segunda-feira, 23 de junho de 2014

Árvores


No filme "Senhor dos Anéis" elas andam, falam e decidem o futuro do mundo. Em "Alice no País das Maravilhas", suas raízes escondem o portal para um mundo mágico, onde tudo é possível. 
Depois de tanto caminhar por este Brasil com fim, me pergunto o que elas diriam se fossem coadjuvantes em algum filme qualquer. O que fariam se vissem tudo ao seu redor sendo impiedosamente devastado, restando apenas a si mesmo, num vasto campo árido e quente? Será que dariam um suspiro de alívio por terem sido estranhamente poupada, ou desejariam que também fossem cortadas, encurtando assim seu fatídico destino? 
Na Amazônia, as Castanheiras são proibidas de serem cortadas. Assim, nos campos onde desceram com a floresta para formar pastos, é possível ver estas árvores isoladas, esquecidas no meio do vazio, enquanto alguns poucos bois brigam por uma réstia de sombra. Dizem até que alguns morrem, quando o azar derruba um ouriço de castanha em suas cabeças, que como uma bomba, cai vertiginosamente de quarenta metros de altura!
Mas a ausência de floresta ao seu redor impede também que o inseto que a poliniza faça seu trabalho. Assim, ela, a castanheira, que nasceu para viver quinhentos anos, mingua, seca, perde sua vitalidade até morrer e cair. 
Ou então, alta e isolada num vasto campo que outrora abrigara uma floresta tropical de solo arenoso, é assolada por uma ventania, e sem a sustentação de suas parceiras vegetais, simplesmente cai. 
"Ahh, mas não fomos nós que cortamos, estamos dentro da lei. Ela caiu, foi coisa do céu". Assim numa frase simples, aqueles que correram a floresta com tratores e correntões dizimando enormes áreas em poucas horas, lavam as mãos em seus míseros sessenta anos de vida. Enquanto elas, as árvores, seres viventes mais antigos deste mundo moderno, capazes de viver dois mil anos ou mais, ficam à mercê dos despropósitos humanos. 
Quando as vejo isoladas em vastos campos secos, lutando por um fio de umidade naquele solo sem vida, graciosamente dedicando seus galhos secos às poucas aves que se aventuram a voar naquele ambiente inóspito e quente, lembro de um antigo poema, que escrevi há muito, muito tempo atrás. "Solidão não é ser um único ipê florido numa floresta de eucaliptos. Solidão é ser um ipê florido e não ter ninguém ao redor para compartilhar seu valor." (Verde Magia, 1991). 

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