sábado, 10 de setembro de 2016

Glamping

Glamping: como se hospedar na natureza sem abrir mão do conforto

Na Brasil, camping com glamour oferece boa estrutura para ecoturismo








Quarto do glamping Villa Kabru, cercado de Mata Atlântica em Itacaré, no sul da Bahia - Patrick Armbruster / Divulgação

Abdicar do conforto foi, por muito tempo, pré-requisito para quem queria se isolar em meio à natureza: percorrer trilhas com barracas pesadas e dormir no chão, em campings com pouca infraestrutura, era praticamente a única opção para esses viajantes. Porém, um conceito que já existe há algum tempo em outros países, o glamping (junção das palavras glamour e camping), começa a se espalhar pelo Brasil.
A ideia desse tipo de hospedagem, como diz o nome, é exatamente atender à demanda de pessoas que querem se sentir conectadas com o meio ambiente sem perder em conforto e infraestrutura. Não há registro exato da quantidade de glampings no Brasil, pois o segmento ainda está começando a se firmar no país. E deve-se considerar também que há diferenças entre o que se pode esperar de um glamping aqui e no exterior, principalmente considerando países onde este tipo de hospedagem já está mais consolidado, como África do Sul e EUA, conforme detalha o presidente da Associação Brasileira de Turismo de Luxo, Guilherme Padilha:

A maioria das acomodações daqui não pode ser classificada como luxuosa, no estilo glamour, mas está dentro da categoria de glamping, pelo nível de conforto e serviços ofertados. Há estabelecimentos que têm excelente estrutura em locais remotos e oferecem experiências de ecoturismo com conforto.
Entre os proprietários, o consenso é que, em geral, o público que busca este tipo de hospedagem é composto de mulheres, entre 35 e 65 anos, provenientes das três maiores capitais brasileiras, Rio, São Paulo e Belo Horizonte, que costumam se hospedar até dez dias. Os valores das diárias pelo Brasil, variam em média de R$ 400 a R$ 500, acrescenta Padilha. São valores similares aos praticados internacionalmente. Na África do Sul, a Phantom Forest Eco Reserve, que fica na região de Knysna no Garden Route National Park, tem diária por US$ 130 (R$ 430). No Colorado, nos EUA, o Mount Elbert Lodge & Cabins, no Parque Nacional de San Isabel, o pernoite custa US$ 150 (cerca de R$ 500).

Cabanas em árvores e kombis

Não há definição exata de como a estrutura dos locais deve ser, diz o Glamping Hub, site americano que lista estabelecimentos do gênero em todo o mundo e seu principais tipos. Há os que usam barracas — mais resistentes e espaçosas — outros têm estrutura fixa, de cabanas, que podem ser instaladas até em árvores, vans ou kombis. Há os que incluem serviço de quarto, decoração caprichada, outros prezam pela funcionalidade. Nem todos oferecem luxo, diz a instituição — como é o caso da maior parte no Brasil — mas, sem exceção, muito conforto e belas paisagens são condições básicas.

— Muita gente não gosta de acampar, mas acaba aceitando por achar que faz parte de uma experiência de se conectar com a natureza. Pensamos exatamente nisso: amanhecer no meio do mato, caminhar na areia, em locais isolados. Sem precisar dormir no chão ou tomar banho gelado — comenta Patrick Armbruster, dono da Villa Kabru, glamping localizado em Itacaré, na Bahia.



                           
Casa onde funciona o restaurante do Parador Casa da Montanha, em Cambará do Sul - Sergio Azevedo / Divulgação


O Korubo, no Parque Estadual do Jalapão, em Tocantins, foi um dos primeiros a importar o conceito de “acampamento com conforto” para o Brasil. Instalado em local de difícil acesso, ele faz parte de um grupo de estabelecimentos que preza pela funcionalidade com conforto, mas sem impactar o meio ambiente, explica Carla Krause, uma das donas:

— A intenção foi levar pessoas para conhecer esse lugar maravilhoso, impactando o mínimo possível. A vantagem é ter tudo isso, saber que está contribuindo para o desenvolvimento do local, sem causar danos ambientais, preservando os confortos básicos de uma cama boa para dormir, banho quente e refeições saborosas.
No Korubo, a estrutura é montada em local fixo e apesar de visualmente lembrar um camping, nota-se a diferença: barracas grandes e resistentes, com material que aguenta os ventos da região, que costumam trazer areia. Camas confortáveis, café da manhã repleto, banheiro privado com água quente e outras amenidades nas acomodações são oferecidos aos hóspedes. Os passeios incluem atividades como rapel, trekking, trilhas e tirolesa. O local, às margens do Rio Novo, é um dos mais recomendados por agentes de viagem para conhecer a região do Jalapão.

O advogado carioca Nilton José é um dos adeptos do glamping mais conectado ao verde. Ele se hospedou pela primeira vez em um yurt (espécie de tenda circular), perto de Montreal, no Canadá.

— Há muita diferença entre eles, mas a ideia é sempre essa, de você ter o que precisa e, ao mesmo tempo, não se sentir em um resort, vivenciar de fato um conexão com a natureza que antes era restrita apenas a trilheiros e quem gostava de acampar. Você está inserido na natureza, vivendo com ela, mas sem sacrifícios — diz.

Entre montanhas e cavernas

Regra básica entre os glampings, principalmente entre os que estão em áreas de preservação ambiental, é a conexão com a natureza. No Parador da Montanha, que fica em Cambará do Sul, no Rio Grande do Sul, as cabanas foram construídas com madeira sustentável. O restaurante oferece refeições com pratos e ingredientes produzidos na região. Por lá, a opção é aproveitar as atividades no Rio Camarinhas, que cerca a região e o pôr do sol do quarto com vista privilegiada. O local oferece atividades de ecoturismo como caminhadas por trilhas pela área e canoagem.
O Mangarito, no município de Iporanga, a cerca de 5 horas da capital paulista, só tem duas cabanas em meio à Mata Atlântica. Fica no Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira (Petar), onde há mais de 300 cavernas com pedras únicas e arte rupestre. As cabanas, decoradas e também feitas com madeira sustentável, têm aquecimento e ar-condicionado, conexão wi-fi e serviço de quarto. O glamping oferece passeios por toda a reserva, que inclui trilhas pelas famosas cavernas (algumas tem cachoeira), observação de pássaros e visita a outras reservas.

VALOR PERTO DO MAR



Área de frente para o mar do glamping Rancho do Peixe, em Jericoacoara, no Ceará - Divulgação

Nem só do verde das matas vivem os glampings. Segundo o site Glamping Hub, o litoral brasileiro tem os melhores (e mais procurados) estabelecimentos do país. Segundo Guilherme Padilha, da Associação Brasileira de Turismo de Luxo (ABTL), é também às margens do Atlântico que estão as opções que mais se aproximam do “glamour” do conceito de glamping. Perto do mar, as diárias chegam a R$ 1.200.
O Guajiru Kite Safari, em Itarema, é uma opção no litoral do Ceará. A praia é considerada um dos melhores locais do planeta para a prática de kitesurfe, maior atrativo da região. Há barracas na areia (protegidas por coberturas de palha). Restaurante, piscina e um bar estão disponíveis para os hóspedes.
A advogada Teresa Marri passou grande parte da adolescência fazendo trilhas e acampando em Nova Friburgo, região serrana do Rio. Ela conta que gostava de caminhar pelas montanhas, mas, na hora de montar a barraca, se arrependia do programa.

— Toda vez era igual. Sempre amei fazer trilhas e ficar no meio da natureza, isolada. Um programa legal com os amigos, mas sempre achei que o ideal seria ter um hotel no meio do mato ou no alto da montanha — relembra.
Os pedidos de Teresa foram atendidos durante uma viagem, quando leu sobre um glamping na África do Sul. Daí, pesquisou opções no Brasil e resolveu passar uma semana na Villa Kabru, em Itacaré, na Bahia, ainda este ano. Para ela, o local é ideal porque oferece contato íntimo com a natureza: alguns quartos foram construídos em cima de árvores, por exemplo. E pela proximidade do mar da Bahia: a praia fica a dez minutos de caminhada.

O glamping, feito com madeira de demolição e altamente sustentável, é uma das opções luxuosas para quem pretende se isolar no verde: os quartos são bem decorados, há restaurante, bar, piscina, serviço de quarto e spa. O dono, o sueco Patrick Armbruster, diz que não se trata de um “hotel no mato”, mas uma opção para “campistas de luxo” por oferecer sofisticação, além do “sentimento de se estar no meio do nada":

— Oferecemo conexão única, principalmente por estarmos em um região que une o mais bonito: o verde a poucos quilômetros de uma praia bastante isolada. Você sente que está sozinho no mundo, em conexão completa com o meio ambiente, mas sem ser devorado pelos mosquitos durante a noite.
Outra opção no litoral baiano, recomendada por dez entre dez glampistas, segundo o Glamping Hub e Guilherme Padilha, é o Rancho do Peixe, em Jericoacora. Tem cabanas de madeira nas areias da praia do Preá, e oferece aulas de kitesurfe, windsurfe e tours locais.

SERVIÇO

Korubo. No Parque Estadual do Jalapão, em Tocantins. Pacotes de 7 dias, com refeições e atividades de ecoturismo, como canoagem e trilhas, além de transfer de Palmas até o acampamento incluídos, a R$ 2.080 por pessoa. korubo.com.br

Villa Kabru. Em Itacaré, na Bahia. Diárias a R$ 1.200, para casal, com café da manhã. Passeios são cobrados à parte. villakabru.com.br

Parador Casa da Montanha. Em Cambará do Sul, no Rio Grande do Sul. Diárias a R$ 450 (casal), com café da manhã. Passeios oferecidos pelo glamping são cobrados à parte. paradorcasadamontanha.com.br

Guajiru Kite Safari. Na cidade de Itarema, no Ceará. Diárias a partir de R$ 80, por pessoa, com café da manhã. Aulas de kitesurfe e windsurfe disponíveis, cobradas à parte. guajiru-kitesafari.com

Mangarito. No Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira, em Iporanga, São Paulo. Passeios, como trilha pelas cavernas e observação de aves, estão incluídos no preço da diária, que custa R$ 300, para casal, com café da manhã. mangarito.com

Rancho do Peixe. Em Jericoacora, no Ceará. Diárias a R$ 450 (casal), com café da manhã. Atividades cobradas à parte. ranchodopeixe.com.br


Glamping Hub. Opções em outros países: glampinghub.com.

Disponível em: http://oglobo.globo.com/boa-viagem/glamping-como-se-hospedar-na-natureza-sem-abrir-mao-do-conforto-19718566





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