domingo, 28 de dezembro de 2014

Licença para matar

Licença para matar

As impressionantes estratégias das lagartas carnívoras para abocanhar seus pratos predilétos: moscas e formigas

por Darlyne A. Murawski
     
Darylene A. Murawski

Lagarta carnívora

Esta lagarta carnívora - uma espécie do gênero Eupithecia - prende e devora uma mosca no Havaí.
Blindagem, odores sedutores, camuflagem sofisticada – essas são as armas físicas e comportamentais usadas pelas lagartas carnívoras. No Havaí, costumam sair à caça disfarçadas de pedaço de pau. Na Dinamarca, algumas vivem sob a terra, fartando-se de formigas. Uma espécie australiana invade os ninhos da formiga Oecophylla smaragdina e devora suas larvas. Dentre as cerca de 160 mil espécies conhecidas de borboletas e mariposas, menos de 1% é carnívora. Algumas começam a vida ingerindo um tipo específico de planta e só depois passam a se alimentar de determinada espécie de inseto. É muito difícil encontrar essas lagartas carnívoras – que estão vulneráveis à extinção.
Uma tocaia silenciosa
Pronta para atacar, uma solitária mede-palmo (lagarta da mariposa Eupithecia orichloris) confunde-se com uma folha de Freycinettia arborea na ilha havaiana de Maui. Junto a sua cabeça, seis pernas servem para agarrar presas que se contorcem. Pêlos e nervos nas costas detectam o toque de outros animais.
Quando um cupim inadvertido se encosta nela, basta um décimo de segundo para a lagarta virar-se e prendê-lo, pronta para devorá-lo. Saciada a fome, ela relaxa e degusta as derradeiras migalhas enquanto as antenas da cabeça decepada do cupim ainda se contorcem.
No Havaí, todas as 20 espécies conhecidas de Eupithecia conseguem camuflar-se com perfeição. Embora existam centenas de espécies de Eupithecia em todo o mundo, a maioria alimenta-se exclusivamente de flores e frutos. Somente no Havaí, contudo, elas se tornaram carnívoras – em um intrigante desvio evolutivo.
Na casa do inimigo
Uma lagarta Maculinea alcon avermelhada devora, incólume, uma larva de formiga do gênero Myrmicadiante de uma formiga adulta que cuida do ninho. Tal postura só é possível graças a um truque olfativo.
Na ilha dinamarquesa de Laeso, a borboleta Maculinea alcon brota de um minúsculo ovo branco numa genciana. Após a eclosão, a lagarta alimenta-se da flor por duas semanas, quando cai no solo. A camada de hidrocarboneto sobre seu corpo exala odor quase idêntico ao das larvas das formigas Myrmica. Enganadas, as formigas consideram a lagarta como uma delas, e a carregam até seu ninho. Lá elas lhe dão alimentação boca-a-boca, com líquidos regurgitados – uma dieta que a lagarta completa com as larvas de formigas. Quando se transforma em borboleta, ela tem de fugir logo do ninho das formigas – e reiniciar todo o ciclo.
Saída pelos fundos
Escapar de formigas furiosas tornou-se uma arte para a Liphyra brassolis. Ainda lagarta, esta borboleta australiana, protegida por lei, alimenta-se só de larvas da formiga Oecophylla smaragdina. Assim que emerge da carapaça protetora, a borboleta adulta torna-se vulnerável a ataques letais das formigas. Em busca da saída do formigueiro, a borboleta solta escamas brancas expelidas das asas e do abdômen. As escamas aderem às formigas, confundindo-as. Só as borboletas que se alimentam de formigas têm essas escamas, uma incrível adaptação. Logo após esticar as asas, a borboleta sai atrás de um parceiro. Seus ovos serão postos perto de um ninho de Oecophylla smaragdina, alvo da geração seguinte de lagartas carnívoras.

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