sábado, 29 de novembro de 2014

Parques devem ser um direito da população

‘Parques devem ser um direito da população’, diz ativista libanesa


Fundadora do Beirut Green Project, grupo que faz intervenções em áreas verdes do Líbano, participa nesta quarta-feira do ArqFuturo.
Por Roberta Pennafort
Em 4 de junho de 2011, um pequeno grupo de moradores de Beirute levou placas de grama a uma praça árida e cinzenta e fez um alegre piquenique para protestar contra a falta de áreas verdes na cidade. Conhecida como “a Paris do Oriente Médio”, a capital do Líbano, que passara por longa guerra civil (de 1975 a 1990) e bombardeios israelenses nos anos 2000, via florescer apenas prédios. Frustrados, os cidadãos gritaram por menos cimento e mais parques.
Nascia o Beirut Green Project (BGP). A ativista libanesa Dima Boulad, de 28 anos, que fundou o BGP, é uma das convidadas do Arq.Futuro, que será realizado nesta terça e quarta-feira, dias 18 e 19, no Rio. O seminário de arquitetura e urbanismo escolheu para a terceira edição o tema “Parques do Brasil”. A pauta é norteada por questões como a gestão dos parques, conservação e manutenção, e os papéis dos governos, da iniciativa privada e da sociedade civil. 
“No Brasil, ainda estamos um passo atrás nessas discussões. Os governos não têm dinheiro para a manutenção dos parques, que são fundamentais para a qualidade de vida da população. Como está hoje, ninguém fica feliz”, diz Tomás Alvim, um dos fundadores do Arq.Futuro, advogando pela gestão privada.
Por e-mail, Dima Boulad, que participará de uma mesa nesta quarta, deu entrevista ao Estado, defendendo o envolvimento da população, que, acredita ela, precisa primeiramente conhecer seus parques, para então lutar por eles: “Pequenas mudanças resultam em grandes mudanças com o passar do tempo”. Leia a seguir os principais trechos:
Como vocês transformaram a frustração popular em ação em Beirute?
Nossa iniciativa surgiu da frustração de viver em uma cidade onde os espaços verdes não são considerados um direito, mas um privilégio secundário. Nós decidimos fazer uma intervenção em um espaço público de forma irônica e expressar isso para quem quisesse ouvir. 
Qual foi a reação popular? Logo tiveram adesões?
Depois que vimos a reação positiva das pessoas, percebemos que tínhamos uma voz, que aquele era um assunto que preocupa muita gente. Nosso grupo estava criado: um coletivo que tem como objetivo despertar a consciência sobre a importância de se ter áreas verdes urbanas, reabilitando os velhos jardins e criando novos.
Como agem?
Somos voluntários, tudo depende do esforço de cada um. Contamos com patrocínios de amigos, que ajudam. Recentemente, uma empresa de design colaborou com a criação de um mapa interativo que indica todas as áreas verdes da cidade, o Beirut Green Guide. No momento, o foco é informar a população da necessidade de cuidar dos parques. Acreditamos que o primeiro resultado positivo é fazer com que todos entendam que, juntos, podemos mudar as coisas.
Como superar a cultura de que o espaço público tende a ser deteriorado?
Mudar isso é tarefa muito difícil. O problema começa da seguinte forma: não conhecemos nossos parques ainda. Desenvolvemos o guia como uma ferramenta online. Damos informações sobre cada um, com fotos e dicas. É um bom ponto de partida. Por sua vez, a prefeitura criou o programa “Beirute é incrível”, de recuperação de parques antigos e criação de novos. Estão lidando com um de cada vez. Alguns estão em condições ruins e precisam de intervenções.
Qual é o segredo do sucesso do BGP?
Acho que a paixão pelas áreas verdes e a noção de que é nosso direito tê-las são o motor. Mudanças vêm das parcerias de todas as partes. Nossas discussões, abertas a outras ONGs e à prefeitura, garantem que a gente foque no que é o melhor para Beirute.
Você acredita que o projeto possa ser replicado em cidades como as brasileiras?
Com o crescimento desordenado e a violência, nossas favelas são exemplos de territórios em que faltam áreas de lazer para a população. Acho que em outras cidades o mesmo sistema possa ser aplicado. Arrecadações coletivas podem ajudar. 
Entrevista originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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