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Alta precisão: a frota de sete carros sem motorista do Google ja rodou 320 mil quilômetros
FUTURO
O carro que anda sozinho começa a virar realidade. Com sensores, câmeras e gps ultrapreciso, os protótipos já circulam por aí
Fernando Valeika de Barros e Gustavo Poloni
Info Exame - 02/2012
Info Exame - 02/2012
O motorista entra no carro, dá a partida e arranca. No meio de uma movimentada avenida, dá um comando de voz e tira as mãos do volante. O que se vê depois é surpreendente. O veículo se dirige para o destino final e, no caminho, para no farol vermelho, espera o pedestre atravessar e desvia de um carro que quebrou. Tudo isso enquanto o motorista checa e-mails ou lê as notícias do dia.
Idealizado no final da década de 1930, o carro que anda sozinho deixou de ser um sonho. O avanço da tecnologia nos últimos anos deu origem a protótipos que já rodaram milhares de quilômetros nos Estados Unidos e na Europa sem causar acidentes. "Os carros que dispensam o motorista vão mudar a relação entre o homem e a máquina", disse a INFO Donald Norman, consultor de montadoras como BMW e autor do livro The Design of Future Things (O Design dos Objetos do Futuro).
Para sair pelas ruas sem causar acidentes, o carro sem motorista precisa ser equipado com uma combinação de tecnologias de ponta. São lasers capazes de realizar 20 varreduras nos arredores do veículo em apenas 1 segundo, câmeras que enxergam à noite e criam imagens 3D para identificar os obstáculos, GPS de alta precisão, dezenas de sensores espalhados por todos os lados do carro e capacidade de processamento que deixaria muito servidor para trás. O resultado disso já pode ser encontrado nas ruas da Califórnia, onde o Google conseguiu uma autorização especial para testar seus protótipos. De dois anos para cá, a frota de sete carros da empresa já rodou mais de 320 mil quilômetros.
A pesquisa é tocada pelo Google X, onde são conduzidos projetos especiais, e ninguém sabe ao certo o que a gigante das buscas pretende. "Queremos melhorar a vida das pessoas ao transformar a mobilidade", diz Chris Ursom, um dos responsáveis pelo projeto.
Substituir o motorista por um computador no controle do automóvel oferece uma série de vantagens.
Ele processa tudo mais rápido, presta atenção em mais informações ao mesmo tempo e nunca se perde. Além disso, está imune a reações humanas comuns, como raiva e pânico. Os pesquisadores esperam que a soma dessas características tenha dois impactos nas ruas. O primeiro é a diminuição da violência no trânsito. Nos últimos três anos, 58 mil pessoas morreram em acidentes no Brasil. O outro benefício é a redução do tráfego. Os carros que dirigem sozinhos são capazes de andar muito mais perto uns dos outros, aproveitando melhor os espaços.
LIMITAÇÕES TECNOLÓGICAS
A ideia de um automóvel que acelera, freia e faz curvas sem precisar ser controlado não é nova. Durante uma feira realizada em 1939, a General Motors apresentou sua visão do que seria o futuro do transporte. Um dos grandes destaques era o carro sem motorista. Norman Bel Geddes, responsável pelo estande da montadora e autor do livro Magic Motorways (Rodovias Mágicas), dizia à época que "os carros do futuro ajudarão o motorista a evitar erros". Sua previsão mostrou-se acertada. O projeto só demorou tanto tempo para sair do papel por causa das limitações tecnológicas. Hoje, quase todas as grandes montadoras do mundo estão pesquisando carros que dispensam o motorista.
No Brasil, esse tipo de pesquisa está restrito às universidades.Um dos estudos é conduzido pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia, no núcleo de Sistemas Embarcados Críticos, que tem sede na USP de São Carlos, interior paulista. O projeto teve início em 2008, quando os pesquisadores instalaram em um Fiat Stilo instrumentos que ajudavam na navegação. Deu certo. O próximo passo foi automatizar um carrinho de golfe elétrico. Ele tem um piloto inteligente capaz de ir a pontos preestabelecidos por um GPS. No caminho, desvia de obstáculos. "Ao instalar instrumentos no carro temos ainda o homem por trás das decisões", diz Fernando Osório, um dos coordenadores do projeto. "O grande pulo é quando se passa o poder da decisão para o computador."
Agora, os pesquisadores da USP se preparam para automatizar um veículo grande. No final do ano passado, o instituto comprou um Fiat Palio Weekend Adventure, que vai ganhar motores usados para virar as rodas (e a direção), sensores, sistemas de GPS e um equipamento chamado Velodyne HDL 32. É o mesmo laser usado pelos carros do Google para mapear as ruas várias vezes por segundo. Seu preço? Cerca de 30 mil dólares. O alto custo atrapalha o avanço das pesquisas.
"O desenvolvimento de software, onde o que conta é o talento das pessoas, é uma área na qual podemos competir de igual para igual", afirma Osório. A expectativa é que o novo protótipo dê suas primeiras voltas sozinho no primeiro semestre de 2012.
COMO FICAM AS INFRAÇÕES?
Ainda é cedo para prever quando os primeiros carros que andam sozinhos chegarão ao mercado. Há relatos de protótipos que saíram da pista por falhas no sinal do GPS e dos que se envolveram em acidentes. Além dos problemas técnicos, há uma questão legal a ser debatida. "De quem é a responsabilidade no caso de infrações de trânsito ou colisão?", disse a INFO Tobias Moers, diretor de desenvolvimento da AMG, subsidiária de carros de alta performance da Mercedes-Benz. É uma questão para a qual ainda não há resposta.
POR QUE ELES NÃO BATEM?
Sensores, câmeras, GPS e chips poderosos são algumas das tecnologias por trás dos carros que dispensam os motoristas. Saiba como eles funcionam
1- Ponto cego
Sensores instalados no para-choque traseiro detectam objetos localizados no ponto cego do carro. O mecanismo já pode ser encontrado em carros de luxo.
2- Dentro da faixa
Sistema faz o volante vibrar caso o motorista saia da faixa. Usa uma câmera instalada no para-brisa para identificar o contraste entre o asfalto e a pintura das faixas.
3- 360 graus
O carro tem um periscópio equipado com 64 lasers que giram a uma velocidade de 900 rotações por minuto para identificar todos os objetos em volta do carro.
4- Visão noturna
Raios infravermelhos são emitidos e o sinal é captado por uma câmera instalada no vidro dianteiro. Os perigos localizados à frente são exibidos no painel.
5- Olho nos outros
Sensores são instalados no para-choque dianteiro do carro. O objetivo? Detectar a velocidade do veículo à frente para ajustar sua própria velocidade.
6- Três dimensões
Mais duas câmeras instaladas no para-brisa dão forma 3D aos objetos e às pessoas na rua.Elas tentam prever o próximo passo dos pedestres.
7- Lugar certo
Os veículos usam sistemas de GPS superprecisos para se localizar. Os mapas têm de ser bem detalhados para não se perder ou entrar na contramão.
8. Sensores
Alguns sensores são colocados nas rodas para medir a velocidade enquanto o carro encontra seu caminho pelas ruas das cidades.
O QUE VEM POR AÍ
Ondas de wi-fi que avisam sobre o risco de colisão. Sistema que aprende os hábitos do motorista. Mapas holográficos projetados no para-brisa.
CONHEÇA AS INOVAÇÕES DOS CARROS DO FUTURO
Carro sempre conectado - Smartphones vão substituir as chaves e conectarão o veículo à internet. O carro terá informações em tempo real sobre o tráfego e fará reserva de vaga em estacionamentos. Reconhecimento de voz acionará funções como navegação e ar-condicionado.
Wi-Fi anticolisão - Equipados com emissor de ondas Wi-Fi e navegação por GPS, protótipos da Ford vasculham situações de risco no trânsito a cada décimo de segundo. Ao detectarem perigo, uma luz de alerta se acende no painel. O sistema já está em testes.
Materiais exóticos - Montadoras querem trocar o ferro e o alumínio por materiais mais leves para melhorar o consumo. A aposta está na fibra de carbono, que pode gerar economia de até 7% no combustível. Os primeiros modelos da BMW chegarão em 2013.
Smartphone sobre rodas - Protótipo mostrado no Salão de Tóquio, em 2011, o Toyota Fun-Vii projeta mapas ou informações do sistema de navegação no para-brisa, por imagens holográficas. Usa comando de voz para fazer chamadas telefônicas e tem um sistema que previne colisão.
Baliza mais fácil - Um protótipo do BMW 730i equipado com câmeras e sensores gira o volante, aciona acelerador e freio e calcula sozinho as manobras para estacionar. Os primeiros carros de série com a tecnologia devem chegar em 2015.
Assistente pessoal - O MIT trabalha num sistema que observa os hábitos do motorista. Ele aprende as rotas preferidas, onde costuma estacionar e grava eventos importantes. No futuro, o assistente virtual poderá avisar que é dia de passar no supermercado.
App eficiente - Apps já analisam o estilo de dirigir. Conectado pelo iPhone, o Minimalism Analyser, para donos de Mini Cooper, compara dados de aceleração e frenagem e os projeta no painel. Se o peixinho do aquário está contente, sinal de eficiência. Permite ainda ler posts das redes sociais no painel.
À prova de furo - Até nos pneus há inovação. A francesa Michelin criou um composto interno que veda furos de até 6 milímetros e corrige deformações. A Bridgestone trabalha num pneu sem ar, com feixes de raios flexíveis e de plástico reciclado.
Central de apps - Modelos da alemã BMW saem de fábrica com acesso a uma espécie de app store. O motorista pode baixar aplicativos da rádio Pandora e do Facebook, exibidos no painel. Novos apps serão criados para melhorar o desempenho dos carros.