sexta-feira, 16 de outubro de 2015


out122015

fotos: Phillipe Moaycr
Fotos: Phillipe Moaycr
POUCo sobrou da estrutura e o que sobrou mostra as cicatrizes abertas pelo tempo
Pouco sobrou da estrutura e o que sobrou mostra as cicatrizes abertas pelo tempo
Orávio de Campos*
No meio à pradaria, que se alarga aos confins do antigo traçado do Ururaí – via de escoamento, por gravidade, das águas produzidas no Imbé abrindo caminhos sinuosos na planície em direção à Lagoa Feia – chamam atenção, na Tocaia, as ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Fazenda Velha que, segundo registros, fora propriedade dos herdeiros do Visconde de Asseca, Martim Corrêa de Sá e Benevides.
O que restou da igreja, de uma era que já vai distante, reclina-se à frente e vai beijar a terra, assim que a primeira procela desabar sobre o estuário – até bem pouco tempo coberto por canaviais destinados a saciar a fome das fornalhas dos engenhos, hoje falecidos. Mas, vistos de longe, pareciam um grandioso tapete verde, quase sempre bailando, dolentemente, ao sabor do vento nordeste produzindo músicas nas folhagens.

CAMPANÁRIO – Sobrou apenas o campanário e até o sino sumiu neste mundo misterioso, de acordo com a percepção do pesquisador Geraldo Anjinho e do Pintowisk, um raro artista intuitivo – comparsas das andanças pela desolação desse cenário. Agora o que restou mostra as cicatrizes abertas pelo tempo: adobes soltando da massa transformada em pó e as escadas tortas que levam ao mirante desafiando os corajosos à conquista de uma paisagem única revelando o infinito, incluindo o desenho cinza da Cadeia do Mar.
Pelos apliques soltos das paredes, o estilo sobressai e o resquício de um frontão neoclássico fala do modelo eclético do Século XVIII, muito embora o telhado, o primeiro a desabar, remonte as peças moldadas nas coxas dos escravos. As plantas daninhas agarradas na estrutura sugam, até a última gota, a seiva da construção que, paradoxalmente, parece disputar com uma mangueira antiga decaída o direito supremo de cair primeiro.
Lá atrás, o corpo de uma palmeira morta pelas pragas permanece também de pé, mas as folhagens caíram deixando apenas o cotoco estendido e penitente, pedindo socorro a Deus. Isso enquanto passa pelo cenário um punhado de gado zebuíno, com certeza, preparado para o corte, em busca de uma sombra para fugir da calorada, sempre inclemente neste início de primavera, com cheiro de terra cansada das agruras da estiagem.
Mas, apesar de tudo, em meio aos sulcos da terra, ainda mostrando os aceiros das canas de um plantio não gestado, uma série de pequenas plantas verdes ostenta nas glebas arruinadas inúmeras flores amarelas, que se multiplicam pela polinização das borboletas, mangangás e papa-fumos. No meio ao cipoal de tiriricas, entre o clamor dos quero-queros, espantalhos de ferro aguardam linhas de energia para as bandas do Açu…
FONTE: http://diarionf.com/

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