quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Catadores brasileiros vivem de forma miserável

São Paulo tem cerca de 200 mil pessoas fazendo esse tipo de trabalho, 25% do total do país. Muitos ganham R$ 100 por mês e comem o que encontram nos lixões.


  • Rogério Campos da Silva divide o barraco com a mãe e os irmãos em Itapeva (Crédito: Talis Maurício/CBN) 
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Rogério Campos da Silva divide o barraco com a mãe e os irmãos em Itapeva
Crédito: Talis Maurício/CBN
Por Talis Maurício
Seis da manhã. O despertador toca cedo na casa do catador de materiais recicláveis Rogério Campos da Silva, de 37 anos. Ele apenas veste uma roupa e sai para mais um dia de trabalho no lixão de Itapeva, cidade do interior de São Paulo. Café da manhã é um luxo. Já o almoço e o jantar dependem do que Rogério encontra ao longo do dia. ‘Lá eu já encontrei carne, frango, arroz, feijão, açúcar. Tudo! Trazemos tudo pra comer... Só o que eu tenho pra dizer.’

Baixa autoestima e mania de obediência, de encerrar as frases com ‘só o que eu tenho pra dizer’, são algumas das sequelas da vida miserável que Rogério e outros 60 catadores em Itapeva levam. Há dez anos nessa vida, ele consegue tirar apenas R$ 100 por mês. O que mais compensa são as garrafas pet, vendidas a R$ 0,50 o quilo.

A reportagem da CBN esteve no lixão de Itapeva e presenciou cenas lamentáveis, como dezenas de catadores, desde adolescentes até idosos, sem luvas ou qualquer outro tipo de proteção. A cada caminhão que chegava, uma briga por prioridade. Sem contar os urubus ao redor e o forte cheiro de decomposição.

Foi lá que encontramos Rogério, que depois nos levou para conhecer a casa dele, no mesmo bairro. Um barraco de madeira com apenas um cômodo, dividido entre ele, a mãe de 59 anos e outros dois irmãos mais novos. ‘Meu sonho era fazer a casa pra minha mãe e pegar um bom emprego. Pegar um bom emprego, porque é o sonho que eu quero.’

Atualmente, 60% dos municípios brasileiros ainda possuem lixões ou aterros controlados, segundo dados da Abrelpe. No estado de São Paulo, a Confederação Nacional de Municípios estima que 123 cidades estão na mesma condição. O estado mais rico do país tem cerca de 200 mil catadores, 25% dos 800 mil espalhados pelo Brasil.

Outro cenário degradante está em Peruíbe, no litoral Sul de São Paulo. No lugar de um lixão, um aterro controlado, que pouco se diferencia já que também não evita a poluição do meio ambiente. Como funcionários de uma empresa terceirizada da prefeitura vigiam o local durante o dia, os catadores atuam apenas à noite, escondidos. Uma rotina desafiadora que expõe cerca de 30 pessoas diariamente a contaminações, ratos e até animais peçonhentos. Maria Madalena Sampaio, de 46 anos, explica que os trabalhos começam no fim da tarde e vão até a madrugada.

Ela tira R$ 150 por mês e, a exemplo de Rogério, também come o que encontra no local. ‘Às vezes uma mistura que a gente acha. Aí a gente traz pra casa, ferve, lava com limão, sal e nós come (sic).’

A Defensoria Pública de São Paulo, por meio do Núcleo de Direitos Humanos, acompanha a situação no estado e avalia entrar na justiça contra os municípios que não se adequarem à lei. As prefeituras de Itapeva e Peruíbe afirmam que estão atuando para retirar os catadores e oferecer outras frentes de trabalho em cooperativas da região. 
FONTE RADIO CBN

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