quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Índios suruí concluem 1ª venda de créditos de carbono indígenas do país

Aldeia de Rondônia vendeu créditos para a empresa brasileira Natura.

Compra é forma de compensação de emissões de gases de efeito estufa.

Do G1, em São Paulo
Indígenas da aldeia pater-suruí, que vivem em área de floresta amazônica no Norte do país (Foto: Reprodução/TV Globo)Indígenas da paiter-suruí, que vivem em área de floresta amazônica no Norte do país (Foto: Reprodução/TV Globo)
Os índios paiter-suruí, que participam do projeto Carbono Florestal Suruí, em Rondônia, realizaram no início de setembro a primeira venda de créditos de carbono indígenas com certificação internacional já feita no país. Créditos de carbono são certificados conferidos a empresas que reduziram sua emissão de gases de efeito estufa à atmosfera.
A companhia brasileira de cosméticos Natura anunciou a compra de créditos que equivalem à emissão de 120 mil toneladas de carbono, para compensar suas liberações de poluentes por meio do processo industrial. O dinheiro da negociação será investido na preservação da floresta amazônica.
O projeto surgiu como uma alternativa de financiamento e geração de renda para a população indígena. Os moradores da Terra Indígena Sete de Setembro, que abrange 248 mil hectares de florestas em Rondônia e Mato Grosso, trabalham na preservação da Amazônia, evitando que ela seja desmatada, e também no reflorestamento de áreas que tenham sido degradadas. O objetivo é "sequestrar" o carbono, ou seja, evitar que ele seja liberado para a atmosfera.
Até o fim do ano, a Natura tem o objetivo de reduzir suas emissões de gases em 33%. O valor oficial da negociação não foi divulgado, mas o montante será destinado ao Fundo Carbono Suruí.
Alternativa de renda
O projeto indígena, iniciado em 2007, usa duas formas de compensação: o "sequestro" de carbono propriamente dito, por reflorestamento; e o desmatamento evitado e a conservação de estoques de carbono pela redução do desmatamento e da degradação florestal.

O trabalho é liderado pelo cacique Almir Suruí, um dos vencedores do prêmio "Herói da Floresta", concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Primeiro Redd+
O Projeto de Carbono Floresta Suruí é considerado pioneiro no Brasil por ser o primeiro projeto de Redd+ indígena a ser validado em certificações internacionais, reconhecido pelo Padrão de Carbono Verificado (VCS, na sigla em inglês) e pelo Padrão Ouro de Clima, Comunidade e Biodiversidade (CCB, na sigla em inglês).

Os dois padrões são os principais órgãos internacionais que creditam projetos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa decorrentes do desmatamento e da degradação florestal, conceito conhecido como Redd (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal).

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Seleção no ensino infantil causa tensão em pais e filhos

Seleção no ensino infantil causa tensão em pais e filhos

  • ‘Vestibulinhos’ de escolas dão lugar a sorteios em disputas mais acirradas que as de provas para graduação


Antes de entrar no Santo Agostinho, Manuela chegou a fazer quatro provas
Foto: Agência O Globo / Paula Giolito

Antes de entrar no Santo Agostinho, Manuela chegou a fazer quatro provas Agência O Globo / Paula Giolito
RIO - Assim que a filha Manuela completou 3 anos, a jornalista Verônica Hime começou a pesquisar com afinco escolas onde a menina pudesse estudar. Consultou as amigas, visitou dez colégios e contratou uma professora para checar, por meio de um simulado, se ela estava apta para o “vestibulinho” que iria encarar. Ajudou no reforço escolar e passou o ano de 2012 estudando com a filha em casa, depois que ela chegava da creche. À primeira prova das sete escolas em que foi inscrita, Manuela chegou depois de uma noite agitada e mal dormida. Não quis tomar café da manhã e se assustou quando viu crianças correndo e chorando pelo pátio. Na saída, não fez qualquer comentário sobre a avaliação.
— Hoje, depois de outras três provas que ela fez, sinto-me culpada por tanta cobrança. Foi muito estressante para toda a família. Sei que isso não é saudável para ninguém, mas não tive outra opção. Não podia pecar por não tentar — conta Verônica, feliz hoje por ter a filha de 6 anos matriculada no Santo Agostinho do Leblon, uma das escolas mais procuradas do Rio.

Como Verônica, outros pais e mães têm que encarar uma verdadeira maratona para conseguir uma vaga numa escola particular na cidade, especialmente na Zona Sul e na Barra da Tijuca, para séries até o 9º ano do ensino fundamental. A largada para 2014 já foi dada com inscrição pela internet, filas gigantes para entrevistas e entrega de documentos, convivências e também sorteio de vagas. Entre os adultos, o clima é de tensão constante, principalmente para os que sonham ter seus filhos matriculados nas escolas de mais destaque no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem.

Disputa maior que em vestibulares
Criado em 1998, o exame é apontado como um divisor de águas nos processos seletivos. O São Bento, um dos mais tradicionais da cidade, é o número um da lista estadual. A escola, que só aceita meninos, tem concorrência acirradíssima, e agora vai sortear os novos alunos do 1º ano do ensino fundamental (antigo C.A.). Há 108 lugares, e cada um deles é disputado por até dez crianças. A relação candidato/vaga é semelhante à do curso de Administração na Uerj (11,45 para um) e superior ao de Arquitetura na UFRJ (7,9 para um).
— O “vestibulinho” estará extinto como processo de seleção, mas permanecerá a disputa por vaga — acredita Maria Elisa Pedrosa, supervisora pedagógica do São Bento. — A oferta de escolas somente de educação infantil é grande, mas oferta que atenda às expectativas dos pais não é tão grande assim. As famílias, cada vez mais, buscam uma escola que forme seus filhos desde os primeiros anos escolares até o seu ingresso na universidade.
Desde que o Conselho Estadual de Educação condenou o chamado “vestibulinho” entre os candidatos até o 1º ano, o fator sorte passou a contar como nunca. Das mais de dez instituições ouvidas pelo GLOBO, entre as mais almejadas na cidade, a maioria fará sorteios entre os candidatos.
— O C.A. coroava a educação infantil com aprendizado de leitura e escrita, mas não tinha cobrança por notas e deveres. O “vestibulinho” reforçava a nova cobrança e provocava distorções graves. Tudo bem se o pai quer que o filho aprenda sobre empreendedorismo e queira networking aos 6 anos, mas não podem ser antecipadas etapas importantes da infância — afirma Luiz Henrique Mansur, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro.
Na unidade Centro do Cruzeiro, segundo no ranking estadual do Enem, a fila de espera começa no maternal II (média de idade de 3 anos), e as vagas para alunos acima de 7 anos são raríssimas. Para 2014 não há um lugarzinho sequer para o 1º ano do ensino fundamental.
— Se temos 20 vagas e 30 inscritos, chamamos os 20 primeiros nomes sorteados. Em caso de desistência, chamamos o 21º, e, assim, sucessivamente. No dia do sorteio, que é presencial, os pais contemplados já levam para casa a lista de documentos a serem providenciados e agendam a data da matrícula — explica Fernanda Fortes Carisio, coordenadora pedagógica da educação infantil e do 1º ano, sobre o processo que acontece no início de outubro.
Conhecido pelo rigor na seleção, que analisava habilidades e o nível de concentração em atividades como desenho e colagem, o Santo Inácio terá sorteio pela primeira vez. As inscrições foram encerradas na última sexta-feira, e, das 84 vagas para a pré-escola II, metade foi destinada a filhos de ex-alunos e funcionários. Para o 1º ano não sobrou nenhuma.
— O Santo Inácio sempre teve grande procura, anos antes dos resultados do Enem. Nunca fizemos o que chamam de “vestibulinho”, e garanto que nossa proposta jamais ocasionou prejuízo emocional para os candidatos. O que sempre observamos é uma concorrência enorme entre os pais — diz a diretora acadêmico-pedagógica, Ana Maria Loureiro.
A competição entre os adultos é, sem dúvida, considerável, e pode comprometer o desempenho das crianças. A chef Mariana Rodrigues preferiu seguir na contramão da maior parte das famílias. Ela não preparou o filho Bernardo, então com 4 anos, para a seleção do Santo Inácio, e, no dia da avaliação, disse que ele estava indo para a escola brincar e fazer novos amigos.
— Não pressionei meu filho em momento algum, porque sabia que as chances seriam pequenas, já que nem eu nem o pai dele estudamos lá. Agora, não há lugares para a série dele, e vamos ter que tentar em outros colégios — conta Mariana, que comemora o fato de a escolinha onde ele estuda ter alunos até o 5º ano do ensino fundamental. — Temos mais três anos de tentativa.
Poucas opções de horário integral
Postergar a saída dos filhos das creches, aliás, é outro provável motivo para tamanha disputa, principalmente entre crianças tão pequenas.
— Por questões práticas, os pais têm procurado escolinhas onde os filhos possam ficar o dia todo. Como a maioria dos colégios não oferece turnos integrais, a transferência é adiada ao máximo — afirma Valéria Filippo, coordenadora de atendimento aos novos estudantes da Escola Parque, na Gávea, onde as séries mais procuradas são as de crianças entre 5 e 6 anos.
Apesar de as provas serem proibidas por lei, há abertura para avaliações individuais. No entanto, elas devem ser limitadas a análises gerais, como o grau de leitura ou em qual turma o candidato poderá se adaptar melhor. Se existir algum teste, ele não pode ter caráter classificatório. Além disso, as regras de matrículas devem ser claras e não podem restringir ninguém.
As escolas bilíngues enfrentam o mesmo dilema, principalmente desde que o Rio passou a receber uma grande quantidade de estrangeiros que vêm morar na cidade por períodos determinados. Entre as famílias que procuram a Escola Americana, a maioria trabalha no setor de petróleo e não fala português.
— Existe um lado humanitário no processo de decisão. Se uma família vem de fora, é possível que a escola dê prioridade a esse aluno, caso não haja vaga para todos. Um estudante que já está numa escola brasileira teria a flexibilidade de aguardar um semestre ou um ano — explica Caren Addis Botelho, diretora de admissões do colégio, com unidades na Gávea, na Barra e na cidade de Macaé.
Buscando mais chances, muitos pais inscrevem seus filhos em várias escolas e têm que se desdobrar para participar de todas as etapas das seleções. As taxas de inscrição variam de R$ 100 a R$ 150, e a maioria dos colégios, independentemente do resultado, não reembolsa o valor depois. Por causa das reclassificações e desistências, o processo normalmente é estendido até dezembro — e a ansiedade das famílias, também.
Este, aliás, é um ponto extremamente negativo para as crianças e que merece atenção, segundo o pedagogo e mestre em Educação da PUC Winston Sacramento. A preocupação com uma boa formação é válida e pertinente, mas é preciso respeitar as demandas reais da infância, alerta:
— Talvez o apoio das famílias para o sucesso de crianças dessa idade tenha mais a ver com a escolha de um ambiente escolar focado numa socialização que valorize o respeito às diferenças, o aprendizado colaborativo e a formação de laços afetivos entre as crianças. O mercado privado da educação quer convencer os pais de que a aquisição de conhecimentos, competências e habilidades nessa idade são determinantes para as escolhas que serão feitas dez ou 15 anos depois. Do ponto de vista comercial parece ser um ótimo negócio, mas faltam evidências de que isso realmente dê resultados na maioria dos casos.

Cidade hi-tech tem coleta de lixo automática e reciclagem de água


Cidade hi-tech tem coleta de lixo automática e reciclagem de água


Uma cidade sul-coreana tornou-se fonte de inspiração para centros urbanos de todo o globo que buscam soluções tecnológicas para se tornarem mais "inteligentes". Songdo fica nas proximidades de Seul, uma cidade já bastante high-tech que oferece internet de alta velocidade no metrô e onde é possível assistir a vídeos online ou enviar mensagens de e-mails enquanto se caminha por movimentadas ruas do centro.
Ao contrário da capital sul-coreana, porém, Songdo é uma cidade experimental e já foi erguida incorporando em seu DNA as mais avançadas tecnologias de construção e urbanismo. Mas até que ponto uma cidade como essa pode ser considerada um sucesso?

Cidade hi-tech foi planejada para ter soluções de sustentabilidade e tecnologia nos mínimos detalhes, da qualidade de vida ao reaproveitamento do lixo para geração de energia Foto: Divulgação
Cidade hi-tech foi planejada para ter soluções de sustentabilidade e tecnologia nos mínimos detalhes, da qualidade de vida ao reaproveitamento do lixo para geração de energia
Foto: Divulgação

A construção de um centro urbano a partir do nada oferece uma série de desafios e oportunidades. No caso de Songdo, um dos desafios era incorporar tecnologias que fossem realmente inovadoras, uma vez que os sul-coreanos já estão acostumados com alguns recursos considerados novidades em outros lugares.
Em Seul, por exemplo, além das redes de wi-fi acessíveis em espaços públicos, há painéis eletrônicos nas saídas de estações ferroviárias que informam aos passageiros o tempo de espera para os ônibus de conexão. Empresas como a Samsung também estão desenvolvendo sistemas que ligam dispositivos domésticos aos celulares dos moradores da cidade.
O que mais uma cidade como Songdo pode oferecer? Na área tecnológica, uma cidade novinha em folha permite o teste de hardwares futuristas, como sensores que monitoram a temperatura, o consumo de energia e o fluxo de tráfego pela cidade. Esses sensores também podem - em teoria - avisar os usuários de transporte público quando seu ônibus está para chegar. E mesmo alertar autoridades locais quando há qualquer problema na cidade.
Questão ambiental
Muitas inovações estão sendo projetadas em função de preocupações ambientais. Entre elas, estações para recarregar a energia de carros elétricos e sistemas de reciclagem de água, que impedem que água potável seja usada em banheiros de escritório.
O sistema de coleta de lixo de Songdo também impressiona. Não há caminhões de lixo passando pela cidade nem grandes lixeiras na frente dos edifícios. Em vez disso, os resíduos domésticos são sugados diretamente das cozinhas de edifícios residenciais por uma vasta rede subterrânea de túneis ligadas a centros de processamento de lixo, onde cada resíduo é automaticamente classificado, desodorizado e tratado.
A ideia é usar parte desse lixo doméstico para produzir energia renovável, embora tal sistema ainda não esteja em operação - como muitas das inovações técnicas planejadas para Songdo. Isso ocorre porque, hoje, menos da metade da cidade está ocupada.
Nos escritórios comerciais, a taxa de ocupação é menor que 20% e nas ruas, cafés e shoppings do centro há amplos espaços relativamente vazios - o que constitui o segundo grande desafio a ser vencido pelos idealizadores e administradores de Songdo.
Apesar de a cidade ser próxima ao aeroporto internacional da Coreia do Sul, as ligações de transporte com Seul são rudimentares. E, por enquanto, os incentivos para empresas que se deslocam para a nova cidade inteligente nem sempre superam os custos.
Mas Songdo já está atraindo famílias e jovens casais de Seul, embora não necessariamente por causa de suas soluções tecnológicas futuristas - nem pela pujânça de sua área comercial.
Áreas verdes
A cidade foi planejada em torno de um parque central, e sua disposição permite que os moradores das áreas residenciais possam caminhar por essa área verde para trabalhar no centro comercial.

 Foto: DivulgaçãoFoto: Divulgação

Kwon, por exemplo, conta que se mudou para a Songdo há três anos e todos os dias seu deslocamento diário para a empresa em que trabalha como tradutora consiste em uma caminhada de 15 minutos pelo parque.
"Depois do almoço também ando um pouco no parque com meus colegas - isso se tornou algo importante na minha vida", conta Kwon. "Quando morava em Seul, tinha de dirigir para encontrar meus amigos ou para levar meu filho para ver os amigos dele. Em Songdo, meu filho vai de bicicleta para a casa de seus amigos e eu posso caminhar para encontrar os meus. A cidade também me aproximou dos meus vizinhos."
Por enquanto, os apartamentos residenciais estão vendendo bem e ainda há muitos edifícios desse tipo em construção, mas Songdo parece ser menos atraente para o mercado corporativo. Um ou outro negócio está començando a abrir as portas espontaneamente em suas grandes avenidas vazias.
Anarquia criativa
Mas a cidade ainda precisa ganhar cores e zumbidos urbanos - aquela anarquia criativa, típica de aglomerações populacionais não-planejadas. Como costuma dizer Jonathan Thorpe, presidente da empresa americana Gale International, que construiu Songdo, "são os moradores que fazem uma cidade".
"Estamos tentando adicionar diversidade e vitalidade (a Songdo), algo que o desenvolvimento orgânico (de uma cidade) garante", explica Thrope. "É um desafio tentar replicar isso em um ambiente planejado. Ao mesmo tempo, com tal planejamento podemos desenvolver a infraestrutura da cidade de modo a garantir que ela funcione - não só agora, mas também daqui a 50 anos."

Câmara instala nesta quinta comissões sobre PECs que ampliam poder de vereadores

Câmara instala nesta quinta comissões sobre PECs que ampliam poder de vereadores

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, anunciou que serão instaladas nesta quinta-feira (12) as comissões especiais responsáveis pela análise das propostas de emenda à Constituição 468/10469/10 e 514/10, atendendo a reivindicação feita pela Frente Parlamentar em Defesa das Câmaras Municipais.
Nesta quarta-feira (11), durante reunião com vereadores de diversos municípios, Alves disse que os vereadores são a categoria mais discriminada de todos os cargos políticos. “Quando o cidadão tem algum problema, a primeira porta que ele bate é a do vereador, e ai dele se não abrir”, declarou.
Câmaras municipais
A PEC 468/10 estende às câmaras municipais o direito de propor emendas constitucionais.
Segundo a proposta, a PEC deverá ser assinada pela maioria simples (mais da metade dos vereadores presentes na sessão) de, no mínimo, 20% das câmaras de todos os municípios do País. Isso representa 1.113 câmaras, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2008. Além disso, no mínimo cinco estados deverão estar representados.
Atualmente, a Constituição pode ser alterada por iniciativa do presidente da República; de no mínimo 1/3 dos deputados federais ou dos senadores; e de mais da metade das assembleias legislativas, com o apoio da maioria simples de cada uma delas.
Ações no STF
Já a PEC 469/10 estende às câmaras municipais o direito de propor Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com a PEC, a proposição deverá ser aprovada por maioria relativa de pelo menos 15% das câmaras municipais do País – o que representa 835 câmaras, segundo dados do IBGE de 2008. Além disso, cinco estados deverão estar representados.
Por fim, a PEC 514/10 estabelece um novo escalonamento para as despesas das câmaras municipais.

Programa Bolsa Verde beneficia 42 mil famílias

Programa Bolsa Verde beneficia 42 mil famílias


Instituído há quase dois anos, o Programa de Apoio à Conservação Ambiental, conhecido como Bolsa Verde, que faz parte do Plano Brasil sem Miséria, beneficia cerca de 42 mil famílias em unidades de conservação e assentamentos, principalmente na Região Norte. A meta do governo é ter, até o fim do ano, 70 mil famílias cadastradas no programa. O objetivo é aliar a preservação ambiental à melhoria das condições de vida e à elevação da renda no meio rural.
Os beneficiários recebem trimestralmente R$ 300 para a conservação dos ecossistemas por meio do uso sustentável dos recursos naturais. Para ser beneficiária do Bolsa Verde, a família precisa ter renda per capita mensal até R$ 70, estar inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e no Bolsa Família. Até o momento, já foram gastos R$ 70 milhões com o programa.
Também é preciso morar em unidades de conservação de uso sustentável – as reservas extrativistas -, em assentamentos de reforma agrária ambientalmente diferenciados, em territórios ocupados por ribeirinhos, quilombolas e outras comunidades tradicionais. Ao assinar o termo de adesão ao programa, com os objetivos e as regras de funcionamento, a família se compromete com a conservação ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais.
Segundo o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Paulo Guilherme Cabral, o compromisso dessas famílias é não desmatar. No caso da Amazônia, é preciso manter 80% da área de reserva legal. “Esses territórios já têm uma exigência ambiental maior, por isso as famílias tendem a ter uma limitação de renda. Se pudessem desmatar e colocar pastagem ou outra atividade econômica, poderiam auferir maior renda de imediato. O programa dá uma ajuda econômica para que não precisem desmatar”, disse o secretário.
Os governos federal, estaduais e as prefeituras iniciaram em julho e devem concluir até o início de outubro uma busca ativa para identificar novas famílias que possam ser beneficiadas. “É a etapa mais complexa, já que essas comunidades estão em regiões de difícil acesso,” explicou Cabral.
Em uma segunda fase do programa, até 2014 serão capacitados 300 educadores para que possam transmitir conhecimento a 10 mil beneficiários do Bolsa Verde, em um curso de 180 horas de manejo sustentável dos recursos naturais. “Agora, entramos nessa nova etapa de como as famílias podem incrementar sua atividade produtiva, beneficiar a produção e melhorar a comercialização dos seus produtos”, disse o secretário.
Segundo ele, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária está contratando assistência técnica diferenciada para que as famílias sejam apoiadas tecnicamente no uso sustentável dos recursos. “É uma assistência técnica orientada para a realidade deles”, ressaltou.
O gestor da Reserva Extrativista (Resex) Tapajós Arapiuns, no oeste do Pará, Mauricio Santamaria, disse que 1.400 das 4.851 famílias da reserva recebem atualmente o Bolsa Verde. “Estamos indo a campo para identificar novos beneficiários que vivem em lugares muito remotos”, acrescentou.
De acordo com Santamaria, a taxa de desmatamento é muito menor por causa do programa, visto que as famílias protegem as áreas da invasão do agronegócio. “As ações de capacitação e assistência técnica para acessar mercados diferenciados dos produtos extrativistas ajudam a manter a floresta em pé,” disse o gestor, ressaltando que os óleos de copaíba e andiroba, a borracha, o artesanato e o mel são os produtos de destaque da Resex.
Segundo o MMA, o programa prevê dois sistemas de monitoramento para verificar se as comunidades beneficiadas estão cumprindo o acordo de conservação ambiental das áreas em que vivem. O monitoramento da cobertura vegetal já é feito por imagens de satélites e o monitoramento por amostragem será realizado in loco por meio de visitas periódicas aos beneficiários a partir de 2014.
“Tivemos apenas duas áreas em que verificamos desmatamento e estamos indo a campo averiguar o motivo. O que houve foi muito pontual. As próprias famílias passam a ser fiscais de ações predatórias porque estão se beneficiando do programa,” disse o secretário Paulo Cabral.
Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Botiá para embalagem biodegradável

GRANDE IDEIA

Botiá para embalagem biodegradável

Trata-se de um material à base de fibra de coco, que pode ser usado para embalagens de alimentos


Manuela Yamada

A primeira edição do Movimento HotSpot chegou ao fim em julho, após um ano e meio de festivais por todo o Brasil, oficinas, shows e horas e horas de conversas e reuniões com curadores das 11 áreas abordadas. O projeto, que teve a SUPER como parceira, buscou promover e revelar jovens talentos com grandes ideias em arquitetura, design, fotografia e música, entre outros. Agora, os vencedores podem usar o dinheiro que ganharam para investir em seus projetos.


Quem ganhou o prêmio principal, de R$ 200 mil, foi a designer Manuela Yamada, que, com o apoio do programa, desenvolveu um antigo projeto de faculdade, o Botiá. Trata-se de um material biodegradável, à base de fibra de coco, que pode ser usado para embalagens de alimentos. Agora, com o dinheiro, ela quer ir além. "A ideia não é parar nas embalagens, mas fazer outros projetos com o material", diz. Leia a entrevista:



De onde veio a ideia de usar fibra de coco para desenvolver um material novo?
A ideia surgiu quando eu e a Natalia Bruno éramos alunas da PUC [Rio], quando criamos o tema para um projeto de "feira livre de alimentos". Após visitas sistemáticas a diversas feiras, uma das coisas que mais nos chamou atenção foi a quantidade de lixo gerado no final de todas elas. O coco verde nos chamou particularmente atenção devido ao volume gerado. Começamos a pesquisar e vimos que a Embrapa, em parceria com uma empresa privada, havia desenvolvido uma máquina capaz de extrair a fibra do coco verde - e esea fibra estava sendo utilizada para alguns projetos.



Em quase todos os projetos encontrados, a fibra era usada com uma resina à base de mamona, que na época (era 2009) era muito cara e difícil de achar se comparada com outros tipos de resina. Além disso, queríamos algo 100% natural e orgânico. Optamos então por buscar desenvolver um compósito à base de fibra de coco que fosse 100% natural, biodegradável e biocompatível. Além disso, queríamos que seu processo de produção fosse muito simples e barato. Assim chegamos ao compósito Botiá.



Como você entrou no Movimento Hotspot?
Eu fiquei sabendo dessa oportunidade em uma conversa em sala de aula com um amigo de faculdade que me falou que eles teriam um investimento de até 200 mil para o projeto vencedor. Na hora eu vi uma grande oportunidade de investimento no projeto e fui atrás. Desde 2009 estive trabalhando no projeto. No início foi o desenvolvimento do material em si e em 2011,2012, foi o desenvolvimento das embalagens. Durante o processo do movimento o trabalho continuou.



O processo de seleção foi muito bacana e completo, todas as bancas de apresentação do Projeto Botiá eram um estímulo para estruturar cada vez mais o projeto. A fase de Tanque de Ideia foi especialmente interessante, foi uma oportunidade incrível de conviver com as mais diversas pessoas, de todos os cantos do País e todas muito brilhantes em seus trabalhos. Além disso, participar da metodologia Mesa & Cadeira foi muito enriquecedor para mim, não só como pessoa mas como profissional.



O Botiá foi desenvolvido para ser embalagem de alimentos. Mas quais as outras aplicações possíveis?
Ele foi desenvolvido para ser um material, no começo não tinha uma aplicação específica. Foi depois do desenvolvimento que surgiu a ideia de fazer uma embalagem, por ser um objeto de grande uso e descarte rápido - o que por si só requer uma grande atenção de quem a projeta. Atualmente estamos envolvidas em um projeto com outras duas empresas para fazer um projeto ligado à área de reflorestamento, utilizando o material. Chegamos a fazer assentos de cadeira, entre outras coisas. Ele pode ser usado basicamente para qualquer coisa.



Como você pretende usar o dinheiro do prêmio? Qual é o próximo passo?
O dinheiro do prêmio será usado inteiramente para viabilizar uma produção do material e das embalagens Botiá. Já tivemos interesses de diversas pessoas, projetos e empresas que não pudemos atender devido ao alto custo de produção atual, pois o processo é inteiramente artesanal e não temos infra-estrutura para produzir. Com o investimento, pretendemos comprar maquinário, investir em moldes, aprimorar o processo de produção e arrumar um lugar para de fato instalar o nosso trabalho.



A ideia não é parar nas embalagens, mas desenvolver diversos projetos para clientes usando o material. E desenvolver projetos próprios também. Devido a nossa enorme paixão por pesquisa, queremos que a "minifábrica" sirva também de laboratório de experimentação. O próximo passo é contar com a assessoria do Sebrae e da Luminosidade [empresa de Paulo Borges, idealizador do Movimento HotSpot] para estruturar um bom plano de negócios que faça esse investimento e o nosso trabalho gerarem cada vez mais trabalhos para que, num futuro próximo, possamos caminhar com as próprias pernas.

Como e por que evitar o desperdício

Como e por que evitar o desperdício

Um terço de toda a comida produzida no mundo vai para o lixo. Há perdas no campo, no transporte, no armazenamento e no processo culinário. Por outro lado, 870 milhões de pessoas vivem na insegurança alimentar. Todos os dias, uma de cada oito vai dormir com fome. Reduzir o desperdício pode mudar essa equação, porque o problema da fome não é a falta de alimento. É a falta de gestão pública e privada. Cada um pode fazer sua parte para uma balança mais justa.

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Kátia Stringueto
Bons Fluidos - 

Fernando Lemos e Alex Silva

Os brasileiros desperdiçam comida. Muita comida. Metade de tudo que é produzido. Estados Unidos, Europa, países ricos em geral, não ficam muito atrás. Nem os mais pobres. Na média mundial, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), um terço dos alimentos se perde. A diferença é que, nos países pobres, o problema acontece no início da cadeia produtiva, por falta de tecnologia e dificuldades no armazenamento e no transporte. Já nos países ricos, a situação se agrava nos supermercados e na casa do consumidor, acostumado a comprar mais do que precisa. "O Brasil sofre nas duas pontas, porque tem tanto aspectos de países ricos quanto de países pobres. Daí a perda ser maior. Ocorre desde a colheita, passando pelo manuseio, transporte, central de abastecimento, indústria, supermercado e consumidor", detalha Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu - Pelo Consumo Consciente.


Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) contabilizam em 10% o desperdício das frutas e hortaliças ainda no campo e indicam que a maior perda está no transporte: 50%. Mas, se o alimento chega machucado, aí é motivo de mais descarte. No Brasil, 58% do lixo é de comida. "O planeta produz o suficiente para alimentar 12 bilhões de pessoas, mas quase 900 milhões vivem em insegurança alimentar - comem num dia e no outro não. Como acabar com isso? Reduzindo o desperdício", defende o presidente do Akatu. "Se metade do que é perdido deixasse de ser, teríamos o dobro de alimento nas gôndolas e o preço cairia. E mais pessoas teriam acesso."



Os números são eloquentes e escandalosos, embora fiquem camuflados por causa de velhos hábitos de consumo. Nacionalmente, fazem parte desse desperdício, por exemplo, um volume de talos e cascas que não são usados (e poderiam ser), folhas e frutas machucadas e sobras de pão, café, arroz e feijão.



Há uma gênese cultural para tanto. "O brasileiro sempre teve mesa farta pelo fato de viver num país tropical, onde tudo dá. E não está acostumado a aproveitar integralmente o alimento. Veja se em Portugal se jogam fora as vísceras do porco? Ou a cabeça do bacalhau?", protesta Carlos Dória, do Centro de Cultura Culinária Câmara Cascudo, em São Paulo. O estudioso da alimentação se lembra dos peixes e caramujos desprezados no Ceagesp simplesmente por falta de mercado - a população não os considera comestíveis. "O chef Alex Atala fez um menu interessante com esse ‘refugo’ e provou que o menosprezo é fruto de muito preconceito na cozinha", diz. Ou seja, dá para avançar mais em busca do equilíbrio dessa balança. O Instituto Akatu oferece até um incentivo econômico. Com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os pesquisadores da ONG fizeram a seguinte conta: uma família média brasileira gasta 478 reais mensais para comprar comida. Se o desperdício de 20% de alimentos deixasse de existir em casa, 90 reais deixariam de ir para o ralo. Guardando esses 90 reais todos os meses, depois de 70 anos (expectativa média de vida) a família teria uma poupança de 1,1 milhão de reais.



"Precisamos planejar melhor o cardápio, só comprar o necessário, não nos deixar levar pelas ofertas, cozinhar integralmente os alimentos. E ter uma nutrição adequada. O sobrepeso é outra forma de desperdício", aponta Mattar. De acordo com o Ministério da Saúde, 50% da população nacional está acima do peso. Nos EUA, 70%.

PEGADA DE CARBONO
"Reduzir em 30% o desperdício significa ainda diminuir em 30% o uso de terra, defertilizantes, de agrotóxicos e de sementes", diz Ricardo Abramovay, professor titular do departamento de economia da Universidade de São Paulo. Em abril, o primeiro estudo da FAO sob a perspectiva ambiental revelou que tanto descarte é uma oportunidade que se perde não apenas do ponto de vista da segurança alimentar de mais pessoas como também para mitigar o impacto ambiental. A saber: a pegada de carbono dos alimentos produzidos e não consumidos no mundo é estimada em 3,3 gigatoneladas de dióxido de carbono (cada gigatonelada equivale a 1 bilhão de toneladas). Número que coloca esse desperdício em terceiro lugar entre os maioresemissores de CO2 do planeta, atrás apenas de Estados Unidos e China. Mundialmente, o volume de água que se perde fora quando se desperdiça um alimento pronto atinge 250 quilômetros cúbicos, o que corresponde à descarga anual de água do Rio Volga, o mais longo da Europa.



EM NÍVEL PÚBLICO E PRIVADO
Se a postura do Estado em relação ao desperdício de alimentos deixa muito a desejar, ONGs e consumidores estão ávidos para fazer sua parte. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, quando a equipe de nutrição e gastronomia percebeu que 110 quilos de alimentos eram jogados fora por refeição como resultado da sobra no prato dos funcionários, deu início a uma campanha de conscientização. De fevereiro a outubro de 2012, distribuiu cupons de sorteios aos empregados que entregavam a bandeja vazia - e conseguiram baixar o nível de resíduos para 50 quilos.



No cardápio do restaurante Girarrosto, de São Paulo, o logotipo de duas carinhas se encontrando e compartilhando um sorriso chama a atenção. A quem se interessa, o garçom explica que o prato indicado é servido na porção "Satisfeito", que compreende dois terços da original. Bom para quem não tem muita fome e fica incomodado de deixar comida no prato. Bom porque esse um terço de comida poupado reverte em benefício de ONGs de combate à fome infantil (o cliente paga o preço integral do pedido e o restaurante repassa de 5 a 10% do valor do prato). "As pessoas acham pertinente e gostam muito", diz o gerente Roque Corrêa, que percebe um efeito adicional do Satisfeito. "Acendeu uma luz para a nossa equipe e para o cliente. É uma mudança de cultura à mesa e todos vão pensar mais a respeito dentro de casa."



"A ideia da porção menor nasceu dessa discrepância entre fome e desperdício", explica Luiza Esteves, coordenadora do projeto, idealizado por Marcos Nisti, vice-presidente do Instituto Alana, voltado para o desenvolvimento infantil saudável. Passados seis meses, são 14 restaurantes parceiros. Por enquanto, todos em São Paulo. Na ponta final, o Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren) é uma das três ONGs beneficiadas - há também o Banco de Alimentos e a Seeds of Light, que atua na África. No primeiro mês da iniciativa, o Cren recebeu 662 reais, valor que já enriqueceu o cotidiano das 142 crianças atendidas. "A verba está sendo destinada à compra de alimentos além da cesta básica, como o peixe, que passou a constar do cardápio semanal", informa Lucas Oliveira, coordenador de relacionamento. O dinheiro também permite variar legumes e frutas e educar nutricionalmente as crianças.



Como uma coisa puxa a outra e 65,3% dos brasileiros fazem alguma refeição fora durante o dia, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) viu nos donos de restaurantes e chefs um grande potencial de multiplicar a gastronomia sustentável. Criou uma cartilha de cinco hábitos para uma cozinha eficiente, com alimentos sazonais, que apoie o pequeno produtor e ofereça menos carne. "Quando reduzimos o consumo de carne, naturalmente incentivamos as pessoas a se abrirem para novos sabores", diz João Paulo Amaral, gestor ambiental do Idec. Gente legal já entendeu que tem poder de decisão. E começa a fazer diferente.

OS NÚMEROS FALAM POR SI
- 13 milhões de brasileiros passam fome (FAO, The State of Food Insecurity in the World 2012);
- 20% dos alimentos que uma família brasileira compra semanalmente são jogados fora, gerando uma perda de 1 bilhão de dólares por ano, o suficiente para alimentar 500 mil famílias (Instituto Akatu, 2004);
- 25 centavos de dólar por dia é o valor médio para alimentar uma criança e mudar a vida dela para sempre (WFP, World Food Programme 2012)
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