Próxima da fronteira com os EUA e localizada entre o oceano Pacífico e as North Shore Mountains, uma cordilheira que se estende por 939 quilômetros quadrados da Colúmbia Britânica, Vancouver é a terceira metrópole mais populosa do Canadá. Com uma colonização baseada na exploração de madeira, atividade que durou do final do século XVIII até o começo do XX, a cidade é desde a década de 1970 o lar do maior porto de exportação de carvão mineral da América do Norte, movimentando cerca de 30 milhões de toneladas por ano. Contudo, ao mesmo tempo em que manda para fora de casa um combustível fóssil que contribui para a poluição nas atmosferas alheias, Vancouver se tornou uma das cidades mais “verdes” do mundo. A ambição local é até 2020 ser a primeira nos diversos quesitos que compõem o título e reduzir em 33% suas emissões de CO2.
Em sua área metropolitana, vivem cerca de três milhões de pessoas, população que aumentou em 10% nos últimos dez anos, de acordo com dados de seu governo local. Mas apenas em metade desse período, entre 2007 e 2013, a cidade conseguiu diminuir em 9% suas emissões anuais per capita de CO2, de 4,9 toneladas para 4,4 toneladas por pessoa. É o índice mais baixo entre as grandes cidades do continente norte-americano, deixando para trás Nova York, São Francisco e Philadelphia, respectivamente. Além disso, por cinco anos consecutivos Vancouver aparece na lista das dez cidades globais “mais habitáveis” do mundo da Economist Intelligence Unit, pesquisa da qual participam 140 centros urbanos.
Claro que a geografia e um pouco da cultura política canadense, renomada por ter excelentes políticas de bem-estar social, ajudam. Mas Vancouver também sentiu ao longo dos anos os efeitos danosos de um planejamento urbano voltado para o carro e a expansão dos subúrbios. O que podemos aprender dos canadenses para aplicar nas nossas cidades? E o que fizeram por lá para combinar crescimento com sustentabilidade?
1) Alternativas de transporte
Vancouver desestimula o uso do carro particular por meio de incentivos às bicicletas e ambientes mais atrativos para os pedestres. Foram implantadas faixas exclusivas para ciclistas em todas as suas grandes avenidas e, a exemplo de outras cidades, a canadense lança seu primeiro programa de compartilhamento de bicicletas ainda este ano. O grande sucesso de Vancouver, porém, tem sido a promoção de programas de compartilhamento de carros híbridos, caso do Car2Go, que possui 23 mil membros e responde por mais de 825 mil viagens em toda a província da Colúmbia Britânica. Para melhorar, a prefeitura destina vagas exclusivas e gratuitas para os carros do programa no centro da cidade. Como resultado de todas essas ações, 44% das viagens feitas dentro de seu território são feitas sem carro. Os números devem diminuir ainda mais, pois o prefeito de Vancouver Gregor Robertson busca um financiamento de 3 bilhões de dólares para ampliar o serviço de metrô até 2020.
2) Desenvolvimento com densidade urbana e economia de energia
A área total de Vancouver é de 114 quilômetros quadrados, o que significa 5.250 pessoas por quilômetro quadrado. Com 74% de seus habitantes morando nos subúrbios, os governantes da cidade perceberam que seu centro, dominado por arranha-céus, era praticamente uma área fantasma da cidade depois do horário comercial. O novo plano diretor da cidade desde 2007 tem obrigado as incorporadoras a concentrar a maioria dos investimentos imobiliários residenciais em áreas próximas aos corredores de trânsito e/ou voltadas para pedestres no centro da cidade. Isso ajudou a reduzir o número de viagens de carro, aumentar as vendas no comércio e, consequentemente, os empregos criados.
Outro ponto interessante é que os novos empreendimentos residenciais devem obedecer algumas regras de construção que evitam o alto consumo de energia. “Como não há uma barreira térmica entre as sacadas dos prédios e o chão dos apartamentos, algumas construções ficam frias no inverno e quentes no verão. Hoje, elas são obrigadas a seguir a essa norma de criar a barreira térmica para que os edifícios não desperdicem e transmitam energia de fora para dentro e de dentro para fora o tempo todo durante o inverno com calefação ou no verão com ar condicionado”, explica Gregor Robertson em uma entrevista. Essa solução permitiu uma queda média de 20% no consumo de energia nos novos edifícios de Vancouver.
3) Compostagem e uso inteligente dos aterros
Enquanto ainda estudamos colocar programas de compostagem residencial em cidades brasileiras como São Paulo, Vancouver já organizou um que, inclusive, tem coleta semanal. Além disso, o lixo orgânico não-residencial, é mandado para um grandecentro de compostagem municipal. O adubo resultante é vendido para jardineiros ou usado nas áreas verdes da cidade. O objetivo é que o mínimo possível seja mandado para a incineração ou o aterro sanitário, onde o metano gerado ainda é usado para aquecer estufas públicas. Como se não bastasse, a cidade também utiliza o calor gerado naturalmente pelos gases dos esgotos para aquecer casas no inverno.
Assembleia da Assemae tem como tema a sustentabilidade dos serviços de saneamento básico
RAFAELA RIBEIRO
O secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério de Meio Ambiente (MMA), Ney Maranhão, assistirá, na próxima segunda-feira (05/05), a abertura da 44ª Assembleia Nacional da Associação Nacional dos Serviços Municipais. Na manhã seguinte (06/05) participa de uma mesa redonda onde será discutida a Política Nacional de Resíduos Sólidos e os desafios do fim dos lixões. “É extremamente valoroso e essencial esse diálogo direto com as entidades municipais”, ponderou Ney Maranhão. “Só assim podemos mensurar e auxiliar quem está na ponta, as prefeituras, a vencer seus desafios”, disse.
O evento, considerado como um dos mais importantes para o setor de saneamento, acontece em Uberlândia até 9 de maio e já tem 1.200 inscritos devendo bater o recorde histórico de participantes. Sociedade civil sem fins lucrativos, a Assemae surgiu em 1984 no Triângulo Mineiro e, hoje reúne quase 2 mil associados de municípios, entre eles prefeituras e serviços autônomos de água e esgoto. A associação defende a universalização do saneamento básico como direito do cidadão e reconhece no saneamento o caminho para a prevenção e controle de doenças de veiculação hídrica, inclusão social e qualidade de vida das populações urbana e rural.
A assembleia nacional tem como tema “Assemae 30 Anos: pela sustentabilidade dos serviços de saneamento básico”. A comissão organizadora trabalha para que os participantes se deparem com questões diretamente ligadas ao dia-a-dia. Serão painéis, mesas redondas e seminários, todos com assuntos voltados diretamente ao tema. Também participam do evento a diretora de Ambiente Urbano do MMA, Zilda Veloso, que comporá a mesa redonda sobre logística reversa, acordo setorial de embalagens em geral e coleta seletiva, e o diretor de Recursos Hídricos do MMA, Marcelo Jorge Medeiros, que tratará da gestão integrada dos recursos hídricos, o desafio da despoluição de bacias e os Planos de Bacias Hidrográficas.
Arquivo/MMABela e delicada: zona costeira exige maiores cuidados
Oficina busca subsídios para proteger a zona costeira
RAFAELA RIBEIRO
O grupo de trabalho da Força Tarefa da Zona Costeira para o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PNA) reúne-se, até esta terça-feira (29/04), para validar e consolidar documento, eleger prioridades, definir prazos e indicadores para as ações propostas. A principal finalidade é reunir subsídios para elaborar a primeira versão do PNA, que deve ficar pronto até 2015.
“A reunião consolida o trabalho que está em curso desde o ano passado, em que especialistas da academia e representantes dos estados e órgãos do governo federal vão apresentar as principais fragilidades das zonas costeiras em relação às mudanças climáticas e propor ações a serem adotadas”, explicou a gerente de Projeto da Gerência Costeira do Ministério do Meio Ambiente, Leila Swerts.
A Convenção sobre Mudança do Clima estabelece a necessidade da adoção de medidas de adaptação que consistem em ações para aumentar a resiliência de sistemas – naturais ou não – frente aos impactos advindos das mudanças do clima. O PNA tem como objetivo reunir medidas para a promoção da adaptação à mudança do clima no país, avaliando custo-efetividade, sinergias, co-benefícios e conflitos das medidas consideradas. O documento está sendo elaborado pelo Grupo de Trabalho Interministerial de Adaptação, criado no âmbito da Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas. A equipe tem o papel de articular instituições que atuam no tema, debater e reunir subsídios técnicos e coordenar os trabalhos de elaboração do plano.
VULNERABILIDADE
Um dos recortes adotados no Plano de Adaptação é a Zona Costeira. Foi criada a Força Tarefa da Zona Costeira, formada por um conjunto de especialistas e gestores, para debater sobre a vulnerabilidade, riscos e proposição de medidas de adaptação na zona costeira. Com população residente atingindo quase 45 milhões de habitantes, a maior vulnerabilidade da região pode ser tanto em função da elevação do nível do mar, quanto à ocorrência de eventos extremos, principalmente inundações.
De acordo com estudo promovido pelo Ministério do Meio Ambiente, o risco natural às inundações dos municípios costeiros considera como críticas as aglomerações urbanas situadas abaixo da cota de 10 metros. A Força Tarefa foi constituída em meados de 2013 e, desde então, vem produzindo um documento base contendo análises, constatações e propostas, sobre os efeitos das mudanças climáticas na região.
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), tem duas semanas para conter mais uma crise na Polícia Civil. Os agentes, que reclamam do abismo salarial entre os policiais e delegados, exigem a incorporação ao salário de uma gratificação de 850 reais e ameaçam entrar em greve caso não tenham a reivindicação atendida – o valor integra o programa Delegacia Legal, de modernização das delegacias. Na terça-feira, a categoria estabeleceu um prazo: se Pezão não apresentar o projeto de incorporação na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) até o dia 15, os agentes farão uma assembleia para votar a possibilidade de greve.
Nesta sexta, perdem a gratificação policiais grávidas, baleados em dias de folga, aqueles que estão de licença ou férias e os aposentados. “Uma policial que engravida perde a gratificação e precisa recorrer à Justiça para não ter o salário diminuído. Isso é cruel”, disse o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio de Janeiro (Sindpol), Francisco Chao. O governo está pressionado por outra categoria: policiais militares articulam, caso a Polícia Civil obtenha a incorporação, um movimento de greve para também cobrar aumento salarial.
A julgar pela opinião dos cerca de mil policiais que participaram da assembleia realizada na terça-feira, no Clube Municipal, na Tijuca, sem a incorporação da gratificação o risco de paralização é elevado. Uma greve a poucos dias da Copa do Mundo – quando são previstas manifestações e confrontos nas ruas – é uma ameaça capaz de comprometer o governo de Luiz Fernando Pezão, pré-candidato ao governo do Rio. “A categoria está muito ressabiada. Em dezembro, o governador Sérgio Cabral se comprometeu a incorporar a gratificação Delegacia Legal durante reunião com o sindicato, no Palácio Guanabara. Pezão, assim que assumiu o governo, afirmou que atenderia a reivindicação e nos pediu que esperássemos até o dia 15 de maio. A demora está sendo nociva porque está minando a confiança da categoria”, afirmou Chao ao site de VEJA.
Outro sindicato que representa os policiais fixou outdoors com a ameaça de greve dos agentes. No texto, o Sindicato dos Policiais Civis do Rio de Janeiro (Sinpol) afirma: “Pezão, a bola é sua! Atenda a categoria e evite greve na Copa”. De acordo com o Sindpol, o salário inicial bruto de um agente é de cerca de 4.500 reais, incluindo a gratificação Delegacia Legal. Com os descontos, o valor líquido cai para 3.500 mil. O ganho de um delegado no início da carreira, segundo planilha do Sindpol, é de 15.000 reais. “O salário de um agente da polícia civil do Rio não é condizente com a qualificação que é exigida no concurso e com a responsabilidade de um inspetor. O concurso exige terceiro grau, mas a remuneração é uma das mais baixas do país”, afirma Chao.
As águas-vivas são seres magníficos em beleza e, em muitos casos, extremamente perigosas. Elas também guardam mistérios e muitas curiosidades. O site norte-americano TreeHugger elaborou uma lista com fatos fascinantes sobre esses seres. O CicloVivo replica aqui alguns deles. 1. Brilhar no escuro
Isso não acontece com todas, mas muitas águas-vivas possuem órgãos bioluminescentes. Mesmo que pareça estranho, essa é uma das armas usadas por elas para distrais seus predadores.
2. Auto-clonagem
Enquanto muitos cientistas passam a vida estudando técnicas para tornar a clonagem humana possível, as águas-vivas já fazem isso naturalmente. Se uma água-viva é cortada em dois pedaços, ela é capaz de se regenerar e criar dois novos organismos completos.
3. Poder da imortalidade
Esse é mais um fato que não acontece com todas as espécies, mas a Turritopsis nutricula é a prova de que é possível que uma água-viva não morra nunca. A explicação para essa “imortalidade” deve-se à sua capacidade de se transformar de medusa (forma adulta e normalmente conhecida desses animais) para pólipo (fase inicial, em que a água-viva não possui tentáculos) em períodos de estresse. Essa habilidade a mantém viva por muito mais tempo. 4. Nem toda água-viva possui tentáculos
Apesar de os tentáculos serem essencialmente importante para a defesa de algumas espécies de águas-vivas, nem todas possuem tentáculos. A Scyphomedusa deepstaria é um desses exemplos. 5. Sem cérebro
Águas-vivas não possuem cérebro. Isso não significa que elas não tenham controle sobre suas ações. Os impulsos são enviados ao corpo através de uma rede nervosa, que possibilita o desenvolvimento e a coordenação desses animais.
6. Elas podem servir de comida
Tartarugas comem águas-vivas e as espécies menores até servem de alimento para as maiores. Mas, você já imaginou humanos comendo água-viva? Soa estranho e não é uma prática rotineira, porém, já aconteceu. Estudantes japoneses aproveitaram a água-viva para criar uma espécie de caramelo. 7. Lutam contra a energia nuclear
Parece até que as águas-vivas têm alguma espécie de consciência ambiental ou senso de ativismo anti-energia nuclear. Nos últimos anos elas foram a causa para o desligamento temporário de diversas usinas. O que acontece é que elas podem, acidentalmente, entupir os tubos de admissão das usinas, localizados no fundo do mar.
Em um mundo cada vez mais exigente, será que é possível ter um trabalho mais flexível? Nossa repórter mostra que sim - e que, dessa maneira, você contribui para melhorar o local onde vive.
PORNatália Garcia/ Ilustrações: Negreiros
Bianca Santana é professora, formada em jornalismo, especializada em educação e tecnologia, e tem três filhos, o que fica evidente logo à entrada de sua casa no bairro de Pinheiros, em São Paulo. O notebook, de onde trabalha todos os dias, divide espaço na mesa com os brinquedos do Lucas, o filho mais velho, e do Pedro, o do meio. Na cestinha, a Cecília, aos 7 meses, só deixa a mãe trabalhar se estiver ouvindo música. A rotina é corrida: ela acorda, prepara café da manhã para os filhos e leva os meninos a pé para a escola, a casa foi escolhida tendo em mente essa possibilidade. De volta, ela deixa prontos os almoços deles, dá de mamar para Cecília e a faz dormir; daí começa a trabalhar. "Daí começa a trabalhar?", pergunto. Bianca sorri: "é, tem todo esse trabalho `invisível' antes."
Essas pequenas tarefas cotidianas não entram na lista de pendências de trabalho da Bianca, e aposto que nem nas suas. Uma das explicações para isso está esboçada no livro A Condição Humana, da escritora e filósofa alemã Hannah Arendt, em que ela define os tipos de trabalho existentes. O primeiro deles é o labor, esse chamado por Bianca de invisível, que nunca acaba: varrer o chão, podar as plantas, colocar o lixo para fora, etc. O segundo é a obra, a atividade que tem um fim em si mesma, em que conseguimos expressar nossos talentos e a que nos dedicamos com a alma. Por fim, Hannah define como trabalho a atividade remunerada, que se estabelece a partir de uma relação econômica. Foi essa terceira categoria que se consolidou durante a Revolução Industrial na Inglaterra do século 18 como modo de garantir a sobrevivência em territórios urbanos, e, portanto, moldou as cidades modernas. De lá para cá, o labor e a obra passaram a ser vistos como algo reservado apenas às empregadas domésticas e aos artistas, enquanto o trabalho ganhou um valor moral e obrigatório. É nessa lógica que vivemos eu e você. E a Bianca.
O que ela não tardou a perceber é que ter hora certa para começar e parar de produzir não funcionava em sua vida. "Em 2007, eu era funcionária de uma editora e tinha que seguir a regra da jornada de trabalho, mas isso me incomodava", conta ela. "Um simples exemplo é que quando o correio abria, eu já estava a caminho do trabalho, e quando fechava, eu ainda estava trabalhando, então eu simplesmente estava impedida de postar qualquer coisa", diz ela, aos risos. Bianca não se ressente desse período, fundamental para que ela aprendesse a se tornar dona de sua própria rotina, ditada hoje não por regras corporativas, mas pelos desejos e necessidades de sua vida pessoal. "Ano passado, grávida da Cecília, eu chegava a trabalhar 12 horas por dia", conta Bianca, referindo-se, claro, às suas atividades remuneradas, não ao labor. "Depois que ela nasceu, eu passei uns quatro meses trabalhando pouco mais do que duas horas por dia", diz ela. "Foi ótimo alternar atividades profissionais leves com a maternidade, o que deixou minha relação com a minha filha também muito mais saudável", conta Bianca. Ela defende que parar bruscamente de trabalhar pode ser um choque para mães que, de uma hora para outra, passam a apenas se dedicar aos filhos, durante a licença maternidade, para em seguida voltarem à rotina das oito horas diárias de trabalho. Bianca achou uma medida de transição muito mais branda para conciliar a maternidade ao trabalho.
Fazer sentido
A vontade de se sentir realizada no trabalho também foi a força- motriz por trás da mudança na vida da jornalista, ciclista e cicloativista Evelyn Araripe. Depois de passar por estruturas mais rígidas de rotina de trabalho, e perceber que elas não serviam em sua vida, ela se juntou a alguns amigos para criar o Gangorra, um espaço de co-working interdisciplinar, que reúne pessoas que compartilham da paixão por pedalar em São Paulo. "Hoje, não é nem que eu viva para trabalhar ou trabalhe para viver, eu apenas vivo", conta Evelyn.
Foi também a relação com a cidade que fez Rodrigo Bandeira de Luna abandonar as agências de publicidade para criar a ONG Cidade Democrática. Seu trabalho é fazer conexões entre a sociedade civil organizada (e desorganizada também, como ele gosta de dizer), o poder público e a iniciativa privada para diagnosticar problemas e potenciais e, a partir daí, criar projetos que deixem um bom legado nas cidades.
Uma das atividades da ONG foi o Plano Diretor do bairro da Pompéia, em São Paulo, totalmente viabilizado por financiamento colaborativo, no site brasileiro Catarse. Aliás, o próprio Catarse foi criado em 2010 por dois estudantes de administração, Diego Reeberg e Luís Otávio, que queriam "fazer projetos legais darem certo no Brasil". Em vez de buscarem nos estágios existentes na área de administração a entrada para o mercado de trabalho, criaram seu próprio caminho e hoje administram o maior site de financiamentos desse modelo no Brasil, com mais de 500 projetos bem-sucedidos.
A raíz de um trabalho que faça mais sentido é recuperar aquele segundo conceito de Hannah Arendt, o da obra. "Isso só é possível quando a relação com o trabalho não é puramente utilitarista", defende Rita Monte, jornalista, iogue e integrante da ONG Semente Una. "Se a pessoa enxerga o próprio trabalho, intelectual e braçal, como algo apenas a ser usado, vendido, certamente será mais difícil de expressar seus talentos e atribuir sentido a esse trabalho", analisa. Rita é uma das criadoras do Programa de Expressão de Potenciais (PEP), uma consultoria feita por ela e outros da Semente Una a empresas para ajudar os funcionários a encontrar e expressar seus talentos. Não é à toa que ela se apresenta como uma "empreendedora servidora".
Trabalhando menos
Essa nova lógica de trabalhar envolve atribuir sentido às atividades profissionais, conseguir descobrir e expressar seus talentos e tomar as decisões sobre a própria rotina. Mas ao contrário do que possa parecer, não se trata de uma possibilidade restrita aos empreendedores. Funcionários de empresas mais tradicionais também podem entrar nessa. É isso que a Semente Una tenta possibilitar com o PEP. E há uma maneira ainda mais simples de fazer isso ¿ ou pelo menos começar esse processo: trabalhar menos. Isso porque, se é verdade que há um levante de novas possibilidades de trabalho, ele ainda se limita a uma parcela reduzida das pessoas. "São poucos os que têm essa escolha", reforça o professor de economia da PUC-SP Ladislaw Dowbor.
Como bom economista, Dowbor sabe olhar para essas novas lógicas de trabalho com lentes macro, de onde fica claro que os empreendedores criativos ainda são minoria, enquanto prevalecem em maior número os funcionários em empresas com uma estrutura corporativa clássica. E aí, quem manda são os patrões. Por isso, ele defende que soluções em larga escala contra a perda da qualidade de vida pelo excesso de trabalho passam necessariamente pela diminuição da jornada profissional. Dowbor evoca um texto do economista inglês John Maynard Keynes (1883 - 1946) escrito aos seus netos (nós), dizendo que no futuro (hoje) só seriam necessárias 15 horas de trabalho semanais para manter a economia estável.
Keynes imaginava que as inovações tecnológicas somadas ao avanço econômico dos países diminuiriam a necessidade de trabalhar para que todos tivessem acesso às necessidades básicas. "A questão é que perdemos essa noção de `básico' e hoje produzimos bens de consumo em excesso, sem termos tempo para aproveitá-los", reflete Dowbor. O economista lembra que essa frustração é acompanhada de uma enorme disparidade na distribuição de renda, o que nos leva ao segundo argumento para reduzir a jornada de trabalho: a necessidade de distribuir a oferta de empregos. "Só assim evitamos pessoas desesperadas por um emprego ou chantageadas pelo medo de perdê-lo", defende Dowbor. Essa ideia é igualmente abraçada pelo filósofo italiano Domenico de Masi. "Temos que adotar a política do `trabalhar menos para trabalharem todos'", afirma de Masi.
O New Economics Foundation (NEF), um centro de investigação independente que produz estudos sobre a economia do bem- estar, propôs que a Grã-Bretanha adote uma jornada de 21 horas de trabalho semanais. O NEF cita dados de um estudo do EU Working Time Directive, que mostra que os ingleses em idade economicamente ativa gastam, em média, 20 horas por semana com trabalho. O valor é baixo porque nessa conta estão inclusos os desempregados. Quando é medida a jornada semanal dos trabalhadores remunerados, o tempo varia entre 37 e 49 horas mensais. "Isso mostra que a economia se sustentaria da mesma maneira se mais pessoas trabalhassem durante menos tempo", diz Dowbor. A ideia não é simplesmente pensar em uma semana de 21 horas de trabalho, mas em como 1092 horas podem se dividir ao longo do ano, com fluxos de produção intensa intercalados por épocas mais calmas, o que flexibilizaria o trabalho de acordo com a vida de cada um. Algo que Bianca, lá do começo do texto, já nos ensinou ser possível. Trabalhou mais durante a gravidez para poder se dedicar à chegada de Cecília e, então, retomar a produção aos poucos.
É claro que a simples redução da jornada não garante, em si, uma melhoria qualitativa no trabalho e na vida das pessoas. O ponto principal de trabalharmenos é ter mais horas livres para ler, dormir, se exercitar, aproveitar a família e os amigos, o que pode ser uma ótima maneira de se conectar com os próprios talentos e, quem sabe, inventar seu próprio trabalho.
Redescobrir a cidade
Curiosamente, esse processo geralmente implica uma mudança na relação das pessoas com suas cidades, ou é potencializado por ela. Quando organizou sua rotina de trabalho para levar os filhos à pé para a escola, Bianca descobriu que São Paulo tinha árvores frutíferas. Aliás, é para disseminar essa descoberta que a designer Juliana Gatti criou a empresa Árvores Vivas, que faz expedições para reconhecer e mapear árvores nativas da cidade. E os benefícios não são apenas individuais, mas também públicos: cidades onde as pessoas trabalham menos têm mais qualidade de vida.
Caso de Utah, nos Estados Unidos, berço do "Working4Utah", que dividiu a jornada de trabalho de 40 horas semanas em apenas quatro dias ¿ assim os trabalhadores ganharam um fim de semana de sexta a domingo. Além de 82% dos trabalhadores terem aprovado o novo sistema e se dizerem mais produtivos nele, as cidades ainda lucraram. O programa divulgou dados que apontam que, no Estado de Utah, os quatro dias de trabalho semanais reduziram, no primeiro ano, 5 milhões de quilômetros percorridos de carro, o que representa uma economia de quase R$ 3 milhões. Já em Guiné-Bissau, na África, foi instituída uma jornada de trabalho das 7h às 12h e das 15h às 18h. "Esse intervalo de almoço fazia as pessoas chegarem muito mais descansadas e focadas para fechar o dia de trabalho", diz Ladislau Dowbor. "No final do expediente, íamos passear e aproveitar a cidade", conta. Trabalhar menos, com mais qualidade, e descobrir uma cidade que você não imaginava que existia é possível. É verdade que depende, em parte, da adoção de políticas públicas que permitam essa nova lógica. Mas abrir a mente para novas possibilidades é igualmente importante nesse processo.
Natália Garcia é criadora do projeto Cidades para Pessoas, em que pesquisa soluções para os problemas urbanos.
Técnico da FZB apresenta palestra sobre arborização urbana
Publicado em /04/2014 10:40:04
Nesta terça-feira, dia 15, das 9h30 às 12h e das 14h às 17h30, o engenheiro agrônomo da Seção de Produção de Mudas do Jardim Botânico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, Sérgio André de Oliveira, apresenta um mini-curso sobre produção de mudas de arborização urbana, no Aquário do Rio São Francisco da FZB-BH (av. Otacílio Negrão de Lima, 8000, Pampulha).
A atividade faz parte do Seminário de Arborização Urbana promovido pela Cemig em parceira com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) e a Prefeitura de Belo Horizonte, que teve início hoje, dia 14, e tem como um dos objetivos discutir a importância do planejamento e manutenção da arborização para o convívio adequado em ambiente urbano.
O Jardim Botânico da FZB-BH produz espécies arbóreas que são plantadas nas vias da cidade com altura mínima de 2,5 metros (entre o colo e a primeira inserção de galhos), 2,5 centímetros de diâmetro de caule na altura do peito, bom estado fitossanitário, condução de formação da muda e sistema de raízes acondicionados em recipiente de 60 litros, conforme Deliberação Normativa de nº 69 de 2010 do Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM).
Os preceitos da culinária Shôjin, adotada nos mosteiros zen budistas, podem transformar a maneira como você prepara a sua refeição.
Cortar os legumes e apenas cortá-los. Lavar as louças e apenas limpá-las. Tudo em silêncio e sem a algazarra estrondosa do bater panelas, derrubar ou quebrar copos, esquecer o fogo alto aceso. Mais do que fritar, assar,cozinhar, grelhar, estar na cozinha, preparar a refeição, limpar a bagunça, pode ser um tremendo treinamento para acalmar a mente e trazer a almejada paz de espírito.
A ideia, em um primeiro momento, soa bem estranha. Meditação tem a ver com um lugar calmo, uma almofada, um incenso e você sentado na tradicional posição de lótus. Pois bem, cozinhar e, na sequencia, saborear o alimento pode provocar efeitos semelhantes aos experimentados na tradicional meditação. Mesmo com aroma da sopa fervilhando no fogão e as mãos cheirando a alho ou cebola recém-fatiada. Pelo menos esse é o pensamento da chamada culinária Shôjin, praticada nos mosteiros que seguem a tradição do zen budismo. Nesses mosteiros, o tenzô (o cozinheiro) é sempre um monge com alta elevação espiritual. É ele quem decide o que será preparado e quem coordena o trabalho na cozinha.
Os princípios da culinária Shôjin, aliás, muito têm a ver com um jeito mais sustentável de se nutrir. Por exemplo, o alimento deve ser aproveitado integralmente - nenhum talo, semente ou casca é desperdiçada. E só se usa legumes, verduras e frutas `da época¿ e cultivados na região - obviamente tudo é orgânico. Muitos mosteiros têm, inclusive, seu pomar e horta. A alimentação é vegetariana e os monges cozinheiros fazem tudo em absoluto silêncio. Na maneira mais tradicional, também não se usa nem cebola, nem alho. E as cores e os sabores dos alimentos também devem ser levados em conta para que exista um perfeito equilíbrio. Por isso, não podem faltar, em uma refeição, amarelo, branco, verde, vermelho, preto ou roxo e marrom; e os sabores ácido, picante, amargo, salgado e doce.
São poucos os mosteiros no mundo - boa parte deles estão no Japão que seguem o Shôjin. No Brasil, o Mosteiro Zen Morro da Vargem, que fica em Ibiraçu, no Espírito Santo, segue os ensinamentos do mestre Dogen (1200 a 1253), que introduziu a escola Soto, do Budismo Zen. Em Morro da Vargem, o preparar a refeição e saboreá-la faz parte da prática para entender o caminho da iluminação. E quando o assunto é cozinhar, o mosteiro segue livros como o Tenzo Kyokun (instrução para o chefe de cozinha do mosteiro), o Fushuku Hanpo (como comer o desjejum e o almoço) e o Jikuinmon (orientações sobre a cozinha, armazenamento e processamento dos alimentos). "No Mosteiro, preparam-se as refeições diárias com vegetais e legumes em sua maioria colhidos na própria horta. Seguindo o preceito de respeitar todas as criaturas vivas, Dogen Zenji nos diz que o melhor alimento é resultado de três elementos: do próprio alimento, de quem o come e de quem o prepara", escreve o Reverendo Hokan Saito, abade do Templo Mirokuji, em Ieakuni, no Japão. "O alimento na vida do Zen nos dá não somente a nutrição, mas contentamento e gratidão", completa Hokan Saito. A pedido das pessoas que frequentam o mosteiro de Morro da Vargem e que já provaram as deliciosas refeições preparadas por lá, foi publicado, ano passado, o Livro de Receitas Mosteiro Zen Morro da Vargem, no qual o mestre cozinheiro do lugar ensina a fazer delícias como o estrogonofe de glúten com couve-flor, a panqueca de ricota com taioba e a sopa de cenoura com gengibre, que ilustra essa matéria.
O preparo
Monja Gyoku En, do Budismo Zen, já provou a saborosa comida preparada no Mosteiro Morro da Vargem. "Os monges comiam o que havia por lá. Às vezes, serviam jaca assada, jaca cozida, jaca à milanesa. Caroço de jaca assado, cozido, torrado e feito farinha. Tinha milho que virava uma massa de pizza deliciosa, com molho de tomate da horta e queijo produzido ali mesmo com leite da vaca que era criada pelos monges", conta Gyoku. E continua: "o que mais me encantou definitivamente naquela cozinha foi a simplicidade, a limpeza, a organização, a disposição dos objetos da cozinha e o comportamento dos monges, que, ao cozinhar, mantinham-se atentos e em silêncio". Monja Gyoku En teve contato mais direto e intenso com a culinária Shôjin depois que recebeu a ordenação monástica e passou algum tempo no Mosteiro Shogoji, no Japão, onde pode observar como os monges mais experientes preparam o alimento. Esse aprendizado se transformou em oficinas sazonais. E, há pouco mais de um ano, em um livro O Zen na Cozinha (editora Sustentar).
Gyoku nasceu em Belo Horizonte e sempre adorou ver a avó e a mãe cozinhar. Foi criada com a casa sendo perfumada pelo aroma dos pratos preparados no fogão a lenha. Quando jovem, foi para São Paulo e começou a fazer sozinha a própria refeição. Da relação emocional com a cozinha da infância, brotou o interesse pela culinária Shôjin, que conheceu depois de sua ordenação. "Nos grandes mosteiros, é o tenzô quem define o cardápio, escolhe os alimentos. E o cozinhar é silencioso. Mas é um silêncio natural, porque enquanto se cozinha, os outros monges meditam", conta ela. "É o silêncio que ajuda a transformar o cozinhar em meditação. E é pelo silêncio que você entende mais as pessoas do que quando está falando. Sua percepção fica mais aguçada", pondera. Segundo a monja, que hoje mora em Brasília, com uma certa dose de atenção - o tal estar presente no aqui agora - conseguimos perceber, na cozinha, como está nosso lado emocional. Se estamos agitados ou com muitas preocupações, é quase inevitável derrubar o copo, bater as panelas, deixar a comida queimar, exagerar no sal na hora de temperar. "Isso é envolvimento, o estar inteiramente presente, não dividido e totalmente devotado ao ofício decozinhar", acredita a delicada e simpática Monja Gyoku En, que adora assistir a programas de culinária na TV a cabo, como os de Jamie Oliver, Chuck Hughes, que tem um restaurante em Toronto, no Canadá, e Rachel Koo, uma inglesinha que mora em Paris, estudou na prestigiada escola Le Cordon Bleu etransformou sua quitinete em um restaurante: La Petite Cuisine à Paris.
O saborear
O respeito pela comida é muito importante no Shôjin. Isso, aliás, é um princípio do zen budismo: a não discriminação. "Cozinhar no estilo Shôjin requer uma atitude sincera e respeitosa em relação aos alimentos, não julgá-los pela aparência e ter os mesmos cuidados e consideração para com todos os alimentos. Preparar a comida cuidadosamente, seja grande ou pequena a quantidade, raro, caro comum ou acessível, sem discriminação", diz a Monja Gyoku En.
Além do respeito no comer, é importante manter o ambiente agradável. Monja Coen, fundadora da Comunidade Zen Budista por aqui, costuma dizer que a refeição não precisa ser silenciosa. No dia a dia, em família, a conversa épermitida, mas nada de assuntos que possam causar aflição, angústia ou discórdia. "É um momento para compartilhar o que temos e para compartilhar a vida", diz.
Para Gyoku En, uma das coisas que está adoecendo no mundo de hoje é a nossa atitude no comer. Isso porque as pessoas não percebem o que estão colocando na boca, fazem isso de frente para a tevê, se alimentam de maneira ansiosa e não se permitem experimentar novos e diferentes sabores. Segundo ela, o espírito da culinária Shôjin está em cozinhar para fazer os outros felizes e compartilhar essa refeição com quem a gente ama.
Cozinhar, afinal, pode ser algo bem mais profundo do que podemos imaginar. Como diria Monja Coen, precisamos fazer a cada instante da nossa vida, um instante de prática. E por que não na cozinha, certo?