segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Papa pede uma "revolução cultural": 7 pontos da encíclica ecológica de Francisco


Texto critica o fracasso das negociações internacionais, a privatização da água, e defende ajuda aos mais pobres


Papa Francisco (Foto: Alessandra Tarantino/AP)

Papa Francisco (Foto: Alessandra Tarantino/AP)

O papa Francisco publicou nesta quinta-feira (18) a aguardada encíclica Laudato Si (Louvado Sejas), com suas reflexões sobre o meio ambiente. O texto, de 190 páginas, pede uma "revolução cultural" para salvar o planeta e diz que o estilo de vida atual é insustentável e suicida. A encíclica é a primeira escrita exclusivamente por Francisco. Ela faz uma crítica forte aos poderes político, econômico e social e aos países ricos por criar um modelo de desenvolvimento que contribui com a destruição do planeta, e defende que conservar a natureza é um imperativo moral.
"A encíclica é única no sentido de que ela consegue juntar duas grandes forças do mundo, a fé e a razão", disse John Schellnhuber, professor do Potsdam Institute for Climate Impact Research e conselheiro em assuntos científicos do governo alemão. Ele participou da apresentação da encíclica junto com o bispo metropolitano de Pergamon John Zizioulas, da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, e o cardeal Peter Turkson, da Igreja Católica. "A crise ambiental e a crise climática só podem ser resolvida se essas duas forças, fé e razão, trabalharem juntas".
O texto, que poderá influenciar as negociações climáticas no final do ano em Paris, também dialoga com outras religiões, citando o trabalho do patriarca ecumênico Bartolomeu, das igrejas ortodoxas e de uma liderança muçulmana, o sufista Ali Al-Khawwas. Essa intenção de dialogar com outras fés fica evidente no final da encíclia, quando o papa apresenta duas orações, uma para "todos que acreditam em um Deus", sejam muçulmanos, judeus ou cristãos, e outra específica para cristãos.
O bispo metropolitano de Pergamon John Zizioulas, da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, e o cardeal Peter Turkson, da Igreja Católica, apresentam o texto da encíclica do papa Francisco sobre ecologia (Foto: Andrew Medichini/AP)
Mudanças climáticas e consenso científico







Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar, sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de acontecimentos meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente determinada a cada fenómeno particular. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento.
O fracasso das negociações internacionais
Preocupa a fraqueza da reação política internacional. A submissão da política à tecnologia e à finança demonstra-se na falência das conferências mundiais sobre o meio ambiente. Há demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e manipular a informação para não ver afectados os seus projetos.
Lutas ambientais e sociais estão interligadas
Não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos. É evidente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indiferente perante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que não gosta. Isto compromete o sentido da luta pelo meio ambiente.
Problemas ambientais afetam os mais pobres
Provavelmente os impactos mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento. Muitos pobres vivem em lugares particularmente afectados por fenómenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos florestais. (...) Infelizmente, verifica-se uma indiferença geral perante estas tragédias, que estão acontecendo agora mesmo em diferentes partes do mundo.
Privatização da água
Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável.
Uma Revolução Cultural
O que está a acontecer põe-nos perante a urgência de avançar numa corajosa revolução cultural. A ciência e a tecnologia não são neutrais, mas podem, desde o início até ao fim dum processo, envolver diferentes intenções e possibilidades que se podem configurar de várias maneiras. Ninguém quer o regresso à Idade da Pedra, mas é indispensável abrandar a marcha para olhar a realidade doutra forma, recolher os avanços positivos e sustentáveis e ao mesmo tempo recuperar os valores e os grandes objectivos arrasados por um desenfreamento megalômano.
Um apelo para proteger o ambiente
O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projecto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum.
Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/06/papa-pede-uma-revolucao-cultural-7-pontos-da-enciclica-ecologica-de-francisco.html

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