segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Doce água

Doce água

Vai existir água suficiente em um mundo cada vez mais populoso?   

por Barbara Kingsolver
     
Jim Brandenburg

Água: tempestade no lago Tofte, na região norte de Minnesota

Uma tempestade de verão reabastece o lago Tofte, na região norte de Minnesota
Toda manhã, quando minha filha e eu percorremos o caminho desde a nossa casa de fazenda até a parada do ônibus escolar, ficamos com os olhos bem atentos para alguma maravilha. Quase sempre que topamos com uma, ela reflete a magia da água, como uma teia de aranha com gotas de orvalho formando um colar de cristais translúcidos. Ou uma garça cor de chuva alçando voo desde a beira do riacho. Em uma manhã assombrosa, o caminho foi invadido pelas rãs. Dezenas delas pulavam na relva diante de nós, lançando-se em arcos saltitantes com suas barrigas brancas - mais parecia que havíamos sido surpreendidas por uma tempestade de anfíbios. Em outra ocasião, cruzamos com uma tartaruga-mordedora, com sua primitiva carapaça cor de oliva. Normalmente, ela é uma criatura que se restringe às lagoas, mas algum impulso obscuro levou esse espécime até o nosso caminho de cascalho, usando a semana chuvosa como passaporte para deixar a nossa fazenda e passear.
Outro motivo de encanto permanente para nós é o riachinho sem nome que corre através do vale. Antes de mudarmos para o sul da região de Appalachia, vivemos por muitos anos no Arizona, onde um córrego permanente como esse merece tornar-se reserva natural. No Arizona, o estado do Grand Canyon, lembramos que a água é capaz de transformar a superfície da terra, rasgando o deserto rochoso como se fosse um pêssego, em fendas com 1,5 mil metros de profundidade. Ali as cidades funcionam como estações espaciais, obrigadas a trazer de remotos rios e aquíferos cada gota de água doce. Tão forte é a propensão humana a considerar a água como um direito de nascença que ainda são comuns fontes públicas borbulhantes nas praças das cidades do Arizona, assim como fazendeiros empenhados em cultivar safras sedentas. Porém, a verdade se insinua em todas essas fantasias quando os moradores do deserto passam meses esperando pela chuva, vendo os cactos apertarem os cintos e as aves papa-léguas disputarem as preciosas gotas que pingam de uma torneira de jardim. Sem água não há vida. Ela é o caldo salgado de onde surgimos, o sistema circulatório do mundo, uma franja molecular na qual podemos sobreviver. Até dois terços de nossos corpos são constituídos de água, tal como nos mapas-múndi; nossos fluidos vitais são salgados, tal como a água dos oceanos. Tal pai, tal filho.
Mesmo enquanto damos como líquida e certa a presença da Mãe Água, nós, seres humanos, sabemos que, no fundo, é ela quem manda. Estabelecemos nossas civilizações nos litorais e junto aos grandes rios. Nosso maior temor é a ameaça de escassez - ou excesso - de água. Nos últimos tempos aumentamos a temperatura média do planeta em 0,74°C, um número que parece insignificante. Mas a água é a face visível do clima e, portanto, das mudanças climáticas. A alteração nos padrões de precipitação provoca inundações em algumas regiões e secas em outras, enquanto a natureza nos demonstra uma importante lição da física: a de que o ar quente contém mais moléculas de água que o ar frio.
Bem longe do recanto encharcado em que vivo, o vale do Bajo Piura é uma imensa área recoberta pelas mais secas areias que já pisei. Estendendo-se desde a costa noroeste do Peru até o sul do Equador, o deserto de Piura, com 36 mil quilômetros quadrados, abriga muitas formas de vida espinhosas e endêmicas. Essa ecorregião costuma ser classificada como seca e muito seca, e a borda sul do Bajo Piura seria considerada por qualquer pessoa como o lugar mais seco de todos. Entre janeiro e março, ali caem apenas 2,5 centímetros de chuva, dependendo dos caprichos de El Niño, segundo explicou o meu motorista enquanto seguíamos pelo esburacado leito do rio Piura. Durante horas atravessamos campos esturricados, arruinados por anos de irrigação, e passamos por vales escaldantes cujas condições são intoleráveis para qualquer coisa além de uma algarobeira de raízes profundas, a Prosopis pallida, a árvore mais adaptável a terrenos áridos. E também, surpreendentemente, algumas famílias dispersas do Homo sapiens.
Eles são refugiados econômicos, em busca de terras que não custam nada. Isso não implica que a sobrevivência no Bajo Piura não tenha outros custos, pois o frágil ecossistema também paga um preço à medida que as pessoas ampliam a desertificação ao transformarem em lenha o que resta de vegetação. O que me leva ali, como jornalista, é um inovador projeto de reflorestamento. Conservacionistas peruanos, em parceria com uma organização não governamental, a Heifer International, estão convencendo os moradores a criar cabras e bodes, pois eles se alimentam das vagens ricas em proteínas das algarobeiras e depois dispersam as sementes pelo deserto. À sombra de um precário abrigo, uma jovem mãe coloca sua panela amassada sobre um fogo alimentado por excrementos secos e mostra como deixava coalhar o leite de cabra para fazer queijo. Mas é difícil encontrar tempo para tirar o leite das cabras, pois ela, tal como as outras mulheres que conhece, todos os dias precisa caminhar oito horas para buscar água.
Os maridos dessas mulheres estão cavando um poço ali perto. Trabalham com colheres de pedreiro, uma forma de compensado para revestir de cimento a parede do poço, avançando centímetro por centímetro, e usam uma robusta manivela improvisada para descer um homem até o fundo e de lá retirar baldes de areia. Uma dezena de homens esperançosos, com chapéus de palha sujos, afasta-se para que eu possa examinar o trabalho, que até então havia resultado apenas em um monte de areia completamente desprovido de umidade. Espio no fundo daquele buraco escuro e então me viro e subo no topo do monte de areia para esconder lágrimas pouco profissionais. Para mim era difícil compreender esse tipo de perseverança.
Eles ainda estão lá, escavando a areia ressequida e sobrevivendo a duras penas, como um microcosmo da vida neste planeta. Não há saída. Quarenta por cento dos lares na África subsaariana estão situados a mais de meia hora de uma fonte de água, e essa distância só aumenta. Os fazendeiros australianos não podem mais acompanhar a mudança nos padrões de precipitação, pois ela se deslocou para o sul e as chuvas caem sobre o oceano. Todos estamos na mesma situação, e ela requer o máximo de nós.
Desde pequena ouvi dizer que, quando se está no fundo de um poço, dá para ver as estrelas, mesmo à luz do dia. Aristóteles falou disso, assim como Charles Dickens. Em muitas noites escuras, a imagem daquele trecho arredondado do céu repleto de estrelas me proporcionou conforto. Só que há um problema: isso não é verdade. A civilização ocidental não se mostrou muito disposta a descartar essa imagem folclórica. Os astrônomos acreditaram nela por séculos, até que alguns deles resolveram verificar - bastou uma observação para que ruíssem as ilusões.
Do mesmo modo, nossa civilização reluta em se desfazer de outro mito: o da infinita generosidade do planeta Terra. Recusando a ver os claros indícios em contrário, continuamos acreditando nisso. Bombeamos a água dos aquíferos e desviamos o curso dos rios, confiando em duas estrelas-guia: a irrestrita expansão humana e o suprimento infinito de água. Agora os lençóis freáticos estão se esgotando em países que abrigam metade da população mundial. É como se todos nós tivéssemos estourado, de maneira espetacular, nossas contas bancárias.
Em 1968, o ecologista Garrett Hardin publicou um ensaio com o título The Tragedy of the Commons ("A Tragédia dos Recursos Comuns"), que desde então virou leitura obrigatória para os estudantes de biologia. Ele trata dos problemas que somente podem ser resolvidos por meio de "uma mudança nos valores humanos ou nas ideias de moralidade", naquelas situações em que a busca racional do interesse individual conduz à ruína coletiva. Criadores de gado que dividem pastagens comunitárias, por exemplo, vão progressivamente aumentando seus rebanhos até que o pasto é destruído pelo uso excessivo. Em vez disso, a aceitação de limites autoimpostos, algo no início inconcebível, passa a ser a única saída. Enquanto nossas leis supõem um critério moral fixo, Hardin sustenta que "a moralidade de um ato é função da condição do sistema no momento em que tal ato se realiza". No passado, com certeza não era nenhum pecado abater pombos e comê-los em tortas.
A água é o mais fundamental dos recursos comuns. Os cursos d’água antes pareciam tão abundantes quanto os pombos, e a noção de preservar a água era tão ridícula quanto a de engarrafá-la. Mas as regras mudam. Incontáveis vezes os países estudaram os sistemas aquáticos e redefiniram os critérios de uso mais sensato. Agora o Equador se tornou a primeira nação do planeta a incluir os direitos da natureza em sua Constituição, de modo que rios e florestas não sejam simplesmente propriedade, mas desfrutem de um direito próprio de prosperar. Sob tal legislação, um cidadão pode abrir um processo em favor de uma bacia hidrográfica ameaçada, reconhecendo que a saúde dela é crucial para o bem comum. Outros países talvez sigam os passos do Equador. Do mesmo modo que, no passado, o sistema legal hesitou em reconhecer os direitos das mulheres e dos ex-escravos, hoje as faculdades de direito nos Estados Unidos vêm reformulando seus currículos visando compreender e reconhecer os direitos da natureza.
Sobre a minha mesa, um copo com água reflete a luz do entardecer, e continuo atenta às maravilhas naturais. Quem é dono dessa água? Como posso considerá-la minha se o destino dela é circular por rios e corpos vivos, tantos já passados e outros tantos no futuro? Ela é antes uma antiga e deslumbrante relíquia, esperando para retornar aos seus, esperando para mover montanhas. Ela é o padrão do meio circulante biológico, e a boa nova é que há incontáveis maneiras de preservá-la. Além disso, ao contrário do petróleo, a água sempre vai fazer parte de nossas vidas. Nossa confiança na generosidade da Terra tinha em parte razão de ser, uma vez que toda gota de chuva acaba no oceano, e o oceano chega ao firmamento. E em parte era infundada, porque não somos indispensáveis para a água. É bem o oposto. Nossa missão é descobrir maneiras razoáveis de sobreviver no interior dos limites dela. Faríamos bem em fixar a vista em novas estrelas-guia. O suave estímulo das evidências, a orientação da ciência e um coração empenhado em proteger os recursos comuns: esses são os instrumentos de um novo século. Contemplar com assombro um planeta repleto de água é a nossa maneira de ver o que está em jogo e de conhecer melhor o nosso lugar.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Tribunal de Haia pode acabar com a caça de baleias do Japão

Tribunal de Haia pode acabar com a caça de baleias do Japão

Baleia Jubarte (Foto: Instituto Baleia Jubarte)
Terminou nesta semana a fase de audiências públicas de um esperado julgamento envolvendo a conservação de baleias na Antártica. Japão e Austrália se enfrentam no Tribunal Internacional de Haia, na Holanda, e um resultado favorável aos australianos pode forçar o Japão a encerrar seu programa de caça de baleias.
Caça de baleias do Japão é “economicamente inviável”, diz relatório
A disputa entra Japão e Austrália não é nova. Ela começou em 1986, quando a Comissão Baleeira internacional (CBI) proibiu a caça de baleias em todo o mundo. O Japão ratificou a moratória, mas aproveitou uma brecha no texto para continuar caçando as baleias. A brecha diz que, em caso de pesquisa científica letal, a carne de baleia pode ser reaproveitada no comércio. O Japão iniciou um programa para estudar o conteúdo estomacal e as camadas de gordura da baleia, argumentando que o programa ajuda a entender melhor a cadeia alimentar dos cetáceos. Para isso, o país se auto-licencia a caçar 850 baleias-minke, 50 baleias-fin e 50jubarte por ano. A carne das baleias caçadas para pesquisa vai parar nos açougues japoneses.
O programa é extremamente questionado por conservacionistas e pela comunidade científica. "Todos os resultados da caça científica do Japão podem ser obtidos com métodos não-letais de pesquisa. As evidências são enormes para mostrar que o objetivo do Japão não é científico, é comercial", diz Márcia Engel, presidente do Instituto Baleia Jubarte.
Os navios japoneses caçam no Oceano Austral, próximo a um local onde o governo australiano quer criar um santuário de baleias. Após muitos embates na CBI, os australianos decidiram levar o caso à Corte Internacional de Justiça, maior órgão judicial das Nações Unidas. A fase de audiências terminou nesta semana, e o tribunal deverá apresentar um veredito até o final de ano. A decisão deve ser respeitada pelos países - não há como recorrer de uma sentença em Haia.
O resultado do julgamento deve ter impacto indireto na conservação das baleias que usam o território brasileiro para se reproduzir. O Brasil já foi favorável à caça de baleias no passado, mas hoje faz parte do grupo de países que defende a criação de um santuário na Antártica para a conservação. Ainda assim, o tribunal pode mudar a situação atual da conservação de baleias. Segundo Márcia, uma decisão favorável à Austrália seria positivo por mostrar ainda mais a importância da pesquisa não-letal e do turismo de observação de baleias. "Já uma decisão favorável ao Japão poderia abrir um precedente para outros países caçarem desrespeitando a legislação internacional".

Poluição reduz expectativa de vida na China em 5,5 anos

Poluição reduz expectativa de vida na China em 5,5 anos

Vanessa Barbosa - Exame.com - 
ljlush/Creative Commons





















O boom econômico da locomotiva asiática vem deixando sequelas graves no meio ambiente e na saúde da população. Um novo estudo estabelece uma relação clara entre a poluição atmosférica crítica que aflige o  norte da China e a redução na expectativa de vida.

Baseado em estatísticas de 1981 a 2001 e publicado no periódico científico Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, o estudo indica que a poluição reduzirá em 5,5 anos a expectativa de vida de quem mora na região, em comparação aos vizinhos do sul. Combinados, os 500 milhões de habitantes da região deverão perder mais de de 2,5 bilhões de anos de vida pela exposição à poluição.

Em grande parte causada por um excesso de dependência do carvão para geração de energia, a poluição na região chega a ser 55% superior ao padrão limite considerado seguro para a saúde humana segundo a Organização Mundial de Saúde.

Desde janeiro, o governo chinês vem anunciando medidas para contornar o problema, que incluem a melhoria da qualidade do combustível, a limitação do número de carros que podem circular nas ruas e o aumento dos investimentos em energias renováveis.

FOME DE CARVÃO
A China é o país mais dependente de carvão para suprir suas necessidades energéticas, seguido pelos EUA.. Segundo um estudo feito pelo World Resources Institute, o país queima anualmente 3,3 bilhões de toneladas do mineral, que supre 79% de sua demanda de energia
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Microgeração fotovoltaica tem menor custo do que a aquisição de energia no mercado convencional

Microgeração fotovoltaica tem menor custo do que a aquisição de energia no mercado convencional


Além da geração para consumo próprio, sistema exporta excedentes para rede elétrica e gera créditos em energia
A microgeração fotovoltaica de energia elétrica por meio de painéis solares é uma alternativa de menor custo do que a aquisição de energia no mercado convencional, como mostra uma pesquisa do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. O trabalho do pesquisador Rennyo Nakabayashi aponta que a legislação permite que o consumidor, além de fazer a geração para consumo próprio, exporte os excedentes para a rede elétrica, gerando créditos em energia. De acordo com o estudo, a microgeração fotovoltaica também é favorecida pela constante redução de preço dos equipamentos fotovoltaicos e a tendência de aumento das tarifas de energia elétrica.

Microgeração fotovoltaica é favorecida pela redução de preço dos equipamentos
“A geração de energia por meio de células fotovoltaicas ocorre quando há exposição de um material semicondutor dopado, geralmente silício, à radiação solar, ocasionando deslocamento de elétrons e, portanto, corrente elétrica”, descreve Nakabayashi. “Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede são formados por conjuntos de painéis fotovoltaicos associados a inversores, os quais realizam a conversão de corrente contínua para corrente alternada”.
Atualmente, a matriz elétrica brasileira é hidráulica com complementação térmica, mas devido à crise instalada no setor, motivada pelo baixo nível dos reservatórios, as usinas térmicas estão plenamente acionadas. “Os sistemas fotovoltaicos utilizam a radiação solar como insumo, um recurso abundante no Brasil e não poluente”, ressalta o pesquisador. “Além disso, no âmbito da micro e minigeração fotovoltaica, há a vantagem de se gerar a energia elétrica nos centros de consumo, aliviando a carga nos sistemas de transporte de energia e, com isso, reduzindo as perdas no sistema elétrico”.
As usinas térmicas, previstas para operar em regime complementar, operam na base da geração e o custo da energia gerada por algumas delas pode ultrapassar R$ 1.000,00 por Megawatthora (MWh), enquanto o custo da energia fotovoltaica, na micro e minigeração, pode chegar a R$ 400,00 por MWh em algumas cidades. “Para usinas fotovoltaicas de grande porte o preço da energia é ainda mais barato”, diz Nakabayashi. “O preço médio de venda da energia fotovoltaica no Leilão de Energia de Reserva (LER) de 2014,  foi R$ 215,12/MWh, variando de R$ 200,82 a 220,80/MWh, uma média de deságio de 17,9% em relação ao preço-teto de R$ 262,00”. O LER é realizado pelo Ministério das Minas e Energia, por meio da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), para contratação de projetos alternativos de geração de energia visando o fornecimento para os consumidores brasileiros.
Produtor-consumidor
A Resolução Normativa da ANEEL 482/2012 possibilita que o fluxo de energia deixe de ser unidirecional (concessionária-consumidor) e passe a ser bidirecional. “O consumidor passa a ter a opção de gerar energia para consumo próprio ou para exportar para a rede elétrica e gerar créditos em energia para serem consumidos em um período de até 36 meses. Neste contexto surge a figura do “prosumidor”, isto é, o produtor-consumidor”, afirma o pesquisador. “Segundo a mesma resolução, a microgeração distribuída é feita a partir de centrais geradoras que utilizem fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada tenham a potência limitada pelo valor de 100 quilowatts (kW). A minigeração é definida pela potência superior a 100 kW e inferior a 1 Megawatt (MW)”.
Até o final de 2014, por conta da redução das tarifas forçada pela Lei 12.783 (oriunda da MP579/2012), a micro e minigeração não vinham se mostrando financeiramente atrativas. “Entretanto, este cenário está mudando. Em dezembro de 2014 a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) publicou na Nota Técnica DEA 26/14 uma projeção de 664 MWp instalados de geração distribuída fotovoltaica de pequeno porte em 2023, 166 vezes a capacidade instalada que temos hoje”, relata. “Pode-se dizer que o estudo da EPE foi conservador, pois se assume como premissa uma evolução das tarifas em linha com a inflação [manutenção em termos reais], o que não é o que aconteceu no Brasil, historicamente”.
No período de 1995 a 2013, as tarifas evoluíram, em média, a uma taxa acima de 9% ao ano, enquanto o IPCA evolui aproximadamente 6,5% ao ano. “Vale lembrar que o reajuste médio das tarifas residenciais de energia elétrica ficou acima de 20% em 2014 e, em 2015, os reajustes serão acima de 30%, caso a situação do setor não melhore. Portanto, é provável que em 2023 a penetração da microgeração seja ainda maior do que a apontada pela EPE”, destaca o pesquisador. “Na pesquisa, caso as tarifas tenham um reajuste anual médio pouco acima de 9% ao longo do horizonte de análise, a microgeração seria economicamente viável para as 27 capitais do Brasil, isso sem considerar os reajustes de 2015”.
Segundo o Banco de Informações de Geração (BIG) da ANEEL, o Brasil possui 134 Gigawatt (GW) de potência instalada para a geração de energia elétrica, sendo que a micro e minigeração fotovoltaica, equivale a menos de 0,003% do total. “Por conta de diversos fatores, o Brasil ficou defasado em relação aos países europeus e, atualmente, não existe uma indústria fotovoltaica plenamente consolidada no país, pois até então a demanda não justificava a presença massiva de investidores e da indústria nesta área”, afirma Nakabayashi. “Entretanto, no LER 2014 (fotovoltaico) foram cadastrados 400 projetos, somando 10.790 MW de potência instalada. Foram contratados 202,1 MWmed, totalizando uma potência (CC) de 1.048,2 MWp, o que demonstra um grande interesse dos agentes. O contexto é favorável para que a energia solar fotovoltaica decole”.
Foto: George Campos / USP Imagens
Por Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Ituglanis boticario: a nova espécie da fauna brasileira

Ituglanis boticario: a nova espécie da fauna brasileira

Pesquisadores divulgam descoberta de peixe endêmico da Gruta da Tarimba, no interior de Goiás. Todavia, ele já enfrenta ameaça da extinção devido aos efeitos negativos da expansão da pecuária sobre a água da região


Pedro Rizzato

Pedro Rizzato
Pequeno, com não mais de 10 centímetros, o Ituglanis boticario chama atenção pelos seus grandes bigodes alongados. A cor é de um rosa claríssimo, quase transparente, porque possui pouca pigmentação. O peixe, descoberto recentemente numa gruta em Mambaí, a 500 km de Goiânia, pertence à família dos Ituglanis, que vivem apenas em cavernas.

A nova espécie foi identificada por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade de São Paulo. O peixe foi descrito oficialmente em artigo pubicado na revista da Sociedade Brasileira de Zoologia.

A região de Tarimba, no interior de Goiás, já era conhecida como um hotspot de fauna subterrânea brasileira. Isso significa que a área concentra alto nível de biodiversidade, principalmente endêmica (que tem como habitat exclusivo aquele lugar).

Uma das principais características do Ituglanis boticario é a presença de odontoides, pequenos dentes bem desenvolvidos localizados próximos às brânquias e utilizados para a fixação do animal, evitando que seja levado em correntezas.

Diferente de outros peixes, que vivem entocados, o espécie goiano está sempre em atividade. "Isso acontece por terem menos alimento dentro das cavernas, então eles precisam procurar mais", explica Pedro Pereira Rizzato, integrante da equipe de pesquisa.

Como outros animais que habitam locais escuros, o Ituglanis boticario apresenta visão menos desenvolvida, mas outros sentidos - como olfato e tato - bastante aguçados. Carnívoro, alimenta-se de invertebrados como larvas e besouros. "Ele possui papel biológico muito importante na caverna por ser um predador de topo de cadeia", afirma a pesquisadora Maria Elina Bichuette.

Todavia, o estudo realizado pelos cientistas brasileiros mostra que o peixe recém-identificado já sofre risco de desaparecer. Além da espécie ser endêmica, a Gruta da Tarimba fica localizada numa região onde tem havido expansão do uso de terras para pastagens. Com isso, o solo diminui sua capacidade de drenar água para dentro da caverna, reduzindo a quantidade de alimento em seu interior.

De acordo com Elina, a urina do gado também aumenta a concentração de ureia e amônia na água, o que pode chegar até a matar os peixes. "Nas grutas onde foi encontrada a nova espécie, ela reina soberana. Não existem outros tipos de peixes ali, por isso se o Ituglanis não for conservado, todo o ecossistema estará em risco e poderá será perdido", alerta.


Os pesquisadores já enviaram solicitação ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela gestão das unidades de conservação federais, propondo a criação de Unidade de Conservação de Proteção Integral para proteger o local.

Ituglanis recebeu a denominação boticario em homenagem à Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que financiou o projeto desta pesquisa e diversos outros estudos, responsáveis por identificar novas espécies da fauna e florabrasileiras.
Gruta da Tarimba, no interior de Goiás, onde foi descoberto o Ituglanis boticario

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015


Reprodução do Globo online
Reprodução do Globo online


Ficou para depois do carnaval a entrega da lista do MPF ao Supremo Tribunal Federal com os pedidos de investigação de políticos envolvidos no Petrolão que têm foro especial. Mas essa turma não terá um carnaval tranquilo, afinal - pelo um time seleto - sabe que a ressaca pós-carnavalesca será avassaladora. Hoje, o doleiro Alberto Youssef está detalhando quanto cada político levou do esquema que ele operou no Petrolão. E é bom lembrar que tem a lista dos delatados por Paulo Roberto Costa e os executivos das empreiteiras. Vamos continuar na expectativa. 
BLOG DO GAROTINHO

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sabesp fala em rodízio drástico: 5 dias sem água e 2 comRedação / VEJA.com - /01/2015 

Em meio a maior crise de abastecimento da história do Estado de São Paulo, o diretor da Sabesp, Paulo Massato, afirmou na terça-feira, 27/01, que, num cenário extremo, a companhia poderá chegar a um rodízio “drástico” na região metropolitana: algumas regiões ficariam até cinco dias sem água semanalmente.
“Para fazer rodízio, teria que ser muito pesado, muito drástico. Para ganhar mais do que já economizamos hoje, seriam necessários dois dias com água e cinco dias sem água”, afirmou, durante o anúncio da ampliação da adutora Guaratuba para o sistema Alto Tietê.
Massato disse que o rodízio pode ocorrer “se não chover” o suficiente e se os órgãos reguladores entenderem que a Sabesp deve retirar menos água do Sistema Cantareira – cujo índice atingiu 5,1% de sua capacidade no momento já contabilizado o volume morto. A Agência Nacional de Águas (ANA) determinou na semana passada que a Sabesp diminua a captação do Cantareira.
“Nossa engenharia está correndo contra o relógio. Estamos batendo novos recordes de baixas precipitações”, disse Massato. Segundo ele, a Sabesp não pretende usar a terceira cota do volume morto do Sistema Cantareira.
REDUÇÃO DE PRESSÃO
O diretor da Sabesp afirmou que a companhia está ampliando o período de queda de pressão nas tubulações que atendem a região metropolitana de São Paulo. “Estamos deixando de fazer operação só noturna para fazer também a diurna.”
Segundo ele, “nunca foi necessário” informar a população da diminuição de pressão da água, mas, agora, com a ampliação do período, a companhia decidiu disponibilizar os horários de redução em seu site. Massato explicou que a redução é diferente para cada área da região. “A redução hoje é variável, cada setor tem uma regra diferente.”
No mesmo evento, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que a válvula redutora de pressão da Sabesp existe há pelo menos quinze anos. “O mundo inteiro tem, para evitar perdas. Mas o período de redução da pressão era mínimo”, afirmou. Segundo ele, a medida, tomada há um ano, evita contaminação, canos estourados e perdas maiores.

Governo do Rio garante cumprir a meta de tratar 80% do esgoto que migra para a Baía de Guanabara

Governo do Rio garante cumprir a meta de tratar 80% do esgoto que migra para a Baía de Guanabara

Publicado em janeiro 30, 2015 por 


Compromisso de sanear pelo menos 80% da Baía de Guanabara, onde serão disputadas local de algumas provas dos Jogos Olímpicos, será cumprido, diz Casa Civil. Foto: Arquivo/Agência Brasil

O secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Espíndola, afirmou ontem (29) que o Rio de Janeiro cumprirá o compromisso com o Comitê Olímpico Internacional, de sanear 80% da Baía de Guanabara até a disputa dos Jogos, no próximo ano. De acordo com o secretário, o acordo não prevê a “limpeza” de 80% da baía, mas o tratamento de 80% do esgoto que é despejado nela.
“O compromisso olímpico está mantido. Hoje, já tratamos 50% do esgoto da baía. Ainda falta a entrega dos troncos coletores do Faria Timbó e da Cidade Nova. Antes dos Jogos Olímpicos de 2016, pretendemos cumprir a meta de tratar 80% do esgoto que migra para a baía, o que é completamente diferente de tratar 80% da Baía de Guanabara”, disse.
Segundo ele, para o teste de iatismo, feito no fim do ano passado, as raias do evento já mostravam condições de balneabilidade aceitáveis para esse tipo de competição.
“Estamos absolutamente tranquilos. Assim como foi no teste, teremos plenas condições nas raias em 2016. A competição de vela será realizada em um cenário maravilhoso, com perfeitas condições para que os atletas consigam desempenhar suas capacidades”, salientou Espíndola.
Além do tratamento de esgoto, está previsto o uso de ecobarreiras nos rios, para reter resíduos sólidos antes que eles cheguem à Baía de Guanabara, e de ecobarcos, para recolher o lixo flutuante que atingir o corpo d’água.
O secretário garantiu que a Linha 4 do metrô, ligando a zona sul à Barra da Tijuca, será concluída em 2016. Ele acrescentou que estão mantidos os compromissos e prazos de entrega das obras de modernização do Parque Aquático Julio Delamare e de instalação de quadras de aquecimento do ginásio do Maracanãzinho.
As duas obras eram de responsabilidade do governo estadual, na Matriz de Responsabilidade dos Jogos, mas foram repassadas ao Consórcio Maracanã, concessionária que administra o complexo esportivo. Conforme Espíndola, a Odebrecht, principal empresa do consórcio, pediu reequilíbrio financeiro do contrato, mas isso não afetará o andamento das obras.
Por Vitor Abdala, da Agência Brasil.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015


Reprodução do Informe do Dia
Reprodução do Informe do Dia


Fico impressionado como Pezão está fora da realidade. Num momento de crise como o que o Estado do Rio vive, sem dinheiro até para a merenda das crianças, Pezão passou a semana tentando arrumar dinheiro para as escolas de samba. Aliás, Pezão fez tudo errado em relação ao carnaval. Na campanha prometeu ao pessoal do samba que iria reajustar a cota de patrocínio do Estado sabendo que não iria ter dinheiro. E só avisou as escolas de samba que não teria como pagar quando faltavam três semanas para o carnaval. 


FONTE  BLOG DO GAROTINHO

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Vida marinha está à beira da extinção em massa

Vida marinha está à beira da extinção em massa

Gabriel Garcia - INFO Online - 19/01/2015

Wikimedia Commons















Um grupo de cientistas concluiu que os humanos estão prestes a causar um dano sem precedentes aos oceanos e os animais que vivem neles.

"Podemos estar sentados à beira do precipício de uma grande extinção", afirmou Douglas McCauley, ecologista da Universidade da Califórnia e autor do estudo, publicado na revista Science na quinta-feira (15).

Segundo McCauley, ainda há tempo para evitar uma catástrofe maior. Isso porque, comparados com os continentes, os oceanos estão quase intactos.

"Os impactos estão aumentando, mas não estão tão graves a ponto de não podermos reverte-los", afirmou Martin Pinsky, biólogo marinho da universidade Rutgers e coautor do estudo.

A pesquisa de McCauley e Pinsky é sem precedentes, pois cruzou dados de diversas fontes, desde relatórios sobre a exploração de combustíveis fosseis até estatísticas sobre remessas de containers, pesca e mineração oceânica.

Os cientistas detectaram sinais claros que os seres humanos afetaram os oceanos e a vida marinha de forma grave.

Enquanto algumas espécies sofrem com a superpopulação, outras estão ameaçadas de extinção, devido a destruição seus habitats naturais, geralmente causada pela intervenção humana.

A população de recifes de corais, por exemplo, diminuiu 40% no século passado, principalmente pelas consequências do aquecimento global.

Algumas espécies de peixes estão migrando para águas mais frias. Outras espécies, com a locomoção reduzida, não irão conseguir encontrar novos lares.

Ao mesmo tempo, as emissões de gases do efeito estufa estão alterando a química da água do mar, tornando-a mais ácida.

Ainda assim, a pesquisa afirma que há tempo para reduzir os estragos, com a implantação de programas que limitem a exploração dos oceanos.

Os autores alegam que a limitação da industrialização dos oceanos em algumas regiões permitiria que espécies ameaçadas migrassem para outras partes ainda preservadas.

"Acredito que nosso melhor parceiro para salvar o oceano é ele próprio", afirma McCauley.

Construindo outro mundo tijolo por tijolo: cidades buscam a sustentabilidade

Construindo outro mundo tijolo por tijolo: cidades buscam a sustentabilidade

Por Stephen Leahy, do IPS (Inter Press Service)
Uma tarde de 2005, no povoado de Ashton Hayes, no condado inglês de Cheshire, alguém iniciou uma conversa em um bar sobre a mudança climática e a energia. Dois anos depois, moradores do lugar haviam reduzido em 20% suas emissões de dióxido de carbono e os custos energéticos. Ashton Hayes agora procura se converter na primeira comunidade neutra em carbono da Inglaterra.
“A gente sabe bem que são necessárias grandes transformações diante da mudança climática e do esgotamento de recursos”, afirmou Rob Hopkins, um dos fundadores do movimento Transition Towns, que reúne os moradores preocupados em melhorar as ruas e os bairros. “Comecei com amigos e vizinhos, perguntando o que podemos fazer como pessoas comuns, sabendo que nossos governos não resolverão?”, contou à IPS.
Diante de um problema crescente de lixo, os moradores da comunidade sul-africana de Greyton processaram os dejetos e os colocaram em garrafas de plástico para fabricar “ecotijolos”, um bom material de construção com alta capacidade de isolamento, que agora é usado para construir banheiros.
Em Portugal, onde o desemprego supera os 20% da população economicamente ativa e os salários se deterioram, o movimento lançou iniciativas para limitar a circulação de dinheiro. Em uma pequena localidade foi proibido o uso de moedas e notas durante três dias, e os moradores trocaram bens e serviços.
“Podemos fazer com que funcione”, disse Hopkins, autor do livro Power of Just Doing Stuff – How Local Action Can Change The World (O poder de simplesmente fazer algo – Como a ação local pode mudar o mundo). Agora há mais de mil comunidades envolvidas no Transition Towns, movimento voluntário e sem fins lucrativos. Estas inventam suas próprias formas de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, enquanto aumentam sua capacidade de resistência e sua autossuficiência em alimentação, água, energia, cultura e bem-estar.
Segundo um informe de 200 páginas do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), divulgado no dia 30 de setembro, as temperaturas registradas no hemisfério Norte, entre 1983 e 2012, foram as mais altas dos últimos 1.400 anos. O informe, redigido de forma muito cautelosa, detalha os últimos impactos observados, como as mudanças nas precipitações e os eventos climáticos extremos. Também confirma que esses e outros efeitos se agravarão conforme aumentarem as emissões de dióxido de carbono.
“As cidades têm o papel mais importante nos esforços por uma emissão zero”, destacou George Ferguson, prefeito da localidade britânica de Bristol, com meio milhão de habitantes. “Bristol dá ênfase no transporte a pé e de bicicleta, e planejamos duplicar ou triplicar a cobertura florestal. Queremos melhorar a qualidade do ar e a saúde dos residentes”, disse Ferguson à IPS.
Esta cidade, uma das primeiras a integrar o movimento Transition Towns, é um laboratório vivo para ideias e experimentos destinados a criar uma “ecocidade” para todos, destacou Ferguson. Entre três e cinco horas da tarde está proibida toda circulação de automóveis. Isso permite que as ruas fiquem livres e sejam usadas como lugar para brincadeiras por meninos e meninas.
Bristol também é um exemplo na Grã-Bretanha em matéria de reciclagem, e prevê criar uma companhia municipal de energia sustentável. A partir do próximo ano, as crianças aprenderão ecologia nas escolas, que ensinarão a plantar árvores em seus bairros como parte de um esforço anual para aumentar os espaços verdes da cidade. “Creio que as crianças ensinarão seus pais importantes lições ecológicas”, afirmou Ferguson, que recebe todo seu salário em moeda alternativa da cidade, chamada libra Bristol, e que só pode ser gasta no comércio local. “Minha bicicleta, minhas calças, minha comida e o barbeiro, pago tudo com a libra Bristol”, contou.
Há mais de 400 moedas alternativas em uso em todo o mundo, e o número cresce rapidamente em resposta à globalização e ao domínio corporativo. Embora os moradores possam pagar inclusive seus impostos em libras Bristol, as grandes redes de supermercados não as aceitam, explicou o prefeito. Neste verão boreal, Bristol foi premiada por seus esforços, ao ser designada a Capital Verde da Europa 2015, a primeira cidade britânica a obter esse reconhecimento. “O que fazemos pode ser aplicado em milhares de cidades e localidades, e nos divertimos muito fazendo isso”, afirmou Ferguson.
Saint-Gilles-Du-Mene é um povoado rural na região francesa da Bretanha, que decidiu se reinventar como uma comunidade produtora de energia. Hoje, utilizando biomassa, biodigestores, fontes eólicas e solares, além de sistemas melhorados para isolamento das casas, produz 30% de sua própria energia. Os moradores esperam que até 2025 possam vendê-la também a outras comunidades.
“Nossa transformação energética criou novos empregos e sinergias. Temos uma nova instalação para realizar videoconferências e produzimos nosso próprio biodiesel para os tratores agrícolas”, detalhou Celine Bilsson, da Comissão de Energias Renováveis do povoado. Ela acrescentou que sua localidade se inspirou no exemplo de Güssing, povoado austríaco outrora pobre que foi o primeiro da Europa a utilizar completamente energia renovável, no final da década de 1990.
Güssing reduziu seu gasto energético em 50% graças à melhoria da eficiência, e agora ganha milhões de euros vendendo energia renovável para outras comunidades. “Não perdemos tempo fazendo estudos. Simplesmente reagimos. Vocês devem fazer o mesmo”, aconselhou Bilsson.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Quando as estruturas pedem reforços

Quando as estruturas pedem reforçosLiana John - 05/09/2013 às 18:08

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Se metais, minerais e polímeros convencionais não dão conta de garantir o desempenho esperado em estruturas de pontes, viadutos ou edificações, é hora de a Engenharia Civil se render à flexibilidade e à resistência das fibras naturaisPiaçava,curauálicuri são algumas das espécies nativas adotadas como reforço de vigas, painéis e placas, em compósitos estruturais. E, com certeza existem muitas outras opções nas matas, cerrados e campos do Brasil, prontas para serem testadas.
Compósito, vale detalhar, é um material com dois ou mais componentes diferentes, cujas características e propriedades são combinadas. A madeira já é um compósito feito pela natureza, com celulose (o componente mais flexível) mais lignina (o componente mais durável). E a madeira também pode ser parte de um compósito reforçado pelo homem com fibras naturais, como o curauá (Ananas erectifolius), originário da Amazônia e cultivado no Pará, e o sisal (Agave sisalana) proveniente do México e cultivado no Nordeste.
“Estudamos as fibras naturais como reforço em tábuas para vigas de grandes dimensões, quando é preciso fazer emendas para chegar ao comprimento desejado, caso das estruturas de pontes ou de telhados”, exemplifica o engenheiro civil e doutor em Engenharia de Estruturas, Antonio Alves Dias, da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP). Ele orientou um aluno de Iniciação Científica e um mestrado sobre esse tema.
“Os compósitos com fibras naturais poderiam ser usados inclusive para reforçar estruturas que necessitam de reparos ou restauração, em substituição à fibra de vidroou à fibra de carbono”, acrescenta. A dificuldade atual, segundo o pesquisador, é conseguir encontrar mantas de fibras naturais prontas para aplicação, como acontece com os compósitos sintéticos. A questão, aí, é desenvolver esse mercado. Sobretudo no caso do curauá: apesar de a fibra ser considerada de excelente qualidade, sua exploração envolve uma logística complexa e custosa a ser negociada entre alguns poucos e pequenos produtores da Amazônia e a grande demanda de potenciais fabricantes do Centro-Sul.
Quando a fibra natural adicionada ao compósito é a piaçava (Attalea funifera), no entanto, a história é um pouco diferente. A fibra de piaçava é extraída de uma palmeira capaz de produzir em solos de baixa fertilidade, considerados impróprios para outras culturas. No Brasil, mais de 90% das plantações estão situadas na Bahia, embora ainda exista um pequeno porcentual procedente de reservas extrativistas amazônicas. Cada palmeira rende até 10 kg de fibra por ano, durante 20 anos. A maior parte da produção era destinada a fábricas de vassouras, que agora são feitas de plástico. Assim, há disponibilidade de matéria prima e possibilidade de adaptar o sistema de produção para novas aplicações.
A fibra de piaçava não é tão boa quanto o sisal e o curauá nas emendas de vigas de madeira, conforme a avaliação de Antonio Alves Dias, porém se presta muito bem a servir de reforço para matrizes poliméricas, garantindo a necessária resistência mecânica e, ao mesmo tempo, bastante flexibilidade na composição do material. Isso faz toda a diferença em projetos com requisitos específicos, de acordo com as pesquisas realizadas por uma equipe da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), liderada pelo engenheiro metalúrgico e doutor em Ciência e Engenharia dos Materiais, Sérgio Neves Monteiro.
Ao testar compósitos à base de poliéster com as fibras de piaçava dispostas de modo longitudinal, os pesquisadores da UENF observaram uma tensão de ruptura maior do que a de materiais semelhantes, feitos com bagaço de cana-de-açúcar, ou mesmo maior do que compensados e aglomerados de madeira. Ou seja, é possível fabricar estruturas mais resistentes quando se tem a piaçava como reforço. E há vantagens extras como o comprimento das fibras, de até 4 metros, e o potencial para aproveitar até resíduos industriais de piaçava.
Outra fibra eleita para reforçar estruturas é a das folhas da palmeira licuri (Syagrus coronata), estudada pela engenheira mecânica com doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais, Mirtânia Antunes Leão, do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Abundante no semiárido nordestino, essa palmeira produz um coquinho que sustenta a ararinha-azul-de-lear e fornece óleo comestível. Suas fibras têm alto teor de lignina e, portanto, o reforço em compósitos poliméricos confere firmeza e rigidez estrutural, além de ter boa durabilidade.
Uma dificuldade a ser contornada é o alto teor de cera que impregna naturalmente a fibra de licuri e atrapalha a adesão da fibra à base. Mas isso pode ser superado com tratamentos químicos ou com o uso de resinas termoplásticas, entre outras soluções. Em sua tese de doutorado, defendida em março de 2013, Mirtânia testou também oenvelhecimento ambiental do compósito feito com licuri, simulando a exposição a raios ultravioleta, umidade e variações de temperatura. “A fibra do licuri comportou-se muito bem, com resultados superiores aos das fibras de curauá e juta”, diz a pesquisadora, acrescentando que o material ainda ficou muito bonito, com uma textura apropriada até para uso como portas de armário, divisórias ou outras peças aparentes.
Ainda faltam mais pesquisas para colocar estas e outras fibras naturais em uso. Mas já dá para vislumbrar a perspectiva de desenvolver diversos materiais para reforçar estruturas na construção civil e até para a decoração de interiores!
Foto: Liana John (palmeiras nativas, Traipu de Fora, BA)

Declínio no número de abelhas traria desnutrição a nações pobres

Declínio no número de abelhas traria desnutrição a nações pobres

Espécies polinizadoras respondem por até 40% da oferta de nutrientes em todo o mundo

por José Eduardo Mendonça, do blog Planeta Urgente - Planeta Sustentável
     
Inlovepai/iStock/Thinkstock

Abelha

Um novo estudo mostra que metade das pessoas em alguns países em desenvolvimento podem estar em risco de desnutrição se continuar o declínio de espécies polinizadoras, como as abelhas.
Apesar do saber popular de que elas são cruciais para a nutrição humana, nenhum trabalho científico tinha provado isto até agora. O estudo, das universidades de Vermont e Harvard, ligou pela primeira vez o que as pessoas realmente comem em quatro países em desenvolvimento com as necessidades de polinizadores para as plantas que lhes fornecem alimentação e nutrientes.
“A resposta é: o declínio de polinizadores realmente importa para a saúde humana, e os números são alarmantes no caso de deficiência de vitamina A, por exemplo”, afirma Taylor Ricketts, de Vermont, e co-autor do estudo. Estas espécies respondem por até 40% da oferta de nutrientes em todo o mundo.
A pesquisa revela que em algumas populações, como partes de Moçambique estudadas – onde crianças e mães mal tem chance de conseguir os micronutrientes necessários, como a vitamina A– o desaparecimento pode levar 56% das pessoas a uma situação de desnutrição.
De novo no caso da vitamina A, segundo o trabalho publicado no Plos One, sua falta pode levar a cegueira e maiores taxas de mortalidade por doenças já disseminadas em países pobres, em especial a malária. A “fome oculta“, dizem os cientistas, afeta no momento mais de 25% da população mundial.
Ricketts argumenta que, com os resultados produzidos por sua equipe, deve-se agora considerar medidas de proteção dos polinizadores como uma questão internacional de interesse humano, e não apenas parainsetos e amantes da natureza. “Os danos ao ecossistema causam danos à saúde”, afirmou ele, de acordo com a Nature World News.