sábado, 16 de novembro de 2013

PRODUÇÃO ORGÂNICA: Uma fazenda no fim do mundo



PRODUÇÃO ORGÂNICA

Uma fazenda no fim do mundo

De invernos brutais à pressão por mais tecnologia, acompanhamos o dia a dia de um camponês que luta para manter sua pequena produção de alimentos orgânicos em uma ilha remota no Círculo Polar Ártico

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Lívia Aguiar, de Hestmona  Superinteressante -
Caco Neves

Mesmo no verão, o céu estava cinza. E era o auge da estação. Com uma geleira a oeste e uma montanha a leste, eu era a última passageira do barco, a única a desembarcar no ponto final: a ilha de Hestmona, um pedaço de terra cortado pelo Círculo Polar Ártico, no norte da Noruega. 


À minha espera, um homem baixo, encurvado, com uma indefectível barba branca, farta e sem bigode, boina, galochas, macacão surrado e uma bicicleta. Kurt Randeker, 64 anos, parecia o Mestre, dos Sete Anões. Sobrava simpatia, faltavam dentes. Alemão radicado na Noruega, o camponês é um ex-socialista, ex-sindicalista e um grande professor em assuntos de cultivo de alimentos orgânicos ("a única forma de agricultura possível", dizia). Eis minha principal companhia por dez dias.



Kurt e sua mulher, Marie Louise, fazem parte de um movimento de volta à terra, que prega o uso do campo por pequenos fazendeiros com agricultura de subsistência. Mas nem sempre eles foram assim. No final da década de 1960, largaram o movimento sindicalista, o emprego na Mercedes-Benz e a casa em Stuttgart, no sudoeste da Alemanha, para se instalar em uma chácara que produzia queijo pecorino na cordilheira do Jura. Não tinham mais do que dez ovelhas. Em 1999, pressionados por grandes fazendeiros na região, venderam a terrinha e se mudaram para essa ilha remota no mar da Noruega, na esperança de trabalhar com a terra do jeito deles. Até morrer. 



E assim eles seguem, aqui na Hestmonvågen, a pequena fazenda onde vivem. E para onde Kurt me trouxe para viver e trabalhar de graça. O lugar é do tamanho de uns dois campos de futebol, não tem televisão nem internet. Mas tem energia elétrica, que alimenta aquecedores, rádio, chaleira, chuveiro e a máquina de fazer manteiga. Não há geladeira. Nesse canto do mundo, um quarto frio do lado de fora é o suficiente para conservar queijo, leite e sobras do jantar. Mesmo no verão. 



Tudo bem ficar sem luxos tecnológicos, eu já sabia o que me esperava. Cheguei ali por meio da organização Wwoof ("Oportunidades de Trabalho em Fazendas Orgânicas ao Redor do Mundo", na sigla em inglês). É uma rede presente em 99 países (inclusive o Brasil) que conecta fazendas orgânicas e pessoas que querem trabalhar nelas. Soa nobre, mas Kurt não gosta do rótulo. "Não faço isso pelo planeta. Estou muito velho para ligar para o planeta."



Além de um ou outro trabalhador voluntário ("geralmente mulheres intelectualizadas da cidade", diz Kurt, me fazendo vestir a carapuça), quem trabalha ali é o próprio casal, que conta com uma égua e um trator da década de 1950. A Hestmonvågen tem também duas vacas leiteiras. O que não é consumido na produção diária vira manteiga e ricota. 



A alimentação do casal segue a premissa da fazenda, ou seja, consumo responsável,agricultura sustentável e pouco desperdício. Tudo é pensado para otimizar a produção sem a necessidade de aditivos químicos, fertilizantes etc. As frutas colhidas no verão viram geleia para o resto do ano. Já as batatas, por exemplo, são armazenadas junto com as maçãs, que têm hormônios que ajudam na conservação mútua. Tudo muito simples. 



Mas Hestmona não é toda assim. Da janela de casa, Kurt vê a fazenda do vizinho, o maior proprietário da ilha e seu antagonista declarado. "Coitadas das vacas, presas o dia inteiro", lamenta. Em grandes fazendas, normalmente há um padrão industrial a se cumprir, com metas e pressão por produtividade. Na propriedade vizinha, o gado fica confinado por nove meses. Máquinas ordenham as vacas, e o leite já sai da fazenda pasteurizado para ser envasado e vendido. Em Hestmonvågen, as vacas ficam no curral só em dias de tempestade. Quem tira o leite é o próprio casal, na mão. E os voluntários. Bem, quando acordam na hora certa...



É com vergonha que admito que nunca consegui acordar para a ordenha das vacas, às 5h. Mas não fiquei à toa. Fiz queijo e manteiga e, especialmente, cuidei do pasto: cortei, empilhei e sequei capim para servir de comida aos animais no inverno. O clima úmido da Noruega impede que o feno seque sozinho, mas um varal de aço resolve o problema. Basta pendurar o capim cortado, que seca entre uma e duas semanas e aí então fica pronto para ser armazenado. Em anos de dificuldade extrema e muita chuva, Kurt engole o orgulho e compra algumas das bolas de feno embaladas em plástico do vizinho, que, amparado pela tecnologia, não fica tão sujeito às intempéries do clima. Adaptar-se à natureza e tentar tirar vantagem disso é o que guia fazendeiros como Kurt. Por mais que às vezes ele precise dos "antagonistas".



Trabalhar com a terra na Noruega é bem diferente do que no nosso tropical país. Em Hestmona, o termômetro no verão fica entre 10ºC e 25ºC. No inverno, pode cair para uns -15ºC. Com tanto frio, aqui não cresce trigo, soja, milho, mandioca. Nem chuchu, que dá na serra e em qualquer cerca brasileira, dá as caras por aqui. Mesmo assim, Kurt nem pensa em mudar de vida. "Gosto de ficar longe dos problemas do capitalismo."



O casal planta cenoura, rúcula, rabanete e outros vegetais, que vende a compradores de outras ilhas da região. O resto da produção segue o sistema de rotação de terra. Isso significa que o terreno é dividido em lotes que revezam ciclos de aveia, batata e capim com trevo. A rotação é feita para que o solo se recomponha dos nutrientes absorvidos por cada uma das espécies plantadas e, assim, esteja sempre fértil. Isso, por sua vez, fortalece as plantações, que dispensam agrotóxicos e aditivos químicos. A rotação caiu em desuso nas últimas décadas, com a mecanização e industrialização do campo. Dá mais trabalho e geralmente o retorno financeiro é mais instável. Kurt não dá a mínima. Ele tem problemas mais triviais. Mas coube a mim limpar a merda com ele. Literalmente.



Uma imensa poça de lama, entre o curral e o pasto, é problema recorrente da fazenda. As vacas passam por ali, se sujam e acabam se machucando. Isso porque muitas vezes sobram grãos de areia nas tetas, que ficam raladas com o esfrega-esfrega diário da ordenha. Por mais que Kurt as limpe com uma pomada especial, o jeito é secar a poça. A lama tem muita bosta de vaca. Muita! Vesti botas e luvas, deixei o nojinho no quarto e pus a mão na massa com um mantra na cabeça: "Se você ama o leite, tem de amar a bosta". Afinal, ela também faz parte do ciclo da fazenda. Tirei o cocô da poça e o coloquei em montinhos de algas marinhas e outros restos orgânicos. Toda a gororoba viraria compostagem, que seria usada como um fertilizante natural (e essencial) na horta.



Felizmente, exerci funções mais aprazíveis, como guiar a égua Brownie. Tive de seguir um ritual matinal de amizade que imita a troca de afeto equina. Funciona assim: primeiro você faz carinho na base do pescoço, onde acaba a crina. Depois, abraça sua cabeça e assopra as narinas. Diversas vezes. Brownie adora isso e, se ela decide ser sua amiga, funga de volta. Nojento? Talvez, se o focinho dela não fosse a coisa mais macia do mundo. Dá vontade de fazer carinho para sempre. Mas tínhamos de arar o campo de batatas. Então, de volta ao trabalho. 



Nós, da cidade, nos afastamos tanto da natureza que esquecemos de onde vêm o leite, o macarrão, a carne que é vendida cortada e temperada. Nosso dia a dia tem químicos que turbinam vegetais, alteram o crescimento de animais e conservam a comida por mais tempo. E nos acostumamos a isso. Mas tudo começa ali, com um pé na água, outro no cocô, as mãos ásperas, os braços cansados e os animais como companheiros do dia a dia. A vida pode ser mais simples, embora o simples nem sempre seja fácil. "É mais desafiador. Você tem de prestar atenção no que a terra está falando", diz um filosofal Kurt. "É mais inteligente que só comprar fertilizante e máquinas que fazem tudo por você."



E o que a fazenda fez por mim? Bem, é difícil adotar uma vida como a que levam Kurt e Marie Louise. Mas hoje penso mais nas pessoas que fazem nossa comida. E nos animais, que também são seres com suas particularidades. Urbana que sou, paro mais para escutar o silêncio. Observo a chegada da chuva no horizonte sem pensar só no trânsito para voltar para casa.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A dura realidade das nossas cidades


A dura realidade das nossas cidades

Em estudo inédito, EXAME apresenta o que há de melhor e de pior nos serviços públicos dos maiores municípios brasileiros. São pistas do que precisamos fazer para, de fato, evoluir

Patrick Cruz
Germano Lüders/EXAME.com


A vida nas cidades, onde moram 84% dos brasileiros, retrata quanto o país melhorou nas últimas décadas - e, ao mesmo tempo, quanto ainda há por fazer. Nossas cidades nunca foram tão ricas e os brasileiros tão escolarizados como agora. Mas a violência está em picos históricos e nunca demoramos tanto para ir de casa para o trabalho. 



Se Curitiba tem taxa de analfabetismo equivalente à da Espanha, mais gente é assassinada em João Pessoa do que em El Salvador, o país com a segunda maior taxa de homicídios do mundo. 



A fim de entender para onde, afinal, caminham nossas cidades, a consultoria de gestão Macroplan esquadrinhou índices sobre saúde, educação, segurança, transporte e saneamento dos 100 maiores centros urbanos do país e cruzou os dados com indicadores econômicos e deadministração pública. A conclusão: pouco adianta evoluir em uma área se outras continuam a ir mal. 



Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife, é um exemplo. Lá, a renda média cresceu 24% de 2008 a 2011, um dos maiores avanços do país. Ainda assim, ficou entre as piores do estudo. Já a paulista Jundiaí não liderou nenhum indicador, mas foi a campeã. 



EXAME apresenta alguns dos bons e dos maus exemplos de nossas cidades. Eles nos dão pistas das escolhas que precisamos fazer para não apenas crescer, mas viver melhor.



1. SANEAMENTO: O ESGOTO QUE EXPLICA A DESIGUALDADE 

Há problemas na oferta de serviços públicos em todas as regiões do país. Congestionamentos não são exclusividade de São Paulo e Rio de Janeiro, assim como não há hospitais ruins apenas no Nordeste ou no Centro-Oeste. Mas algumas áreas da administração pública são, de fato, explícitas ao mostrar como ainda são grandes nossas diferenças de desenvolvimento regional - e o saneamento básico talvez seja o porta-voz mais loquaz das disparidades. 


Um dos dados avaliados pela Macroplan foi a adequação das instalações de água e esgoto das casas. Entre as 100 maiores cidades, as 34 mais bem colocadas nesse ranking estão nas regiões Sul e Sudeste. E mais: das 15 primeiras, 12 ficam em São Paulo, o estado mais rico do país.


Seria um alento se ao menos esse fosso de desigualdade estivesse regredindo na esteira do crescimento das cidades, mas não parece ser o caso. Ainda são poucos os municípios próximos de atingir as metas do Plano Nacional de Saneamento Básico



Lançado em 2011, ele estabelece metas para fornecimento de água, rede de esgoto e coleta de lixo. O primeiro balanço desse plano será feito em 2015. Até agora, só nove das 100 maiores cidades atingiram suas metas. Em rede de esgoto, o número é melhor (são 54 das 100). Mas, na coleta de lixo, apenas sete das 100 cidades já alcançaram seu alvo.



A paraense Ananindeua, na Grande Belém, é uma das cidades com o pior nível de saneamento no grupo das 100 maiores. Apenas 22,5% das casas têm fornecimento de água e esgoto considerado satisfatório. Em 2004, havia só 2 quilômetros de rede de esgoto na cidade. O número está, hoje, perto de 100 quilômetros, ainda irrisório para um município de 500 mil habitantes. E mais: pouco se sabe de fato sobre os dados locais do saneamento. "Se os dados não são divulgados, é porque a oferta de água e esgoto deve ser quase zero", diz Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, que monitora o saneamento no país. 



A sujeira descontrolada traz outros males consigo. Em 2011, Ananindeua gastou R$ 315 mil para cada 100 mil habitantes em internações por diarreia. Franca, em São Paulo, por sua vez, a mais bem avaliada em saneamento no estudo da Macroplan, teve gasto de R$ 8 mil.



2. EDUCAÇÃO: BOAS IDEIAS VALEM MAIS DO QUE DINHEIRO

É em educação que o grupo de 100 maiores cidades brasileiras se sai, na média, melhor que o restante do país. Das 100 maiores, 92 têm taxa de analfabetismo menor do que a média nacional, de 9,7%. Três em cada quatro municípios desse grupo já alcançaram analfabetismo inferior a 6,7%, meta acertada em 2000 entre o governo brasileiro e as Nações Unidas para 2015. 


Não há fórmula única entre os municípios que mais se destacaram em educação, mas eles têm pontos em comum. A participação dos pais no cotidiano da escola é um deles. Jundiaí, a sexta mais bem colocada na pesquisa, descobriu isso. A prefeitura criou um modelo em que as escolas acompanham de perto a participação dos pais na vida escolar de seus filhos. Esses relatórios são monitorados pela Secretaria Municipal de Educação, e não por simples capricho: escolas em que os pais são mais participativos tendem a ter alunos com notas mais altas. "É inegável o ganho de aprendizado quando os pais são mais presentes na vida escolar", diz Durval Orlato, secretário de Educação de Jundiaí. 



Há boas notícias até entre as cidades que estão nas piores colocações. A potiguar Mossoró (97ª no ranking) é um exemplo. Apesar de ainda apresentar uma das mais altas proporções de analfabetos (de 12,6%), reduziu a taxa em quase 7 pontos na última década. Além disso, segundo a Macroplan, destacou-se como um dos cinco municípios que mais elevaram sua nota no Ideb de 2007 a 2011. A ferramenta para isso? Investir nos professores. Mais de 60% dos docentes da rede municipal têm pós-graduação. Escolas e professores têm metas de alfabetização e de melhora das notas dos estudantes no Ideb. O prêmio para os mestres eficientes é o 14º salário. Na educação, mais importante do que dinheiro, como se vê, é saber o que fazer com ele.


3. SEGURANÇA: O QUE ERA CRIME VIROU EPIDEMIA 
violência é epidêmica em quase todas as 100 maiores cidades brasileiras. Do grupo de municípios avaliados no estudo da Macroplan, apenas oito - dos quais nenhum é capital - têm taxa anual de homicídios menor que dez para cada 100 mil habitantes. Essa é a taxa considerada tolerável pela Organização Mundial da Saúde. 


É verdade que 44 das 100 maiores cidades têm menos homicídios do que a média nacional, de 27 ao ano para cada conjunto de 100 mil pessoas, mas isso não chega a ser um alento: a taxa brasileira é similar à do conturbado Sudão, país que foi dividido em dois no ano passado após uma sangrenta guerra civil. 



Indicadores ruins de educação e desenvolvimento econômico são o ponto de contato entre os municípios que mais sofrem com o banditismo. Ananindeua, na região metropolitana de Belém, no Pará, é uma das cinco cidades com PIB per capita mais baixo no levantamento - e é lá onde mais morre gente assassinada entre as maiores cidades brasileiras. Seus 157 homicídios por 100 mil habitantes superam a taxa de Honduras, país onde, proporcionalmente, mais gente é assassinada no mundo.



Das dez cidades com maior taxa de homicídios, três são capitais. Maceió é a pior delas. São 110 assassinatos para cada 100 mil pessoas. Como em todos os principais municípios brasileiros, o aumento da criminalidade tem relação direta com o avanço dotráfico e do consumo de drogas, em particular o crack. Mais de 70% dos assassinatos da cidade têm alguma relação com o tráfico. 



Mas Maceió tem dois agravantes. O primeiro é o desemprego. A taxa de 12,3% de desempregados põe Maceió entre as dez cidades do estudo em que esse problema é mais acentuado - e a terceira entre as capitais, atrás de Salvador e Recife. O segundo agravante é de ordem política. Na última década, quando os índices de violência dispararam, a prefeitura de Maceió e o governo do estado permaneceram sempre sob o comando de grupos rivais da política alagoana. "Só agora estamos unificando áreas operacionais", diz o coronel Edmilson Cavalcante, secretário de Segurança Comunitária de Maceió. "Faltou entrosamento entre os dois lados." A pequenez política tem um preço - em vidas.


4. SAÚDE: CUIDAR DAS PESSOAS FAZ A DIFERENÇA
Mais do que a educação, a segurança ou o transporte, é a saúde o ponto mais frágil do serviço público brasileiro. Em uma pesquisa do instituto Ibope divulgada em julho, a saúde foi apontada pela população como o mais problemático de uma lista com 25 itens. A queixa das ruas fica explícita também no estudo da Macroplan. Das 100 cidades avaliadas, apenas 19 têm índice de mortalidade infantil menor que o considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde, de dez óbitos para cada mil nascidos vivos. Pior que isso: em nada menos que 26 dos municípios da amostra, a mortalidade infantil cresceu de 2008 a 2011.


São José do Rio Preto, distante 450 quilômetros de São Paulo, derrubou a mortalidade infantil nas últimas décadas. O índice atual, de 7,1 óbitos para cada mil nascidos vivos, é quase idêntico à média registrada nos Estados Unidos - e põe a cidade no topo do ranking entre as 100 maiores do país. O que São José do Rio Preto fez para chegar ao topo deveria ser óbvio para gestores da área da saúde. Mas, dado o deserto de iniciativas bem-sucedidas, soa como uma descoberta sem precedentes: lá, cuida-se das pessoas.


Gestantes que passam por alguma das 26 unidades de saúde da família do município entram automaticamente em um banco de dados. Essa lista passa a ser acompanhada pelas autoridades da saúde. Com informações como o endereço e o telefone das mulheres, os técnicos sabem quando será a próxima consulta da gestante. "Se ela demorar muito a retornar, os agentes vão buscá-la em casa para a consulta", diz Andréa Zoccal Mingoti, coordenadora da área de saúde da criança na prefeitura. Os exames periódicos - e a "caça" às mães que esquecem a data da visita ao médico - continuam até o sexto mês de vida do bebê. 



A essa iniciativa o município adicionou, em 2008, a criação de um banco de leite materno. A medida foi crucial: desde então, o índice de mortalidade infantil na cidade sempre ficou abaixo do nível recomendado pela OMS. Construir hospitais é importante - mas cuidar das pessoas é fundamental.



5. MOBILIDADE URBANA: PARA COMEÇAR, QUE TAL PLANEJAR?

Eis o paradoxo: como pode o Brasil ser hoje abonado como nunca foi, mas, ainda assim, sua população receber serviços públicos que, em muitos aspectos, só fazem piorar? Esse contrassenso da vida brasileira - e, particularmente, de nossas grandes cidades - talvez tenha no transporte público seu melhor resumo. Não por acaso, foi o aumento dos preços das passagens de ônibus o estopim das manifestações populares ocorridas país afora em junho. 


Com mais dinheiro no bolso, mais brasileiros hoje andam de carro. Em nada menos do que 87 das 100 maiores cidades do país o número de carros cresceu mais do que a frota de ônibus de 2009 a 2012. Com mais veículos nas ruas, o tempo de viagem de casa para o trabalho só cresce. Nas grandes cidades brasileiras, metade da população perde ao menos 1 hora por dia nos percursos de ida e volta de casa para o trabalho. E 17% das pessoas consomem 2 horas no vaivém. É o efeito colateral de um mal da gestão pública: a falta de planejamento. "No Brasil, a regra é o prefeito pautar a administração por obras", diz o economista Gustavo Morelli, coordenador do estudo da Macroplan. "Sem planejamento, a agenda do político tende à dispersão."



O caso mais bem-sucedido de planejamento do transporte público nas grandes cidades brasileiras é o de Curitiba. A capital paranaense foi a primeira do mundo a adotar os ônibus rápidos em linhas exclusivas, sistema conhecido pela sigla BRT. No estudo da Macroplan, a cidade foi a única a aparecer nas primeiras posições em todos os quesitos avaliados, como a relação habitantes por ônibus e o tempo de deslocamento casa-trabalho. Curitiba é ainda a campeã em ônibus acessíveis a cadeirantes: nove em cada dez coletivos curitibanos têm acesso especial.



Também no Paraná há outro destaque positivo. Foz do Iguaçu tem hoje o maior índice de ônibus por habitante do país: são 124 pessoas por veículo - pouco mais do que a metade da média nacional, de 235. Em 2010, Foz adotou em parte da frota o pagamento de passagens com cartão magnético. Além de tornar ágil o pagamento, o sistema permite formar um banco de dados. As informações recolhidas já levaram a prefeitura a criar novas linhas e implantar faixas exclusivas em duas das principais avenidas locais (o projeto está em andamento). Com o planejamento, o serviço pode melhorar ainda mais.


Brasil pedirá cálculo da responsabilidade de cada país sobre aumento da temperatura

Brasil pedirá cálculo da responsabilidade de cada país sobre aumento da temperatura



O Brasil irá pedir na 19ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-19) – que começa na próxima segunda-feira (11), em Varsóvia (Polônia) – a criação de uma metodologia para que cada país possa calcular sua responsabilidade histórica sobre o aumento da temperatura global.
"O Brasil está levando para Varsóvia algumas contribuições para as negociações. A primeira é para que o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] prepare de maneira bastante rápida uma metodologia simplificada para que cada país possa calcular sua responsabilidade histórica para o aumento da temperatura global”, disse hoje (4) o subchefe da divisão de Clima, Ozônio e Segurança Química do Ministério das Relações Exteriores, Felipe Rodrigues Gomes Ferreira. Ele falou em evento da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
De acordo com Ferreira, o cálculo sobre a responsabilidade histórica do aquecimento global é uma “questão chave” e é defendida pelo Brasil desde 1997, quando houve a negociação do Protocolo de Quioto. “O foco da real causa do problema, que não é a emissão de hoje, é o acúmulo das emissões da atmosfera desde o período pré-industrial. Essa é a questão chave. A causa é o acúmulo de gás carbônico na atmosfera e o efeito que ele tem na temperatura ao longo do tempo”, disse.
Relatório divulgado no final de setembro pelo IPCC mostra que a influência humana no clima é a principal causa do aquecimento global observado desde meados do século 20. O aumento das temperaturas é evidente e cada uma das últimas três décadas tem sido sucessivamente mais quente. Segundo o texto, há 95% de probabilidade de que mais da metade da elevação média da temperatura da Terra entre 1951 e 2010 tenham sido causadas pelo homem. Os gases de efeito estufa contribuíram para o aquecimento entre 0,5 e 1,3 grau Celsius (ºC) no período entre 1951 e 2010.
“[Não estamos propondo] uma fórmula geral e irrestrita, um cálculo feito pela convenção de quanto cada país tem de fazer [para diminuir suas emissões]. Nós estamos propondo que se elabore uma metodologia para que, da mesma maneira que cada país calcula seu PIB [Produto Interno Bruto,  que mede o total de bens e serviços produzidos no país], que cada país possa fazer a sua contabilidade nacional não só de emissões, mas também da responsabilidade histórica do país no aumento global de temperatura. É o que se espera de Varsóvia”, disse Ferreira.
Bruno Bocchini - Agência Brasil

Cógio Florestal em áreas urbanas tem proposta de regulamentação

Cógio Florestal em áreas urbanas tem proposta de regulamentação

Modificação no Código Florestal garante maior autonomia a municípios.

Em vigor há um ano e meio, o Código Florestal (Lei 12.651/12) poderá receber a primeira alteração. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou, nesta quarta-feira (6), parecer favorável ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 368/2012, da senadora Ana Amélia (PP-RS), que acrescenta dois parágrafos ao código para tratar das Áreas de Preservação Permanente (APPs) em espaços urbanos, permitindo que municípios determinem a largura das faixas das áreas marginais a cursos d’água. A fixação dessas áreas, segundo o projeto, deverá constar nos planos diretores dos municípios e em leis sobre uso e ocupação do solo, respeitados os planos de defesa civil, e após audiência dos Conselhos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente. A matéria será encaminhada agora para a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e, em decisão terminativa, à comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA). Ao justificar a proposta, Ana Amélia ressaltou que o Código Florestal prevê novas regras para proteger a vegetação nativa em APPs, tanto nas áreas rurais como nas urbanas. No entanto, segundo a senadora, em zonas urbanas, as peculiaridades dos municípios podem conflitar com a metragem das áreas hídricas, o que cria dificuldades para desenvolver as funções sociais das cidades e garantir o bem estar dos moradores. Em seu parecer pela aprovação da matéria, o relator, senador Armando Monteiro (PTB-PE), disse que a manutenção das áreas de preservação permanente (APPs) em regiões urbanas visa a manter as funções ecológicas, bem como prevenir desastres naturais, como enchentes e deslizamentos. Em sua opinião, pode haver conflito entre o crescimento urbano e a proteção ambiental nas cidades e ambos os aspectos devem ser observados. - É preciso conciliar exigências ambientais com funções sociais e econômicas das áreas. Cumpre ao poder publico municipal garantir bem estar de seus habitantes e também cabe ao município dispor sobre dimensões e dirimir conflitos - defendeu. O senador Pedro Taques (PDT-MT) votou contra a aprovação do relatório. Na opinião dele, ainda está cedo para mexer no Código, sancionado em maio passado.

Caverna na China possui clima próprio, com direito a nuvens

Caverna na China possui clima próprio, com direito a nuvens

Dentro da Cloud Ladder Hall, as nuvens pairam permanentemente porque a umidade entra e acaba aprisionada na câmara de pedra Marcus Vinícius Brasil, de 

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Robbie Shone
A caverna Cloud Ladder Hall, na China, é tão grande que abriga seu próprio clima
Cloud Ladder Hall, na China: caverna tem seis milhões de metros cúbicos e só perde em tamanho para a Sarawak Chamber, na Malásia
Na China, existe uma caverna tão grande que abriga o seu próprio clima, com direito a nuvens subterrâneas.
A Cloud Ladder Hall faz parte do gigantesco complexo Er Wang Dong. Ela tem seis milhões de metros cúbicos e só perde em tamanho para a Sarawak Chamber, na Malásia.
A foto acima foi registrada por Robbie Shone, explorador de cavernas que já penetrou nas grutas mais isoladas da Terra.
Dentro da Cloud Ladder Hall, as nuvens pairam permanentemente porque a umidade entra e acaba aprisionada na câmara de pedra.
Isso acontece por causa da estrutura assimétrica da caverna, que tem diversas conexões com o exterior em sua base, mas apenas uma saída no topo. As informações são da New Scientist.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

STF decide pela prisão imediata de réus do mensalão

STF decide pela prisão imediata de réus do mensalão

Pelo menos 12 réus não têm direito a embargos e deverão ser presos. Os demais também podem ser presos, mas somente nas penas que não terão novo julgamento

REDAÇÃO ÉPOCA
13/11/2013 22h00 - Atualizado em 13/11/2013 22h26
 
 
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Plenário do STF julga segundos embargos de declaração (Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF)
Em uma sessão longa, confusa e cheia de divergências, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a execução imediata das penas definitivas no processo do mensalão. A Corte considerou que nos casos em que não há qualquer possibilidade de novos recursos a Justiça já poderá começar a cumprir as punições impostas. Caberá ao juiz de Execução Penal do Distrito Federal executar as prisões. 
O STF ainda está fazendo levantamento dos reús que serão presos imediatamente. No entanto, já está certa a execução de nove réus com sentença transitada em julgado. São eles: o deputado federal Pedro Henry (PP-MT), os ex-deputados José Borba (ex-PMDB-PR), Romeu Queiroz (ex-PTB-MG), Bispo Rodrigues (ex-PL-RJ); o ex-presidente do PTB Roberto Jefferson, Simone Vasconcelos, ex-diretora das agências de Marcos Valério, Rogério Tolentino, ex-advogado das empresas de Valério; Vinícius Samarane, ex-diretor do Banco Rural; e Henrique Pizzolato, ex-diretor do BB.
Muitos dos réus do mensalão foram condenados por mais de um crime. Em algumas das condenações, a sentença já é definitiva. Em outras, cabe recurso. Pela decisão do STF desta quarta-feira (13), réus como o ex-ministro José Dirceu, que ainda têm direito a embargos infringentes, também podem ser presos. Alguns dos condenados poderão, então, começar a cumprir penas em regime semiaberto, mesmo sendo condenados a um total de penas que permitiria o regime fechado.  
Como ainda pairam dúvidas sobre o processo, o resultado final não foi proclamado e pode mudar na próxima sessão, na quinta-feira (14). Se o entendimento atual continuar, os primeiros réus podem ser presos já nesta quinta-feira ou, dependendo da hora de encerramento da sessão, na próxima segunda-feira. 

Telhado vivo em fábrica da Ford tem tamanho de 8 campos de futebol

Telhado vivo em fábrica da Ford tem tamanho de 8 campos de futebol




Dez anos após ser instalado, o telhado vivo que a Ford mantém em sua fábrica de Dearborn, Michigan, continua a florescer sobre o teto da linha de produção de caminhões da companhia. O maior telhado vivo da América do Norte, tornou-se um ecossistema do qual dependem uma grande variedade de vegetação, insetos e animais. Um verdadeiro jardim de 10,4 hectares. A estrutura também é uma alternativa de redução de custos com o sistema de aquecimento e resfriamento da planta fabril.
A parte viva e visível do jardim é uma porta de entrada para um sofisticado e eficiente sistema de coleta e tratamento da água da chuva. No total são 11 tipos de vegetação que vivem em uma mistura de areia, xisto, turfa e dolomita, que compõem o primeiro nível dessa estrutura. O segundo nível é responsável pela nutrição das plantas, formado por uma malha que mantém umidade apenas na quantidade suficiente para nutrir as raízes.
A terceira camada direciona a água não utilizada para nutrir o telhado vivo para calhas e canos de drenagem. Enquanto a quarta, e última, camada é uma membrana que protege o interior do prédio da umidade, da força das raízes e outros possíveis danos.
A água coletada desce por canos nas laterais do prédio e é armazenada em um grande tanque. Este local, cuja superfície é utilizada como estacionamento para os caminhões produzidos na fábrica, é coberta por um piso poroso sobre uma camada de cascalho, um forro de tecido e argila, que também recebem e filtram a água da chuva antes de ser depositada no mesmo reservatório daquela recebida do telhado vivo. Depois disso, toda essa água é devolvida aos rios e córregos limpa e cheia de oxigênio.
Confira o infográfico que mostra como funciona o sistema: