sábado, 10 de maio de 2014

Meditar e cozinhar, uma boa dupla


Meditar e cozinhar, uma boa dupla

Os preceitos da culinária Shôjin, adotada nos mosteiros zen budistas, podem transformar a maneira como você prepara a sua refeição.

Cortar os legumes e apenas cortá-los. Lavar as louças e apenas limpá-las. Tudo em silêncio e sem a algazarra estrondosa do bater panelas, derrubar ou quebrar copos, esquecer o fogo alto aceso. Mais do que fritar, assar,cozinhar, grelhar, estar na cozinha, preparar a refeição, limpar a bagunça, pode ser um tremendo treinamento para acalmar a mente e trazer a almejada paz de espírito.

A ideia, em um primeiro momento, soa bem estranha. Meditação tem a ver com um lugar calmo, uma almofada, um incenso e você sentado na tradicional posição de lótus. Pois bem, cozinhar e, na sequencia, saborear o alimento pode provocar efeitos semelhantes aos experimentados na tradicional meditação. Mesmo com aroma da sopa fervilhando no fogão e as mãos cheirando a alho ou cebola recém-fatiada. Pelo menos esse é o pensamento da chamada culinária Shôjin, praticada nos mosteiros que seguem a tradição do zen budismo. Nesses mosteiros, o tenzô (o cozinheiro) é sempre um monge com alta elevação espiritual. É ele quem decide o que será preparado e quem coordena o trabalho na cozinha.

Os princípios da culinária Shôjin, aliás, muito têm a ver com um jeito mais sustentável de se nutrir. Por exemplo, o alimento deve ser aproveitado integralmente - nenhum talo, semente ou casca é desperdiçada. E só se usa legumes, verduras e frutas `da época¿ e cultivados na região - obviamente tudo é orgânico. Muitos mosteiros têm, inclusive, seu pomar e horta. A alimentação é vegetariana e os monges cozinheiros fazem tudo em absoluto silêncio. Na maneira mais tradicional, também não se usa nem cebola, nem alho. E as cores e os sabores dos alimentos também devem ser levados em conta para que exista um perfeito equilíbrio. Por isso, não podem faltar, em uma refeição, amarelo, branco, verde, vermelho, preto ou roxo e marrom; e os sabores ácido, picante, amargo, salgado e doce.

São poucos os mosteiros no mundo - boa parte deles estão no Japão que seguem o Shôjin. No Brasil, o Mosteiro Zen Morro da Vargem, que fica em Ibiraçu, no Espírito Santo, segue os ensinamentos do mestre Dogen (1200 a 1253), que introduziu a escola Soto, do Budismo Zen. Em Morro da Vargem, o preparar a refeição e saboreá-la faz parte da prática para entender o caminho da iluminação. E quando o assunto é cozinhar, o mosteiro segue livros como o Tenzo Kyokun (instrução para o chefe de cozinha do mosteiro), o Fushuku Hanpo (como comer o desjejum e o almoço) e o Jikuinmon (orientações sobre a cozinha, armazenamento e processamento dos alimentos). "No Mosteiro, preparam-se as refeições diárias com vegetais e legumes em sua maioria colhidos na própria horta. Seguindo o preceito de respeitar todas as criaturas vivas, Dogen Zenji nos diz que o melhor alimento é resultado de três elementos: do próprio alimento, de quem o come e de quem o prepara", escreve o Reverendo Hokan Saito, abade do Templo Mirokuji, em Ieakuni, no Japão. "O alimento na vida do Zen nos dá não somente a nutrição, mas contentamento e gratidão", completa Hokan Saito. A pedido das pessoas que frequentam o mosteiro de Morro da Vargem e que já provaram as deliciosas refeições preparadas por lá, foi publicado, ano passado, o Livro de Receitas Mosteiro Zen Morro da Vargem, no qual o mestre cozinheiro do lugar ensina a fazer delícias como o estrogonofe de glúten com couve-flor, a panqueca de ricota com taioba e a sopa de cenoura com gengibre, que ilustra essa matéria.


O preparo

Monja Gyoku En, do Budismo Zen, já provou a saborosa comida preparada no Mosteiro Morro da Vargem. "Os monges comiam o que havia por lá. Às vezes, serviam jaca assada, jaca cozida, jaca à milanesa. Caroço de jaca assado, cozido, torrado e feito farinha. Tinha milho que virava uma massa de pizza deliciosa, com molho de tomate da horta e queijo produzido ali mesmo com leite da vaca que era criada pelos monges", conta Gyoku. E continua: "o que mais me encantou definitivamente naquela cozinha foi a simplicidade, a limpeza, a organização, a disposição dos objetos da cozinha e o comportamento dos monges, que, ao cozinhar, mantinham-se atentos e em silêncio". Monja Gyoku En teve contato mais direto e intenso com a culinária Shôjin depois que recebeu a ordenação monástica e passou algum tempo no Mosteiro Shogoji, no Japão, onde pode observar como os monges mais experientes preparam o alimento. Esse aprendizado se transformou em oficinas sazonais. E, há pouco mais de um ano, em um livro O Zen na Cozinha (editora Sustentar).

Gyoku nasceu em Belo Horizonte e sempre adorou ver a avó e a mãe cozinhar. Foi criada com a casa sendo perfumada pelo aroma dos pratos preparados no fogão a lenha. Quando jovem, foi para São Paulo e começou a fazer sozinha a própria refeição. Da relação emocional com a cozinha da infância, brotou o interesse pela culinária Shôjin, que conheceu depois de sua ordenação. "Nos grandes mosteiros, é o tenzô quem define o cardápio, escolhe os alimentos. E o cozinhar é silencioso. Mas é um silêncio natural, porque enquanto se cozinha, os outros monges meditam", conta ela. "É o silêncio que ajuda a transformar o cozinhar em meditação. E é pelo silêncio que você entende mais as pessoas do que quando está falando. Sua percepção fica mais aguçada", pondera. Segundo a monja, que hoje mora em Brasília, com uma certa dose de atenção - o tal estar presente no aqui agora - conseguimos perceber, na cozinha, como está nosso lado emocional. Se estamos agitados ou com muitas preocupações, é quase inevitável derrubar o copo, bater as panelas, deixar a comida queimar, exagerar no sal na hora de temperar. "Isso é envolvimento, o estar inteiramente presente, não dividido e totalmente devotado ao ofício decozinhar", acredita a delicada e simpática Monja Gyoku En, que adora assistir a programas de culinária na TV a cabo, como os de Jamie Oliver, Chuck Hughes, que tem um restaurante em Toronto, no Canadá, e Rachel Koo, uma inglesinha que mora em Paris, estudou na prestigiada escola Le Cordon Bleu etransformou sua quitinete em um restaurante: La Petite Cuisine à Paris.


O saborear

O respeito pela comida é muito importante no Shôjin. Isso, aliás, é um princípio do zen budismo: a não discriminação. "Cozinhar no estilo Shôjin requer uma atitude sincera e respeitosa em relação aos alimentos, não julgá-los pela aparência e ter os mesmos cuidados e consideração para com todos os alimentos. Preparar a comida cuidadosamente, seja grande ou pequena a quantidade, raro, caro comum ou acessível, sem discriminação", diz a Monja Gyoku En.

Além do respeito no comer, é importante manter o ambiente agradável. Monja Coen, fundadora da Comunidade Zen Budista por aqui, costuma dizer que a refeição não precisa ser silenciosa. No dia a dia, em família, a conversa épermitida, mas nada de assuntos que possam causar aflição, angústia ou discórdia. "É um momento para compartilhar o que temos e para compartilhar a vida", diz.

Para Gyoku En, uma das coisas que está adoecendo no mundo de hoje é a nossa atitude no comer. Isso porque as pessoas não percebem o que estão colocando na boca, fazem isso de frente para a tevê, se alimentam de maneira ansiosa e não se permitem experimentar novos e diferentes sabores. Segundo ela, o espírito da culinária Shôjin está em cozinhar para fazer os outros felizes e compartilhar essa refeição com quem a gente ama.

Cozinhar, afinal, pode ser algo bem mais profundo do que podemos imaginar. Como diria Monja Coen, precisamos fazer a cada instante da nossa vida, um instante de prática. E por que não na cozinha, certo?

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Pausa para o chá


Pausa para o chá

Delicioso e repleto de benefícios para o organismo, o chá, quente ou mesmo frio, cai bem a qualquer hora - e nos convida a ter um momento de calma.

Foto: Alex Silva
O ritual começa na escolha do sabor. Frutas, flores, ervas, encorpado ou refrescante, o que combinar mais com o momento. Você coloca então a água para ferver, separa a caneca que te faz lembrar uma viagem ou alguém especial. Na temperatura ideal, a água misturada começa a mudar de cor e o aroma se desprende. Sente-se. Beba com calma. Preste atenção no mundo ao redor. Respire fundo. Aprecie cinco, dez ou quinze minutos de pausa no seu dia que podem mudar a forma como você vai viver as próximas horas.

Há séculos, o chá vem proporcionando instantes como esse para os mais diversos povos. Diferente do café, que tomamos em poucos goles, às vezes em pé no balcão antes de voltar ao trabalho, o chá convida à calma. O preparo é mais lento, a quantidade é maior. Ele não pode ser apressado.

Estatisticamente, trata-se da segunda bebida mais tomada no mundo, só perdendo para a água. No Ocidente, ela é ultrapassada pelo café com larga margem, mas é no Oriente, em nações populosas como China e Índia, que ela existe como um hábito diário.


Classificação

Pode parecer estranho para a maioria das pessoas, mas chás tradicionais no Brasil como mate, de camomila ou de carqueja, de têm apenas o nome. Oficialmente só pode ser chamado de o que for preparado com folhas da Camellia sinensis, planta originária da Ásia. A partir dela são produzidos quatro produtos principais: verde, branco, oolong e preto. A diferença entre eles é resultado do processo a que as folhas são submetidas. "Quando tiro uma folha da planta, ela perde água e murcha. Depois começa o processo de fermentação, gerado por suas próprias enzimas.

Se eu quiser brecar isso, tenho de aplicar calor", explica Carla Saueressig, proprietária da A Loja doChá, em São Paulo. Cada um teve sua fermentação natural interrompida em um ponto diferente. "O chá verde não teve fermentação. Se deixar o processo acontecer de 2% a 4%, eu vou ter o branco. Até 50%, eu tenho o oolong. E se eu deixar a fermentação total, tenho o preto."

Quanto maior a fermentação, mais "corpo" terá o chá, que Carla descreve como "um peso na língua". Como acontece com os vinhos, condições como solo e clima exercem influência sobre o sabor final da bebida. Para enriquecer ainda mais esse universo, as folhas fermentadas podem ser misturadas com flores, frutas ou ervas. Todos terão em comum a cafeína, que vem da Camellia sinensis.

As demais bebidas feitas com outras plantas, flores, ervas ou frutas são chamadas de infusões. Elas são as preferidas dos brasileiros, em especial o mate, infusão mais consumida no País.


Da China

Os primeiros registros sobre chá foram encontrados na China, onde era conhecido desde os primórdios da medicina. No clássico O Livro do Chá (Ed. Estação Liberdade), o estudioso japonês Okakura Kakuzo afirma que, para os chineses, a bebida era considerada valiosa por "amenizar o cansaço, deliciar a alma, fortalecer a vontade e reparar a visão". Para os taoístas, erm um dos ingredientes do elixir da imortalidade. No século 9, o chá foi levado ao Japão por um monge budista. No início, os religiosos tiravam proveito da cafeína para afastar o sono durante a meditação.

Com a difusão do zen-budismo, a bebida se popularizou e, mais tarde, o ato de prepará-la e servi-la foi sendo aperfeiçoado a ponto de dar origem a uma cerimônia. "Conosco o chá é transformado em uma religião da arte da vida. A bebida se tornou uma desculpa para a veneração da pureza e do refinamento", descreve Kakuzo.

As folhas chegaram à Europa em navios portugueses e holandeses no início do século 17, mas foram décadas até que os ingleses as descobrissem e se apaixonassem. A tradição do chá da tarde surgiu na aristocracia já no século 19 e, além de servir para alimentar a alta classe entre o almoço e o jantar, criou uma nova desculpa para organizar encontros sociais.

Ao Brasil, a bebida chegou só no início do século 19, mas veio tímida e permaneceu assim até hoje. "Somos um país produtor de café", diz Carla Saueressig. "Aqui o hábito de tomar chá ainda está ligado a doenças, como gripe ou dor, para as quais a avó sempre tem uma receita de infusão. Por isso associamos a uma ideia de desprazer; já o café se toma por prazer." Hoje, a moda é tomar chá verde para emagrecer. "Não se toma um chá para descobrir que gosto ele tem", lamenta.

Para Erika Kobayashi, jornalista pesquisadora de chás e cultura japonesa, a sensação de explorar os chás faz parte de uma experiência maior. Mais que uma oportunidade para degustar, percebendo as nuances dos blends, ele pode ser um pretexto para uma pausa de qualidade. "A cerimônia tradicional japonesa se baseia em um conceito que é `uma única vez, um único encontro'. Ela celebra o momento entre o anfitrião e o convidado, para o qual tudo é preparado de uma forma muito especial, e traz esse ensinamento de valorização do tempo presente", conta Erika. "Então o chá pode ser o catalisador de um encontro para você sentar e saborear a bebida, se propondo a estar plenamente presente, se ouvir e ouvir o outro e desfrutar ao máximo essa troca."

O olhar atento pode ser para o outro, com suas histórias e pensamentos, e também para você mesmo, sua vida e suas memórias. "A cerimônia do chá é feita toda em silêncio, e hoje em dia às vezes falta esse silêncio. É importante fazer um intervalo para perceber o que está acontecendo em volta", diz.

Quer tentar? Carla sugere que o jeito mais gostoso de entrar nesse mundo é ir a uma loja e cheirar. Ir sentindo os aromas e, quando encontrar um que agrade, experimente. "É assim que a pessoa vai escolher um chá por prazer." Com o hábito, o paladar se aprimora e o leque vai se abrindo.

Se for possível, prefira o a granel. Carla conta que o chá em sachês perde em qualidade, pois é feito para ser um produto mais econômico. "As pessoas às vezes acham que o chá a granel vai ser complicadíssimo, mas não é. Basta ter um infusor ou então bota o chá direto da água, deixa o tempo indicado, e depois é só passar por aquele coadorzinho que todo mundo tem", ensina. A quantidade a ser usada e o tempo de infusão variam (veja abaixo).

Como regra básica, capriche na água. "O ideal é usar a água mineral para não interferir no sabor, e nunca coloque nas folhas a água ainda fervente, para não queimar", aconselha Paula Simonsen, que introduziu a carta de chás no hotel Emiliano, em São Paulo. E atenção à temperatura na hora de servir. "Uma coisa que aprendi com as japonesas é medir a temperatura da água com a palma da mão, porque se você não consegue segurar a xícara, não vai conseguir beber o chá."
Juliana Zambelo adora escrever sobre comida e fez a reportagem "Frutas como você nunca viu", da ed. 127.


APROVEITE BEM O SEU CHÁ

Juan Vartanian, da loja Tea Connection (SP), e a especialista Carla Saueressig mostram o caminho para apreciar melhor a bebida.

Verde e branco
Para cada litro de água, use entre 11 e 13 gramas. A infusão deve ser feita de um a três minutos com a água a 90 graus (deixe ferver e então espere esfriar por cerca de dois minutos). Devem ser tomados puros e são indicados para o período da manhã ou da tarde.

Oolong e preto
Devem ser feitos com água recém-fervida e infusão de dois a cinco minutos, com 11 a 13 gramas por litro de água. Revitalizante, o chá preto pode ser tomado de manhã para estimular os sentidos. Os ingleses misturam com um gole de leite frio.

Infusões
Use água recém-fervida; o preparo leva de cinco a dez minutos. A quantidade varia de 5 a 25 gramas por litro de água, por isso deve ser indicada pelo vendedor. Por não conterem cafeína (com exceção da erva-mate), são boas para tomar à noite e relaxar.

Tempestade de areia atormenta China e deixa cidades laranjas

Tempestade de areia atormenta China e deixa cidades laranjas

Vindas do deserto de Gobi, as tempestades de areia chegam sempre que o tempo está árido, com baixa precipitação; imagem da NASA mostra a tempestade do espaço



REUTERS
Mulher trabalha no campo durante tempestade de areia em Hami, China
Desmatamento e urbanização intensa aumentam zonas desérticas, o que agrava a ventania
São Paulo – Uma tempestade de areia, que deixa o céu e praticamente tudo que está sob ele alaranjado, está tirando o sossego da cidade chinesa de Hami, em Xinjiang, e de outras províncias no noroeste da China.
A população faz o possível para se proteger. Quem está na rua cobre o rosto e quem está em casa de lá não sai.
Vindas do deserto de Gobi, as tempestades de areia chegam sempre que o tempo está árido, com baixa precipitação.
Mas as condições naturais não são o único culpado pelo fenômeno.
A ação do homem, através do desmatamento e da urbanização intensa, ajuda a aumentar as zonas desérticas do país, o que agrava ainda mais a ventania.
Imagens de satélite da NASA, captadas ontem, mostram as espessa camada de poeira do deserto sobre o país.
Divulgação/NASA
Tempestade de areia vinda do deserto Gobi cobre a China, em 23.04.2014

Segundo a mídia chinesa, esta é uma das piores tempestades de areia a atingir a região em mais de uma década.

Cidades e vilas inteiras têm condição de visivilidade reduzdias, de menos de 20 metros. Em alguns lugares, o transporte foi paralisado, as estradas fechadas e as aulas nas escolas supensas.
Imagens na província de Gansu, feitas ontem pelo canal Euronews, mostram o quão insuportável pode ser a tempestade de areia.

A ciência de matar moscas

A ciência de matar moscas



Estudo revela a solução para esse problema milenar

por DENNIS BARBOSA

Por que é tão difícil matar uma mosca? Depois de 20 anos estudando esse inseto, um pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia chegou à resposta: a mosca é craque em física. Quando você tenta bater nela, ela mede a velocidade e o ângulo de aproximação da arma (que pode ser a sua mão, um chinelo ou até mesmo esta revista) e usa essas informações para calcular onde o golpe vai cair. Aí, ajusta o corpinho e sai batendo asas para outro lado. Tudo isso em apenas 0,3 segundo, ou seja, muito mais rápido do que você consegue desferir o golpe. "Não tente acertar a mosca na posição em que ela está [pousada]. O melhor é mirar um pouco à frente, para tentar antecipar aonde ela vai pular", explica o professor Michael Dickinson, autor do estudo. Segundo ele, a mosca consegue reagir tão rápido porque possui um mapa neural - espécie de atalho no cérebro - especializado em controlar esse tipo de movimento. E entender como ele funciona pode ajudar, um dia, a compreender melhor a mente humana. "O objetivo da minha pesquisa não é [apenas] descobrir um jeito melhor de esmagar moscas", afirma Dickinson.
COMO ACERTAR NA MOSCA
 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Comissão da OAB/RJ pleiteia fim da tração animal em Paquetá

Comissão da OAB/RJ pleiteia fim da tração animal em Paquetá

Fonte: redação da Tribuna do Advogado
Após reunião com a Comissão de Proteção e Defesa dos Animais (CPDA) da OAB/RJ, a vereadora Laura Carneiro (PTB) retirou, na quarta-feira da última semana, dia 16, emenda proposta ao Projeto de Lei n° 144/2013, que proíbe veículos de tração animal como carroças, charretes e outros meios de transporte similares, em Paquetá, mesmo quando utilizados para uso próprio. A emenda retirava o termo "fica proibido a tração animal na Ilha de Paquetá" do texto.


Para o membro da comissão Daniel Braga Lourenço, presente ao encontro com a vereadora, realizado no dia 8, a ação foi "uma grande vitória contra a escravidão animal" Segundo o presidente da CPDA, Reynaldo Velloso, Carneiro demonstrou sensibilidade para tratar da questão. "Existem outras opções para o turismo e  transporte na Ilha. Os passos seguintes serão nos municípios de Petrópolis e Queimados, onde abriremos idênticas negociações para o fim desta crueldade".


O projeto deve ser votado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro ainda este mês.

O Brasil inventa a censura democrática

O Brasil inventa a censura democrática

Os progressistas só creem em liberdade para quem concorda com eles. Para os outros, mordaça!

GUILHERME FIUZA
18/04/2014 1

Meio século depois do golpe de Estado que feriu as liberdades no Brasil, um deputado foi impedido de discursar no Congresso Nacional. Mas não tem problema, porque esse deputado é de direita. Essa é a noção de democracia dos progressistas que abominam a ditadura militar: liberdade de expressão para os que falam as coisas certas. Para quem fala as coisas erradas, mordaça. E quem decide o que é certo são eles, os progressistas. Eles é que têm o dom da virtude (por coincidência, foi exatamente isso que os militares pensaram em 1964). Seria cômico se não fosse trágico: os que carregam a bandeira contra o autoritarismo podem mandar os outros calar a boca.

O deputado Jair Bolsonaro é um conhecido defensor da categoria militar. E defende o regime implantado em 1964. Numa sessão na Câmara dos Deputados que marcava os 50 anos do início da ditadura, deputados e militantes progressistas impediram Bolsonaro de falar. Viraram de costas no plenário, cantaram, tumultuaram e cassaram no grito a palavra do deputado de direita. Esses são os democratas brasileiros que defendem a liberdade.

Eles dizem que não podem tolerar a defesa de um regime imposto por golpe de Estado. Será então que ninguém mais poderá subir à tribuna para defender Getúlio Vargas? Não, isso pode. Na história em quadrinhos dos progressistas, Getúlio é de esquerda, assim como Fidel. A esquerda que amordaçou Bolsonaro vive (bem) dessa fábula da resistência à ditadura – uma ditadura que já acabou há quase 30 anos. É interessante observar que alguns dos símbolos dessa resistência estão presos por corrupção. Ou, mais especificamente: presos por roubar a pátria – essa que dizem defender contra a ameaça conservadora.

Os que estão presos são aliados dos que governam essa mesma pátria. E todos eles são aliados de regimes que atropelam a liberdade de expressão, mesma tática da tropa do deputado Bolsonaro. A diferença é que a tropa de Bolsonaro fez isso no século passado, e a confraria chavista faz isso hoje. Outra diferença é que os militares eram autoritários, e os progressistas fingem que não são. Gato escondido com rabo de fora, como se vê nos projetos do PT para controlar a mídia – que o governo popular já tentou contrabandear até em programa de direitos humanos. Eles são assim, sempre bonzinhos, sempre colorindo com slogans humanitários seus pequenos e grandes golpes. A primeira denúncia do mensalão, como se sabe, foi classificada pelo companheiro Delúbio como “uma conspiração da direita contra o governo popular”.

A ação impedindo a fala de Bolsonaro fere a democracia. Mas ninguém é louco de dizer isso. Bolsonaro é uma figura grosseira e prepotente, enquanto seus algozes são os simpáticos heróis da resistência – na percepção cada vez mais abobada da opinião pública. Para combater o mal, esses revolucionários puros defendem até black blocs assassinos e continuam bem na foto. A imprensa, as empresas e as instituições “burguesas” em geral morrem de medo deles e da incrível patrulha anticapitalista que tomou as redes sociais – onde a burrice se espalha mais rápido. Os 50 anos do golpe foram transformados numa estranha catarse anacrônica, com todos os perseguidos pela patrulha progressista gritando “abaixo a ditadura”. Só faltou denunciar os crimes de Adolf Hitler.

Chega a ser assustador que, enquanto busca a verdade sobre os desaparecidos e vítimas do regime brutal, a sociedade democrática fale a língua dos gorilas – e tente calar seus herdeiros políticos. Que democracia é essa?

O sotaque chavista é inconfundível. Se Bolsonaro é troglodita, deveria ser facilmente derrotado com argumentos e inteligência. Mas os heróis da resistência temem sua própria mediocridade, então preferem falar sozinhos. Nessa democracia seletiva, uma dissidente cubana foi impedida – no grito – de falar em público no Brasil. Entre outras ações autoritárias, no dia 31 de março um professor da USP foi impedido de criticar o comunismo. Estudantes “do bem” invadiram a sala de aula e abafaram sua voz cantando um samba. Truculência festiva pode.

Talvez o Brasil mereça mesmo ter como voz única a ex-guerrilheira e eterna vítima da ditadura, dizendo as coisas certas em rede obrigatória de rádio e TV.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Quase um quarto dos zangões na Europa corre risco de extinção

Quase um quarto dos zangões na Europa corre risco de extinçãoJosé Eduardo Mendonça - /2014 às 10:13

zangoes-europa-risco-extincao-560
Situação tem sérias consequências para segurança alimentar
Quase um quarto dos zangões europeus corre risco de extinção por conta da perda de habitats e da mudança do clima, ameaçando a polinização de safras no valor de bilhões de dólares, diz relatório publicado hoje
Correm perigo 68 espécies, de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional da Conservação da Natureza. “Dos cinco mais importantes insetos polinizadores das colheitas européias, três são espécies de zangões”,  afirma a União, que agrupa governos, cientistas e entidades de conservação.
“Junto com outros polinizadores, eles contribuem com mais de U$ 30.35 bilhões com a agricultura da região por ano”, diz o estudo. Metade das populações se encontra em queda.
Quase sempre com listas pretas e amarelas, e maiores que as abelhas, os zangões vivem em pequenos grupos de até 200 indivíduos e não fazem favos de mel. Alguns são criados comercialmente para polinizar tomates, pimentões e berinjelas em estufas.
“As maiores ameaças são a mudança do clima, a intensificação da agricultura e mudanças no uso da terra”, prossegue o relatório, a primeira avaliação feita pela entidade sobre os insetos.
“Estamos muito preocupados com estas descobertas. Uma proporção tão alta de espécies em risco pode ter consequências sérias para nossa produção de alimentos”, afirmou Ana Nieto, chefe da biodiversidade européia da União, segundo a Wildlife News. “A proteção de zangões e seus habitats, a restauração de ecossistemas degradados e a promoção de práticas de biodiversidade na agricultura vão ser essenciais para reverter esta situação”.
Foto: JoePhilipson/Creative Commons

E se as abelhas sumirem?

E se as abelhas sumirem?

Sem sua polinização, um terço dos vegetais desaparece, empobrecendo gôndolas e paisagens. O sumiço leva à criação de um santuário, onde as últimas abelhas zunem em paz. Que tal uma visita guiada?

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Emiliano Urbim  Super Interessante 

Ilustração André Ducci

Bom dia! Bom dia a todos. Vieram bem no barco? É normal ter um pouco de enjoo, não se preocupem. Vocês conseguem me ouvir aí atrás? Sejam muito bem-vindos à Primeira Reserva Apiária do Atlântico Sul, mais conhecida como Ilha das Abelhas, menos conhecida como Abilha - é, o apelido não pegou.

Assim como é uma honra para nós recebê-los, é um privilégio para vocês estar aqui, não é mesmo? Vocês fazem parte de um clube seleto: são pouquíssimos os candidatos que recebem o visto para conhecer este santuário da natureza, um dos lugares mais vigiados do mundo. Não sei o que vocês fizeram para estar aqui, nem me interessa. Só me resta lhes dar os parabéns.

Bem, nunca é demais lembrar que vocês acabam de desembarcar no último local do planeta Terra onde ainda é possível encontrar abelhas que produzem mel. Sim, senhora, vai haver degustação de mel e você pode comprar o quanto quiser na lojinha. Mas vamos aproveitar o passeio, não é mesmo? Me acompanhem até o vestiário, por favor.

Pendurados nos cabides, com os nomes de vocês, estão seus uniformes de apituristas. Sim, é um antigo uniforme de apicultor, mas acharam que chamar de apiculturista agregaria valor. Peço que todos vocês se besuntem abundantemente de repelente e só depois comecem a vestir as roupas, absolutamente imprescindíveis para a realização do passeio. Ela existe para proteger vocês das abelhas, mas principalmente para proteger as abelhas de vocês.

Como vocês sabem, ou deveriam saber, as abelhas começaram a desaparecer em 2006. Nunca se soube com certeza a causa do Distúrbio do Colapso de Colônias. Muitos falaram em um tipo específico de pesticida. Alguns apostaram em ácaros nas colmeias. Pode ter sido fungos, vírus, destruição do habitat natural. Provavelmente uma soma de todos esses fatores. O fato é que nunca se chegou a uma solução. E as abelhas desapareceram do mundo inteiro, a não ser por esta pequenina ilha. Desculpem o tom melancólico, somos obrigados por lei a passar esse conteúdo.

ARCO-ÍRIS RURAL
Quem tiver dificuldade é só me chamar que eu ajudo a fechar o zíper. Primeiro aviso: os kits foram montados com base em medidas que vocês nos passaram. Se vocês engordaram, emagreceram ou mentiram, sinto muito. Segundo: essa é a última oportunidade que vocês têm para ir ao banheiro sem serem incomodados pelas nossas anfitriãs. Aproveitem.

Todo mundo pronto? Por favor, me sigam por este longo corredor. Vejo que hoje temos gente de todo o mundo. Bem: não interessa de onde vocês vieram, com certeza é uma paisagem muito diferente do que vocês vão ver aqui. As paisagens que vocês estão acostumados a ver são, por assim dizer, meio monótonas, certo? Que plantas vocês conhecem? Soja. Milho. Isso mesmo, arroz. Tudo bege. Aqui, se preparem: vocês vão encontrar um arco-íris. Um mosaico. Um caleidoscópio. Sua metáfora favorita não será suficiente.

De tirar o fôlego, não é? Toda essa diversidade - para ser correto, essabiodiversidade - só é possível graças à polinização que as abelhas fazem, levando o pólen de planta em planta. Tenho impressão de que vocês estão com dificuldade em identificar algumas espécies, me permitam ajudar. Aquilo ali é café. Ali, uma laranjeira, cheia de laranjas. Aquilo ali tem a cor parecida, mas é uma cenoura. Temos também abóboras, melões, chuchus, pepinos, quiabos, cebolas. Essa se chama melancia. É vermelha por dentro, uma delícia. Sim, está tudo à venda na lojinha. Melancia também, mas atenção ao excesso de bagagem, senhora.

Gente, gente. Aqui, por favor. Chegou o grande momento. Tudo muito exuberante, muito deslumbrante, mas está faltando alguma coisa, não é mesmo? Faltam as estrelas da festa! Para chamar as abelhas, vou usar este spray especial. Vou poupá-los dos detalhes sórdidos, mas ele atiça os hormônios sexuais dos insetos. Peço que vocês não realizem movimentos bruscos e permaneçam em seus lugares para não atrair picadas. Assim que eu espalhar o líquido no ar, elas devem ser atraídas. Em três, dois... zum.

Calma. Esse barulho vem delas mesmo, é o zumbido do enxame. É natural que elas cerquem vocês, cheguem perto. Estão curiosas, não estão acostumadas a humanos de fora. Reparem nos tons de preto, de amarelo. Reparem nos olhos. Sempre reparo nos olhos.

E pronto. Passeio encerrado, dêem adeus a essa maravilha. Sim, senhora, agora é a degustação de mel. Tem na lojinha. Mais barato que no freeshop
.

Vem pra Papuda você também

Vem pra Papuda você também

Quem enquadrará agnelo, o amigo dos mensaleiros? Cadê as ONGs legalistas? O congresso? O MP?

GUILHERME FIUZA
2014 10h00 
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Delúbio Soares não pôde comemorar com a tradicional feijoada de sábado na prisão a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) – livrando a quadrilha do crime de formação de quadrilha. O juiz Bruno Silva Ribeiro, da Vara de Execuções Penais, advertiu o detento e cortou a feijoada. Espera-se que o juiz Bruno tenha outro emprego em vista, porque todos sabem o que acontece com quem mexe com alguém da ex-quadrilha. O vice-diretor do Centro de Progressão Penitenciária, que mandou Delúbio cumprir as regras e tirar a barba, foi encostado num depósito de veículos. Só não se sabe quem é que enquadrará o dublê de governador do Distrito Federal e pombo-correio de prisioneiros.

Inicialmente, Agnelo Queiroz até que tentou ser discreto. Disse que estava numa inauguração próxima da Papuda e resolveu dar uma esticada até o presídio, onde acabou esbarrando com José Dirceu – que, por coincidência, residia lá. Questionado, disse que era governador e visitava quem quisesse. Com o aumento dos questionamentos a esse encontro, por assim dizer, exótico, o governador Agnelo rasgou a fantasia e declarou: “Vou continuar indo à Papuda visitá-los. Vou, sim”.

Essa turma acha que o Brasil é trouxa. E está coberta de razão. A questão central no julgamento do mensalão (que o Brasil evidentemente não viu) era a ligação entre réus e governantes. Não era um filme de época sobre um caso terrível de corrupção julgado em outro tempo. Quando saiu a ordem de prisão de Dirceu, Lula disse a ele: “Estamos juntos”. Dirceu até poderia ter respondido: “Então, vem pra Papuda você também”. Mas, como Lula não sabia, talvez não entendesse a piada.

Em plena reta final do julgamento do STF, Dilma Rousseff foi a um congresso do PT e participou, de braço erguido, de um ato em apoio aos mensaleiros. Para quem perdeu o fio da meada: a presidente da República foi se manifestar, em público, a favor de criminosos que roubaram o país e já estavam condenados pela corte máxima por isso.

O Brasil, que achou sua dignidade no lixo, nem ligou. Até as grades da Papuda sabem que Dirceu continua dando as cartas no PT. Em outras palavras: a ex-quadrilha está no comando da política brasileira. É por isso que um governador de Estado se presta, qual um vassalo, ao papel de plantonista de presídio. Se não for por isso, Agnelo tem de se explicar. Ou melhor: teria, se o Brasil ainda tivesse alguma instituição com um resto daquilo que antigamente se chamava vergonha na cara.

Onde está a heroica e pirotécnica OAB? Há um governador de Estado agindo com prepotência, por sobre instituições que guarnecem o estado de direito, indo visitar companheiros de partido presos por corrupção e flagrados com privilégios em área de jurisdição desse mesmo governador. Delúbio, o tesoureiro mais famoso do Brasil, mesmo preso, mostrou ser capaz de arrecadar milhões de reais em questão de dias. Chegou a ter reunião na cadeia com ninguém menos que o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, pré-candidato a deputado. Se fosse piada do Porta dos Fundos, diriam que o roteirista exagerou.

Quem enquadrará Agnelo, o amigo de fé dos mensaleiros? Onde estão as ONGs legalistas, que só servem para proteger black blocs assassinos? Onde estão a banda boa do Congresso Nacional e os procuradores intrépidos do Ministério Público? Ninguém interrogará formalmente o governador do Distrito Federal sobre o motivo de suas visitas aos correligionários criminosos? Ninguém suspeitará que esteja aí o flagrante da relação entre os crimes do passado e a desastrosa administração atual do país – repleta do mesmo parasitismo que originou o mensalão?

Ou já estariam todos devidamente domesticados, como a UNE, o MST e pencas de associações de classe agraciadas com belos convênios? Onde estará o respeitável senador Cristovam Buarque? Estará achando normalíssima essa conexão palácio-presídio? Ou terá sido mais um a capitular ante a cara de pau dos profissionais?

O Brasil resolveu achar que o julgamento do mensalão foi uma revolução. Afinal, os chefes da ex-quadrilha passaram Natal, Ano-Novo e Carnaval na cadeia. É a primeira vez na história que políticos são punidos exemplarmente sem deixar o poder. Cada país tem a revolução que merece.