segunda-feira, 31 de agosto de 2015

“Crise hídrica mais grave da história”

Marcus Pinheiro
Fotos: Rodrigo Silveira, Michelle Richa e Arquivo Folha da Manhã
O rio Paraíba do Sul vive a pior estiagem dos últimos 85 anos de registro histórico e o risco de desabastecimento não está descartado. Segundo dados da Secretaria Estadual de Ambiente (SEA), o ano de 2015 segue com chuvas abaixo da média e população teme o racionamento nos próximos meses. Em Campos, no mês de junho, a coordenadoria de Defesa Civil e a concessionária Águas do Paraíba criaram um plano de intervenção emergencial, visando o restabelecimento da normalidade do sistema de distribuição hídrica, em casos de restrição extrema. No entanto, mesmo com os baixos índices pluviométricos e volume de profundidade do rio Paraíba do Sul, que na última sexta-feira estava em 4,67m (1,13m abaixo do nível ideal), até o momento não foi necessária a utilização da contingência. O secretário de Estado do Ambiente, André Corrêa, classifica a atual situação como a mais grave crise hídrica da história. Para a SEA, a medida mais eficaz para evitar o colapso continua sendo a economia.
O desperdício de água útil e os danos causados pela falta de chuvas permanecem sendo apontados como as principais causas do possível desabastecimento nos próximos meses por especialistas que declaram de forma veemente que a água é um bem finito e, se não for cuidadosamente gerido, esgotará.
Em nota, a SEA declarou que principal medida de contingência para aumentar a segurança hídrica nestes tempos de crise continua sendo a economia dos estoques de água dos quatro reservatórios responsáveis pelo abastecimento do estado (Paraibuna, Jaguari, Santa Branca e Funil) que regularizam os rios Paraíba do Sul e Guandu. “Para tanto, o esforço de adaptação a níveis cada vez mais baixos desses rios tem sido contínuo e crescente”, relatou a nota que ainda acrescentou que novos ajustes no sistema de captação de diversos municípios da região banhados pelo rio Paraíba do Sul, estariam sendo feitos.
Nessa semana houve nova redução da vazão do Paraíba do Sul, o que poderá afetar, mesmo que minimamente os municípios do Norte Fluminense. Com isso, a vazão mínima no Paraíba, no ponto de transposição para o rio Guandu, que já havia sido gradualmente reduzida de 190 m3/s para 140 m3/s, sofreu mais duas reduções desde 15 de agosto, a primeira atingindo 115 m3/s em Santa Cecília, a mais recente, realizada na última quinta-feira reduziu o fluxo de água do Paraíba do Sul que, passou a receber 110m3/s em Santa Cecília, sendo 75m3/s para o Guandu.
A SEA afirmou que as operações realizadas permitem a economia de 1,5 trilhão de litros. A economia de água estocada nos reservatórios — aproximadamente 34% do volume útil total — equivale a quase quatro vezes o percentual atual de 7,59% registrado nesta semana.
Em São João da Barra, na foz do Paraíba, há mais de uma semana a captação de água feita pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) está prejudicada. O motivo é o baixo nível do rio, que aumenta a salinidade. A equipe de reportagem tentou contato com o superintendente da Cedae, Ranieri Nogueira, para saber detalhes da situação no município, mas não obteve êxito até o fechamento desta edição.
Soluções e tecnologias devem ser criadas
Para fugir da escassez total de água útil, a palavra de ordem a população é: economizar! Em tempos de crise, reconhecida pelo secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, como a situação hídrica mais grave da história, a gestão dos estoques aliada a cessão do desperdício é determinante para o mantimento do abastecimento do bem.
De acordo com o professor e ambientalista, Aristides Soffiati, em virtude da crise hídrica prolongada, só haveriam duas saídas em curto prazo: economizar água de forma consciente ou contar com chuvas abundantes a partir de novembro.
— Mesmo chuvas copiosas, a vazão da bacia não será recuperada de imediato. Em médio e longo prazo, em no mínimo 15 anos, a solução é o reflorestamento dos pontos de recarga, das nascentes e das margens dos rios da bacia. Mesmo assim, os hábitos têm de mudar. Os tempos da abundância e do desperdício estão no passado. A palavra de ordem agora é economizar, sobretudo pela agropecuária, pela indústria e pelas concessionárias de água e esgoto. Soluções e tecnologias novas devem ser criadas — disse Soffiati.
CPI sugere bônus para quem consumir menos
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) que investiga a crise hídrica no Estado e a transposição do rio Paraíba do Sul vai sugerir, em seu relatório final, que os consumidores fluminenses recebam um bônus na conta de água quando gastarem abaixo da média e sejam penalizados quando o consumo for acima da média. A informação foi dada, na última quinta-feira, pelo presidente da CPI, deputado Luiz Paulo (PSDB), logo após ouvir o superintendente de Planejamento Integrado da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), Dante Ragazzi Pauli, em reunião na Alerj.
Águas do Paraíba minimiza risco em Campos
Ausência de plano preventivo incomoda e preocupa o coordenador da Defesa Civil de Campos, Henrique Oliveira, que em virtude da ausência de ações de conscientização a educação ambiental questionou: “E se não houver chuvas de verão, vamos esperar acabar tudo? Esperar faltar até água para beber para que uma providência eficiente seja tomada? O Estado e as concessionárias de água deveriam se mobilizar e realizar amplas campanhas de preservação”.
Mesmo com previsões ruins para os próximos meses no que diz respeito ao abastecimento hídrico da região, a concessionária responsável pelo abastecimento de água no município, Águas do Paraíba, informou que captação dos recursos hídricos estaria operando normalmente, devido aos investimentos feitos pela concessionária. Em nota anterior, a empresa afirmou que mesmo em situações mais severas, a distribuição de água tratada à população não seria afetada.
fonte FOLHA ONLINE

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