segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nova espécie de anta é descoberta no Brasil

Nova espécie de anta é descoberta no Brasil

Apelidado de anta-pretinha, o animal descoberto na Amazônia tem patas mais curtas e coloração mais escura, em comparação com as outras espécies

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Divulgação

Ilustração: Garcielle Braga
O periódico científico Jornal of Mammalogy divulgou um artigo na última segunda-feira (16) com uma das maiores descobertas científicas do século 21 no campo da sistemática - ramo da biologia dedicado a inventariar e descrever a biodiversidade e compreender as relações filogenéticas entre os organismos. Uma nova espécie de anta (Tapirus kabomani) foi encontrada na Floresta Amazônica. Ela é semelhante à anta-brasileira (Tapirus terrestris), mas é menor, possui patas mais curtas e uma coloração mais escura - sendo por isso chamada de anta-pretinha por algumas comunidades amazônicas.

Os estudos começaram há aproximadamente 10 anos, em uma região ao norte de Porto Velho, na divisa entre Rondônia e Amazonas. Mario Cozzuol, paleontólogo e um dos autores do estudo, procurava por evidências da nova espécie na tribo Karitiana. Os nativos afirmavam que o mamífero em questão era diferente da anta-brasileira. Ao examinar os crânios dos animais caçados pelos índios, o pesquisador percebeu que estava diante de um animal diferente. "O conhecimento da comunidade local precisa ser levado em conta e foi o que fizemos em nosso estudo que culminou na descoberta de uma nova espécie para a ciência", afirma Cozzuol.

Porém, para que a descoberta fosse oficializada, era preciso coletar mais amostras de DNA para uma análise mais precisa. Isso só foi possível a partir de 2010, quando aFundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza passou a financiar o projeto.

Segundo Fabrício Santos, coordenador dos estudos genéticos e coautor do artigo, a nova espécie havia sido caçada por Theodore Roosevelt no início do século 20 no norte do Mato Grosso - o espécime capturado pelo ex-presidente dos Estados Unidos se encontra no Museu Americano de História Natural, em Nova York
"Nossa próxima etapa da pesquisa é determinar a distribuição real de ocorrência e ostatus de conservação da nova espécie - que provavelmente está ameaçada -, já que a espécie mais comum na América do Sul, a Tapirus terrestris, já é considerada vulnerável à extinção pelo Livro Vermelho", comenta Flávio Rodriguez, professor de ecologia da UFMG e coautor do artigo.

As antas são dispersoras de sementes e possuem um papel essencial para a manutenção dos ecossistemas onde são encontradas (Amazônia, Pantanal, Cerrado e florestas de montanhas).

Atualmente, a anta-da-montanha (Andes), a anta-centro-americana (América Central) e a anta-malaia (Indonésia) estão ameaçadas de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Como a área de distribuição de Tapirus kabomani parece ser mais restrita do que a de Tapirus terrestres, os cientistas acreditam que a nova espécie deve estar mais ameaçada do que a anta-brasileira (considerada vulnerável). O desmatamento, a fragmentação do habitat, a competição com animais domésticos, a caça ilegal e os atropelamentos em rodovias são as principais ameaças.

Para chamar a atenção para o estado crítico dos mamíferos foi criado o Dia Mundial da Anta, comemorado em 27 de abril, com o objetivo de conservar as quatro antas que existiam no planeta. Agora mais uma espécie se junta a esse grupo.

No Brasil, a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, coordenada pela pesquisadora Patrícia Médici, Ph.D. em manejo de biodiversidade, luta pela conservação da anta-brasileira na região do Pantanal e pretende expandir as ações para a Amazônia e o Cerrado. 

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