segunda-feira, 14 de março de 2016

Caça aos tornados

Ciência e sorte diante do tornado, um dos mais assustadores fenômenos da natureza

por Priit J. Vesilind NACIONAL GEOGRAFICA 
Carsten Peter
Tornado em Dakota do Sul, Estados Unidos
Um tornado sepenteia por uma estrada de Dakota do Sul, nos Estados Unidos, em 24 de junho de 2003
Na hora do jantar de 24 de junho de 2003, todo o vilarejo de Manchester, no estado americano de Dakota do Sul, sacode. Paredes e telhados, galpões e cercas, televisões, geladeiras e panelas ainda com restos de comida desaparecem, levados por um tornado, uma espessa coluna negra de 800 metros de largura. Os destroços giram no alto, com ventos de 320 quilômetros por hora, como se fossem palitos de fósforo varridos da paisagem. Dois quilômetros ao norte, Rex Geyer, de 36 anos, abre as cortinas de um quarto no segundo andar e vê Manchester desaparecer da face da Terra. O tornado parece estar parado. Leva um minuto – 60 segundos de medo – para Geyer perceber o que isso significa: está vindo na sua direção. Logo antes, ele estava jantando com sua esposa, Lynette, grávida de oito meses. “Tínhamos ouvido falar de furacões tremendos lá em Woonsocket, cidade da Lynette”, disse ele depois. “Estávamos atentos à televisão e, quando olhei para fora, falei: ‘Bem, não parece tão mau assim’.”
Mas agora a chuva castiga com força, obscurecendo a tempestade. O irmão de Rex, Dan, que mora na mesma rua, entra correndo na casa. “Ele quase arrancou a porta, berrando para entrarmos no porão. Mas eu acabava de ver a destruição em Manchester e achei que não íamos sobreviver no porão. Assim, corremos para o carro de Dan”, lembra-se Rex. A família deixa tudo para trás, exceto um telefone celular.
Enquanto os Geyer fogem para salvar a vida, dois carros seguem, a toda velocidade, numa estrada de terra no sentido oposto – direto ao horror. Dois “caçadores de tornados”, Tim Samaras, engenheiro de Denver de 45 anos, e seu parceiro, Pat Porter, estão numa caminhonete levando seis sondas metálicas de 20 quilos, apelidadas de “tartarugas”, que mais parecem discos voadores. Com sensores embutidos, as sondas medem a velocidade e a direção de um tornado, pressão atmosférica, umidade e temperatura. A missão de Samaras – sua paixão – é colocar as “tartarugas” no trajeto do tornado. Sua esperança é conseguir sobreviver – ele e os instrumentos.
No outro veículo, o fotógrafo Carsten Peter vai dependurado para fora da janela. Quem dirige é Gene Rhoden, veterano caçador de tempestades. Com eles vai outro tipo de sonda: um envoltório de alumínio em forma de pirâmide que abriga uma câmera de vídeo e três câmeras fotográficas de 35 mm. A equipe o chama de Tinman, ou Homem de Lata, como o personagem de O Mágico de Oz. Ninguém jamais filmou um tornado pelo lado de dentro – onde o vento é capaz de mastigar o asfalto das estradas e enfiar lascas de madeira dentro de tronco de árvore. Carsten quer ser o primeiro a fazer essas fotos.
Os caçadores ouvem o rugido de um avião a jato, típico do tornado, e vêem quando ele arranca postes de luz. Dão uma guinada para leste numa estrada asfaltada, passam pela fazenda do casal Geyer e seguem direto para a rota do tornado. Samaras freia de repente para deixar uma sonda na estrada. “Não dá tempo! Não dá tempo!”, grita Porter. O monstro avança, a apenas 100 metros de distância, e o vento que vai sendo sugado se acelera. Samaras pula fora do carro só por alguns segundos, deixa uma sonda no chão e corre para dentro de novo. Os caçadores fogem a toda velocidade, vendo os destroços zunindo acima da cabeça: são pregos, arames, sarrafos de madeira arremessados pelo vento, que logo vai chegar a 350 quilômetros por hora.
Momentos depois os carros param de novo. Carsten e Rhoden tiram do carro o Tinman, levam até a beira da estrada o boneco de 45 quilos e ligam as câmeras. Enquanto isso, Samaras deposita mais uma sonda. São duas até agora – muito bom. Mas agora é o tornado que está caçando os cientistas. Mais uma vez eles chispam a toda velocidade e Samaras consegue depositar uma terceira sonda na beira da estrada. O Tinman e duas das três sondas foram atingidos diretamente. Uma das sondas foi alcançada apenas 80 segundos depois que Samaras a colocou no lugar.
De repente, a fúria se esgota. O tornado se alonga como uma corda e vai tombando de lado, fraco. Em seguida, simplesmente se evapora.
Os tornados estão entre as forças mais violentas da natureza. Cerca de mil atingem os Estados Unidos a cada ano, uma incidência maior do que em qualquer outro país. Alguns são fracos e só duram alguns segundos; outros avançam com violência incontida, semeando a destruição durante mais de uma hora. Mas poucos são tão arrasadores quanto o que aniquilou a vila de Manchester.

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