As cidades
mais verdes do mundo e suas lições de sustentabilidade
Que tal conhecer algumas delas de perto e depois aplicar suas
estratégias na sua própria cidade? Algumas soluções são facilmente repetidas em
casa
Fonte: VIAGEM E TURISMO | Por:
Lívia Aguiar
Uma
das grandes maravilhas de viajar é imergir em uma realidade totalmente
diferente da nossa. Conhecer como as pessoas de outro lugar se relacionam,
quais são os seus hábitos, suas lutas, problemas e maneiras de resolvê-los,
contorná-los ou ignorá-los. Da mesma forma que é ótimo conhecer realidades
muito melhores que a que vivemos e perceber o quanto ainda falta para melhorar,
também é importante entrar em contato com outros lugares não tão legais assim
em alguns aspectos e agradecer por tudo que já avançamos. E nem precisa ir a
uma região muito pobre para perceber isso: se você reclama da internet no
Brasil, basta uma viagenzinha à Itália para ver que nem todo país da Europa é
tão bem resolvido nessa área assim.
O Sustainable Cities Index analisou
50 áreas urbanas pelo mundo e elegeu as mais sustentáveis delas, baseados em
suas características econômicas, sociais e ambientais. E não se iluda de que
elas já são um exemplo perfeito do que deve ser feito. Ainda há muito para
mudar nos hábitos das pessoas e nas estruturas das metrópoles para alcançar o
equilíbrio entre prosperidade econômica e cuidado com o meio ambiente – mesmo
nas cidades da lista – e não existe fórmula mágica do sucesso. Mas as
estratégias aprendidas por esses governos acima podem servir como pontapé
inicial para a sua cidade.
Que
tal parar de comparar o Brasil com a Escandinávia e tentar implantar aqui, com
as devidas adaptações, as soluções que eles já testaram e aprovaram por lá?
Algumas delas não precisam nem de ser aprovadas em lei ou orçamento
participativo para começar a funcionar – já outras vão precisar de políticos
engajados com a causa para acontecer (e o seu voto pode fazer a diferença!)
A cidade que é sede do Euro e reconhecida como um dos principais
centros financeiros do mundo é também a urbe mais sustentável, de acordo com o
Sustainable Cities Index. Há 25 anos, a cidade criou sua própria agência
energética e começou a investir em produção de energia renovável produzida
localmente. A cidade tem a meta de reduzir 10% das emissões de CO2 a cada 5
anos, o que resultará em um corte de 50% em 2030. Para realizar essa redução, a
prefeitura investe em aumento de eficiência energética e redução de demanda
residencial, comercial e nos setores de transporte e comunicações
Além do foco na redução energética, 15% de todos os
transportes da cidade é feito de bicicleta, estimulados por diversos
quilômetros de ciclovias, educação no trânsito fora delas e da possibilidade de
levar a bike nos trens e metrô. Os cidadãos de Frankfurt também têm a vantagem
de viver junto à maior floresta urbana da Alemanha, com mais de 8 mil hectares
(um terço do território da cidade). Este cinturão verde que circunda Frankfurt
serve não só como espaço de recreação como também define os limites da cidade,
fazendo com que ela permaneça compacta.
Em 1957, o rio Tâmisa, que corta a cidade, foi considerado
biologicamente morto, da mesma forma que vários rios urbanos brasileiros.
Investimentos pesados na limpeza da bacia desde a década de 1960 fazem com que
o rio seja hoje um exemplo de recuperação! Atualmente, vivem nele cerca de 125
espécies de peixes e mais de 400 espécies de invertebrados. Porém ainda há
muito para ser feito pela cidade. Londres tem reduzido seus investimentos em
infraestrutura nos últimos anos e está lutando para atender às demandas da
população já existentes, sem falar no impacto de seu crescimento
Recentemente,
o prefeito de Londres lançou um plano de metas para torná-la "A Melhor
Cidade da Terra", considerando que a capital inglesa será o melhor lugar
para trabalhar, viver, brincar, estudar, investir e negociar do planeta. O foco
principal está em melhorias no setor de habitação, em busca de suprir as cerca
de 49 mil novas casas que a cidade precisa anualmente para dar conta de sua
população crescente. Londres também precisa melhorar sua cultura de consumo de
energia, lixo e modalidades de transporte - e existem planos de tornar as águas
do rio Tâmisa próprias para banho até 2023, instalando piscinas em seu leito
abastecidas com água filtrada do rio. As obras já estão em andamento.
Quando a capital dinamarquesa fechou sua principal avenida do
centro para pedestres, houve protestos da população, que acharam a medida um
absurdo total. Porém os anos mostraram que a movimentação na rua aumentou
exponencialmente, assim como as vendas das lojas e restaurantes da região. Sem
dúvidas, é excelente para os turistas, que se movimentam pela cidade a pé, de
bicicleta elétrica ou de metrô, nos deslocamentos mais longos.
Hoje,
o centro histórico tem diversas ruas fechadas para carros, quase nenhuma vaga
de estacionamento e a cidade flui com congestionamentos de bicicletas
ocasionais: 55% das pessoas que vivem em Copenhague vão para o trabalho ou
escola de bike. Seria de se esperar que o mar fosse poluído dentro da cidade,
porém o processo de limpeza já tem 15 anos e hoje o porto conta até com pontos
de banho no centro da Copenhague, com estrutura para os banhistas tomarem sol
deitados na orla e escadas para entrar e sair das águas.
Amsterdã é uma cidade que encoraja investimentos em iniciativas
sustentáveis, que produzem como "lixo" materiais que podem ser
reaproveitados, e pesquisas em prol do meio ambiente sem perder o foco na
lucratividade e desenvolvimento sustentável. Transporte movido a eletricidade
vem crescendo na região e diversas empresas têm desenvolvido produtos verdes
que fazem a diferença não só na Holanda, mas também no mundo todo.
A
cultura do uso da bicicleta é difundida em toda a Holanda há várias décadas e a
cidade estimula seu uso não só entre cidadãos de Amsterdã como também entre
turistas, que têm diversos bike-tours, grátis e pagos, para escolher quando
visitarem a cidade.
Através do Programa de Sustentabilidade de Roterdã, a prefeitura
lançou-se à ambição de tornar a cidade limpa, verde e saudável, com
sustentabilidade contribuindo para uma economia forte. Um orçamento de 31
milhões de euros foi estipulado para melhorar a qualidade do ar, reduzir o
barulho e as emissões de carbono pela metade até 2025.
Investimentos
em construção de telhados verdes também tem sido pesado – a cidade conseguiu
implantá-los em 160 mil metros quadrados até 2014 e pretende aumentar ainda
mais. Os telhados verdes não só ajudam a absorver a água da chuva como limpam a
atmosfera, reduzem a erosão do telhado e ajudam a equilibrar a temperatura do
edifício, o que resulta em economia de energia para aquecê-lo ou resfria-lo.
Com uma população jovem e engajada, histórico de investimento em
transporte público ao invés de carros e disposição para abraçar o novo, Berlim
já largou na frente quando o assunto é sustentabilidade. Um eficiente sistema
de caronas comunitárias aliado ao aumento do uso de bicicletas reduziu
consideravelmente a quantidade de carros na cidade.
Além
disso, Berlim tem uma população extremamente engajada na causa verde que
disfruta da atmosfera de criação e colaboração estimulada pelo governo. São
desenvolvidos projetos de urbanismo open-source do tipo faça-você-mesmo,
espaços de co-habitação e coworking, jardins comunitários, arquitetura
ecológica, projetos culturais e gastronômicos sustentáveis, entre outras.
Existe até uma agência especializada em tours sustentáveis para guiar os
turistas pelo que há de interessante e verde na cidade.
Assim como o Tâmisa em Londres, o rio Cheonggyecheon, que passa
dentro de Seul, estava biologicamente morto, um esgotão canalizado escondido às
vistas de todos e coberto por uma via de trânsito rápido, até que a prefeitura
assumiu a responsabilidade de reinclui-lo à vida da cidade. Junto a esforços de
limpeza e reabertura dos canais (e destruição da avenida), foi criado um parque
linear multifuncional às suas margens, um oásis verde e público no centro da
selva de pedra da capital sul coreana.
O governo também investiu pesadamente em transporte público
para compensar o fim da via de acesso rápido. Em apenas 29 meses, a rodovia
elevada se transformou em parque linear que vem aumentando a biodiversidade da
região, reduziu as ilhas de calor do centro e a poluição do ar, além de
melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem no centro. Tem sempre alguma
coisa acontecendo no parque: atividade esportiva, exposição artística, artistas
de rua... Graças à sua eficiente iluminação noturna, ele está sempre cheio de
gente em todas as horas do dia – uma inspiração para os milhares de rios
escondidos pelo concreto das cidades brasileiras.
Ainda que as propriedades custem caro e haja muita poluição do
ar, Hong Kong está na lista devido ao incentivo à criação de empresas
sustentáveis e por ser um excelente lugar para se viver, com parques extensos,
excelente rede de transporte público e baixas taxas de criminalidade.
Na área de negócios, a cidade é muito eficiente: os
destaques vão para boas leis que incentivam negócios sustentáveis,
transparência e conexões entre grandes corporações baseadas em Hong Kong, que
atraem empresas de todos os continentes.
Ano passado, Madri fechou o centro para carros como parte do
projeto de reduzir as viagens em carros particulares de 29% para 23% em 2020. E
eles não fazem falta: a cidade tem ampla rede de metrô, que atende o centro
especialmente bem.
Outras
ações para melhorar o trânsito são a criação e expansão de faixas exclusivas de
ônibus, sistema regulamentado de estacionamento para carros e o aumento da
frota de bicicletas elétricas públicas, as Bicimad, que podem ser utilizadas
tanto por moradores quanto por turistas. Para reduzir o gasto com energia
elétrica, todas as lâmpadas de iluminação pública da cidade foram substituídas
por LED, que gerou uma economia de 44%!
Apenas 50 anos após sua independência da Malásia, a
cidade-estado de Cingapura é um dos maiores centros financeiros do mundo, uma
hub de transportes global e sede asiática de diversas empresas multinacionais.
Grande parte de seu sucesso se deve a um plano que conecta o planejamento da
cidade com requerimentos sociais e de negócios.
Com a população prevista para crescer mais de seis milhões
até 2030, o governo se comprometeu a investir em mobilidade e conectividade de
baixa emissão de carbono dentro da cidade, com duas novas linhas de metrô,
extensão das quatro linhas de MRT (trem rápido), novo terminal aeroportuário,
criação de trem de alta velocidade entre Cingapura e Malásia e recolocação de
seu porto de contêineres. Com a previsão de envelhecimento da população, mais
de 19% acima dos 65 anos de idade em 2030, a cidade também está aumentando sua estrutura
para cuidar melhor de seus idosos, com criação e expansão de casas de cuidado
comunitárias, hospitais especializados em geriatria e asilos.