sábado, 12 de outubro de 2013

Parasitas, às armas!

Parasitas, às armas!Liana John - 

Helicoverpa_armigera_GyorgyCsoka_Hungary Forest Research Institute
O alarme disparou e continua no volume máximo desde fevereiro de 2012, quando se fez a primeira avaliação dos estragos causados por uma lagarta invasora – Helicoverpa armigera – nas lavouras brasileiras. Ainda não se sabe bem como a praga veio parar no Brasil e não se descarta a hipótese de bioterrorismo (não seria a primeira nem a última vez). Mas já se tem certeza de que a espécie chegou muito bem armada para causar grandes danos. Armada, na verdade, até no nome, pois a palavra armigera, em latim, quer dizer “que porta armas”.
As estimativas de perdas ficam entre 1 e 2 bilhões (sim, com B) de reais, só nas safras deste ano de milho, soja e algodão, em quatro estados: Bahia, Mato Grosso, Distrito Federal e Paraná. O bichinho esfomeado ameaça também as plantações de tomate industrial – o do molho de macarronada – de Mato Grosso e Goiás, além de outras culturas no Mato Grosso do Sul, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São Paulo e Pará.
H. armigera é velha conhecida dos agricultores da Índia e da Austrália, onde já causa danos há anos. Na fase adulta, é uma mariposinha de 4 centímetros, porém capaz de migrar para longe, em voos de até mil quilômetros, reproduzindo-se rapidamente onde quer que pouse!
Enquanto larva, traça de tudo, sem preferências por um único vegetal e sem distinguir plantas nativas de cultivadas. Fura, destroi e devora folhas, flores, frutos e, se bobear, até plástico. “Um produtor capturou algumas lagartas como amostra e, quando me trouxe, elas haviam comido o saco plástico onde ele as colocou”, conta o especialista em Toxicologia e Saúde Pública, Flávio Zambrone, da Planitox.
A pedido do governo da Bahia, Zambrone verificou a toxicidade de um novo pesticida – benzoato de emamectina – cujo uso foi autorizado às pressas pelo Governo Federal, no primeiro semestre deste ano, para enfrentar a nova praga. De acordo com sua avaliação, o produto pode causar problemas neurotóxicos, mas a margem de segurança é grande e o risco é semelhante ao de outros pesticidas químicos, restringindo-se a casos de intoxicação do aplicador. A persistência no ambiente é baixa, assim como a possibilidade de contaminação dos alimentos.
Ainda assim, “a identificação de agentes de controle biológico seria extremamente positiva, pois eles diminuiriam a população da praga e, consequentemente, diminuiria a necessidade de químicos”, pondera o toxicologista. E não é que existe uma vespinha brasileira – Trichogramma pretiosum – capaz de fazer diferença na guerra contra a tal lagarta Helicoverpa armigera?
Quem aposta nesses insetinhos parasitas de outros insetos é o entomólogo José Roberto Postali Parra, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Ele trabalha há 40 anos com controle biológico de pragas e foi responsável por pesquisas que tornaram comum o uso de vespinhas do mesmo gênero (Trichogramma galloi) em canaviais, para controlar a broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea sacharalis).
“Hoje, cerca de 50% da área plantada com cana no Brasil é tratada com insumos biológicos”, comemora. Em sua opinião, o uso do controle biológico na soja deveria ser ampliado, devido ao potencial das vespinhas Trichogramma pretiosum contra diversas pragas, incluindo a lagarta voraz. “Um dos problemas é a produção em escala das vespinhas”, diz. “Desenvolvo a tecnologia em escala de laboratório, mas preciso repassar a empresas capazes de multiplicar as vespinhas e torná-las disponíveis para o produtor, em grande escala. Felizmente hoje já existem várias empresas especializadas nos insumos biológicos, algumas criadas por ex-alunos meus, a quem incentivei, pois a necessidade é grande”.
Outro problema é a cultura do agricultor, prossegue José Roberto Parra. “Muitos não acreditam que vespinhas tão pequenas podem acabar com uma praga. Mas esses insetos são muito específicos: quando a mariposa adulta põe os ovos, ela libera sinais químicos reconhecidos pela vespinha. Após localizar os ovos da mariposa, a vespinha fêmea deposita neles os seus ovos e isso impede o desenvolvimento das lagartas”.
De acordo com Dalva Gabriel, do Centro Experimental Central do Instituto Biológicodo Estado de São Paulo, “a eficiência de parasitismo alcançada pela utilização deTrichogramma, visando à contenção de surtos populacionais de lagartas do algodoeiro, é da ordem de 70 a 80%”.
Para chegar a tanto, porém, é necessário municiar os parasitas com as armas e estratégias adequadas. É preciso, por exemplo, monitorar o desenvolvimento da praga; avaliar os níveis de infestação e liberar as vespinhas no momento certo (quando há ovos para ela parasitar); na quantidade certa (algo entre 50 a 100 mil vespinhas por hectare em 20 a 25 pontos diferentes) e com a tecnologia certa (cartelas que protegem as vespinhas contra as formigas e outros inimigos naturais).
Ou seja, não é só passar o trator e aplicar o pesticida para ver a praga morrer, como no caso dos químicos. Mas também não há nenhum risco de contaminação ambiental ou de intoxicação, nem mesmo os riscos relativos do novo inseticida. E, agora, ainda se trabalha a possibilidade de distribuir as vespinhas com aviões agrícolas, o que pode facilitar muito a rotina do controle biológico, redobrando as apostas nos parasitas para ganhar essa guerra!
Foto: Gyorgy Csoka/Hungary Forest Research Institute – Creative Commons (lagartaHeliocoverpa armigera)


Os tomates crescem sobre a terra e as batatas, nas raízes.
Produto é resultado de enxerto, já que cruzamento não é possível.

Do G1, em São Paulo
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Vídeo da Thompson & Morgan's apresenta o 'Tomtato' (Foto: Reprodução/Youtube/Thompson & Morgan TV)Vídeo da Thompson &  Morgan apresenta o 'Tomtato' (Foto: Reprodução/Youtube/Thompson & Morgan TV)
A empresa britânica Thompson &  Morgan lançou uma planta que produz batatas e tomates, chamada Tomtato. Segundo vídeo da companhia publicado na internet, o vegetal é capaz de produzir até 500 tomates-cereja “mais doces do que qualquer um que possa ser comprado no supermercado”, além das batatas, nas raízes.
O produto, que custa 14,99 libras (cerca de R$ 55) e é mandado pelo correio, é na verdade um enxerto entre um pé de batata e um tomateiro, o que, segundo especialista ouvido pelo G1, não é algo muito difícil de se fazer, já que ambas as plantas são da família das solanáceas. “Isso já foi feito de maneira experimental, mas não de forma comercial”, explica o líder do programa de melhoramento de batatas da Embrapa Clima Temperado, Arione Pereira.
O enxerto consiste em ligar partes de duas plantas, fazendo com que cresçam juntas, algo diferente dos cruzamentos de variedades que dão origem a plantas híbridas, com mistura de material genético. “Não é possível cruzar batata com tomate, portanto o que foi mostrado no vídeo são duas plantas: tomate em cima enxertada em batata, na parte de baixo, e não um híbrido”, explica o professor-titular aposentado da Faculdade de Agronomia da Unesp e consultor do Globo Rural, Chukichi Kurozawa.

Brasil apresenta aos vizinhos programa de áreas protegidas


    DivulgaçãoReunião do Arpa: alternativa para outros paísesReunião do Arpa: alternativa para outros países
    Troca de experiências é fundamental para o desenvolvimento sustentável da Amazônia

    DA REDAÇÃO

    Representantes do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname, países que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), participaram, em Brasília, na terça e quarta-feira (02 e 03/10), da Oficina Regional dos Sistemas Nacionais de Áreas Protegidas nos Países Membros da OTCA. Na oportunidade, conheceram as experiências exitosas do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), e ainda trocaram experiências sobre a criação e consolidação de projetos semelhantes. 

    Ao participar do evento, realizado na Sala Santiago Dantas do Palácio Itamaraty, o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA), Roberto Cavalcanti, disse que os países que integram a OTCA compartilham do capital natural que compõe a megadiversidade Amazônica e precisa ter garantias. 

    ”É fundamental que consigamos ter um sistema de áreas protegidas efetivamente sustentável, que satisfaça as expectativas das comunidades regionais e globais”, disse Cavalcanti. Ele ressaltou a importância do papel de instituições parceiras, como o Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento da Alemanha (KFW), pelo investimento em programas como o Arpa e em ações transversais de âmbito global.

    PROTEÇÃO

    O secretário-geral da OTCA, embaixador Robby Dewnarain Ramlakhan, garantiu que experiências com as desenvolvidas pelo Brasil servem de parâmetro para a instituição de outras políticas. “Aprendendo mais sobre os casos como os do Brasil, teremos um intercâmbio de experiências bem sucedidas para consolidar as áreas protegidas”, argumentou. “A troca de experiências entre os países que abrigam a Amazônia é fundamental para o desenvolvimento social, econômico e sustentável da região”.

    O coordenador do Programa Arpa, Sérgio Collaço de Carvalho, apresentou dados sobre a estrutura, o funcionamento e os resultados do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e sobre o Arpa, considerado o maior programa de florestas tropicais do mundo. Segundo ele, de 2000 a 2008, o Brasil foi o país que mais contribuiu para a criação de novas áreas protegidas no mundo. Atualmente, existem 1.783 Unidades de Conservação (UCs), que correspondem a 1,48 milhão quilômetros quadrados ou 16,9% do território continental.

    sexta-feira, 11 de outubro de 2013

    Região de maior biodiversidade da África é ameaçada por petrolífera

    Ambientalistas do WWF denunciaram companhia de petróleo britânica.Segundo organização, empresa ameaça habitat de animais em extinção.

    Da AFP
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    Foto de 2004 mostra uma cadeia de vulcões nos arredores do Parque Nacional Virunga, na República Democrática do Congo. (Foto: AFP Photo/Riccardo Gangale)Foto de 2004 mostra uma cadeia de vulcões nos arredores do Parque Nacional Virunga, na República Democrática do Congo. (Foto: AFP Photo/Riccardo Gangale)
    Ambientalistas do Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês) fizeram uma denúncia nesta segunda-feira (7) contra uma companhia de petróleo britânica acusada de intimidar a população local e de ameaçar a vida selvagem na mais antiga reserva natural da África, a área de maior biodiversidade do continente.
    A organização alega que as atividades de exploração de petróleo da companhia Soco International no Parque Nacional Virunga e seu entorno, no leste da República Democrática do Congo, deixam "pessoas, animais e habitats em risco", além de violar as diretrizes internacionais estabelecidas pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em uma denúncia apresentada contra a organização.
    "A única forma de a Soco entrar em conformidade com as diretrizes da OCDE é a companhia pôr fim definitivamente à exploração em Virunga", disse Lasse Gustavsson, diretor-executivo de conservação da WWF Internacional.

    A Soco rejeitou as denúncias, considerando-as "infundadas" em seu site, acrescentando que ainda não deu início às atividades operacionais e que não fará isso até que estudos de impacto tenham sido concluídos."Pedimos que a companhia suspenda suas atividades imediatamente", acrescentou. As organizações podem recorrer às diretrizes da OCDE sobre o comportamento empresarial ético como forma de pressionar empresas e até mesmo governos.

    Virunga é um dos locais mais antigos do Patrimônio Mundial da Unesco e a área mais ambientalmente diversa do continente africano, habitat de milhares de rinocerontes e 200 gorilas das montanhas, espécie ameaçada de extinção.
    Uma avaliação própria feita pela Soco sobre sua exploração no parque alerta para o potencial de poluição e danos aos frágeis habitats de animais em Virunga.
    A WWF alega que Soco tem usado segurança estatal para intimidar os críticos ao seu negócio e afirma que a organização não conseguiu descobrir o verdadeiro impacto do desenvolvimento durante consultas com moradores locais.
    O contrato da Soco com o governo congolês efetivamente isenta a empresa de regulamentações adicionais, diz a WWF, pedindo que a empresa também considere a saúde e o sustento dos 50 mil moradores do local.
    O Reino Unido é membro fundador da OCDE e as diretrizes da organização foram usadas anteriormente para pressionar politicamente o governo britânico.
    Anthony Field, ativista da WWF no Reino Unido, disse à AFP que "as diretrizes da OCDE são os padrões mais respeitados de boas práticas nos negócios e são reconhecidas internacionalmente por 45 países, inclusive o Reino Unido".
    As denúncias à OCDE podem ser "incrivelmente eficazes", disse Field, dando como exemplo um caso em 2009, quando a empresa de mineração Vedanta Resources foi condenada por Londres por desrespeitar os direitos de um grupo indígena quando planejava explorar uma mina de bauxita no estado indiano de Orissa.
    A Soco informou que seus primeiros estudos de impacto ambiental foram feitos em 'estreita colaboração' com o Instituto Congolês de Conservação da Natureza, que administra o parque.

    SP ganha nova Reserva Particular do Patrimônio Natural

    SP ganha nova Reserva Particular do Patrimônio Natural



    O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) publicou no Diário Oficial da União (DOU), a portaria de nº 229, que cria a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Águas Claras, no município de São Luiz do Paraitinga, no estado de São Paulo.
    Com área de 14,43 hectares, a RPPN Águas Claras teve seus limites definidos a partir do levantamento topográfico, constante no processo de criação. A reserva será administrada por João Yuasa, Maria Helena Chiarugi Yuasa e Tsuyoshi Yamashita.
    As reservas particulares são instituídas em áreas privadas com o objetivo de conservar a diversidade biológica existente na região. É uma forma de o cidadão contribuir para a proteção dos ecossistemas brasileiros. Em contrapartida, ele ganha alguns benefícios, como isenção de impostos sobre a terra. Como possui caráter permanente, mesmo no caso de venda, a área continua sendo uma unidade de conservação (UC) e deve ser preservada.
    Essa categoria de UC só pode ser utilizada para o desenvolvimento de pesquisas científicas e visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais previstas no Termo de Compromisso e no seu plano de manejo. O dono de terra interessado em proteger uma área de sua propriedade pode criar uma RPPN. Para isso é necessário solicitar a criação da reserva via internet, junto ao ICMBio, por meio do Sistema Informatizado de Monitoria de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (SIMRPPN).

    Agência da ONU firma acordo para limitar CO2 na aviação a partir de 2020


    Da France Presse
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    Boeing 737 decola do Aeroporto Nacional de Washington Ronald Reagan, em Arlington, Virgínia, em 23 de setembro (Foto: Saul Loeb/Arquivo AFP)Boeing 737 da American Airlines decola do Aeroporto Nacional de Washington Ronald Reagan, em Arlington, Virgínia, no dia 23 de setembro (Foto: Saul Loeb/Arquivo AFP) Assembleia Geral da Organização da Aviação Civil Internacional (Oaci), agência da Organização das Nações Unidas (ONU) com sede em Montreal, no Canadá, chegou a um acordo para controlar o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) da indústria da aviação a partir de 2020, informaram nesta sexta-feira (4) fontes diplomáticas.O estabelecimento de um mecanismo mundial para estabilizar as emissões, debatido durante muitos anos sem que fosse alcançada unanimidade, parece, com isso, ter um consenso, e "a boa notícia é que se chegou a um acordo geral que abrange China e Índia", disse um diplomata presente nas negociações.A Oaci já vai manter, antes da data de sua próxima Assembleia Geral, no outono de 2016 (no Hemisfério Norte), um sistema que limita as emissões de gases de efeito estufa.A União Europeia (UE) também queria pressionar seus parceiros a implementar um sistema de imposto sobre as emissões de CO2 dentro de três anos. Mas a UE ficou isolada e teve que aceitar o consenso geral, explicou uma fonte que pediu para ter sua identidade preservada.
    Em 30 abril, a UE já havia congelado por um ano a taxação sobre o CO2 para voos intercontinentais com origem ou destino a seus 28 países-membros. Esse imposto europeu provocou forte reação de muitas nações integrantes da Oaci. A China ameaçou a UE, inclusive, em fazer represálias contra a fabricante de aviões Airbus.
    O acordo geral alcançado nesta sexta-feira "é uma mensagem muito forte para a Europa", segundo um negociador do texto.
    O acordo geral – enviado nesta sexta para votação dos 1.400 delegados de mais de 170 países que se reuniram na sessão plenária em Montreal – indica claramente que "os Estados deveriam colocar em andamento" até 2016 um sistema para limitar as emissões em nível mundial e rejeita de fato qualquer sistema regional, segundo a fonte.
    Os representantes dos 28 Estados-membros da UE não conseguiram entrar em acordo sobre um pedido da Alemanha de adiar para 2024, em vez de 2020, a redução de emissões de CO2 dos veículos particulares para 95 gramas por quilômetro.
    A decisão foi adiada para 14 de outubro por ocasião de uma reunião de ministros europeus do Meio Ambiente prevista em Luxemburgo, mas a UE deverá, portanto, aderir ao marco global.

    Brasil terá em 2014 o menor crescimento entre os emergentes, prevê o FMI

    • Movimento de desaceleração foi comum aos outros integrantes de peso do chamado Brics e a praticamente todos os mercados em desenvolvimento
    FLÁVIA BARBOSA(EMAIL)
    CORRESPONDENTE
    Publicado:
    Atualizado:
    WASHINGTON - Com obstáculos macroeconômicos, como inflação em alta e pouco espaço fiscal, e gargalos à produção, notadamente na área de infraestrutura, o Brasil terá em 2014 a menor taxa de crescimento entre os principais mercados emergentes, de acordo com o mais novo relatório de Projeções para a Economia Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado hoje em Washington. A previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi mantida em 2,5% em 2013, mas recuou 0,7 ponto percentual no próximo ano, também para 2,5%. Foi o segundo maior corte feito pela equipe do organismo multilateral, entre todos os principais motores econômicos do mundo. O movimento de desaceleração, porém, foi comum aos outros integrantes de peso do chamado Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e a praticamente todos os mercados em desenvolvimento.
    O grupo dos emergentes, que desde a crise detonada pela quebra do Lehman Brothers em 2008 foi o porto seguro da expansão global, está tendo dificuldades de lidar com a exaustão das políticas de estímulo do pós-crise, o fim da era de bonança externa (preços de commodities e condições financeiras), desajustes fiscais e inflacionários, gargalos de infraestrutura e regulatórios e o esgotamento do modelo de desenvolvimento (no caso de China e Rússia), segundo a análise do FMI, que faz esta semana sua reunião anual de cúpula.
    A economia indiana foi a mais sacrificada entre os emergentes, com a expectativa para o PIB caindo 1,8 ponto percentual este ano e 1,1 ponto no próximo, para 3,8% e 5,1%, respectivamente. A China teve a previsão cortada para 7,6% em 2013 (-0,2 ponto) e para 7,3% (-0,4 ponto) em 2014. Na Rússia, o recuo foi de 1 ponto este ano, para 1,5%, e de 0,3 ponto no próximo, para 3%.
    - A principal notícia desta vez vem dos mercados emergentes, nos quais o crescimento desacelerou, quase sempre mais do que projetávamos. A questão óbvia é se este freio reflete fatores cíclicos ou uma redução do crescimento potencial do produto. Baseado no que sabemos hoje, a resposta é que reflete ambos, ainda que de formas diferentes para os diversos países - afirmou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, no sumário do relatório de projeções de outubro.
    Para o FMI, o quadro atual representa um momento de transição no padrão da recuperação econômica, em que, apesar da taxa mais alta de expansão dos emergentes, a força de tração estará com as economias avançadas. O mundo continuará patinando, com crescimento estimado em 2,9% este ano (-0,3 ponto) e 3,6% em 2014 (-0,2 ponto). Os países ricos não sofreram alteração em suas projeções de alta do PIB _ 1,2% em 2013 e 2,0% ano que vem. Já as previsões para os emergentes recuaram 0,5 ponto este ano, para 4,5% e 0,4 ponto no próximo, ficando em 5,1%.
    A principal contribuição à economia global será dos Estados Unidos, com alta do PIB estimada em 1,6% em 2013 e 2,6% em 2014. Isso significa que mais do que nunca o ritmo de recuperação mundial depende do fim do impasse político nos EUA, reabrindo o governo americano e aumentando o teto da dívida antes do prazo de 17 de outubro.
    Além disso, diz o FMI, é crucial que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) conduza adequadamente o processo gradual de saída da política monetária expansionista, que reduzirá os estímulos domésticos, aumentando a remuneração de ativos no país e atraindo de volta capitais que inundaram os mercados emergentes nos últimos anos.
    Isso pode deteriorar condições financeiras e macroeconômicas em todo o mundo, particularmente nas nações em desenvolvimento. O Fundo acredita que os ajustes nos mercados financeiro e cambial observados desde maio poderão ter sido a maior parte da fatura, mas alerta que riscos de novas turbulências permanecem.
    O quadro permanece estável na zona do euro, com a recessão estimada em 0,4% este ano (contra 0,5% no documento de julho) e uma expansão, inalterada, de 1% ano que vem. O FMI voltou a cobrar das autoridades europeias aceleração na implementação das reformas bancarias, financeiras e estruturais, para estimular o crescimento.
    No Japão, 2013 é o momento de colheita das políticas monetária e fiscal expansionistas implementadas no primeiro semestre, a chamada Abenomics. O país deve crescer 2% _ melhor desempenho entre as maiores nações ricas _ mas não deverá sustentar o resultado, desacelerando para 1,2% em 2014. Isso porque o pacote de estímulo perderá forca e haverá elevação de imposto sobre consumo, parte do plano fiscal de longo prazo.
    Na avaliação do Brasil, o Fundo afirma que a recuperação continuará moderada, ainda que haja perspectiva positiva para a retomada dos investimentos. A equipe de Blanchard acredita que a recente depreciação do real frente ao dólar elevará a competitividade externa e neutralizará parcialmente o impacto adverso do aumento do prêmio de risco associado aos bônus brasileiros negociados no exterior. O FMI alerta o Brasil e outros emergentes que os governos não devem tentar impedir a desvalorização de suas moedas.
    “Tanto as desacelerações estruturais quanto as cíclicas na atividade pedem uma desaceleração da taxa de câmbio real, tudo mais mantido inalterado. Movimento deste tipo também ajudaria a compensar os déficits em conta corrente em algumas importantes economias emergentes cujos déficits são maiores do que permitidos pelos fundamentos e políticas (Brasil, Indonésia, Turquia e África do Sul)”, diz o documento do FMI.
    Os juros deverão continuar subindo, diante da persistência da inflação na banda superior da meta de inflação, de 4,5% pelo IPCA, com margem de variação de 2 pontos para mais ou menos. A pressão inflacionária, avalia o Fundo, poderá segurar o consumo, motor dos últimos anos do PIB brasileiro, ao corroer o poder de compra da população. Constrangimentos de oferta, notadamente infraestrutura, e incertezas quanto às políticas públicas podem continuar limitando o ritmo de atividade.
    A situação fiscal dos emergentes, segundo o FMI, se deteriorou e os países devem evitar novos pacotes de estímulo, a não ser em caso de desaceleração muito acentuada. A dinâmica da dívida pública passou a ser negativa e é hora de reconstruir espaço de manobra fiscal. O recado se aplica ao Brasil, ao qual o organismo recomenda retomar reformas estruturais.
    “A urgência em agir varia de acordo com a economia: passos urgentes e decisivos são desejáveis em algumas economias nas quais o nível de endividamento já é elevado (Brasil, Egito, Hungria, Índia, Jordânia, Polônia e Malásia). Em algumas economias, riscos contingenciais crescentes aos orçamentos e à dívida pública devido ao aumento substancial de atividades quase-fiscais e déficits reforçam a necessidade de se reconstruir espaço fiscal (Brasil, China, Venezuela)”, adverte o Fundo.


    Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/brasil-tera-em-2014-menor-crescimento-entre-os-emergentes-preve-fmi-10290534#ixzz2h8y9BYmL 

    quinta-feira, 10 de outubro de 2013

    Serra da Capivara, habitada 50 mil anos, é tema de exposição e palestra

    Serra da Capivara, habitada 50 mil anos, é tema de exposição e palestra

      Paulo de Araújo/MMANiège Guidon (E) e Izabella: população local é beneficiadaNiège Guidon (E) e Izabella: população local é beneficiada
      Campanha divulga parque nacional no Piauí. Meta é atrair 6 milhões de visitantes 

      LUCIENE DE ASSIS

      A Serra da Capivara, no Piauí, que virou parque nacional, tem uma história ancestral milenar. Registros históricos da região mostram que, há mais de 50 mil anos, os brasileiros já deixaram ali vestígios de sua vida de luta pela sobrevivência, contados, agora, em duas exposições e dez conferências, que começaram na noite desta terça-feira (01/10). A mostra e o ciclo de palestras acontecem no Espaço Israel Pinheiro (EIP), Praça dos Três Poderes, em Brasília, das 10h às 18h, de segunda a domingo, seguindo até 15 de dezembro. 

      O evento “Exposições e Ciclo de Conferências Serra da Capivara: os brasileiros com mais de 50 mil anos” é aberto à visitação pública e terá a participação de especialistas internacionais nos assuntos relativos ao Parque Nacional Serra da Capivara. A área, considerada Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), abriga um dos mais ricos sítios arqueológicos do planeta. Os visitantes terão acesso a uma exposição contendo peças da coleção do Museu do Homem Americano, localizado na cidade piauiense São Raimundo Nonato, além de objetos de cerâmica, feitos pelos moradores das proximidades do Parque.

      A presidente da Fundação Museu do Homem Americano (Fundham), Niège Guidon, é a principal responsável pelo desenvolvimento da região, ao instalar o museu e uma faculdade de arqueologia, além de escolas de níveis fundamental e técnico, com o apoio das embaixadas da Itália, França, Alemanha, Suécia e da própria Unesco. Toda essa infraestrutura, segundo Niège Guidon, permite uma intensa atividade científica em toda a área do parque. “A pesquisa na região é diária, feita por especialistas brasileiros e cientistas de universidades estrangeiras”, afirmou.

      DIGNIDADE

      A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, elogiou os esforços de todos os envolvidos no projeto. Ela ressaltou que a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, hoje, estimula atividades geradoras de renda para os moradores da região, inserindo-os num processo de inclusão econômica e social, que garante dignidade, inclusão e a permanência das pessoas na terra em que sempre viveram. A ministra lembrou que o Brasil tem o maior sistema de áreas protegidas do planeta e é o pais que mais faz em benefício da biodiversidade e dos seus ecossistemas.

      A exposição mostra aspectos da Serra da Capivara, que incluem a natureza local, os descobrimentos arqueológicos e paleontológicos e outros detalhes que testemunham a presença de homens e animais pré-históricos de mais de 50 mil anos. A exposição apresenta peças da fábrica de cerâmicas da Serra da Capivara, projeto responsável pela geração de renda para as famílias que moram nas áreas vizinhas ao parque nacional. Algumas dessas peças já são comercializadas até por redes supermercado. As peças expostas em Brasília estarão à venda.

      PATRIMÔNIO

      O ciclo de dez conferências sobre as descobertas e a importância do parque foi organizado por várias instituições e terá na pauta das discussões temas atuais sobre arqueologia, turismo, gestão de áreas protegidas, gestão de patrimônio natural e inclusão produtiva de populações vizinhas. Serão realizadas semanalmente, sempre às quartas-feiras, das 18h às 21h30, no auditório do EIP.

      São parceiros na organização do evento o ICMBio, União Europeia, Fundação do Homem Americano (FUNDHAM), Unesco no Brasil, governo do Piauí; as representações da Alemanha, da Embaixada da França e da Embaixada da Suécia no Brasil; e o Espaço Israel Pinheiro. Veja, no link, os temas das conferências no programa detalhado. 

      A SERRA 

      Ocupando área de 129 mil hectares, o Parque Nacional da Serra da Capivara, criado em 5 de junho de 1979, é uma unidade de conservação de proteção integral e está localizada nos municípios piauienses de Brejo do Piauí, Coronel José Dias, João Costa e São Raimundo Nonato. A paisagem atual da região é formada por planaltos, serras e planícies. 

      Há nove mil anos, o clima da região era tropical úmido, o planalto era coberto pela Floresta Amazônica e a planície, pela Mata Atlântica. Algumas espécies animais e vegetais desses dois biomas subsistem até hoje nos vales mais úmidos e protegidos. O parque ocupa uma das regiões de maior concentração de áreas arqueológicas do país, com seus desenhos pré-históricos, com 737 sítios catalogados, onde foram encontrados esqueletos humanos, pinturas rupestres com cerca de 30 mil figuras coloridas representando cenas de sexo, dança e parto, entre outras. 

      TURISMO

      Ao longo de 14 trilhas e 72 sítios arqueológicos abertos à visitação, encontram-se tesouros, como os pedaços de cerâmicas mais antigas das Américas, datados de 8.960 anos. No circuito dos Veadinhos Azuis existem quatro sítios com pinturas azuis, as primeiras desta cor descobertas no mundo. 

      As pinturas rupestres são a manifestação mais abundante, conspícua e espetacular deixada pelas populações pré-históricas que viveram na área. Trata-se do único Parque Nacional no domínio das caatingas, o que ressalta a necessidade de conservação e restauração da flora e da fauna específicas. E, devido ao potencial turístico da região, a expectativa de Niège Guidon é de receber 6 milhões de visitantes ao ano, depois que o aeroporto da cidade de São Raimundo Nonato estiver concluído.