimo. Desde 2008, o montante recolhido imediatamente após a aplicação das sanções chegou a R$ 987.894,29. Isso representa 1,36% do total de R$ 72,40 milhões em multas aplicadas pelo DPDC. De 120 sanções, sete foram pagas.
O problema é que, pela regra atual, as empresas têm 10 dias para entrar com recurso administrativo após a intimação, na própria Secretaria Nacional do Consumidor. Mas a maioria das companhias prefere recorrer ao Judiciário para protelar o pagamento. Na maioria das vezes, o pagamento é realizado, mas o dinheiro demora até 10 anos para entrar nos cofres públicos.





Brasil e 140 países assinam acordo para eliminação gradual do mercúrio.


    Divulgação/MMAMinistra assina acordo para eliminação gradual do mercúrioMinistra assina acordo para eliminação gradual do mercúrio
    Medida estabelecerá protocolos com o objetivo de reduzir os riscos na utilização de um dos elementos mais tóxicos para a natureza

    LUCAS TOLENTINO

    O Brasil e mais 140 países assinam, nesta quinta-feira (10/09), em Kumamoto, no Japão, a Convenção de Minamata sobre Mercúrio, que define prazos para a redução, controle e eliminação do mercúrio em processos industriais e artesanais em todo o mundo. A medida não banirá o uso do metal, mas estabelecerá rigorosos protocolos internacionais de segurança, com o objetivo de reduzir os riscos na utilização de um dos elementos mais tóxicos para a natureza. Ele é capaz de poluir o ar, a água e a terra, além de causar danos irreversíveis à saúde humana, podendo levar à morte por contaminação. A validade do acordo no país depende, ainda, de aprovação pelo Congresso Nacional. 

    O documento, que ficou pronto em fevereiro, após dois anos de negociações, será assinado pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Uma vez obtidas as 50 ratificações necessárias para o protocolo entrar em vigor, os países que aderirem à convenção terão as atividades ligadas ao mercúrio vinculadas ao pacto global. O texto identifica como fontes de mercúrio no ambiente segmentos produtivos como as usinas de energia a carvão, a produção de cimento, a indústria de equipamentos hospitalares e odontológicos e a incineração de resíduos. 

    De acordo com o tratado, até 2020, o mercúrio deverá ser eliminado de baterias, pilhas, lâmpadas, cosméticos, pesticidas e outros materiais. As normas para reduzir as emissões atmosféricas do metal incluem práticas ambientais e as melhores técnicas disponíveis para novos empreendimentos. No caso das instalações já existentes, será necessário estabelecer metas de diminuição e fazer planos nacionais para implantar medidas de adaptação.

    Desde o início da semana, equipes técnicas dos ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores participam de reuniões preparatórias com o objetivo de acordarem resoluções ligadas ao pacto global. Os principais aspectos em pauta dizem respeito ao período interino do acordo, ou seja, o tempo entre a assinatura dos países e a entrada efetiva em vigor das regras estabelecidas pela convenção.

    SAIBA MAIS

    Kumamoto foi escolhida para sediar a conferência porque é próxima à cidade de Minamata, palco de um desastre que culminou na contaminação da população com mercúrio na década de 1950, durante o desenvolvimento industrial da região. A estimativa é que até 150 toneladas da substância tenham sido despejadas na baía, o que infectou água, peixes e frutos do mar, base da alimentação local. As desordens fisiológicas e neurológicas causadas pelo envenenamento da população ficaram conhecidas como Doença de Minamata. Segundo a Embaixada do Japão, o governo local declarou que os níveis de mercúrio estavam seguros para consumo humano em 29 de julho de 1997. A decisão marcou a remoção por completo da rede que, por 23 anos, impedia os peixes contaminados de deixar a região, em um esforço para frear a doença ambiental.

    Apesar de estar presente na natureza, o mercúrio é um metal tóxico pesado, que oferece riscos à saúde humana e ao meio ambiente. O desastre no Japão é o primeiro caso documentado de envenenamento humano pelo metal. Em 1968, depois de 12 anos de contaminação, a doença já havia se tornado epidêmica e grande parte da população apresentava os efeitos do envenenamento. A estimativa é de que cerca de 50 mil pessoas sofreram danos diretos na saúde. Do total, mais de 3 mil sofreram deformidades e má formação fetal, além de existirem casos registrados de morte.

    Efeitos nocivos do massivo consumo mundial de carne sobre o meio ambiente e a saúde


    Efeitos nocivos do massivo consumo mundial de carne sobre o meio ambiente e a saúde

    Fabrice Nicolino, autor de Bidoche, L’Industrie de la viande menace le monde (Éditions Les Liens que Libèrent), respondeu, dia 16 de outubro, às questões dos leitores do Monde.fr sobre os efeitos nocivos do aumento massivo do consumo mundial de carne sobre o meio ambiente e a saúde.
    Os diálogos com Fabrice Nicolino estão publicados no Le Monde, 16-10-2009. A tradução é do Cepat.
    ours: De que modo a produção de carne tem consequências sobre a mudança climática?
    Fabrice Nicolino: É uma questão complexa, mas dispomos de um documento oficial, institucional, um enorme relatório de 2006 da Organização para Alimentação e Agricultura (FAO), da ONU. De fato, trata-se de uma análise global de todo o ciclo da produção pecuária no mundo. Não somente dos animais, mas a sua alimentação, os meios de transporte utilizados [para levá-los aos frigoríficos]. Esse relatório estima que todo o gado mundial emite 18% de gás de efeito estufa de origem humana, e esse total é superior àquele que diz respeito aos transportes utilizados pelos seres humanos (carros, navios…).
    Pharell_Arot: Bom-dia. Sendo um aficionado por carne, eu me pergunto sobre as condições a serem adotadas para conjugar os prazeres alimentares e o desenvolvimento sustentável. Quais são, para você, as precauções que um consumidor médio pode tomar imediatamente?
    Fabrice Nicolino: A primeira coisa é lembrar que o consumo de carne na França foi multiplicado aproximadamente por 4 desde a segunda Guerra Mundial. Nós comemos muita carne, por razões econômicas e políticas. Eu realmente não tenho conselho a dar. Minha opinião é que podemos comer muito menos carne, comer uma carne de melhor qualidade. Pessoalmente, eu como carne, mas cada vez menos, e é carne biológica, porque nesta maneira de produzir está proibido o uso em grande quantidade de produtos medicinais e químicos.
    Pharrell-Arot: Há consumos de espécies menos perigosas que outras para o planeta? A de porco, por exemplo?
    Fabrice Nicolino: O pior transformador de energia é o boi. Quanto menos vegetais um animal consumir, menos o seu consumo é prejudicial para os equilíbrios do planeta. E desse ponto de vista, há uma certa hierarquia que vai do frango ao boi passando pelo suíno. O menos mal é o frango.
    Herve_Naturopathe: Há um lobby francês dos frigoríficos/criadores tão importante quanto nos Estados Unidos?
    Fabrice Nicolino: Realmente creio que não. Existe um lobby da carne industrial na França, poderoso, mas que não tem nada a ver com a extraordinária importância que a “carne” tomou nos Estados Unidos. Nesse país, há uma história apaixonante por trás do lobby da carne. Um notável livro, La Jungle, publicado em 1906 por Upton Sinclair, descreve o universo dos matadouros de Chicago. É um livro belíssimo.
    Nos Estados Unidos, o lobby é realmente muito poderoso; secretários de Estado da Agricultura, especialmente na presidência de Reagan, eram ex-industriais da carne. Sob as Administrações republicanas, mas não apenas, há uma espécie de consanguinidade entre políticos e o lobby da carne.
    Voltando ao caso da França, sim, existe um lobby da carne, que é representado pelo Comitê de Informação das Carnes, que tem relações estreitas com a indústria da carne, seguramente, mas também com o aparelho do Estado, o Ministério da Agricultura e o maior sindicato patronal de agricultores, a FNSEA.
    Romain: Que alimentos podemos utilizar para substituir a carne vermelha em matéria de contribuição nutricional e de sabor?
    Fabrice Nicolino: Não há resposta para esta questão… O sabor da carne vermelha é o sabor da carne vermelha. Eu não saberia dizer o que poderia substituir o seu sabor. No plano nutricional, por mais curioso que possa parecer, um grande número de estudos mostra que os regimes vegetarianos ou os regimes extremamente pouco carnívoros são os melhores para a saúde humana. Eu cito rapidamente um nome, conhecidíssimo nos meios da nutrição: é um norte-americano que se chama Colin Campbell. Ele conseguiu fazer um estudo comparativo da alimentação entre, de um lado, os cantões chineses e, do outro, os condados americanos. Um imenso estudo que durou vinte anos. Ele observa que o regime chinês, amplamente baseado numa dieta de vegetais, é infinitamente melhor para a saúde.
    cocoparis: Você acha que é preciso reduzir também o nosso consumo de leite?
    Fabrice Nicolino: É um debate aberto e inclusive no plano científico. O que é certo é que o hiperconsumo de leite, que caminha paralelamente à industrialização da pecuária, é muito nefasto à saúde humana. Passamos de vacas bem alimentadas que produziam, em 1945-1946, em torno de 2.000 litros de leite por ano a vacas que dão 8.000, 10.000, inclusive 12.000 litros por ano.
    Está claro que quando se produz estas quantidades de leite, é preciso que esse leite seja consumido na sequência. É preciso que as pessoas o bebam. Há nisso uma lógica de ferro muito constrangedora. Se é produzido, necessita de um mercado, necessita de saída. No campo da saúde, o leite não é um alimento tão bom quanto se acreditava ou se fazia crer durante muito tempo.
    Apis88: Atualmente, está claramente demonstrado que os países que se enriquecem veem o consumo de carne por habitante aumentar. Esta constatação pode ser invertida?
    Fabrice Nicolino: É uma questão decisiva, uma questão chave. Existe um modelo de consumo de carne, o modelo ocidental, baseado sobre um consumo muito grande de carne. Ora, a produção de carne necessita de quantidades industriais de cereais. E as áreas agrícolas no mundo não podem ser ampliadas ao infinito. Muitos agrônomos de primeira linha se perguntam como se poderá, nos próximos anos, satisfazer este impressionante aumento da demanda de carne nos países chamados emergentes, no topo dos quais está a Índia, mas sobretudo a China, onde 200 milhões ou 300 milhões de chineses reclamam carne, porque pela primeira vez eles têm dinheiro para comprá-la e querem unir-se ao modelo ocidental.
    O problema é que as terras agrícolas que permitiriam alimentar esse gado estão em falta, e parece extremamente difícil encontrar novas áreas sobre a Terra assim como está. O que eu quero dizer é que na minha opinião o modelo de consumo de carne praticado entre nós não é de maneira alguma generalizável a todo o planeta. Dito de outra maneira, me parece altamente provável que será preciso rapidamente se colocar a questão central, fundamental, do nosso modelo alimentar. Sem isso, poderemos sem dúvida passar do atual bilhão de esfomeados crônicos para talvez dois bilhões ou três bilhões em 2050.
    br: Você acha que os políticos, em sua resposta à crise agrícola atual, vão levar em consideração esse fenômeno?
    Fabrice Nicolino: Claramente, não, não, não e não. Vou fazer um paralelo com a situação da França em 1965. O ministro da Agricultura do General de Gaulle chama-se Edgard Pisani. Em 1965, este fez uma turnê triunfal pela Bretanha, e declarou, sob aplausos: a Bretanha deve tornar-se uma fábrica de leite e de carne da França. É muito importante, porque vemos bem que os políticos seguem, evidentemente, objetivos, mas que por definição são objetivos políticos. Ora, nós estamos em vias de falar de questões de outra natureza, que reclamam decisões muito mais refletidas, muito mais pensadas, sobre um prazo muito maior que o tempo dos políticos. Eu acrescentaria que a ecologia, a crise ecológica e tudo o que a ela estiver associado vai impor visões, pontos de vista, decisões para as quais a classe política, de todos os espectros ideológicos, da extrema direita à extrema esquerda, não está preparada.
    GrandGousier: De acordo, é preciso deter esta orgia de carne, por todas as razões inventariadas em seu livro. Mas, por onde começar? Na França, quais seriam as primeiras ações a serem tomadas, os primeiros objetivos a serem fixados?
    Fabrice Nicolino: Eu não estou aqui para dar lições a quem quer que seja. Mas como pessoa, eu penso que seria bom unir-se à construção de um movimento de consumidores como nunca se viu. Eu penso, na linha do que acabo de dizer sobre a classe política, que apesar do seu interesse e de sua valentia, os movimentos de consumidores que existem na França, por exemplo, a UFC-Que Choisir [União Federal de Consumidores, associação francesa de consumidores] ou 60 milhões de consumidores, exprimem em grande parte preocupações de outro tempo. Eu penso que seria útil e necessário para todos que nasça um movimento de consumidores que integre a crise ecológica, que é fundamentalmente uma crise dos limites físicos. E esse movimento, quando aparecer, provavelmente lançará ações coletivas contra a carne industrial. Para mim, este movimento passará necessariamente por formas de boicote.
    Herve_Naturopathe: Ser “consommacteur” [consumidor comprometido] não seria a resposta? Consumir com reflexão e respeito…
    Fabrice Nicolino: Seguramente. Mas a questão é quando e como, porque já tivemos movimentos. Eu lembro do boicote dos hormônios para os terneiros em 1980, movimento lançado pelo UFC-Que Choisir. O consumo da carne de terneiro foi dividida por 6 ou 8, era muito impressionante. E o sistema se adaptou, pois se reforçou. Portanto, a questão é realmente saber como encontrar uma eficácia frente a uma indústria que está unida por fios a todos os poderes estabelecidos, quer sejam administrativos, políticos, industriais, sindicais. É uma questão que eu aplico a mim mesmo: como tornar-se “consumidor comprometido” realmente e não apenas nos propósitos.
    hadadada: No futuro, deveremos parar totalmente de consumir carne?
    Fabrice Nicolino: Eu não vejo esse ponto no horizonte da minha vida. Em todo o caso, eu descobri, ao escrever o livro, que se pode viver sem comer carne. Eu realmente a ignorei. Eu creio que durante muito tempo fizemos chacota dos vegetarianos e que julgávamos, às vezes contra todas as evidências, que sua saúde era muito ruim. Alguns lobistas de que falo no meu livro lembram, para desqualificar os vegetarianos, que tanto Hitler como Jules Bonnot, o anarquista, foram vegetarianos. O que eu constatei é que se pode viver sem comer carne. Devido aos grandes equilíbrios e para enfrentar os grandes problemas que estão diante de nós, a começar pela fome, me parece vital que mudemos novamente de regime alimentar e que renunciemos a uma boa parte da carne que ingerimos a cada ano. Mas mais carne, eu não creio absolutamente nisso, eu penso que é uma questão antropológica, que leva a muitas outras. Não estou certo de que a humanidade seja realmente destinada a não mais comer carne.
    cocoparis: E o que você tem a dizer aos criadores? Mudar de profissão? Tornar-se cerealistas?
    Fabrice Nicolino: É uma questão terrível. Eu gosto dos agricultores. É verdade que eu prefiro os agricultores do Sul àqueles saturados de subvenções do Norte, mas o mundo da pecuária é um mundo em que encontrei um monte de gente boa, mesmo na pecuária intensiva. Mas eu quero ser direto: eu penso que a pecuária industrial está condenada. Eu penso que a França, a sociedade francesa, contraiu uma dívida com os criadores, e uma vez que tudo foi organizado em vista da pecuária industrial, seria insuportável dizer repentinamente aos pecuaristas para que mudem de profissão. Eu penso que se deveria imaginar um plano de transição, um pouco sobre o modelo do plano de transição de saída da energia nuclear na Alemanha. Poderíamos imaginar um plano de transição de 15 anos para permitir uma aterrissagem suave, para permitir a um certo número de criadores uma retirada digna, e para incentivar os mais jovens a se lançar numa pecuária mais respeitosa dos animais, dos equilíbrios naturais, e dos seres humanos que estão no final da cadeia.
    Scheatt: As transformações necessárias para um modo de vida mais sóbrio são compatíveis com a organização atual da distribuição e da pecuária?
    Fabrice Nicolino: Não, porque é preciso compreender que se trata de um sistema extremamente eficaz em seu registro, muito complexo, muito rodado, que exclui, por exemplo, todo direito dos animais a existir. Eu, com o risco de chocar alguns, sou muito sensível à sorte dos seres humanos, eu sou um humanista, mas considero que os animais têm direito à existência. Eu dediquei o meu livro aos animais mortos sem terem vivido. Num passado remoto, durante 8.000 a 9.000 anos, os seres humanos viveram um companheirismo com os animais, que era sem crueldade, sem violência e sem maus-tratos. Os animais davam sua carne, sua pele, sua força de trabalho, mas eles permaneciam seres vivos, sensíveis.
    A indústria transformou totalmente os animais, a quem tanto devemos. Eu lembro que sem a existência dos animais domésticos, não teria havido civilização humana. Passamos a uma situação de industrialização em que o animal tornou-se uma coisa, uma mercadoria, um objeto de troca, de material. Eu creio que esta ruptura na história da nossa relação com os animais tira de nós uma parte considerável da nossa humanidade. Eu creio que esta maneira de tratar este “outro” que é o animal abre as portas para um caminho moral.
    (Ecodebate, 08/10/2013) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
    Artista transforma caçambas em hortas, piscinas e pistas de skate



    Com objetivo de chamar atenção das pessoas para o aproveitamento dos resíduos e dos espaços urbanos, o artista britânico Oliver Bishop-Young criou o projeto Skip Conversions, que transforma as caçambas de lixo espalhadas pela cidade em hortas, jardins, piscinas, pistas de skate e até mesmo em habitações improvisadas.
    Seguindo a tendência cultural de aproveitar ao máximo os espaços urbanos, Bishop-Young colocou nas ruas britânicas o projeto, que tem por finalidade mudar a visão que a maior parte das pessoas criou sobre os depósitos de entulho. Em algumas das intervenções, foram utilizados materiais encontrados nas próprias caçambas, e os pedestres podiam interagir com o cenário: não só nas pistas de skate, mas também nas piscinas e até em uma mesa de pingue-pongue.
    Uma das produções realizadas pelo projeto é uma “sala de estar”, construída no espaço da caçamba, com alguns móveis e até uma televisão que havia sido jogada no lixo. O artista também comentou sobre a importância do Skip Conversions. “As caçambas são arquivos fascinantes da nossa sociedade consumista. Elas capturam o momento no qual o desejo vira repulsa, quando objetos privados se tornam públicos”, afirma Young, que deu início ao projeto em 2008.
    Dar vida nova a uma série de objetos que compõem o cenário urbano é a preocupação de diversas produções artísticas nos quatros cantos do mundo: em Barcelona, depois de uma lei proibir as intervenções artísticas nos equipamentos públicos, sacos de lixo se transformaram em divertidas obras de arte; Em São Paulo, a maioria destas manifestações artísticas incentiva a sustentabilidade: a mais recente intervenção é a criação dos parklets, vagas para automóveis transformadas em espaços de convivência para as pessoas.
    Redação CicloVivo