sábado, 24 de janeiro de 2015

O que Alckmin quer dizer quando admite racionamento de água em SP

O que Alckmin quer dizer quando admite racionamento de água em SP

A admissão pode até parecer um avanço na transparência da crise da água, mas não é. É apenas um recurso retórico para tentar viabilizar a multa

BRUNO CALIXTO01/2015 Share1 
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, participa de cerimônia da PM. Após a cerimônia, ele falou com jornalistas sobre a crise de água no Estado (Foto: Bruno Ulivieri / Brazil Photo Press / Agência O Globo)
Pela primeira vez desde o início da crise de água que afeta São Paulo, que já dura mais de dois anos e, ao que tudo indica, será ainda pior em 2015, o governo de São Paulo admitiu que existe um racionamento na maior cidade do país. "O racionamento já existe", disse o governador Geraldo Alckmin, após ser questionado por jornalistas durante a posse do novo comandante-geral da Polícia Militar.
A admissão pode até parecer um avanço na transparência na questão da crise da água, mas não é. É apenas um recurso retórico. O problema está na principal medida do governo para enfrentar a crise: a multa para quem gasta mais água do que a média de antes da crise. A multa foi aprovada no último dia 8, mas nesta terça-feira (13) foi barrada pela Justiça. A juíza Simone Viegas de Moraes Leme, da 8ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, derrubou a medida dizendo que, pela Constituição, o governo não pode aplicar a multa sem antes decretar um racionamento oficial. Acontece que o governo paulista nunca assumiu declarar um estado de emergência, temendo danos à popularidade do governo. (Atualização: o governo de São Paulo conseguiu reverter na Justiça a decisão contrária à multa. O desembargador José Renato Nalini derrubou a liminar e a multa volta a vigorar).
Por isso, Alckmin disse que o racionamento "já existe" – como um argumernto para viabilizar a multa na Justiça.  Mas o que o governador está chamando de "racionamento" não é a mesma coisa que a população entende como racionamento. Para a maior parte da população, o racionamento significa que a Sabesp vai desligar a água para determinados bairros ou regiões por determinado período de tempo. A Sabesp chama isso de rodízio. Há inúmeros relatos de que isso tem ocorrido em diversos bairros de São Paulo. Não é esse racionamento que Alckmin está admitindo. "Não tem racionamento no sentido de fechar o sistema e abrir amanhã. Não tem, nem deve ter", disse, segundo a Agência Brasil.
Então que racionamento é esse que "já existe"? O governador explicou: "Quando a ANA [Agência Nacional de Águas] determina que tem de reduzir a vazão do Cantareira de 33 metros cúbicos por segundo para 17, é óbvio que já está em restrição". Em outras palavras, o governo está chamando agora de racionamento a política de redução de pressão que, durante o ano passado inteiro, disse que não era racionamento. E ainda coloca a responsabilidade na ANA.
Mesmo depois de todo esse rolo semântico, o governador diz que não decretará racionamento oficial ou estado de emergência. Mas como ficam as pessoas que relatam diariamente a falta de água - e não uma mera redução de pressão - em suas torneiras?
Em tempo: a situação em São Paulo está muito pior do que o governo esperava. As previsões de que as chuvas seriam dentro da média até fevereiro simplesmente não estão se concretizando. Estamos na metade de janeiro e choveu apenas 20% do esperado para o mês. O nível dos reservatórios, que deveria estar subindo no mês de chuvas, continua caindo: o Sistema Cantareira está com apenas 6,3% de sua capacidade, isso contando as duas cotas de volume morto. O governo de São Paulo precisa de muito mais do que retórica para resolver esse problema.

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