quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Ambientalistas alertam para risco de desabastecimento de água em Niterói e São Gonçalo

Técnicos apontam construção de barragem como uma das soluções

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Estiagem. Barragem de Imunana com pedras à vista. Rio Macacu com o nível abaixo do normal. - Paulo Roberto Araújo
O chefe da APA de Guapimirim, Maurício Muniz, convocou o CBHBG, a Cedae, a Águas de Niterói e outras entidades para mostrar a gravidade da crise hídrica na área de proteção e nos rios Macacu, Guapimirim, Caceribu e Guapiaçu. Além do risco de comprometer o abastecimento, a estiagem prolongada está provocando outro problema grave: com os rios em níveis muito baixos, quase toda água doce é desviada na barragem de Imunana e levada por um canal para a Estação de Tratamento de Laranjal. Com a escassez devido à estiagem, a água salgada do mar está entrando nos canais e pondo em risco o manguezal intacto da APA, que precisa de água doce.
— A situação é grave. Dependemos do fluxo dos rios, principalmente o Macacu, pois não temos volumes de água acumulados em represas, como acontece no Paraíba do Sul, para enfrentar períodos críticos de seca. Se a estiagem prosseguir e os rios Macacu e Guapiaçu baixarem muito, o colapso será inevitável. Por outro lado, a saúde dos rios está se deteriorando, as águas salinas estão avançando, as barrancas estão erodindo e o lixo na calha é preocupante — alerta Paulo Bidegain, que percorreu e filmou vários trechos do Macacu, acima da barragem de Imunana, que estão com níveis muito baixos.
Segundo Maurício Muniz, as medidas de gestão para resolver a crise hídrica na bacia do Rio Macacu “estão aquém do necessário”. Ele disse que seus agentes ambientais e pescadores já viram peixes enormes morrendo por falta de oxigênio e afirmou que “nunca se viu uma situação tão terrível”, referindo-se aos problemas na bacia. Defendeu o reflorestamento das matas ciliares, construção de represas e novo modelo de gestão que, segundo ele, não pode ser baseado em dados históricos da bacia:
— Não vamos voltar à situação climática do passado.

Mangue. Na barragem de Imunana, com pedras à vista, a baixa vazão do rio favorece a salinização do manguezal ao longo do Rio Macacu - Divulgação/Paulo Bidegain
O professor Alberto Figueiredo coordena a equipe que monitora, através de sensores e outros equipamentos, o fundo da Baía de Guanabara e os rios que abastecem Niterói e São Gonçalo. O projeto é financiado pela Petrobras, mas está no fim e sob risco de não ter continuidade. O cientista confirmou a preocupação do chefe da APA.
— A situação é de emergência. Já passamos do tempo de iniciar ações com o reflorestamento das margens dos rios e de conscientização do problema. A frente salina vem avançando e preocupa. Já avançou 16 quilômetros rio adentro. As vazões vêm caindo, e a situação é drástica no Caceribu — lamenta.
CEDAE REFORÇA QUE NÃO FALTARÁ ÁGUA
Representante da Cedae na reunião, Jorge Muniz afirmou que não há risco de crise no abastecimento de água em Niterói e São Gonçalo, mas admitiu que “não estamos no nível de conforto”. Alaildo Malafaia, da cooperativa Manguezal Fluminense, reagiu:
— A Cedae afirma que a água está sobrando, mas a realidade não é esta. A empresa está captando toda a água doce dos rios e a salinização está destruindo o manguezal, que é o berçário, o pulmão da Baía de Guanabara. Desde 1985 nós estamos na luta, pedindo a represa e o reflorestamento das margens dos rios.

— As prefeituras, a Petrobras e os proprietários precisam ser envolvidos na luta pela recuperação dos rios. E a Cedae e a Águas de Niterói precisam alertar os consumidores, através das contas, da necessidade de se economizar água — defende.
A APA de Guapirimim é a primeira unidade de conservação brasileira voltada para a preservação do ecossistema manguezal.
FONTE: O GLOBO



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