segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Para eles, o calor é perigoso

Para eles, o calor é perigoso

Para os animais de estimação, os dias quentes podem trazer muito mais que o mal-estar e a preguiça que acometem seus donos. Em cães e gatos, a hipertermia, ou aumento excessivo da temperatura corporal, pode provocar desmaios e convulsões e até matar.

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Daniela Macedo Veja -

istockphoto

"A hipertermia é o problema mais comum - e o mais grave - para cães e gatos no verão", diz o veterinário Marcelo Quinzani, diretor clínico do Hospital Veterinário Pet Care, em São Paulo. Como eles não transpiram, a respiração é a única forma de controle da temperatura do corpo. No verão, porém, o ar quente e úmido prejudica esse mecanismo. Resultado: o animal ofega na tentativa de intensificar a troca de calor. "O risco é ainda maior para animais obesos, para cachorros com pelagem densa, como bernese e husky siberiano, e para as raças braquicefálicas - aquelas de focinho curto -, como os cães boxer, buldogue e pug e os gatos persas, que já respiram com dificuldade em condições normais", explica Mário Marcondes, diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira, em São Paulo. Veja, a seguir, os cuidados para prevenir a hipertermia no animalzinho.

EM CASA
Nada de deixar o animal no quintal constantemente ensolarado ou fechado no apartamento abafado. Sombra (em ambientes arejados) e água fresca são questão de sobrevivência para cães e gatos. Troque a água do bebedouro várias vezes ao dia e certifique-se de que o pote não fique exposto ao sol em nenhum momento - afinal, quem gosta de água morna? Vale até acrescentar umas pedrinhas de gelo ao bebedouro. Para os gatos, que preferem água corrente, um bebedouro eletrônico pode estimulá-los a ingerir mais líquido ao longo do dia.

Dica dos especialistas: borrifar água no dorso e nas patinhas ajuda a resfriar o animal. Se ele ficar ofegante, enrole-o em uma toalha molhada com água fria e deixe-o por um tempinho em frente ao ar-condicionado ou ventilador

NO CARRO
Cachorros são loucos por passeios de carro, certo? O problema é que essa excitação também atrapalha o processo de resfriamento do corpo. Portanto, nos dias muito quentes, o ar-condicionado deve permanecer ligado durante todo o trajeto - e, de preferência, evite viagens longas durante o dia. Outra recomendação dos veterinários: nunca, em hipótese alguma, deixe o bicho preso no carro, nem com uma fresta do vidro aberta e sob uma árvore. Mesmo na sombra, a temperatura no interior do veículo sobe rapidamente, e o animal pode desmaiar ou até morrer em meia hora

PASSEIOS
Cães são leais e nunca recusam um convite do dono para passear, mas se vivessem sozinhos na natureza jamais sairiam da toca sob o sol escaldante. Não é necessário suspender as caminhadas diárias, claro, mas o ideal é reduzir o percurso e restringir os horários das saídas: antes de 10 horas e após as 18 horas. Prefira locais gramados - o asfalto quente pode queimar os coxins, aquelas almofadinhas das patas - e leve água em bebedouros portáteis. A dica das borrifadas de água fria no dorso também se aplica aos passeios. E respeite os limites do cão: interrompa o passeio do animal ofegante, que tenta fugir do sol em busca das áreas sombreadas. Por fim, cães agressivos devem usar focinheira de ferro, um modelo que não impede a abertura da boca. E atenção! Passear com cães de focinho achatado nos dias quentes, com focinheira fechada, é meio caminho andado para uma hipertermia severa

ANTIPULGAS
Com a proliferação de parasitas no verão, os especialistas recomendam a aplicação de produtos que protegem o animal de pulgas e carrapatos a cada três semanas. "Evite dar banho dois dias antes e dois dias depois da aplicação do produto", ensina o veterinário Mário Marcondes

BANHO E TOSA

As salas de banho e tosa das pet shops são ambientes propícios para a hipertermia: o stress prejudica a respiração do animal e, com os secadores ligados o dia inteiro, a temperatura fica sempre elevada. Evite os horários de pico do calor e mantenha o pelo dos animais mais curto que o habitual. Em casa, os banhos semanais devem ser feitos com água morna, pois a água muito fria pode causar choque térmico. Por fim, use apenas a toalha para secar animais de pelo curto, e o ar frio do secador para os de pelo longo

ATENÇÃO!
Se o animal mostrar-se inquieto, permanecer com a respiração ofegante e apresentar língua levemente arroxeada, mesmo após as tentativas caseiras de resfriá-lo, leve-o imediatamente ao veterinário, mantendo-o envolto em uma toalha molhada com água fria e, no carro, posicionado em frente à saída do ar-condicionado. "Em condições normais, a temperatura corporal não ultrapassa 39,5 graus. Se ela chegar a 40 graus, porém, só a respiração poderá ser insuficiente para resfriar o animal. Nesse caso, ele talvez precise de aplicação de soro refrigerado na veia ou até necessite ser sedado e entubado", explica o veterinário Marcelo Quinzani

CUIDADO COM O SOL! 

O câncer de pele não é exclusivo dos seres humanos. A exposição prolongada ao sol é responsável pela incidência de câncer de pele em cães e, principalmente, em gatos - os bichanos são mais propensos em razão do hábito de passar horas tomando banhos de sol. Como os danos dos raios ultravioleta são cumulativos, a maioria dos casos envolve animais idosos.

Sintomas: a doença começa como uma manchinha avermelhada na pele e se torna uma ferida que não cicatriza ou, se cicatriza, volta logo em seguida

Áreas mais afetadas: regiões do corpo com pelagem menos densa. Nos gatos, as lesões malignas tendem a surgir nas pálpebras, no focinho, na parte interna das orelhas e na região entre os olhos e as orelhas. Nos cachorros, a área de risco é o abdômen

Prevenção: é possível proteger as áreas de pouca pelagem com protetor solar FPS 30 tradicional, desde que sem perfume e hipoalergênico. Como os gatos têm o hábito de se lamber constantemente, o ideal seria evitar os longos banhos de sol

Tratamento: consiste na remoção cirúrgica ou na crioterapia, em que a lesão é queimada com nitrogênio líquido. Parece simples e até pode ser, quando ela surge na barriga. Nos gatos, porém, a doença afeta pálpebras, orelhas e focinho, o que pode resultar em deformação da face. Vale frisar que, quanto mais precoce o diagnóstico, maiores são as chances de cura

Raças com maior risco de desenvolver a doença: animais de pelagem curta e branca. Como os tumores malignos costumam aparecer na cabeça, gatos e cães bi e tricolores, como fox paulistinha, bull terrier e whippet, também podem desenvolver a doença

DIETA SEM RISCOS É difícil resistir à carinha de carente do cachorro diante de uma guloseima, não? Quando o alimento em questão for chocolate, ignorá-lo é a opção mais segura. O chocolate contém duas substâncias estimulantes que afetam o sistema nervoso central e fazem muito mal ao bicho de estimação: teobromina e cafeína. "Dependendo da quantidade ingerida, o chocolate pode causar vômito, diarreia, arritmia ou convulsão em cães e gatos", diz Tatiane Marry Sipriani, clínica-geral do Koala Hospital Animal, em São Paulo. Quanto maior a concentração de cacau, maior o perigo para o bichinho. Veja outros alimentos que podem ser tóxicos para eles:

Uva: estudos apontam que a ingestão regular da fruta pode ser responsável por casos de insuficiência renal em cães e gatos

Derivados de leite: para alguns animais, sorvete, iogurte e outros produtos com lactose podem provocar vômito e diarreia

Alho e cebola: o consumo regular de comida temperada com alho e cebola pode afetar a produção de glóbulos vermelhos e levar à anemi
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Vai faltar água em São Paulo?

Vai faltar água em São Paulo?

BRUNO CALIXTO

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Represas do Sistema Cantareira registram menor nível de abastecimento de água dos últimos dez anos (Foto: Reprodução / Facebook / Sabesp)

No começo desta semana, os moradores de São Paulo se assustaram ao ver um comunicado em rádios e TVs. A Sabesp, empresa que cuida do abastecimento de água na região, está veiculando uma propaganda dizendo que o nível de algumas represas que abastece a cidade chegou a um estado crítico. A empresa pede que moradores evitem o desperdício e economizem o máximo de água possível. Os paulistanos devem ficar preocupados com um possível racionamento de água na maior cidade do país?
Segundo Paulo Massato Yoshimoto, diretor da Sabesp para a região metropolitana de São Paulo, sim. O risco de racionamento de água é real. "De fato, temos um risco. Por isso estamos atuando para evitar um possível rodízio", diz. Isso acontece porque o sistema de represas que abastece cerca de 9 milhões de pessoas está com menos de 23% de sua capacidade total.
Yoshimoto afirma que a Sabesp decidiu pedir ajuda da população após análise da temperatura e das chuvas do último mês de dezembro. Os resultados não foram nada animadores. Toda a água usada no abastecimento de São Paulo vem de várias represas que, juntas, formam sistemas. As represas do Sistema Cantareira, que ficam na região de Bragança Paulista, abastecem quase metade da população da Grande São Paulo. A análise mostrou que essas barragens estão na pior situação de abastecimento desde que o sistema foi criado, em 1975.
Segundo Yoshimoto, São Paulo viveu condições climáticas excepcionais nos últimos anos. Nunca fez tanto calor na região – já é o verão mais quente registrado na área do Sistema Cantareira. As chuvas ficaram abaixo da média por dois anos consecutivos. Em dezembro do ano passado, a região bateu o recorde de menor quantidade de chuvas para o mês. Em janeiro de 2014, o recorde deve ser repetido.
Quem acompanha o Blog do Planeta sabe que cientistas preveem maior frequência de eventos extremos, como as condições que São Paulo está enfrentando, no Brasil e no mundo. Não é possível dizer se a falta de chuva foi causada pelo aumento das médias de temperatura no planeta. Mas um dos principais efeitos do aquecimento global no Sudeste brasileiro será uma mudança no ciclo de chuvas, e o país precisará se adaptar e se preparar para enfrentar secas e enchentes.
Segundo Yoshimoto, ainda dá tempo de evitar o racionamento de água neste começo de ano. A Sabesp traçou duas estratégias para tentar contornar a situação. A primeira foi passar bairros inteiros abastecidos pelo Sistema Cantareira para o Sistema Alto Tietê. Grande parte da Zona Leste de São Paulo, por exemplo, passou a receber água das barragens do Tietê. A outra é uma campanha de comunicação para convencer a população a não desperdiçar água. "Se houver uma boa redução no consumo, devemos conseguir postergar a situação crítica até a segunda semana de fevereiro, quando as chuvas devem voltar ao normal."
Os paulistanos devem economizar água mais do que nunca. E a tendência é de que a cada ano isso se torne mais e mais necessário – não apenas para São Paulo.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

ECOzinha: Conheça os benefícios da laranja

ECOzinha: Conheça os benefícios da laranja



A laranja é uma fruta bastante comum da dieta dos brasileiros. Além de ser rico em vitamina C, o fruto reserva uma série de outros benefícios, incluindo melhores condições para o sistema cardíaco e digestivo.

É importante lembrar que a maior parte dos benefícios da laranja está concentrada no bagaço da fruta, que é rico em fibra e pectina, um polissacarídeo muito importante para auxiliar a digestão e impedir a absorção e o armazenamento de gorduras no corpo.

Devido a todas as suas propriedades naturais, a laranja traz como benefícios diretos à saúde o combate ao colesterol, o controle da pressão sanguínea, o estímulo às funções intestinais e sistema circulatório, além de ajudar a manter a defesa do organismo e deixar a pele mais bonita.

Essa fruta pode ser consumida em sua forma natural ou através de sucos. O ideal é que eles sejam feitos e tomados na hora, sem conservantes e outros químicos que reduzem sua eficiência. Para aumentar o aproveitamento, bata a laranja no liquidificador ou em uma centrífuga, pois assim a casca também é utilizada.

Outra sugestão é fazer o bolo de laranja com casca, confira a receita abaixo:

Ingredientes:

- 2 laranjas médias
- ¾ xícaras (chá) de óleo
- 3 ovos
- 2 xícaras (chá) de açúcar
- 2 xícaras (chá) farinha de trigo
- 1 colher (sopa) de fermento em pó
- Gotas de baunilha

Modo de preparo:

Corte as laranjas em quatro e retire as sementes e a parte branca no centro (deixe a casca e o bagaço). Bata no liquidificador as laranjas, os ovos, o açúcar e a baunilha. Despeje esta mistura em uma vasilha. Acrescente a farinha de trigo mexendo bem e, por último, o fermento misturando levemente. Asse em forma untada. Se preferir, despeje sobre o bolo quente o suco de duas laranjas, adoçando com 2 colheres (sopa) açúcar.


via: CicloVivo

BALNEABILIDADE DA PRAIA DO FAROL DE SÃO TOMÉ DO LAGAMAR E LAAGOA DE CIMA

ATENTAI-VOS  PARA ESTA IMPORTANTE INFORMAÇÃO:A ÚNICA  PRAIA CAMPISTA ESTÁ TOTALMENTE PRÓPRIA PARA O BANHO DOS VERANISTAS.VIVA O VERÃO DA FAMÍLIA.








sábado, 1 de fevereiro de 2014

ALIMENTOS:Como ler os rótulos

Como ler os rótulos

Algumas expressões usadas nas embalagens de alimentos industrializados mais confundem do que esclarecem. Veja o que dizem os especialistas e as normas

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Fernanda Morelli e Mariele Góes Claudia - 

creative Commons

DIET

O que é: Indica que há restrição de algum ingrediente, como sódio ou gordura, e pode aparecer nos rótulos como "zero". "A maioria desses alimentos não contém açúcar e é voltada para diabéticos", explica a nutricionista Manuela Dias, da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Proteste.

Não se deixe enganar: Esses alimentos nem sempre são mais leves. Um exemplo: o chocolate diet costuma ter alto teor de gordura, para compensar a ausência de açúcar, e até mais calorias que a versão tradicional. "O açúcar fornece quatro calorias por grama e a gordura chega a 9", diz a nutricionista Cecília Rios, do Centro Terapêutico Dr. Máximo Ravenna, em Salvador.

Antes de colocar no carrinho: Observe na tabela nutricional se o produto é menos calórico que o tipo original e se não possui teores elevados de ingredientes nocivos quando ingeridos em excesso, como gorduras e sódio. Na dúvida, compare com um similar não diet - muitas vezes a diferença é grande só no preço.

LIGHT
O que é: Deve apresentar 25% a menos de algum ingrediente em relação ao alimento tradicional. "Pode ser gordura e açúcar, o que diminui o valor calórico, ou sódio ou colesterol", diz Manuela Dias. A partir de janeiro, o valor dessa redução deverá ficar claro na embalagem por meio da comparação entre as duas tabelas nutricionais (a original e a light).

Não se deixe enganar:
 "Por ser light, as pessoas tendem a comer demais e, no fim, acabam ingerindo até mais calorias", alerta Manuela. E pense que o valor nutricional importa mais que o energético - um copo de suco de laranja pode ser mais calórico que um refrigerante, mas certamente é mais saudável.

Antes de colocar no carrinho: Cheque qual ingrediente foi reduzido e se ele gera grandes alterações calóricas. Além disso, atenção à porção de referência da tabela nutricional para descobrir quantas calorias você vai mesmo ingerir (o ideal é calcular de acordo com a medida caseira).

ZERO GORDURA TRANS
O que é: Pela nova resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), podem usar a frase alimentos que tenham apenas 0,1 grama de gordura trans por porção de 100 gramas ou de 100 mililitros.

Não se deixe enganar: A gordura trans pode aparecer nos rótulos disfarçada com o nome de gordura vegetal hidrogenada. Mas o perigo maior está na falsa ideia de que o produto é mais saudável por isso. "O alimento pode ser isento de gordura trans, mas conter alto nível de gorduras saturadas ou totais, que também são danosas por elevar o colesterol", lembra a nutricionista Cecília.

Antes de colocar no carrinho: 
Só acredite que o produto não possui gordura trans depois de checar na tabela nutricional. "O melhor alimento é aquele que não contém gordura trans, tem pouca gordura saturada e muita gordura boa, a chamada insaturada, geralmente encontrada nos alimentos de origem vegetal", afirma Carlos Alberto Werutsky, nutrólogo e diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

NATURAL E ORGÂNICO
O que são: Ainda não existe uma regulamentação da Anvisa determinando o que um produto precisa conter para ser considerado natural. Já os itens orgânicos dizem respeito à forma de cultivo: são produzidos sem agrotóxicos e transportados e armazenados de forma diferenciada.

Não se deixe enganar: 
Existe uma grande diferença entre o alimento conter ingredientes naturais, como frutas, e atestar, na embalagem, que o produto em si é natural. "Se ele passou pelo processo de industrialização, já deixou de ser natural", ressalta a nutricionista Antônia Maria de Aquino, gerente de produtos especiais da Anvisa.

Antes de colocar no carrinho: "Quanto menos caixas e latas a gente comprar, melhor. Alimentos frescos são sempre mais saudáveis que os de pacote", afirma Cecília. Quanto aos orgânicos, procure nos rótulos por selos que atestem sua origem, como o IBD ou o Produto Orgânico Brasil.

BAIXO TEOR DE SÓDIO
O que é: O sódio é um mineral presente na maioria dos alimentos e também o principal componente do sal de cozinha. Consumido em excesso, faz o organismo reter líquidos e aumenta a pressão arterial. Saiba diferenciar: um produto possui baixo teor de sódio quando tem até 80 miligramas do componente por porção de 100 gramas; muito baixo se apresentar até 40 miligramas de sódio nas mesmas 100 gramas; e pode ser dito que o item não contém o ingrediente caso ele leve até 5 miligramas nessa porção.

Não se deixe enganar: O sódio pode aparecer com outros nomes, como benzolato de sódio, sacarina sódica e glutamato monossódico. Mais: olhe também os rótulos dos produtos que não têm paladar salgado, como adoçantes e ketchups, pois eles podem conter doses elevadas do ingrediente.

Antes de colocar no carrinho:
 "Todo alimento com mais de 400 miligramas de sódio por porção de 100 gramas deve ser evitado", aconselha a nutricionista Cecília Rios. Para se ter uma ideia, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é consumir diariamente 2 gramas de sódio (menos de 1 colher de chá rasa de sal), no máximo. Em tempo: o termo "baixo teor" pode ser usado em outros casos - com gorduras, por exemplo - e o valor de referência para adotá-lo muda. É permitido que um alimento anuncie "baixo teor de gordura" quando apresentar até 3 gramas de gorduras totais por porção de 100 gramas. Os valores de cada substância constam em tabela no site da Anvisa.

INTEGRAL
O que é: São alimentos que contêm grãos ou cereais, como aveia, trigo ou centeio, e não passaram por um processo de refinamento. Não existe uma regulamentação sobre a quantidade mínima de grãos ou fibras necessária para um produto ser considerado integral.

Não se deixe enganar:
 Muitas vezes, a diferença é maior apenas no preço, já que cada marca adota o critério que deseja. Alguns fabricantes, apenas pelo fato de o alimento conter farinha integral ou farelo de cereais, já o denominam integral.

Antes de colocar no carrinho: Olhe com atenção a lista de ingredientes. Nela, os componentes do produto aparecem em ordem decrescente. "O ideal é que a farinha integral ou os cereais estejam entre os primeiros itens", afirma a nutricionista Manuela Dias. Se farinha refinada e açúcares vierem antes, redobre a atenção.

NÃO CONTÉM COLESTEROL
O que é:
 O colesterol é um tipo de gordura produzido naturalmente no organismo. E não só no nosso: todo alimento de origem animal contém colesterol, assim como produtos que levam ingredientes desse tipo (a exemplo do ovo, presente em tantas receitas). Mas um item pode se dizer isento se apresentar até 5 miligramas por porção de 100 gramas, como informa a nutricionista Antônia Maria.

Não se deixe enganar: Não conter colesterol não significa ausência de gorduras ou de açúcar nem que o alimento é menos calórico. E atenção: o consumo máximo de colesterol, segundo a Organização Mundial da Saúde, é de menos de 300 miligramas por dia.

Antes de colocar no carrinho: Uma pegadinha é empregar a frase em alimentos que já não conteriam a substância, como óleo vegetal. Aí você é levada a crer que o produto daquela marca é mais saudável que o de outras. "A partir de 2014, será obrigatório informar que o item não contém colesterol como qualquer um do mesmo tipo", diz Antônia.

ENRIQUECIDO COM...
O que é: A expressão aparece em tudo que recebe adição de nutrientes. Esse reforço pode ocorrer tanto para repor o que foi perdido durante o processamento do alimento quanto para reforçar o seu valor nutricional.

Não se deixe enganar:
 A frase pode desviar o seu foco, já que, normalmente, aparece em alimentos ricos em açúcar e gorduras, como os biscoitos recheados, achocolatados e os cereais matinais.

Antes de colocar no carrinho
: A partir de janeiro, só será permitido que um produto ateste que é enriquecido com determinado nutriente se houver uma versão tradicional da mesma marca para servir de parâmetro - e isso deve estar explícito por meio de tabelas comparativas. "No caso das vitaminas e minerais, por exemplo, para ser validado como enriquecido, é preciso ter um aumento de no mínimo 10% daquele nutriente", ensina Cecília Rios
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Não dá mais para ir de carro


Não dá mais para ir de carro

Cada vez mais cidades optam por tirar espaço dos automóveis e dar a ônibus, ciclistas e pedestres. O EXAME Fórum Sustentabilidade discutiu essa e outras soluções para a mobilidade urbana

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Daniel Barros
Exame -

epSos.de/Creative Commons

Quem diria? Chicago, Las Vegas e Los Angeles, nos Estados Unidos, estão copiando cidades como Curitiba, Goiânia e a colombiana Bogotá. Pelo menos na criação em suas ruas de faixas especiais para ônibus, o chamado BRT (do inglês Bus Rapid Transit), que começou a ganhar o mundo com base na experiência latino-americana.

O conceito não é novo. É uma tentativa de emular as características boas do metrô usando ônibus - e investindo um décimo do necessário para fazer um trem subterrâneo. A solução reúne faixas segregadas fisicamente do trânsito, estações fixas, embarque em nível, pagamento da passagem antecipado e veículos mais longos do que o normal. A novidade é que, nos últimos dez anos, o número de cidades que usam o BRT no mundo aumentou de 50 para 166 e essa opção se tornou quase unanimidade entre especialistas em transporte urbano.

"O BRT de Bogotá acabou com o mito de que o sistema não pode ser usado como transporte de massa, pois ele movimenta mais gente do que 95% das linhas de metrô", disse o consultor colombiano Oscar Edmundo Diaz no EXAME Fórum Sustentabilidade, evento que discutiu em São Paulo, no dia 19 de novembro, soluções para a melhoria da mobilidade urbana - e, por consequência, da qualidade do meio ambiente.

Diaz é sócio da consultoria GSD Plus e colaborou na gestão de Enrique Peñalosa como prefeito de Bogotá, no fim da década de 90, perío­do em que o Transmilênio, o BRT local, e dezenas de quilômetros de ciclovias foram feitos. A decisão política de Peñalosa seguiu um raciocínio simples: priorizar o transporte público em vez do individual, representado principalmente pelos carros. "Hoje, não vejo muita perspectiva de melhorar o transporte individual motorizado na cidade de São Paulo", disse Fernando Haddad, prefeito da capital paulista, no encerramento do Fórum.

Pouco mais da metade da população mundial mora em cidades. Em 2050, a concentração será de 70%. No Brasil, a proporção de população urbana já é de 84%. Nos últimos anos, as cidades brasileiras vêm registrando um enorme aumento no número de carros.

A consultoria Ernst&Young fez um estudo que projeta dois cenários para o transporte nas cidades até 2050. A notícia ruim é que a mobilidade pode piorar muito. Hoje, metade do transporte de pessoas no mundo é feita por carro. Se a evolução se mantiver constante, em 40 anos quase 70% dos deslocamentos serão feitos em automóveis. O resultado seria que cada pessoa perderia, em média, 106 horas anuais em engarrafamentos - o dobro de hoje.

Mas, se as metrópoles usarem os mecanismos disponíveis para incentivar alternativas ao carro, a proporção pode mudar para 40% de pessoas se movendo com carros e 60% com transporte público, compartilhado ou a pé. O gasto com transporte seria reduzido de 12% do PIB global para 6% e 180 000 mortes no trânsito seriam evitadas todos os anos - é uma Araçatuba, do interior de São Paulo, salva por ano. "O mundo precisa de cidades compactas, integradas e includentes", disse no fórum Elkin Velasquez, coordenador do Habitat, programa das Nações Unidas dedicado aos assentamentos humanos. A escolha de tirar espaço dos carros e entregar aos ônibus é um símbolo disso. Mas vai ser preciso muito mais para dar um salto qualitativo.

Sistemas como BRT e metrô miram atender o maior número possível de pessoas. Quando Velasquez diz que as cidades precisam ser compactas, refere-se ao adensamento das áreas que têm mais acesso a esse tipo de transporte: o de massa. É o que o Rio de Janeiro vem tentando fazer. Parte da cidade está sendo cortada pela via Transcarioca, um BRT que irá até a Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste e um polo econômico de importância crescente.

A inauguração da Transcarioca está prevista para o início de 2014. Em 2016, a zona norte receberá o Transbrasil, uma ligação até o centro. Hoje, o metrô também já atravessa essa parte da cidade, onde há um grande número de casas. "Como a zona norte terá uma infraestrutura de transporte muito melhor, queremos aprovar um projeto para aumentar o gabarito de construção da região", diz o prefeito do Rio, Eduardo Paes. "O objetivo é adensar ainda mais o entorno das estações de BRT e metrô."

O Plano Diretor que a Câmara Municipal de São Paulo está discutindo parte da mesma premissa e avança em outro ponto vital para melhorar a mobilidade no longo prazo: o uso misto dos bairros. Melbourne, na Austrália, foi eleita pela consultoria Economist Intelligence Unit nos últimos três anos como a cidade mais "habitável" do mundo. Um dos principais quesitos é o equilíbrio entre prédios comerciais - onde estão os empregos - e residenciais, o que diminui a necessidade de mover as pessoas. "Medellín, na Colômbia, também dá exemplo de uso variado dos bairros", diz Velasquez, da ONU. "O trânsito é disperso por vias paralelas e há um número crescente de parques e espaços públicos ao ar livre."

MEDIDAS DE CURTO PRAZO
Mas também há um conjunto de medidas de curto prazo que podem melhorar o transporte público. "Eu não consigo entender por que ainda não é difundido no Brasil o uso da Onda Verde nos semáforos para ajudar o fluxo dos ônibus nos horários de pico", diz Gilberto Peralta, presidente da GE, fabricante de sistemas de controle e equipamentos elétricos. Ele se refere à solução que dá prioridade à passagem dos coletivos em cruzamentos e que é usada corriqueiramente em cidades pequenas, médias e grandes lá fora.

Pelo mundo, costuma ser parte fundamental dos sistemas de BRT, para garantir que os ônibus não percam tempo nos cruzamentos. Mas a tecnologia também pode ser utilizada em linhas de ônibus normais: um dispositivo "avisa" quando o ônibus está se aproximando do sinal para que seja aberto. Na lista de medidas simples também estão o piso baixo, no nível das calçadas, e as portas largas dos ônibus. Eles permitem que mais pessoas entrem com rapidez. "A redução do tempo de viagem com essas melhorias pode chegar a 30% do total", diz Adalberto Maluf, diretor para São Paulo da Rede C40, grupo das cidades líderes no tema das mudanças climáticas do mundo.

Uma contribuição igualmente valiosa que a tecnologia pode dar está na difusão de informações. Que combinação de meios de transporte é mais apropriada para ir de um ponto a outro? É uma questão frequente para quem habita os grandes centros urbanos. São, afinal, dados que deveriam estar à mão.

Londres, Singapura, Hong Kong e Seul oferecem isso com eficiência e em tempo real. Essas cidades mapeiam as opções e indicam como o cidadão pode usar combinações de metrô, trens urbanos, ônibus, bicicleta, táxis, caminhada e até estações de compartilhamento de veículos.

"Quando as prefeituras mapeiam as opções de transporte em detalhe, além de comunicar melhor aos usuários quais são as rotas possíveis, elas descobrem onde estão os pontos subatendidos", diz Susan Zielinsky, diretora do centro de pesquisa sobre mobilidade urbana Smart, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Usar informações em tempo real pode ser determinante para planejar o controle do tráfego e acionar rapidamente órgãos do governo quando acidentes acontecem.

O Centro de Operações que a IBM montou para a prefeitura do Rio de Janeiro já é sincronizado com o aplicativo Waze, em que usuários compartilham informações sobre o trânsito. A ideia é que, quanto mais informações são coletadas, mais previsível se torna a forma como pessoas e veículos se movem. "Os dados coletados por GPS anônimos em carros e celulares permitem análises cada vez mais profundas", diz Ulisses Mello, diretor de operações da IBM no Brasil. Com as tecnologias de hoje, já é possível saber que pontos de ônibus são mais utilizados a cada hora e, assim, modificar o trajeto dos coletivos.

Mas toda essa tecnologia não resolve uma questão inerente a qualquer rede de transporte complexa: a capilaridade. Os sistemas de informação sofisticados devem indicar e fomentar a integração e o uso de mais opções. A boa e velha caminhada, por exemplo, não deve ser subestimada. "A cidade não pode ser feita só para veículos motorizados", diz Oscar Diaz, da GSD Plus. "É preciso estudar o pedestre."

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, parece ter entendido isso. Durante seu mandato de 12 anos, tomou várias medidas para tornar mais agradável a vida de quem anda pela cidade. Na intervenção com melhor custo-benefício, Bloomberg ampliou o tamanho das calçadas na região da Times Square e melhorou a sinalização. Conseguiu elevar 11% o número de pedestres da área e cortar 63% dos acidentes. Mesmo tirando faixas do trânsito, a fluidez dos carros no bairro aumentou 18%. O custo: 1,5 milhão de dólares.

"Se você der às pessoas um ambiente adequado para andar, elas vão escolher andar", diz Helle Soholt, presidente do Gehl Architects, escritório que auxiliou a prefeitura de Nova York na tarefa de dar mais espaço aos pedestres. Atualmente, o Gehl está elaborando um projeto para o centro de São Paulo com a prefeitura. Estima-se que 25% dos deslocamentos de pessoas na cidade são de, no máximo, três quilômetros. Caminhar ou pedalar seriam saídas ideais.

A mesma lógica do espaço para caminhadas, portanto, pode se aplicar ao uso de bicicletas. Em Bogotá, 370 quilômetros de ciclovias foram construídos desde a gestão de Enrique Peñalosa. Hoje, 5% da população se locomove diariamente com as bicicletas. O espaço para os ciclistas em Bogotá é mais do que o dobro do disponível em São Paulo, onde as ciclovias são usadas basicamente para lazer. Se Bogotá já avançou, o que dizer de Amsterdã, onde a proporção dos que pedalam é de 60% da população todos os dias? É a prova de que a ideia de que as pessoas podem ir trabalhar todos os dias de bicicleta não é utópica.

"Uma forma de incentivar é garantir que as estações de metrô, trens e BRT tenham bicicletários", diz Adalberto Maluf, da C40. O sistema de aluguel de bicicletas que já funciona em capitais brasileiras inspirou o setor automotivo, que também não quer um cenário de imobilidade maior ainda, mas que espera dobrar suas vendas nos próximos 30 anos.

Sistemas de compartilhamento de veículos estão proliferando pela Europa e pelos Estados Unidos. O usuário pega um carro perto de uma estação de transporte público e o devolve em vagas especiais perto de casa. É uma aposta de algumas montadoras. "O aluguel de carros para trajetos curtos é uma das saídas para completar a última milha dos trajetos, e acreditamos que essa solução pode pegar", diz Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil. A empresa alemã criou o sistema Car2go, de aluguel de carros em pequenas estações espalhadas por pontos estratégicos e já oferece o serviço em 25 cidades - a maioria na Alemanha e nos Estados Unidos.

Cidades do mundo inteiro estão se movendo para resolver os problemas de transporte e a ordem do dia é conseguir o melhor custo-benefício. "As cidades vão gastar bilhões tentando criar novos espaços públicos, como grandes avenidas e elevados, ou vão se empenhar em usar melhor o que já existe?", diz Paulo Custódio, consultor de transporte do Banco Mundial. A conclusão do EXAME­ Fórum é que a segunda opção é a que faz sentido.

HÁ MÚLTIPLAS SAÍDAS
A discussão sobre como melhorar a mobilidade em grandes cidades tem convergido para um conjunto de soluções de curto, médio e longo prazo.

CURTO PRAZO
Mapear as opções de transporte
Londres e Singapura detalham rotas pela internet, integrando metrô, ônibus, bicicletas, pontos de táxi e até sugestões de caminhada

Prioridade para ônibus
Dezenas de cidades americanas e europeias usam um sistema que dá prioridade aos ônibus nos semáforos — a Onda Verde

Incentivo para andar a pé
Um quarto dos deslocamentos em São Paulo poderia ser feito a pé. Com mais calçadas e sinalização melhor, Nova York aumentou 11% a circulação de pedestres na região da Times Square

MÉDIO PRAZO
Bus Rapid Transit
Corredores de ônibus com pagamento antecipado, estações fixas, pistas exclusivas e linhas expressas. Já há 166 cidades no mundo com BRT

Ciclovias
Bogotá, na Colômbia, conseguiu fazer 5% da população optar por bicicletas no dia a dia. Em Amsterdã, com tradição de décadas, a marca é de 60%

Centros de controle
Câmeras, sensores e GPS seguem o fluxo de veículos em tempo real e ajudam o poder público a administrar o trânsito e a reagir em caso de acidente

LONGO PRAZO
Metrô

Embora custe caro e demore de oito a 14 anos para finalizar uma linha, o metrô atende 187 metrópoles. Na China, há 30 cidades construindo ou planejando sua rede

Planejamento urbano
Levar empregos para áreas residenciais e construir moradias onde há empregos em abundância. Povoar o entorno das principais rotas de transporte. São saídas que Melbourne, na Austrália, está adotando.

Fontes: C40, Embarq GSD Plus, Green Mobility e Gehl Architect
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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Um gelo polar

AQUECIMENTO GLOBAL

Um gelo polar

Uma massa de ar frio vinda do Ártico fez com que a temperatura caísse 30 graus em poucas horas nos Estados Unidos e no Canadá. São os efeitos das mudanças climáticas

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Raquel Beer e Victor Caputo Veja -
Robert S. Donovan/Creative Commons

Na terça-feira, 7, os nova-iorquinos repentinamente acordaram numa cidade a 15 graus negativos, 27 graus a menos do que no dia anterior. Foi a menor temperatura de Nova York nos últimos 118 anos, nesta época do ano. Mais ao norte do Estado de Nova York, na fronteira com a província canadense de Ontário, uma cena impressionante era vista na cidade de Niagara Falls: as águas das emblemáticas Cataratas do Niágara, a mais volumosa queda-d'água do Hemisfério Norte, estavam congeladas. Chicago, em Illinois, chegou a 27 graus negativos (até a Antártica tinha temperaturas mais elevadas naqueles dias). Na divisa entre os estados de Minnesota e Dakota do Norte a sensação térmica era de 50 graus negativos. Frio suficiente para alguém jogar, um copo de água fervente no ar e vê-la se transformar em partículas de gelo antes de tocar o chão. Ao menos 21 americanos morreram por hipotermia e outros 240 milhões foram afetados pelo clima gelado — lojas não abriram e muita gente nem saiu de casa durante a semana.

Tudo congelado, a pergunta que fica é a seguinte: será que o rigoroso inverno americano é prova da inexistência de um aquecimento global, fenômeno aclamado por muitos cientistas como o vilão de nosso século?

Dada a dissonância cognitiva provocada pelo choque entre a expressão "aquecimento global" e um frio danado como o da semana passada nos Estados Unidos e no Canadá, a expressão "mudança climática" tem ganhado cada vez mais espaço. Afinal, como explicar aquecimento global para um sujeito que está sentindo frio abaixo do registrado na superfície de Marte? Mudança climática, portanto, é o nome do jogo.

Nas últimas cinco décadas, a temperatura na Terra subiu 0,7 grau. Parece pouco, mas é o suficiente para desestabilizar o clima global. Enquanto algumas regiões estão mais quentes, como o Ártico e a Austrália, outras esfriaram, a exemplo dos Estados Unidos. O que ocorreu no centro e na costa leste americana é efeito de um fenômeno conhecido como polar vortex, ou vórtice polar. Trata-se de uma massa de ar que circula constantemente pelo Ártico, em um movimento circular, com ventos de 42 graus negativos e a 160 quilômetros por hora. Normalmente, a rotação da Terra fez com que o vórtice fique restrito ao Polo Norte. O aquecimento do Ártico, onde a temperatura subiu 2 graus em cinquenta anos (o triplo do aumento mundial), desestabilizou os ventos frios e fez com que eles rumassem para os Estados Unidos, derrubando a temperatura em até 30 graus em poucas horas, em vários estados.

A desestabilização do vórtice se deve ao fato de que o aquecimento do Ártico intensificou o derretimento do mar congelado que cobre a região. Entre julho e agosto de 2013, o degelo observado foi o dobro da média registrada desde 1969 pelos satélites da Nasa, a agência espacial americana. A extensão da parcela congelada do Oceano Ártico é hoje 25% menor do que a que se via há 45 anos, e a água também está 3 graus mais quente. Ocorre que o contato da superfície maior de água aquecida com o ar, que é mais gelado, acaba por esquentá-lo. Como os ventos mais quentes são menos densos que os mais frios, eles sobem na atmosfera, desestabilizando o vórtice polar. Foi esse ar (quente para os padrões do Ártico, mas extremamente gelado para os dos Estados Unidos), com temperatura de dezenas de graus abaixo de zero, que rumou em direção à costa leste americana. Disse a VEJA o climatologista americano David Robinson, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey: "Esse evento tem acontecido com frequência nas últimas décadas, mas desta vez foi mais grave por ter ocorrido um deslocamento muito rápido do vórtice em direção ao restante do Hemisfério Norte. Não houve tempo para que os ventos se aquecessem no caminho, o que criou o inverno extremamente rigoroso. A duração disso é, porém, curta: em uma semana as temperaturas já devem voltar para o patamar típico de um mês de janeiro".

A perturbação do vórtice polar é cada vez mais frequente. No ano passado, os mesmos ventos frios rumaram em direção à Inglaterra, que sofreu seu inverno mais rigoroso dos últimos sessenta anos. O problema já afetou os Estados Unidos quatro vezes nos anos 80, e a mais recente se deu em 1996. Na última versão do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU, publicada no fim do ano passado, há um alerta: até 2040, a camada congelada na superfície do Oceano Ártico deve desaparecer totalmente durante a primavera e o verão. Isso deixará o oceano exposto, afetando as mudanças climáticas globais.

Ao mesmo tempo em que temperaturas congelantes castigam os Estados Unidos, outros sinais de reviravoltas climáticas são vistos ao redor do mundo. Os termômetros na Austrália bateram a marca de 50 graus na semana passada, recorde dos últimos cinquenta anos. Uma onda de calor, a mais severa em 100 anos, atingiu Buenos Aires, na Argentina, na primeira semana deste mês. No Brasil, altas temperaturas foram registradas neste verão: a sensação térmica no Rio de Janeiro chegou a 50 graus. As causas das mudanças climáticas, porém, não são claras. Segundo o IPCC, é de 95% a probabilidade de que o aquecimento seja fruto de ações humanas, principalmente daqueima de combustíveis fósseis. Por outro lado, cientistas apelidados de "céticos" afirmam que o homem não é responsável pelo aumento das temperaturas. Segundo eles, há ciclos naturais que modificam o clima terrestre em decorrência de diversos fenômenos, como a intensificação da atividade do Sol, cujas explosões na superfície têm sido mais frequentes e potentes. Se o motivo não é evidente, a consequência é, sim: o clima da Terra está se transformando
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