quarta-feira, 12 de março de 2014

Como espécies da Mata Atlântica responderão às mudanças climáticas e ao uso do solo?

PARA ENTENDER O FUTURO

Como espécies da Mata Atlântica responderão às mudanças climáticas e ao uso do solo?

Projeto que reúne pesquisadores brasileiros e americanos estuda processos da biodiversidade e das espécies da Mata Atlântica para prever seu futuro e adaptações às mudanças do clima e uso do solo. Ele foi apresentado e debatido em workshop promovido ontem (10/02) pela Fapesp e National Science Foundation

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whltravel/Creative Commons
Compreender os processos evolutivosgeológicos,climáticos e genéticos por trás da enorme biodiversidade e do padrão de distribuição de espécies da Mata Atlântica e, com base nesse conhecimento, criar modelos que permitam prever, por exemplo, como essas espécies vão reagir às mudanças no clima e no uso do solo.


Esse é o objetivo central de um projeto que reúne pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos no âmbito de um acordo de cooperação científica entre o Programa de Pesquisas em CaracterizaçãoConservação,Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (Biota-Fapesp) e o programa Dimensions of Biodiversity, da agência federal norte-americana de fomento à pesquisa National Science Foundation (NSF).

“Além de ajudar a prever o que poderá ocorrer no futuro com as espécies, os modelos a entender como está hoje distribuída a biodiversidade em áreas onde os cientistas não têm acesso. Como fazemos coletas por amostragem, seria impossível mapear todos os microambientes. Os modelos permitem extrapolar essas informações para áreas não amostradas e podem ser aplicados em qualquer tempo”, explicou Ana Carolina Carnaval, professora da The City University of New York, nos Estados Unidos, e coordenadora do projeto de pesquisa ao lado de Cristina Miyaki, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP).

A proposta, segundo Carnaval, é promover a integração de pesquisadores de diversas áreas – como ecologiageologiabiogeografiagenéticafisiologiaclimatologia,taxonomiapaleologiageomorfologia – e unir ciência básica e aplicada em benefício da conservação da Mata Atlântica.

O bioma é considerado um dos 34 hotspots mundiais, ou seja, uma das áreas prioritárias para a conservação por causa de sua enorme biodiversidade, do alto grau de endemismo de suas espécies (ocorrência apenas naquele local) e da grande ameaça de extinção resultante da intensa atividade antrópica na região.

A empreitada coordenada por Carnaval e por Miyaki teve início no segundo semestre de 2013. A rede de pesquisadores esteve reunida pela primeira vez para apresentar suas linhas de pesquisa e seus resultados preliminares na segunda-feira (10/02), durante o “Workshop Dimensions US-Biota São Paulo - A multidisciplinary framework for biodiversity prediction in the Brazilian Atlantic forest hotspot”.

“Convidamos alguns colaboradores além de pesquisadores envolvidos no projeto, pois queremos críticas e sugestões que permitam aperfeiçoar os trabalhos”, contou Miyaki. “Essa reunião é um marco para conseguirmos efetivar a integração entre as diversas áreas do projeto e criarmos uma linguagem única focada em compreender a Mata Atlântica e os processos que fazem esse bioma ser tão especial”, acrescentou.

Entre os mistérios que os cientistas tentarão desvendar estão a origem da incrível diversidade existente na Mata Atlântica, possivelmente fruto de conexões existentes há milhões de anos com outros biomas, entre eles a Floresta Amazônica. Outra questão fundamental é entender a importância do sistema de transporte de umidade na região hoje e no passado e como ele permite que a Mata Atlântica se comunique com outros sistemas florestais. Também está entre as metas do grupo investigar como a atividade tectônica influenciou o curso de rios e afetou o padrão de distribuição das espécies aquáticas.

DESAFIOS DO BIOTA
Durante a abertura do workshop, o presidente da Fapesp, Celso Lafer, realçou a importância de abordagens inovadoras e multidisciplinares voltadas para a proteção da biodiversidade da Mata Atlântica. Ressaltou ainda que a iniciativa está em consonância com os esforços de internacionalização realizados pela Fapesp nos últimos anos.

“Uma das grandes preocupações da Fapesp tem sido o processo de internacionalização, que basicamente está relacionado ao esforço de juntar pesquisadores de diversas áreas para avançar no conhecimento. Este programa de hoje está relacionado a aspirações dessa natureza e tenho certeza de que os resultados serão altamente relevantes”, afirmou Lafer.

Também durante a mesa de abertura, o diretor do IB-USP, Carlos Eduardo Falavigna da Rocha, afirmou que o programa Biota-Fapesp tem sido um exemplo para outros estados e outras fundações de apoio à pesquisa em âmbito federal e estadual.

Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do Biota-Fapesp, apresentou um histórico das atividades realizadas pelo programa desde 1999, entre elas a elaboração de um mapa de áreas prioritárias para conservação que serviu de base para mais de 20 documentos legais estaduais – entre leis, decretos e resoluções.

Joly também falou sobre os desafios a serem vencidos até 2020, como empreender esforços de restauração e de reintrodução de espécies, ampliar o entendimento sobre ecossistemas terrestres e sobre os mecanismos que mantêm a biodiversidade no Estado e intensificar as atividades voltadas à educação ambiental.
Para 2014, Joly ressaltou dois desafios na área de conservação. “Estamos iniciando uma campanha para o tombamento da Serra da Mantiqueira. Já fizemos alguns artigos de jornais, estamos lançando um websiteespecífico e vamos trabalhar para conseguir tombar regiões acima de 800 metros, áreas apontadas como de extrema prioridade para conservação no atlas do BIOTA”, disse.


Outra meta para 2014, segundo Joly, é trabalhar para que o Brasil ratifique o protocolo de Nagoya – tratado internacional que dispõe sobre a repartição de benefícios do uso da biodiversidade – até outubro, quando ocorrerá a 12ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica.

“É fundamental que um país megadiverso, que tem todo o interesse de ter sua biodiversidade protegida por esse protocolo internacional, se torne signatário do protocolo antes dessa reunião”, afirmou Joly
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