sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Confira cinco ideias para reinventar cidades e pessoas

Confira cinco ideias para reinventar cidades e pessoas


Por Vanessa Barbosa, da revista Exame
“Essa cidade não tem jeito”. Se você mora em São Paulo ou em outro lugar com problemas comuns aos grandes centros urbanos já deve ter ouvido a frase em destaque, sempre proferida em tom de reprovação ou derrotista. Não precisar ser assim. Pensadores e inovadores reunidos no TEDx Jardins City 2.0 Cidades Sustentáveis, na sexta-feira passada, em São Paulo, compartilharam ideias de soluções sustentáveis e ações colaborativas para mudar o futuro das cidades.
Como você enxerga sua cidade?
Como é possível mudar uma cidade, se seus habitantes só enxergam o que há de pior no lugar? Resgatar a autoestima das pessoas é o primeiro passo. E um caminho que cura. Âncora do programa CBN São Paulo, onde divulga iniciativas de melhorias para a cidade, a jornalista Fabíola Cidral aprendeu o valor desse pensamento quando fazia trabalho voluntário no Japão, em meio à destruição causada pelo terremoto e o tsunami de março de 2011.
Em Tóquio conheceu a senhora Tomoko, de 67 anos, dona de um semblante risonho. Curiosa, perguntou o segredo da disposição. “As pessoas não podem ficar tristes com a destruição, elas precisam mostrar na face a alegria de se reerguer”, respondeu a idosa. "É disso que cidades como São Paulo precisam", diz Fabíola, “da alegria das pessoas. É a força de transformar das pessoas que pode gerar mudanças".
Uma obra de arte coletiva em aberto
Como vamos ocupar o espaço público? Como vamos mantê-lo e como vamos usá-lo? Como “vamos” construir? As perguntas de Alexandre Delijaicov são sempre na primeira pessoa do plural. O professor da FAL-USP afirma que as “cidades são como obras de artes coletivas”. Mas uma obra que vive saques sucessivos ao seus espaços públicos.
“Os rios viraram canais de esgoto a céu aberto, emparedados por rodovias urbanas intransponíveis, pior que o muro de Berlim. Estamos abduzidos numa cidade de consumo inclemente, todo mundo hipnotizado”, diz. Sempre é tempo de recomeçar e fazer melhor.
Ele defende a criação do que chama de esquinas culturais, áreas de encontro, convivência e confiança. Não são guetos, mas áreas onde as diferenças convivem. “Nós precisamos transformar a condição humana para reverter o urbanismo “rodoviarista”, diz.
O que minha cidade tem de singular?
Conexão, inovação e cultura. Eis um tripé capaz de gerar transformação. É a fórmula básica das chamadas cidades criativas, que têm a arte e a cultura como propulsoras de transformação urbana e social. “A cidade não é criativa, quem é criativo são os cidadãos”, afirma a economista e doutora em urbanismo Ana Carla Fonseca, mais conhecida como Cainha.
Diretora da Garimpo De Soluções, empresa pioneira em economia criativa e cidades criativas, ela destaca como a criatividade tem transformado problemas em soluções, começando pela inovação, que é a “capacidade de se reinventar”. Como uma antiga cadeia na Holanda que vira um hotel de luxo, ou como uma igreja abandonada no México que vira um teatro de marionete. Outro elemento é a cultura, “como a que vem sendo fortemente resgatada no Peru, com a valorização da gastronomia local e sua vocação”.
A conexão é outro dos pés. “Temos que resgatar bairros perdidos das cidades e religá-los”, sublinha, destacando que uma das coisas mais comuns de Londres é o passeio turístico London Walks (que conta a história da cidade, além de detalhes macabros, como os crimes cometidos por Jack, o Estripador). “Na Igreja de Santa Efigênia, em São Paulo tem marca de bala da Revolução de 1924. E não se conta essa história. As cidades precisam contar suas histórias”.
O carro do futuro será compartilhado
A cena se repete no trânsito de São Paulo, Recife, Paraná, onde quer que seja: o que se vê no carro, que anda-e-para-anda-e-para, é uma pessoa dirigindo e o vazio dos bancos restantes – ao menos, na maior parte do tempo. Este é um dos sinais da síndrome do “carrocentrismo”, como define o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Ricardo Abramovay.
Adepto da bicicleta, ele diz que o carro influencia a forma como cidades são construídas. “Cerca de 25% de área privativa dos apartamentos é tomada pela garagem”, destaca. Hoje, segundo o professor, o carro é um bem cujo uso é contrário àquilo ao qual ele se destina, já que não oferece mais mobilidade.
“Nós tivemos uma evolução técnica impressionante, mas pra quê?”, questiona. Abramovay é entusiasta de uma tendência que, pouco a pouco, vem crescendo no mundo, o compartilhamento de carros. “Precisamos estimular o uso compartilhado do veículo”.
Acupuntura urbana
Você se sente plenamente adaptado à cidade onde vive? Se a reposta for sim, algo pode estar errado com você. Agora se insônias e ansiedade fazem parte do seu dia a dia, é sinal de que algo saudável quer se manifestar. Soa estranho esse pensamento? Não para o psicólogo e acupunturista Maurício Piragino.
“Nossas cidades são loucas. E podem ser muito desumanas”, afirma. “Se você viver 65 anos, você vai ter passado quase 7 anos parado no trânsito de São Paulo. É mais tempo do que tiramos de férias durante a vida toda de trabalhador”.
O remédio para resolver isso, diz Piragino é a participação, através, por exemplo dos conselhos participativos das subprefeituras. “Quando eu espeto uma agulha em alguém, eu crio um equilíbrio. Na vida em sociedade, a participação em comum tem o poder de transformar”, compara.

Jesus não existiu, afirma historiador

Jesus não existiu, afirma historiador


Para o pesquisador americano Joseph Atwill, Cristo é uma fabricação dos romanos para controlar as massas

Terra
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Às vésperas de sua palestra “Covert Messiah” em Londres neste sábado, o pesquisador americano Joseph Atwill foi muito além de suas recentes afirmações de que a figura de Jesus Cristo é uma completa fabricação da aristocracia romana. Em entrevista exclusiva ao Terra, Atwill, 64 anos, disse que o cristianismo foi inventado durante o Império Romano para controlar as massas e, até hoje, só causou danos à sociedade.
"Acho que o cristianismo tem sido uma catástrofe. Se você olhar na história, ele criou a Idade das Trevas, as Cruzadas foram uma desgraça absoluta e a Inquisição também foi uma abominação moral. Se você observar o século 20, as nações cristãs massacraram umas às outras, com mais de 120 milhões de pessoas morrendo em guerras. Acredito que as pessoas não deveriam ter medo de um mundo sem cristianismo fazendo o papel de uma força moral maior, porque observando eventos anteriores, o cristianismo não foi bem sucedido no passado", disse.
Apesar de tocar em um assunto polêmico como religião, Joseph Atwill ainda revelou que não se intimida com as críticas ao seu trabalho. "O que fiz foi colocar dois livros, A Guerra Judaica, de Flávio Josefo, escrito no século I, e o Novo Testamento, lado a lado e tracei paralelos entre eles. Essa análise pode ser feita por qualquer pessoa com senso comum. As evidências falam por si só. Ao comparar os textos, cada indivíduo pode tirar suas próprias conclusões", acrescentou Joseph, que explica essa série de coincidências em seu livro Caesar’s Messiah (O Messias de César, em tradução livre).
Praticante de budismo, Joseph Atwill acrescentou que não acredita nem desacredita em Deus e que seu intuito é fazer com que as pessoas tenham suas experiências baseadas na verdade.
“Não sou ateu. Eu simplesmente estou tentando encontrar a verdade. Estou aberto à questão de Deus e procurando uma resposta. Uma das razões pelas quais quero saber a verdade sobre o Novo Testamento é o fato de que é uma pergunta que tenho curiosidade para saber a resposta, assim como todo mundo. Não tenho boas respostas, não sou um líder espiritual, só tento meu melhor”.
Confira a entrevista com o pesquisador americano na íntegra:

Terra - Quais serão os pontos altos de sua conferência Covert Messiah neste sábado, 19, em Londres?
Joseph Atwill - Um dos tópicos mais importantes será uma apresentação da Confissão Romana, mostrando que os romanos inventaram o cristianismo. Acho que é algo que as pessoas vão considerar de grande interesse, além de outra apresentação sobre uma nova maneira de pensar o cristianismo como uma ferramenta de controle da mente usada para escravizar as pessoas. Acho importante a ideia de que todos os cidadãos tenham consciência disso. Esses serão os dois pontos que provavelmente vão causar mais impacto durante o simpósio.

Terra - Quais novas evidências você vai apresentar ao público para revelar que Jesus Cristo é uma completa invenção do império romano?
Joseph Atwill - Em um ambiente como esse, no qual você tem a oportunidade de passar tempo analisando a relação entre o livro do qual a história de Jesus foi originada, que foi a história de uma guerra ocorrida entre 66 e 73 d.C, e o Novo Testamento, posso mostrar em grande detalhe a relação entre os dois textos. Eu apresento evidência de alta qualidade, mas não é necessariamente a minha opinião. Posso essencialmente mostrar os dois textos antigos e todo mundo que tem senso comum pode simplesmente olhar estes eventos lado a lado e ver claramente que um é dependente do outro. O ministério de Jesus foi criado da história da guerra de um Cesar romano.

Terra - Quais documentos você usou como base para seus estudos? 
Joseph Atwill - O Novo Testamento e A Guerra Judaica, de Flávio Josefo, escrito no século I. A sequência de eventos e locais do ministério de Jesus são praticamente as mesmas da sequência de eventos e locais da campanha militar do imperador romano Tito Flávio, descrito por Josefo em seu manuscrito do século I. 

A partir destas coincidências pude notar que se inicia um padrão. É como se fosse um triângulo de pontos e todos os diferentes paralelos entre Jesus e Tito são pontos deste triângulo. Porém, você não verá o triângulo se não se afastar e observá-lo de fora para notar as conexões entre eles.
Acredito que a religião é inventada pelos tiranos e classes dominantes que a usam como uma ferramenta de controle da mente. É muito claro para mim que os romanos criaram o cristianismo como uma religião de Estado, uma estrutura de autoridade do topo para baixo

Terra - O que você acha que fará as pessoas acreditarem em sua teoria? 
Joseph Atwill - A evidência essencialmente fala por si só. As pessoas simplesmente precisam de tempo para olhar os dois trabalhos lado a lado e em sequência. Isso é algo que ninguém fez até hoje, até mesmo os estudiosos cristãos que estudaram o Evangelho tão de perto. Eles não fizeram algo tão simples e, a partir do momento que fizerem, a evidência falará por si só e as pessoas poderão tirar suas próprias conclusões. Quero deixar claro que não uso meu ponto de vista ou dou qualquer opinião pessoal sobre essas relações. Eu apenas tento explicar como descrevê-las, mas deixo o texto intacto. Usei a versão da Bíblia do rei James e uma tradução muito comum do livro A Guerra Judaica, assim as pessoas podem ler sozinhas e fazer sua cabeça. Eles não precisam de estudiosos, de padres ou de mim. Todos podem simplesmente tirar suas próprias conclusões.

Terra - Como você acha que a Igreja Católica irá reagir às suas novas alegações?
Joseph Atwill - Não acho que eles não vão concordar com elas. Será muito interessante de ver, porque a evidência é tão simples e seria útil se a Igreja colocasse o assunto em pauta com um de seus estudiosos para discutí-lo em público. Me preocupo que informações como essas possam ter um impacto negativo em algumas pessoas. A Igreja pode ter um papel útil neste caso. Se eles discordarem, não há problemas, eles simplesmente podem levar sua explicação e apresentar ao público. Já aqueles que acreditam quando lerem minha análise de que Jesus Cristo foi criado baseado em outras pessoas eles terão sua própria opinião. Sendo assim, teremos duas opiniões diferentes e veremos como as coisas se desenrolarão em longo prazo.

Terra - Por quais razões você acredita que a sociedade cria falsos deuses e fatos na história?
Joseph Atwill - Acredito que a religião é inventada pelos tiranos e classes dominantes que a usam como uma ferramenta de controle da mente. É muito claro para mim que os romanos criaram o cristianismo como uma religião de Estado, uma estrutura de autoridade do topo para baixo. Os escravos não poderiam se rebelar contra o sistema porque eles acreditavam que Deus era representativo pela figura do Pontifex Maximus, o papa estava no topo. Porém, nos tempos antigos, os escravos se rebelavam porque eles sabiam que era Cesar quem estava no poder. Essa é a razão pela qual Cesar sempre tentou se tornar um deus vivo. A cultura do império existiu por centenas de anos e sempre tentou dar a impressão de que Cesar era deus. Isso aconteceu porque eles sabiam que as pessoas não se rebelariam contra deus. No final, eles não conseguiram fazer as pessoas acreditarem que Cesar era deus e esta é a razão pela qual os romanos decidiram inventar o cristianismo.

Terra - Por que você acha que os romanos criariam uma figura como Jesus Cristo? Qual seria a intenção deles para fazer isso?
Joseph Atwill - Por duas razões. Eles criaram uma religião para controlar o povo, dizer às pessoas para obedecer e pagar impostos. O outro motivo é que eles também estavam lutando contra um violento movimento messiânico na Judeia que queria derrubar a ocupação romana. O império romano era uma prisão de nações, uma mistura de religiões, reinos e etnias que eles conquistaram. Eles não poderiam permitir que um único grupo se rebelasse porque isso desencadearia outra série de rebeliões. Os judeus, porque eles se recusaram a venerar Cesar, foram capazes de se rebelar com sucesso e conseguiram estabelecer uma nação de Estado por três anos. Foi esse o motivo pelo qual os romanos trabalharam duro para tentar substituir aquela religião por outra na qual o messias diria: obedeça a Cesar e pague seus impostos.

Terra - Que tipo de dano você acredita que o cristianismo causou à sociedade?
Joseph Atwill - Acho que o cristianismo tem sido uma catástrofe. Se você olhar na história, ele criou a Idade das Trevas, as Cruzadas foi uma desgraça absoluta e a Inquisição também foi uma abominação moral. Se você observar o século 20, as nações cristãs massacraram umas às outras, com mais de 120 milhões de pessoas morrendo em guerras. Acredito que as pessoas não deveriam ter medo de um mundo sem cristianismo fazendo o papel de uma força moral maior, porque observando eventos anteriores, o cristianismo não foi bem sucedido no passado.

Terra - Você pratica alguma religião ou é ateu? 
Joseph Atwill - Não sou ateu. Eu simplesmente estou tentando encontrar a verdade. Estou aberto à questão de Deus e procurando uma resposta. Uma das razões pelas quais quero saber a verdade sobre o Novo Testamento é o fato de que é uma pergunta que tenho curiosidade para saber a resposta, assim como todo mundo. Não tenho boas respostas, não sou um líder espiritual, só tento meu melhor.

Terra - Você pratica alguma religião? 
Joseph Atwill - Pratico o budismo, que não é realmente uma religião, é apenas uma técnica para tentar desenvolver seu próprio espírito.

Terra - Você acredita em Deus?
Joseph Atwill - Não acredito, nem desacredito. Sempre que tento descobrir percebo que não sou esperto o suficiente para responder essa pergunta. Entretanto, quando eu descobrir, prometo que te aviso (risos).

Terra - O que acha do papel da Igreja Católica nos dias de hoje? 
Joseph Atwill - É uma organização tão imensa. Não tenho uma opinião sobre isso. Acredito que algumas coisas são boas, outras ruins. Acima de tudo acho que é melhor se desenvolvermos nossa prática sobre a verdade.

Terra - O proefessor James Crossley, da Universidade de Sheffield, disse que o tipo de pesquisa que você está desenvolvendo não faz parte da comunidade acadêmica. Você concorda com ele?
Joseph Atwill - Não. Não posso concordar com alguém que não leu meu livro. Estou aberto a qualquer crítica ao livro que ele possa ter, mas a opinião dele não é mais importante do que qualquer outra sobre algo que ele não leu.

Terra - Você já foi ameaçado por promover uma pesquisa que basicamente arruinaria todo um sistema religioso vigente?
Joseph Atwill - É engraçado. O livro foi publicado há mais de dez anos e desde então sempre tive contato com milhares de estudiosos e cristãos. E todas as pessoas são curiosas, por mais que não concordem comigo e tenham uma conclusão diferente. Eles acham que as conexões e a maneira como enxergo o Novo Testamento no livro são muito interessantes. Nunca fui ameaçado e não ficaria surpreso se nunca receber uma ameaça porque a única que coisa que fiz foi colocar dois livros lado a lado e notar uma padrão entre eles.

Terra - Você eventualmente gostaria de ir ao Brasil para discutir seu trabalho?
Joseph Atwill - Amaria ir ao Brasil. Já morei no Brasil nos anos 70 e sempre sonhei em voltar lá. Adoraria ter uma oportunidade de mostrar meu trabalho se tivesse um grupo que a informação seria valiosa para eles. Com certeza, se algum dia tiver uma boa oportunidade, irei ao Brasil.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Brasil usa tecnologia da Noruega em projetos de gerenciamento costeiro

Brasil usa tecnologia da Noruega em projetos de gerenciamento costeiro

    Martim Garcia/MMASchive (E), Maranhão e Coimbra: experiência vem do Mar do NorteSchive (E), Maranhão e Coimbra: experiência vem do Mar do Norte
    Dois países já desenvolvem ações conjuntas na Amazônia e na redução da emissão de gases

    LUCAS TOLENTINO

    O litoral do país ganhou um aliado no desenvolvimento de medidas de proteção. Os governos do Brasil e da Noruega trabalharão juntos para desenvolver ações de gerenciamento costeiro em território nacional. As experiências e políticas realizadas por ambos estão sendo discutidas entre esta terça (15) e quarta-feira (16/10), em Brasília, por representantes das duas nações no Workshop sobre Gestão Marinha Integrada.

    A medida representa o fortalecimento da cooperação internacional entre os governos dos dois países. Ambos trabalham juntos há dois anos, com foco no combate ao desmatamento da Floresta Amazônica e em ações de redução das emissões de gás carbônico na atmosfera. O objetivo é estender os esforços para o estabelecimento de políticas em outras áreas de relevância ambiental.

    INTERESSES COMUNS

    A experiência norueguesa no Mar do Norte, situado entre o país e a Dinamarca, servirá para complementar as políticas já em curso criadas pelo governo federal para a costa brasileira. "É o início de um trabalho para percorrer temas de interesses comuns", declarou o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ney Maranhão. 

    O planejamento da ocupação territorial, o monitoramento de espécies marinhas e a documentação de origem do pescado estão entre os pontos que serão trabalhados. "Os assuntos do mar têm grande prioridade para os ministérios do Meio Ambiente dos dois países", destacou o assessor internacional do MMA, ministro Fernando Coimbra. "Essa é uma área extremamente dinâmica que vem avançando como deve."

    A intenção da Noruega é estreitar os laços com o Brasil na área ambiental. O diretor-adjunto do Ministério do Meio Ambiente norueguês, Per Schive, afirmou que ambos têm experiências significativas para trocar. "Temos muito que aprender um com o outro", ressaltou. "A cooperação começou, há dois anos, com outro foco e, agora, vamos nos aprofundar nas questões marinhas. O intuito é expandir o trabalho para outros campos."

    Banco Mundial: pobres sofrerão mais com mudança do clima

    Banco Mundial: pobres sofrerão mais com mudança do climaJosé Eduardo Mendonça - 


    Relatório aponta África e Ásia como mais atingidos
    O Banco Mundial, muito criticado por seus investimentos em usinas a carvão – postura que, afirma, anda abandonando – está começando a comprometer bilhões de dólares em prevenção de enchentes, gerenciamento de água e outros projetos, na tentativa de ajudar grandes cidades asiáticas a evitar o impacto esperado da mudança do clima. Este é mais um exemplo de como se tornou curto o horizonte para o alívio dos efeitos do aquecimento global.
    Lugares como Bangkok, Jacarta e Ho Chi Minh são agora considerados “hot spots” e sofrerão muito com a elevação do nível do mar e a violência maior de tempestades tropicais.
    Funcionários do banco disseram esta semana que os efeitos não são mais considerados um risco distante, mas quase uma certeza “em nosso período de planejamento” nos próximos 20 anos.
    Em estudo divulgado hoje, a instituição projetou que grandes partes de Bangkok serão inundadas em 2030. Um sistema de controle de enchentes construído em Ho Chi Minh há apenas uma década não é mais considerado adequado e precisa de uma reforma de U$ 2 bilhões, disse Rachel Kyte, sua vice-presidente para o ambiente e desenvolvimento sustentável. O sistema “foi feito para um cenário que não existe mais,” afirmou ela.
    Cientistas em todo mundo concordam que o aquecimento global deve ficar contido em 2Cº até o final do século para que se evite consequências catastróficas. Há estudos mostrando ser possível se chegar ao dobro disso. Mas o Banco Mundial resolveu se ater à perspectiva mais sóbria em seu estudo.
    O impacto é substancial, e recai com mais peso sobre nações menos desenvolvidas, como as da África Subsaariana, assim como sobre partes da Ásia mais sujeitas a enchentes e tempestades tropicais.
    Ruim para os milhões que vivem abaixo da linha de pobreza, e para aqueles que serão forçados de volta a ela, porque a mudança do clima está solapando o desenvolvimento econômico em países mais pobres, alerta o documento, segundo o Euractiv.
    A escassez de alimentos estará entre as primeiras consequências em duas décadas, além de danos a cidades e a intensificação de processos migratórios, causas potenciais de conflitos.
    Foto: Håkan Tropp/SIWI/Divulgação

    Livro: Saga Brasileira

    Livro: Saga Brasileira



    Livro: Saga Brasileira

    Autora: Miriam Leitão
    Editora: Record
    Páginas: 476
    Preço médio: R$ 29,90
    Livro 100% nacional!

    A longa luta de um povo por sua moeda
    Muitos dizem o que brasileiro tem “memória curta” e que pouco aprende com seus erros, voltando a cometê-los em pouco tempo. Se hoje temos uma moeda estável, com inflação sob controle (baseado em um sistema de metas), e que representa parte da grande transformação econômica vivida na última década, muito se deve ao fato de termos passado momentos difíceis e angustiantes ao lado de muitos planos e tentativas de estabilização monetária.
    Erramos muito e, contradizendo o ditado, aprendemos e mudamos. Miriam Leitão, jornalista premiada e referência na área, aborda essa “travessia” brasileira rumo ao Real e à construção de uma economia confiável. Seu livro “Saga Brasileira” narra em detalhes as agruras vividas pelos brasileiros diante de planos econômicos fracassados, políticos despreparados e ideias mirabolantes (e falhas). O livro mostra como a batalha pela cidadania e soberania terminou com o país vencendo a inflação.
    Muitos de nossos leitores são jovens e não viveram o período de inflação, razão pela qual decidi escrever essa resenha. Para se ter uma ideia do que era a inflação por aqui há algumas décadas, cabe citar o cálculo realizado pelo professor Salomão Quadros, da FGV (e citado no livro). De julho de 1964 a julho de 1994, data do Plano Real, a inflação acumulada, medida pelo IGP-DI, foi de 1.302.442.989.947.180,00%. Isso mesmo, 1 quatrilhão e 302 trilhões por cento. Parece piada? Não foi!Um século de inflação
    O alerta inicial de “Saga Brasileira” é direto: nossos primeiros 100 anos de República, comemorados em 1989, foram marcados por inflação elevada (e vários períodos de hiperinflação). Lembrando Visconde de Taunay e sua obra “O Encilhamento”, Miriam destaca o que antes não se via: “Nesses 100 anos de encilhamento à hiperinflação o país aprendeu, dolorosamente, a lição de que a ordem monetária é a única base do progresso duradouro”.
    Nossa democracia é bastante jovem, assim como é a estabilização da moeda. Ler“Saga Brasileira”, no entanto, parece nos remeter a um país completamente diferente, antigo e despreparado. Nossa constituição tem pouco mais de 20 anos, o Plano Real nem isso. A verdade é que o país se transformou, mas o fez também porque sofreu com inúmeros planos econômicos e seus desdobramentos (que serviram de aprendizado, assim me parece).
    Muitos planos, muitos problemas, mas muito aprendizado
    O Plano Cruzado surgiu com Sarney em 1989 e, com o congelamento de preços, ele logo se tornou uma esperança. Os juros quase em zero fizeram o consumo estourar e muita gente então passou a satisfazer seus desejos represados de consumo. Quem mexesse nos preços sofria a intervenção dos famosos “fiscais do Sarney”. Funcionou por um tempo, mas logo o desabastecimento e o ágio passaram a fazer parte da vida dos brasileiros.
    Então surgiu o Cruzado II, um plano cujo mote era aumentar os preços de serviços públicos, mas ao mesmo tempo descongelar os preços e deixá-los a cargo dos empresários. A ideia era enganar mesmo, mantendo um índice de preços arbitrário que não captasse os aumentos de preços reais. A mágica não funcionou!
    “Qualquer moeda estável exige fundamentos fiscais mais sólidos. Seria necessário, nos anos seguintes, pôr ordem nas contas públicas, abrir a economia, desmontar oligopólios públicos e privados, incentivar a competição, modernizar a estrutura produtiva, mudar o Brasil. A grande lição de 1986 foi que a moeda estável não se conseguiria por mágica”
    Em 1987, foi a vez do Plano Bresser, que surgiu depois de anunciado o calote na dívida externa brasileira. A credibilidade do país perante os agentes externos era ridícula – e só viria a ser recuperada anos depois. O Plano Bresser durou pouco e fracassou, entre outras coisas, simplesmente porque os empresários se anteciparam a um novo congelamento. O resultado foi a remarcação preventiva e a prática de esconder produtos com preços que poderiam subir.
    Em janeiro de 1989 apareceram o Plano Verão e a moeda Cruzado Novo. O verão nem bem terminou e o plano foi considerado um fracasso. Naquele ano, a inflação batia 40% ao mês, chegando a 55% no último mês do ano. O período merece um destaque especial no livro “Saga Brasileira”:
    “Dar calote era um grande negócio. Vários pequenos e médios empresários deixavam títulos irem a protesto. Assim ganhavam tempo. Nunca, como naquela época, tempo foi igual a dinheiro. Quando quitavam a dívida no cartório, semanas depois, podiam pagar sem correção monetária. Um excelente negócio para quem devia”
    O ano de 1989 terminou com uma inflação de 1.782%. O alho subiu 3.471%; O azeite, 3.400%. Em 1990 viria Collor, tão conhecido por permitir a abertura econômica do país (renegociação da dívida externa e início de privatizações), mas também como sendo o “caçador da poupança”. Seu plano congelou as aplicações de muitos brasileiros e colocou diante da nação uma equipe econômica fraca e despreparada.
    “Apesar de a economia ter ficado em estado de coma com o ippon dado por aquele plano amalucado, apesar do imediato colapso do consumo, a inflação sobreviveu ao golpe, provando que a economia é terreno de intervenções elegantes e não de grosserias como aquela. Naquele 1990, o país teve a pior recessão da sua história”
    Mudanças estruturais entraram em pauta
    Todos os planos entremearam mudanças mais profundas, que foram realizadas pouco a pouco. A profissionalização da gestão monetária foi um dos passos, com a instituição do Banco Central (função antes a cargo do Banco do Brasil). O aspecto administrativo também passou por mudanças, contando a criação de um orçamento unificado e um sistema bancário mais inteligente (sem a conta-movimento).
    A abertura econômica, e a consequente concorrência dos produtos brasileiros com os importados, também teve papel fundamental na modernização de nossas bases econômicas. Vivemos por muito tempo com incentivos sem contrapartida, ou seja, dinheiro público muito fácil e sem exigências de qualidade e retorno ao cidadão. Neste sentido, o Plano Collor foi um divisor de águas. Miriam aborda profundamente a questão em “Saga Brasileira”:
    “Pela falta de competição de importados, os produtores locais sabiam que podiam combinar preços e baixar qualidade. O consumidor nada podia contra esses efeitos da economia. A inflação crônica tinha várias raízes, mas uma, sem dúvida, era o fechamento da economia à competição externa”
    Sobre a privatização, Miriam também é enfática:
    “O Brasil começou naquele tempo a desmontar um Estado que se agigantou em áreas onde o melhor é ter o setor privado com boa regulação e boa defesa da concorrência. O desmonte foi mostrando o quanto as estatais eram onerosas, cabides para os políticos, e como a descuidada administração produziu déficits, pagos por todos os brasileiros”
    O Plano Real
    Depois da forçada saída de Collor do poder, Itamar Franco assumiu o país e, por indicação de Roberto Freire, trouxe Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda – até então ele ocupava a pasta de Relações Exteriores. FHC fora o quarto ministro de Itamar para a Fazenda e aquele que deu os primeiros passos rumo ao Plano Real. A inflação em 1993 fora de mais de 1000% ao ano e era hora de fazer alguma coisa.
    Fernando Henrique, então Ministro da Fazenda, assustou-se com a falta de informações e controle econômico do governo. Montou uma equipe multidisciplinar e passou a elaborar o que viria a ser o Plano Real. Participavam das reuniões e definições profissionais como Pedro Malan, Edmar Bacha, Persio Arida, Gustavo Franco, André Lara Resende e Clóvis Carvalho, entre outros.
    O sucesso do plano dependia, em grande parte, da atuação do governo diante da população. A adoção da Unidade Real de Valor (URV) como padrão monetário facilitou a transição, que começou em fevereiro de 1994. Em março, FHC lançou-se candidato à Presidência da República. O Plano Real foi oficialmente lançado em 1º de julho de 1994.
    “As estatísticas do IBGE registram o tamanho da saga brasileira: nos 15 anos anteriores ao Plano Real (jan/1980 a dez/1994), a inflação acumulada foi de 13.342.346.717.617,70%, em resumo, 13 trilhões e 342 bilhões por cento. Nos 15 anos posteriores ao Real (jan/1995 a dez/2009), a inflação acumulada foi de 196,87%”
    Turbulências de um país que rumava para a estabilidade econômica
    Os anos que se seguiram à adoção do Plano Real mostraram-se desafiadores. O controle da inflação exigiu correções de rumo importantes, mas que mexeram com diversos aspectos da nossa economia. Os bancos sofreram com problemas de falta de transparência e gestão (muitos “viviam” da inflação) e viveram anos complicados. Três dos dez maiores bancos brasileiros quebraram (ao todo, 30 bancos sumiram). Outros foram reestruturados, capitalizados e vendidos.
    Dos 300 bancos, 100 sofreram algum tipo de intervenção do Proer. A crise bancária gerou aprendizado e deu origem ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma entidade privada, administrada pelos bancos, e capitalizada com uma fração dos depósitos bancários. A entidade hoje garante até R$ 70 mil por CPF em caso de quebras bancárias.
    O ano de 1996 foi marcado por voltar a ter uma inflação de apenas um dígito, fato não ocorrido em quarenta anos. Desde então surgiram problemas com o câmbio, que era alvo de desavenças no governo. Alguns defendiam a livre flutuação da moeda, enquanto outros eram contra. O câmbio fixo havia contribuído para segurar a inflação, mas o calote russo em 1998 e o clima político do início do segundo mandato de FHC aceleraram o funcionamento do câmbio flutuante.
    Armínio Fraga assumiu o Banco Central e enfrentou a crise de 1999 liberando o câmbio, criando o sistema de metas de inflação e propondo um ajuste fiscal inteligente. Fraga recuperou a credibilidade brasileira no exterior e colocou em prática a tão sonhada autonomia do Banco Central.
    Lula lá!
    As Eleições de 2002 foram marcadas pelo temor do mercado. Como diz Miriam em“Saga Brasileira”, era preciso que “a moeda sobrevivesse à transição política”. Apesar de membros do PT apelidarem o Plano Real de “plano eleitoreiro”, Lula decidiu focar seus esforços em manter a política econômica e melhorá-la. As mudanças recentes mostram que o caminho da economia estável precisa ser mantido e defendido.
    Avaliação final
    O livro “Saga Brasileira” é um livro muito gostoso de ler. Aprender mais sobre nosso país é dever de cada cidadão, especialmente sobre tudo aquilo que vivemos e passamos para finalmente conquistar melhoras e poder usufruí-las. O Brasil de hoje é muito diferente daquele que originou o Plano Real. É ainda mais diferente daquele que deu os primeiros passos rumo à democracia. Aprendemos muito, mas ainda há muito que fazer. Sobre o livro, opino:
    Linguagem e narrativa: 9
    • Exemplos práticos: 9,5
    • Temas abordados: 9,5
    • Preço: 8
    • Custo/Benefício: 9
    Você deve ter ficado bastante curioso com a breve história comentada nesta resenha. Pois saiba que “Saga Brasileira” reserva detalhes ainda mais especiais sobre nossa caminhada rumo à estabilização da moeda. Miriam Leitão é uma especialista em jornalismo cidadão e aborda com inteligência e muitos exemplos cada etapa dessa travessia. O quanto sofremos está bem detalhado no livro; mas o quanto aprendemos e mudamos também. Leitura recomendada especialmente para os mais jovens!

    Mônica Nador: paulistana nota dez

    Mônica Nador: paulistana nota dez

    A artista, que se define como especialista em reciclagem estética de favelas, criou a ONG Jardim Miram Arte Clube, em que capacita moradores da periferia da Zona Sul de São Paulo para revitalizar o bairro por meio da pintura

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    Ricky Hiraoka  Veja SP - 

    Lucas Lima

    Na última década, várias ruas do Jardim Miriam, na periferia da Zona Sul, ganharam novas cores que alegram a vida dos seus residentes e chamam a atenção de quem passa por ali. Ao longo desse tempo, cerca de 500 residências tiveram a fachada, as paredes ou os muros decorados com uma técnica especial em que desenhos em cartolina são transpostos para o acetato (uma espécie de plástico flexível), colados com verniz e aplicados na superfície, para depois então receberem a pintura


    As imagens incluem figuras abstratas, plantas, bichos, instrumentos musicais e até carros. Quase metade dos imóveis, antes de passar por essa intervenção, precisou ser reformada, com aplicação de reboco. 



    Os artistas responsáveis pelo trabalho? Os próprios moradores, aglutinados em torno do Jardim Miriam Arte Clube (Jamac). Ele foi criado em 2003 pela pintora Mônica Nador. Antes de chegar ao bairro, a artista já exibia no currículo trabalhos de reciclagem estética de favelas em São Paulo e no México. 



    A fim de acelerar a ação na Zona Sul e se integrar à sua rotina, Mônica mudou-se para o lugar em 2004 e vive por lá até hoje. Quase uma década depois, o Jamac virou uma espécie de ateliê multiuso, onde jovens e adultos sem formação artística acadêmica aprendem na prática a produzir imagens. “Sempre digo a eles: essa técnica vale tanto para a pintura em um pano de prato quanto para a parede de um museu”, conta a pintora. Atualmente, cerca de vinte garotos do Jardim Miriam trabalham na ONG, cuidando do dia a dia.



    Com a ajuda de uma linha de financiamento da Secretaria Municipal de Cultura, Mônica começou a realizar por ali várias atividades. Entre outras coisas, a programação cultural inclui hoje sessões do Café Filosófico, com palestras de artistas, e o curso Cinema Digital, que desde 2008 forma fotógrafos e cineastas. “O trabalho já tirou moradores da depressão e mostra que todos podem ser artistas”, completa Mônica
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    quarta-feira, 23 de outubro de 2013

    Para mudar o olhar e encantar a alma

    Para mudar o olhar e encantar a alma

    Incentivados pela professora Vera Cristina Terrabuio Lucato, alunos do interior de São Paulo foram ao campo conhecer e fotografar a realidade dos trabalhadores rurais

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    Beatriz Vichessi Nova Escola - 01/2013

    Guilherme Mazzieiro

    Marina de Camargo

    Certa vez, o fotógrafo francês Henri Cartier Bresson (1908-2004) disse: "Temos de ver, olhar. É tão difícil fazer isso. Estamos acostumados a pensar, todo o tempo. É um processo muito lento e demorado, aprender a olhar. Um olhar que tenha certo peso, um olhar que questione". 


    A ideia expressa pelo artista está refletida no trabalho da professora Vera Cristina Terrabuio Lucato, da EMEFEI Oscar Novakoski, em Dois Córregos, a 255 km de São Paulo. Seu objetivo era levar os estudantes do 9º ano a fotografar o trabalhador rural de modo que, por meio da arte, eles fossem tocados pela realidade e refletissem sobre ela. "Os alunos, ainda que inconscientemente, tinham preconceito contra o homem que trabalha no campo." 

    O primeiro passo foi convidar a moçada para organizar uma exposição fotográfica sobre o assunto. Até então, fotografar era uma prática mecânica para os jovens. Eles clicavam freneticamente a si mesmos e aos colegas e as fotos eram publicadas nas redes sociais. "Ninguém pensava no motivo de fazer essa ou aquela foto", diz Vera. A turma adorou a ideia. 

    A etapa seguinte foi de apreciação de imagens que tinham o trabalho camponês em foco. A seleção reuniu três pintores: o francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e os brasileiros José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899) e Candido Portinari (1903-1962), além do fotógrafo contemporâneo Sebastião Salgado. Eles retrataram o assunto em diferentes épocas. Wladimir Fontes, fotógrafo e professor de Fotografia do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), diz que a importância de apreciar pinturas para trabalhar com foto se dá pelo fato de as primeiras serem precursoras do registro fotográfico e de ambas se valerem da relação entre luz e sombra. 


    Em grupos, os estudantes foram orientados a pesquisar a vida e a obra de um dos artistas e preparar uma apresentação com destaque para uma pintura ou fotografia. 

    Na biblioteca da escola, consultaram os livros da coleção Mestres do Brasil (Ed. Moderna), para conhecer mais sobre a bibliografia dos pintores, além de livros de Salgado. O laboratório de informática também foi visitado: Vera orientou os alunos a acessar sites para que conhecessem em detalhes as obras dos artistas. Questionadora, ela fez intervenções durante a pesquisa e as apresentações. "Ela instigou a turma sobre coisas que iam para além do que os olhos podem ver", fala Marisa Szpigel, coordenadora de Arte da Escola da Vila, em São Paulo. Assim, surgiram interpretações sofisticadas sobre o trabalho escravo, por exemplo.

    Na sequência, a professora deu aulas expositivas sobre a história da fotografia e aspectos técnicos. Era preciso explorá-los para que os jovens alcançassem bons resultados na hora de fotografar. Fontes ressalta a importância de, nesse momento, destacar que a escolha do foco, do enquadramento e dos outros elementos deve ser feita de acordo com a intenção do fotógrafo. Ou seja, não existe certo ou errado - tudo depende da imagem que se quer obter. 

    Depois disso, a ideia era liberar os estudantes para clicar. Mas Vera notou que eles tinham dúvidas. Então, reorganizou o planejamento e propôs uma saída fotográfica. Todos foram até a feirinha do agricultor, um espaço onde os produtores locais vendem frutas, verduras e outros alimentos à população. O grupo fotografou à vontade, praticando o que foi visto em sala, e a professora ficou à disposição para orientações.

    Segundo Fontes, essa é uma chance para a turma perceber, por meio de discussões, que o mesmo assunto pode ser tratado de muitos jeitos. Na escola, as imagens foram analisadas coletivamente no que diz respeito à técnica e ao valor do trabalho camponês. Uma nova visão despontava! Na feira, os alunos conheceram e conversaram com quem cuidava dos legumes e queijos saboreados na casa deles. Falaram sobre a rotina e as dificuldades do campo.
    Lucas Scaranelo
    Na hora de produzir as imagens que iriam compor a exposição, os alunos foram liberados para, em grupos ou individualmente, visitar hortas, cafezais, canaviais, galinheiros e outros ambientes. As imagens foram mostradas para Vera, que as expôs na lousa digital para uma segunda análise, dessa vez coletiva. A turma elegeu as que seriam expostas e deu um título a cada uma delas. 

    Para a educadora, já estava claro que a consciência dos estudantes sobre as dificuldades, a pouca valorização e a importância do trabalho no campo tinha sido despertada. "Não só as fotos revelavam isso. Eles ficaram encantados com as conversas que tiveram com os trabalhadores durante as visitas e repensaram seus conceitos e suas atitudes." 

    Embora a fotografia seja um tema trabalhado todos os anos, Vera não é especialista e enfrentou um problema: as imagens não tinham resolução suficiente para impressão. A dificuldade se transformou numa oportunidade. Ela reorganizou o planejamento para explorar o conceito e aprendeu com a turma. Por fim, algumas fotos foram manipuladas e outras refeitas. 

    Questão resolvida, os jovens montaram a exposição em um supermercado da cidade e as obras ficaram ao alcance dos olhos do público. Vera observou e avaliou tudo durante o processo. Com imagens delicadas e intensas, os alunos mostraram o que aprenderam com Debret, Almeida Júnior, Portinari e Salgado e também com quem, de sol a sol, faz da terra seu ganha-pão. 

    PINTORES DO CAMPO
    1. Debret
    Retrata o trabalho escravo, incluindo o que é feito no campo e vendido na cidade. Sobre a mão de obra escrava, admite que é fundamental para a riqueza brasileira da época.
    Para apreciar: O Vendedor de Cestos e Pequena Moenda Portátil. 



    2. Almeida Júnior
    Apresenta os hábitos e o ambiente do caipira e o valoriza moralmente. Destaca seu corpo, no modo com que o enquadra na tela, ao mesmo tempo que o confunde com o chão de terra batida. 
    Para apreciar: Caipira Picando Fumo, Cozinha Caipira e Derrubador Brasileiro. 



    3. Portinari
    Filho de camponeses, evidencia a força física do homem do campo e o retrata de modo agigantado. Com isso, também aproveita para reforçar sua força simbólica. 
    Para apreciar: O Mestiço e O Lavrador de Café.