sábado, 28 de dezembro de 2013

10 momentos marcantes da sustentabilidade em 2013Débora Spitzcovsky -

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2014 já está batendo na porta, mas antes de dar as boas vindas ao novo ano, a equipe do Planeta Sustentável*, da Editora Abril, preparou esta lista com os 10 momentos da sustentabilidade que marcaram 2013. Além de lembranças, esperamos que eles deixem um legado de inspiração para o surgimento de outras boas iniciativas em prol de um mundo melhor. Feliz ano novo!
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1. REDUÇÃO DA FOME NO BRASIL  

A boa notícia foi divulgada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), em junho deste ano. Segundo a agência da ONU, desde 1990, o Brasil reduziu em 53% a proporção de pessoas que passam fome em seu território.
Com isso, o país atinge – 2,6 anos antes do prazo -, o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio número um da ONU, que prevê que, até 2015, as nações diminuam pela metade o número de cidadãos famintos.
Apesar da conquista, o Brasil não pode relaxar: dados do governo revelam que cerca de 7% da população brasileira ainda passa fome, o que representa 13 milhões de cidadãos.  
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2. MANIFESTAÇÕES POPULARES

“Quem estava no Brasil em meados de junho presenciou um momento histórico, um ataque de raiva, um basta de quem segurou por muito tempo o que tinha para dizer ”. Foi assim que Rodrigo Vieira da Cunha, jornalista e embaixador do TEDx na América Latina, descreveu – em artigo para a revista Vida Simples, publicado em nosso site – asemblemáticas manifestações que aconteceram por todo o Brasil no final do primeiro semestre de 2013.    
A população surpreendeu a si mesma, foi em massa para as ruas e deixou sua mensagem: não acha normal as notícias de corrupção que pipocam na mídia e deseja mudanças urgentes. Mas, talvez, o mais importante recado deixado pelo povo – até mesmo de forma não intencional – foi quanto à ineficiência dos atos de violência. “Mostramos para nós mesmos que uma democracia se constrói também por passeatas e palavras de ordem, quase sempre pacíficas. E que assim é possível mudar as coisas. (…) Não é preciso disparos para causar uma revolução”, escreveu Vieira da Cunha.
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3. PODEMOS ATINGIR META DE REDUÇÃO DO DESMATAMENTO ANTES DO PRAZO
Em agosto, Carlos Klink, secretário nacional de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, garantiu que, antes do prazo, o Brasil vai atingir meta para reduzir em 84% o desmatamento, que ainda é a principal fonte das emissões de gases do efeito estufa do país.
Klink não informou o ano exato em que a conquista acontecerá, mas disse que, antes de 2020, o país chegará a um patamar inferior a 4 mil quilômetros desmatados por ano –conforme prometeu na Conferência do Clima de Copenhague, em 2009 – e que o governo está ciente de que é importante adotar medidas para manter esse resultado.
Com a redução do desmatamento, o Brasil diminuirá em 60% suas emissões de gases poluentes e vai ajudar a cobrir em 50% o déficit de emissões que haverá no mundo em 2020, segundo estudos. Ao oferecer tal contribuição global, o país fica com “mais moral” para cobrar esforços mais efetivos dos outros países.
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4. A POLÊMICA DOS COSMÉTICOS TESTADOS EM ANIMAIS

Os beagles do Instituto Royal ficaram famosos em 2013 depois de uma ação coletiva de protetores dos animais. Em uma madrugada de outubro, eles se uniram para invadir a empresa, sediada em São Roque, e resgatar centenas de cachorros que, suspeitava-se, eram submetidos a testes cruéis para a produção de cosméticos.
A ação fomentou no país as discussões sobre a real necessidade de usar animais em testes de produtos de beleza. À frente da causa, a Humane Society International (HSI) garante que já existem outras técnicas capazes de substituir, sem prejuízos, a prática.
Dando o exemplo, em fevereiro, a União Europeia proibiu o comércio de cosméticos testados em animais. Índia e Israel também já haviam banido a prática em seus territórios.
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5. NEGÓCIOS DO BEM

Também em outubro, o movimento internacional Empresas B chegou ao Brasil. A iniciativa, que já soma mais de 850 empresas espalhadas por 28 países, atua para conscientizar e certificar companhias que, além de lucrar, usam seus negócios para ajudar a resolver problemas sociais e ambientais.
Sete empresas nacionais já fazem, oficialmente, parte da iniciativa. Jay Coen, cofundador do Empresas B, aproveitou o evento de lançamento no Brasil para declarar seu desejo de ter cada vez mais ‘companhias verde e amarelas’ engajadas no movimento. É o nosso desejo também, Jay!
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6. PUNIÇÃO PARA QUEM JOGA LIXO NA RUA

Quando foi anunciada, a multa para quem fosse flagrado jogando lixo nas ruas da capital fluminense deu o que falar. Mas, com polêmica e algum atraso, a medida foi implantada – e deu certo. Já na primeira semana, a quantidade de resíduos sólidos jogados na rua diminuiu 34%.
Segundo a assessoria da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), a capital fluminense foi a primeira do Brasil a, de fato, aplicar a multa para aqueles que emporcalham as ruas e está inspirando outras cidades, país afora, a adotar a medida.
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7. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO BRASIL

clima foi um dos assuntos que mais bombou em 2013. As maiores novidades aconteceram no segundo semestre do ano. Em setembro, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas apresentou o primeiro relatório sobre alterações do clima no Brasil.
Os resultados são um pouco chocantes. Segundo o documento, considerando os atuais níveis de concentração de poluentes na atmosfera, a temperatura no Brasil subirá entre 2ºC e 3ºC, em 50 anos. Mas a boa notícia é que, com os dados brasileiros, será muito mais fácil para o país investir em medidas eficazes de adaptação e mitigação. Mais do que isso: a iniciativa de criar um painel nacional para tratar de mudanças climáticas está inspirando outros países, como a Argentina.  
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8. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO MUNDO

Depois do relatório brasileiro, foi a vez do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) roubar a cena com o lançamento da primeira parte do 5º Relatório de Avaliação sobre o estado das alterações do clima no planeta.
Entre as principais conclusões do documento, está a certeza de que:
- o aquecimento global é real e atingiu níveis sem precedentes,
- o homem tem participação importante nesse fenômeno e
- a única maneira de estancar o problema é reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa, caso contrário, podemos chegar ao final do século com aumento médio da temperatura do planeta de até 5,8ºC.
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9. O SISTEMA PIONEIRO PARA ESTIMAR EMISSÕES

O Brasil voltou à cena em novembro, com o lançamento do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (o SEEG). Desenvolvida pelo Observatório do Clima, a ferramenta é inédita: não existe nenhuma outra no mundo, desenvolvida pela sociedade civil, para calcular as emissões brasileiras de poluentes.     
A intenção é que o SEEG leve conhecimento técnico aos diferentes públicos, incentivando-os a dar sua contribuição para a redução das emissões brasileiras. Cá entre nós, estamos mesmo precisando de ajuda. A ferramenta revelou que, entre 2009 e 2012, as emissões do país aumentaram em todos os setores. A única que ‘se safou’ foi a área de Mudanças do Uso da Terra, por conta das medidas de combate ao desmatamento.
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10. A CONFERÊNCIA (MORNA) DO CLIMA

Com tantas informações novas a respeito das mudanças climáticas, a COP19 do Clima, que aconteceu no fim de novembro, na Polônia, poderia ter dado um desfecho excelente para o ano de 2013, mas não foi o que aconteceu. A Conferência da ONU foi “morna”: não deu ao assunto a urgência que ele merece, “mas, pelo menos, não andou para trás e fechou três acordos significativos para não irmos para casa com a sensação de tempo, dinheiro e oportunidade desperdiçados”, resumiu a jornalista Liana John em nosso Blog do Clima.
Entre as decisões tomadas, uma das mais importantes para o Brasil é a validação do mecanismo de REDD+, que trata da Redução de Emissões por Desmatamentos e Degradação Florestal e valoriza o papel da conservação e do manejo florestal sustentável. Até agora o REDD+ estava à margem dos instrumentos oficiais de combate às mudanças climáticas, mas o novo acordo permite aumentar a escala desse mecanismo – o que é ótimo para o Brasil, que possui a segunda maior área florestal do mundo. Quem quiser se aprofundar mais no tema, pode ler o post de Tasso Azevedo, especialista em mudanças climáticas e curador do mesmo blog.
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O ANO DO PLANETA SUSTENTÁVEL
No Planeta Sustentável também tivemos bom momentos em 2013, que contribuíram para seguirmos em nossa principal missão: disseminar conhecimento para ajudar a encontrar soluções para os grandes desafios da atualidade.
Em maio, lançamos o segundo livro do selo Planeta Sustentável, Corporação 2020, do economista Pavan Sukhdev. O indiano veio ao Brasil, a nosso convite, para os eventos de lançamento da obra e chegou a participar da Expedição Planeta 2013 , que debateu em Foz do Iguaçu, com especialistas, os rumos da matriz elétrica brasileira e a sustentabilidade do setor energético.
Todo o rico conteúdo gerado durante o evento está reunido no aplicativo Energia, Negócios e Meio Ambiente, outro lançamento do Planeta Sustentável em 2013. Disponível, gratuitamente, em versões para computador e tablets iOS e Android, o app reúne dados, artigos, vídeos, infográficos e fotografias, que revelam, de forma bastante interativa, os principais desafios e oportunidades do setor energético no Brasil. 
Em setembro, publicamos outros dois livros – dessa vez, apenas em versão digital, disponível no IBA – em parceria com o Instituto Ethos e o Projeto Cata Ação. O primeiro, Novo Contrato Social, traz propostas para a renovação da agenda global, para que atenda melhor a todos os cidadãos e respeite os limites da natureza. Já o segundo, Lixo Zero, argumenta que uma sociedade próspera é aquela que cuida bem até mesmo do que descarta.
Por fim, em outubro, mais uma grande publicação. Trouxemos o economista britânicoTim Jackson ao Brasil para o lançamento de Prosperidade sem Crescimento, o terceiro livro do selo Planeta Sustentável. A obra, que desmistifica o desafio de prosperar economicamente sem crescer, contou com três eventos de lançamento em São Paulo, para diferentes públicos, e com memoráveis encontros – como o bate-papo entre Tim Jackson, Pavan Sukhdev e Ricardo Abramovay.
2013, realmente, foi um ano de momentos marcantes. Mal podemos esperar para as novidades de 2014… Que venha o novo ano! 
*Participaram também Caco de Paula, Matthew Shirts, Mônica Nunes, Marina Maciel e Jessica Miwa
Foto: rubatos/Creative Commons

Ginseng brasileiro: da várzea aos holofotes

Combate de agentes causadores de doenças, produção de energia e matéria prima para a indústria de cosméticos. Conheça as utilidades dessa planta medicinal

por Liana JohnFonte: Planeta Sustetável
     
Costa PPPR – Creative Commons

NG - Folhas de ginseng brasileiro (Pfaffia glomerata)

Folhas de ginseng brasileiro (Pfaffia glomerata)
As raízes se parecem: tuberosas, bifurcadas, às vezes com o formato de troncos humanos, com pernas e braços. Os usos populares se confundem: dizem que todos são afrodisíacos, tônicos, tranquilizantes, cicatrizantes, regeneradores do sangue e ainda tratam diabetes, reumatismos, diarreias, inflamações, febre, hemorroidas, distúrbios gástricos e anemias. Os nomes vulgares começam todos com ginseng: asiático, americano, paraguaio, brasileiro.
Mas essas semelhanças pedem muito cuidado e boas doses de pesquisa: antes de tomar um ginseng por outro, é melhor prestar atenção ao nome científico da planta e checar o que de fato já foi comprovado por estudos confiáveis para aquela espécie.
Veja o exemplo do ginseng brasileiro, cujo nome científico é Pfaffia glomerata. Trata-se de uma planta perene de meio metro a 2,5 metros de altura, mais comum na bacia dos rios Paraguai e Paraná, sobretudo no Mato Grosso do Sul, onde ocorre nas matas ciliares, nas margens dos rios, nas capoeiras úmidas e nos campos de inundação. Apesar de ter uma raiz parecida com a do ginseng asiático – o “original”, digamos assim, consumido há pelo menos 5 mil anos na China – tem folhas bem diferentes, flores brancas em lugar de vermelhas e pertence a outra família: Amaranthaceae. O ginseng asiático (Panax ginseng), o americano (Panax quinquefolius) e o paraguaio (Panax japonicus) são da família Apiaceae.
Apesar da fama de servir “para-tudo”, nos circuitos mais sérios o ginseng brasileiro é consumido apenas como fitoterápico auxiliar no tratamento da perda de memória, sobretudo a memória de curto prazo e a declarativa. O princípio ativo associado a esse uso é a b-ecdisona.
Os demais poderes atribuídos ao ginseng asiático e transferidos ao ginseng brasileiro por semelhança ainda não são comprovados. A atividade antidiabética atribuída a seu extrato, por exemplo, não passou nos testes com ratos, em um estudo realizado nas faculdades de Farmácia das universidades Estadual de Maringá (UEM) e Paranaense (Unipar), por uma equipe coordenada por Diógenes Aparício Garcia Cortez. Os pesquisadores não verificaram redução de glicemia nos animais tratados com o ginseng brasileiro.
Em compensação, o mesmo grupo de cientistas atestou a eficácia da planta nacional para matarmoluscos como o caramujo Biomphalaria glabrata, hospedeiro dos vermes do gênero Schistosoma, causadores da esquistossomose ou barriga d’água. Após 24 horas em contato com extratos brutos metanólicos de Pfaffia glomerata a temperatura ambiente, a mortalidade dos caramujos foi de 100%. A solução inicial era de 400 ppm e depois foram testadas outras concentrações, chegando a uma dose ideal de 200 ppm com os mesmo 100% de mortalidade dos moluscos.
O ginseng brasileiro também tem uma boa dose de saponinas, substâncias de usos diversos na indústria de cosméticos, por suas propriedades na separação de líquidos de densidades diferentes. Essas saponinas podem ser extraídas de modo economicamente viável com um novo método desenvolvido porRenata Vardanega, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sem contar que os restos da planta normalmente descartados no campo após a colheita das raízes servem para produzir energia, a exemplo do que é feito com o bagaço e a palha de cana nas usinas de etanol. De acordo com um dos co-orientadores de Renata, Diego Tresinari dos Santos, também da Unicamp, metade da biomassa descartada nos campos de produção do ginseng brasileiro seria suficiente para suprir toda a eletricidadee o calor necessários à produção dos extratos das raízes, se usados os métodos desenvolvidos na universidade e já patenteados.
E o melhor de tudo é o fato de o ginseng brasileiro ser uma planta fácil de multiplicar, seja por semente, seja por estaquia (galho) ou pela raiz. Já há cultivares disponíveis no mercado e, com as plantações comerciais, dá para evitar a coleta predatória de plantas nativas, em locais onde elas devem ser preservadas. Além disso, com o cultivo da espécie certa, o controle de qualidade é maior e o consumidor deixa de comprar gato por lebre.
Tem mais: segundo divulgou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) a pesquisadora Renata Vardanega obteve uma bolsa de doutorado para continuar pesquisando extratos das raízes do ginseng brasileiro e para avaliar o potencial de extração, a partir do resto da planta, de metabólitos secundários, substâncias que podem ter novos usos farmacêuticoscosméticos ealimentícios. Ou mesmo energéticos.
Valeu ou não valeu tirar o ginseng brasileiro das várzeas (e da confusão com outros ginsengs) para colocá-lo sob holofote próprio?

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O homem causou tudo isso?

O homem causou tudo isso?

A devastação provocada pelo Tufão Haiyan nas Filipinas revela a urgência no combate às mudanças climáticas

MARCELO MOURA

 
 
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DEVASTAÇÃO Morador caminha sobre destroços em Tacloban.  O Haiyan  destruiu 90% da cidade, com ventos de mais de 300 km/h (Foto: Erik De Castro/Reuters)
"Saquear não é crime, é autopreservação.” A frase do prefeito de Tacloban, Tecson John Lim, dá a medida do horror que se instalou nas Filipinas após a passagem do Tufão Haiyan (ou Iolanda), no sábado, dia 9. O odor de cadáveres em decomposição dominava o ar do município de 200 mil habitantes, na costa do Sudeste Asiático, dias depois que ventos vindos do Oceano Pacífico, a mais de 300 quilômetros por hora, varreram 90% da cidade. As palavras de Lim expunham o desespero de moradores que saíram em busca de suprimentos básicos, como água e remédios, numa cidade onde muitos comerciantes e donos de casas invadidas morreram na tragédia. Inicialmente, as autoridades estimaram em 10 mil os mortosno país. Dias depois, o presidente Benigno Aquino reduziu a previsão para 2.500. Cerca de 620 mil pessoas ficaram desabrigadas. Longe dali, na conferência sobre o clima (COP-10) da Organização das Nações Unidas (ONU), em Varsóvia, na Polônia, já era apontado um culpado: o ser humano. Yeb Sano, negociador-chefe filipino, implorou por mais iniciativas dos países ricos contra as mudanças climáticas. “Falo pelas incontáveis pessoas que não poderão mais falar”, disse, em meio a lágrimas. “O que meu país enfrenta, como consequência desse evento climático extremo, é uma loucura. A crise no clima é uma loucura.”

É impossível afirmar, categoricamente, que a tragédia do Haiyan seja consequência direta das mudanças no clima da Terra. Os tufões formados no Pacífico são menos estudados que os furacões do Atlântico. As Filipinas investem pouco na compreensão de fenômenos naturais. O último voo de estudo de tufões naquela região foi promovido há três décadas, pelos Estados Unidos. Pesquisas realizadas em outras áreas do planeta permitem dizer que as temperaturas mais altas no planeta são, sim, capazes de agravar tragédias como a das Filipinas. Tufões, furacões e ciclones são tempestades formadas por áreas de baixa pressão atmosférica sobre regiões aquecidas dos oceanos. A frequência dessas tempestades não aumentou nas últimas décadas – de janeiro a setembro deste ano, foram 23 no nordeste do Pacífico. A fúria do fenômeno, sim, já que nas últimas décadas os oceanos se aqueceram. “Oceanos mais quentes dão mais energia a essas tempestades e as tornam mais intensas”, diz Colin Price, diretor do Departamento de Ciências Geofísicas, Atmosféricas e Planetárias da Universidade de Tel Aviv, em Israel.

O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) afirma que a alta do nível do mar, resultado do derretimento de calotas polares, aumenta as chances de inundações e fortes tempestades. Com mais água nos oceanos, um fenômeno como o Haiyan se torna mais destruidor para populações costeiras – grande parte da devastação em Tacloban foi causada pela água do mar, como um tsunami. “É prematuro dizer que o Haiyan tenha sido fruto da ação humana”, diz Thomas Knutson, pesquisador-chefe de impactos no clima da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa). “Mas nossos estudos sugerem que até o fim do século o aquecimento global deverá aumentar a incidência de furacões entre 2% e 11%.”
>> Após tufão, Filipinas vão precisar de US$ 300 mi em ajuda, diz ONU 

O consultor Robert Bea, mestre em prevenção de desastres e professor emérito da Universidade Berkeley, alerta para o atual despreparo de muitas cidades costeiras. “Os pioneiros das Filipinas construíam em regiões ‘altas e fortes’ para evitar os efeitos dos tufões”, afirma Bea, sobre uma prática abandonada com o tempo. Os antigos filipinos sabiam que a fúria da natureza é incontrolável. Se ela tende a aumentar, como creem os cientistas, combater o aquecimento do planeta é imperativo. Ainda mais urgente é proteger as populações que vivem no caminho da destruição. 
 
Como nascem os tufões (Foto: ÉPOCA e Jes Aznar/The New York Times)

Três municípios do Rio aparecem entre os dez maiores PIB per capita do Brasil

Três municípios do Rio aparecem entre os dez maiores PIB per capita do Brasil

  • Porto Real, Quissamã e São João da Barra têm os melhores resultados no Rio de Janeiro
  • Produtora de Petróleo, Presidente Kennedy (ES) tem o maior PIB per capita do país
  • Entre as capitais, Vitória apresenta maior PIB por pessoa, quatro vezes maior que o do Brasil
RICARDO FERREIRA
CLARICE SPITZ
Publicado:
Atualizado:
RIO – Três municípios do Rio de Janeiro estão entre as dez cidades com maior PIB per capita do Brasil, conforme divulgação do PIB dos Municípios pelo IBGE, nesta terça-feira. Porto Real, Quissamã e São João da Barra aparecem nos 6º, 7º e 8º lugares da lista, respectivamente.
O maior PIB per capita do país é da cidade de Presidente Kennedy, no Espírito Santo. Produtor de petróleo e com pouco mais de 10 mil habitantes, o município registra PIB per capita de R$ 387,1 mil.
Com cerca de 17 mil habitantes, Porto Real abriga multinacionais como Peugeot-Citroën, Coca-Cola, Guardian e GalvaSud. A intensa atividade industrial combinada com baixa densidade demográfica resultaram no melhor PIB per capita do estado do Rio: R$ 217.465,66 por habitante.
Já a cidade de Quissamã deve os seus R$ 193.740,96 por habitante ao petróleo e gás na Bacia de Campos. O mesmo ocorre com São João da Barra, com R$ 179.908,25, onde o petróleo é responsável pela geração de riqueza. O município abriga ainda o Porto do Açu.
Já entre as capitais, Vitória, no mesmo estado, apresenta o maior PIB per capita do país. O indicador, na capital do Espirito Santo, era cerca de quatro vezes maior que a do Brasil. Lá os moradores ganhavam R$ 85.794, enquanto que, no Brasil, o PIB per capita era de R$ 21.536, em 2011.
A técnica Sheila Zani, do IBGE, explica que o valor maior tem relação com a baixa densidade populacional da cidade: 331 mil habitantes. Brasília ocupa a segunda posição em PIB per capita: R$ 63.020. São Paulo vem em seguida, com PIB por pessoa de R$ 42.153. O Rio tem o quarto maior PIB per capita do país entre as capitais, com um ganho de R$ 32.940.
Comércio ajuda a reduzir desigualdade
Embora a concentração da riqueza dos municípios continue alta no país, a pesquisa do do IBGE revela uma leve redução da desigualdade per capitano âmbito municipal.
O setor de serviços, excluindo a administração pública, foi responsável por uma redução suave mais significativa do índice de Gini (quanto mais perto de 1 mais desigual) do PIB do país que passou de 0,86 para 0,85. Já no PIB per capita isso ficou mais claro. Em 1999, os 10% dos municípios com maior PIB per capita produzem 7,2 vezes mais que os 50% mais pobres. Em 2011, essa relação caiu para 6,2 vezes. Para a técnica do IBGE Sheila Zani, a explicação está no aumento do comércio, sobretudo na região Nordeste.
- Existem uma série de razões que explicam isso, as transferências de renda estão por trás disso indiretamente estimulando a demanda do comércio - afirma Zani.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/tres-municipios-do-rio-aparecem-entre-os-dez-maiores-pib-per-capita-do-brasil-11085909#ixzz2oNn2M511 

Por que fritura é tão gostoso?

Por que fritura é tão gostoso?



por Nathália Braga


Sabe aqueles filmes da Sessão da Tarde em que a mocinha tímida e desajeitada toma um banho de loja e, para a surpresa de todos, aparece linda e deslumbrante no baile de formatura? É isso que a fritura faz com os alimentos: graças a um extreme makeover alimentar, traz à tona o sabor que já estava lá.

É na frigideira que a repaginação acontece. Quando passa de 170 ºC, o óleo se incorpora ao alimento, realçando suas qualidades. Como explica Márcia Fidelix, presidente da Associação Brasileira de Nutrição, a gordura aquecida faz o alimento desenvolver odor, cor e textura - são as propriedades organolépticas, aquelas que percebemos por meio dos sentidos. "Isso torna as preparações fritas mais atraentes", diz a doutora Fidelix. Pode reparar: mesmo alimentos congelados, esbranquiçados, sem graça, depois de fritos ficam dourados, crocantes, com cheiro que faz salivar.

E é aí que a carruagem da Cinderela vira abóbora empanada. Mandar ver na fritura faz você se sentir pesado, com a leve impressão de que comeu mais do que devia. Isso acontece porque a digestão das gorduras é mais lenta. Outro problema: justamente por se incorporar ao alimento, uma parte considerável do óleo utilizado sai da panela junto com o prato. "Só para ter uma ideia, uma batata frita tem cerca de 60% mais calorias e gorduras do que uma batata cozida", conta o nutricionista da Faculdade de Saúde Pública da USP, Daniel Bandoni. A fritura satisfaz, mas também engorda, maltrata seu coração e aumenta o risco de câncer. Ninguém é perfeito.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ENERGIA EÓLICA:Para viver de vento

A VEZ DA EÓLICA

Para viver de vento

Gerar energia eólica em casa, injetar na rede pública e até ganhar créditos na conta de luz já é possível. Conheça os detalhes e o custo dos aerogeradores domésticos

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Divulgação/Energia Pura
Até o ano passado, uma família brasileira tinha apenas duas motivações para produzir energia com a força do vento: a falta de abastecimento público (ou as falhas crônicas no serviço) e o desejo de trilhar caminhos mais sustentáveis. Desde abril, porém, uma mudança na legislação - aResolução nº 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) - dá um incentivo a mais ao permitir a micro e a minigeração distribuída. Traduzindo: dá sinal verde para que sistemas alternativos de geração de energia limpa injetem sua produção na rede da distribuidora local.

Com isso, além de suprir parte da demanda da casa e pagar menos pela conta mensal, o cliente ganha créditos para descontar nas próximas faturas toda vez que a geração de energia for maior do que o consumo. "É um primeiro passo importantíssimo", diz Elbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Diversos estudos comprovam o enorme potencial do Brasil para explorar a energia do vento, especialmente na faixa litorânea e no sul do país. Fazer o setor crescer e disseminar o acesso aos equipamentos, no entanto, requer um conjunto de incentivos. "O governo é o principal agente, porque pode criar benefícios fiscais e ainda se tornar o melhor cliente, instalando sistemas eólicos em prédios públicos, por exemplo", afirma Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech Engenharia, consultoria em projetos sustentáveis.

"Nos Estados Unidos, quando o governo ofereceu 30% de desconto no imposto de renda para quem investisse em energia eólica, houve um crescimento de 78% em um ano", lembra Luiz Cesar Pereira, diretor da Enersud, fabricante nacional de aerogeradores.

Aqui, a novidade quanto à micro e à minigeração distribuída segue a mesma tendência. "Ainda não é como na Europa, onde se ganha dinheiro vendendo energia limpa. Por enquanto, trata-se de uma maneira de economizar na conta e impulsionar o segmento", diz Elbia Melo.

Na prática, a mudança favorece quem consome mais energia, como prédios comerciais, condomínios residenciais e indústrias, que têm a chance de obter o retorno do investimento em prazos mais razoáveis. Mas há quem enxergue além, como o aposentado Ari Lund, dono de uma casa no litoral catarinense. "Os ventos em Garopaba são abundantes e temos que aproveitar essa energia limpa. É preciso baratear os custos, incentivando outras pessoas a apostar nisso", defende.

Ele desembolsou R$ 50 mil na instalação de um sistema eólico doméstico, poucos meses antes de a rede de distribuição passar a atender sua região. "Apesar do preço alto, fiquei satisfeito com o resultado porque consegui suprir boa parte do abastecimento de energia", completa ele, que agora prepara projeto para se conectar à rede pública.

Situação semelhante viveu Edison Eduardo Weissinger, aposentado, morador de Itaipuaçu, no Rio de Janeiro. "Aqui o fornecimento não era confiável, faltava luz com frequência, e resolvi gastar R$ 4 mil na compra de um pequeno sistema com aerogerador, torre, baterias e outros equipamentos", justifica. "Hoje tenho autonomia e pago menos pela conta sem agredir o meio ambiente."

Incentivos à energia eólica vêm também de grandes bancos: a Caixa Econômica Federal incluiu recentemente os aerogeradores na lista de produtos que podem ser adquiridos pelo Construcard, linha de financiamento para materiais de construção (com até 96 meses para pagar, com taxas de juros de 0,90% a 1,85% ao mês). No Banco do Brasil, o BB Consórcio lançou em janeiro planos especiais para a compra de sistemas de energia renovável e a contratação de serviços técnicos por prestadores especializados.

Os selos de construção sustentável têm sua parcela de contribuição. O AQUA, coordenado pela Fundação Vanzolini, obriga os empreendimentos candidatos à certificação a elaborar um estudo de viabilidade de energias alternativas. "É uma maneira de estimular a adoção de sistemas eólicos e fotovoltaicos, principalmente", afirma Felipe Coelho, assistente técnico da entidade.

Nesse cenário favorável, os primeiros condomínios residenciais já começam a aderir à causa. Em Praia Grande (SP), a força do vento fez o diretor da construtora Concreplan,Eliude Rodrigues de Souza, investir R$ 70 mil para incorporar duas turbinas eólicas no Ecovila Resort, um residencial de 56 casas com várias soluções sustentáveis, que contou com consultoria especializada da empresa Energia Pura.

AFINAL, QUANTO O SISTEMA ECONOMIZA?
Para gerar crédito na conta de luz, é preciso avaliar a demanda de energia da residência e escolher um modelo de aerogerador que possa supri-la (sozinho ou em conjunto com outros). Comparamos cinco modelos, considerando uma família de quatro pessoas que consome 300 kWh/mês e paga uma conta de luz de R$ 90. Clique aqui e confira os resultados.

Na simulação, supondo que a casa esteja numa região com incidência média de ventos de 6 m/s, somente o aerogerador Skystream será capaz de cobrir o consumo da família com apenas uma torre. Nesse caso, se o sistema for off grid (independente da rede pública), a conta de luz se restringirá aos impostos. Se a mesma residência estiver funcionando no sistema grid tie, isto é, injetando energia na rede, a produção excedente gerará créditos para as próximas faturas.

"O passo seguinte será convencer o governo a permitir a venda de energia", ressalta Elbia Melo, da Abeeólica. Quando isso ocorrer, as famílias que produzem mais do que consomem poderão ganhar dinheiro com seus kWh excedentes - e isso fará com que o investimento no sistema, que ainda é alto, se pague mais rapidamente. Mas não se esqueça: esse equipamento só se justifica em regiões com incidência suficiente de ventos. Antes de adotá-lo, cheque a informação em mapas eólicos ou com consultores técnicos.

COMO FUNCIONA 
Para ter acesso à microgeração distribuída, é preciso apresentar um projeto à distribuidora. Se aprovado, o cliente arcará com os custos de todos os equipamentos e do novo medidor, que registrará a entrada e a saída de energia. Clique aqui e veja os componentes do sistema no infográfico.

Ilustrações: Marcelo Garcia