quinta-feira, 27 de março de 2014

Drones e robôs, os novos reis dos animais

TECNOLOGIA + MEIO AMBIENTE

Drones e robôs, os novos reis dos animais

Aparelhos não tripulados semelhantes aos de uso militar reinventam a luta contra a caça ilegal nas reservas da África e da Ásia

-  A  A  +
Raquel Beer Veja - 
Michael Nichols/National Geographic Creative

O olhar altivo, de elegante beleza, dos três leões da imagem ao lado, os reis de uma região conhecida como Serengeti, entre o norte da Tanzânia e o sudoeste do Quênia, faz supor que nada os incomoda - nem mesmo a câmera do fotógrafo que os registra. Na verdade, não há mesmo ninguém diante dos animais. Para flagrá-los, o americano Michael Nichols e seu assistente, contratados pela National Geographic Society, usaram um robô e um drone comandados por wi-fi a partir de um computador.

Nos primeiros encontros entre bicho e máquina, os felinos chegaram a se esconder - com o tempo já não estavam nem aí com o robô, de pouco mais de 30 centímetros de altura e 50 centímetros de diâmetro na base. Leões são animais que sabem guardar a energia para as presas que realmente interessam. Fosse uma manada de elefantes, estariam todos alvoroçados. "Leões são mais contemplativos e confiantes, não veem robôs e drones como ameaças", diz Nichols.

É bom que o restante da turma que foi salva por Noé aprenda a conviver com seus pares de alumínio e silício. Na África e na Ásia é cada vez mais frequente o uso de equipamentos não tripulados, terrestres ou aéreos, para combater a caça ilegal. Todos os anos, o comércio irregular de animais selvagens movimenta 19 bilhões de dólares. Em 2013, pelo menos 1 000 rinocerontes - cujos chifres são muito cobiçados - foram mortos apenas na África do Sul, número recorde desde o início da contagem, nos anos 90.

Para caçarem os caçadores, os parques e as reservas têm investido nessas novíssimas tecnologias de rastreamento. Os objetos eletrônicos, especialmente os voadores, funcionam como os olhos das equipes de vigilância (veja o quadro no final deste texto). Há vantagens em relação aos métodos anteriores de patrulha - os jipes de antigamente, helicópteros ou satélites. Nesses casos, ou se assustavam os animais, ou a distância impossibilitava acompanhar detalhes de comportamento da fauna e da ação do homem. "Ao estudarmos os leões-marinhos no Ártico, não podemos voar muito baixo porque os animais mergulham ao ouvir o barulho, mas também não podemos voar muito alto, porque encontramos nuvens carregadas e muita neve", diz o engenheiro Gregory Walker, diretor do centro de drones da Universidade do Alasca.

Outro problema, segundo ele, é levar o helicóptero dentro de um barco para as regiões estudadas, já que não há aeroportos próximos. A solução? Drones. Com menos barulho, é possível aproximar o equipamento dos animais, o que pode ser mais seguro também para o ser humano que comanda a operação. Naturalmente, há desvantagens como o fato de a autonomia de voo ser muito pequena - não mais do que vinte minutos - e a fragilidade das peças.

São vulnerabilidades compensadas por uma condição imbatível: não paira sobre os drones e robôs usados no controle da caça ilegal a selvageria do embate ético que cerca os badalados aparelhos não tripulados usados para ataques militares. Os primeiros são vistos com doçura, como aliados do zelo com o meio ambiente. Já os pequenos objetos bélicos conquistam inimizades, por ferirem tanto soldados em guerra como civis. Na última década, os drones foram responsáveis por mais de 3 000 mortes no Paquistão - entre as vítimas, 683 eram civis.

Em 2012, a ONU começou a investigar os resultados de 25 artilharias feitas por drones americanos no Paquistão, no Iêmen, na Somália e no Afeganistão, respondendo a acusações de que os tiros mataram também crianças. É discussão que se perpetua, dado que a fabricação de drones pode gerar até 100 000 postos de trabalho nos EUA nos próximos dez anos, com faturamento de 82 bilhões de dólares. Some-se a essa indústria em crescimento o fato de os preços caírem assustadoramente - um drone pequeno, manufaturado a partir de uma impressora 3D e comandado por um banal aplicativo de smartphone, custa meros 76 000 dólares, 10% do valor dos similares desenhados pelas Forças Armadas americanas. Chegará o dia, e ele talvez nem esteja tão longe assim, em que teremos guerras travadas apenas entre drones
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo sua participação e opinião !