sábado, 4 de janeiro de 2014

LIÇÕES DE CIDADANIA:A cidade que temos. A cidade que queremos

A cidade que temos. A cidade que queremos

Professora de Geografia em uma escola de Rondônia, Telma Oliveira Medeiros incentivou os alunos a elaborarem propostas de melhoria para o município de Ariquemes, onde vivem. O trabalho escolar foi um sucesso e acabou sendo apresentado à comunidade no auditório do Ministério Público Municipal

Paula Peres/Bruna Nicolielo  Nova Escola -

Ilustração: Melissa Lagôa/Foto: Mateus Andrade-Imagem News

Refletir sobre o desenvolvimento sustentável na prática era o objetivo da professora Telma Oliveira Medeiros quando propôs ao 9º ano da EE Heitor Villa-Lobos, em Ariquemes, a 198 quilômetros de Porto Velho, que elaborasse propostas de melhoria para o município. Assim, ela trabalhou os conteúdos previstos para essa etapa, como turismo ecológico, cidades e hábitos de consumo mundializados, além dos objetivos de desenvolvimento do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) com base na geografia local. Também discutiu dois conceitos indissociáveis – economia e meio ambiente. “Fala-se muito sobre a importância de desenvolver o planeta do ponto de vista econômico, mas ao mesmo tempo colocamos na cabeça das crianças que é preciso preservá-lo. Isso cria um nó. A solução é apresentar o conceito de sustentabilidade”, explica André Mascaro Peres, professor de Geografia do Colégio Ítaca, em São Paulo.

A professora iniciou o projeto apresentando vídeos da coleção Patrimônios da Humanidade, da Unesco, que retratam iniciativas sustentáveis realizadas por algumas cidades europeias. Assim, ela pretendia mostrar possibilidades reais de mudança, fazendo com que os alunos percebessem que se trata de algo que depende de pequenas e grandes ações. Após a apresentação, eles discutiram sobre o que tinham observado. “A ideia era sair dos exemplos europeus que vimos nos vídeos e começar a pensar no nosso entorno”, diz Telma.

A princípio, os jovens não acreditavam na possibilidade de adaptar os modelos a Ariquemes. “Ela nunca vai ficar assim!” ou “Ninguém gostaria de conhecê-la”, lamentavam.

Em seguida, Telma levou os estudantes ao laboratório de informática, onde tiveram acesso a textos sobre desenvolvimento sustentável, turismo ecológico e os objetivos de desenvolvimento do milênio da ONU. Também leram trechos do livro didático. Com base nas pesquisas, todos fizeram anotações e produziram textos individuais sobre o que tinham entendido a respeito do conceito de sustentabilidade.

Na próxima etapa, a classe fez uma mesa-redonda para socializar suas descobertas. À medida que todos apresentavam as informações e discutiam, Telma estimulava paralelos entre o que tinha sido visto e a cidade, levando-os a refletir sobre os problemas locais. Ela perguntou, por exemplo, qual era a relação dos temas presentes nos textos, como coleta de lixo, tratamento da água, reciclagem e saúde, com a cidade.

A turma concordou que os assuntos tratados tinham tudo a ver com Ariquemes. Também ficou encantada com as possibilidades do turismo ecológico. “Quando os estudantes leram um artigo a respeito, começaram a pensar em alternativas. Algumas difíceis, mas possíveis”, explica a docente.

Nesse momento, é importante problematizar a viabilidade das ideias. “É possível fazer isso?”, “Como?” e “Que recursos financiariam nossas propostas?”. Essas perguntas levam a garotada a refletir sobre suas sugestões, considerando que as soluções nem sempre são simples ou dependem apenas da boa vontade das pessoas, mas também exigem a participação de outros agentes, como o governo.

A aula seguinte foi feita em parceria com a coordenadora de mídias da escola, Maria Cecília Correa de Andrade, que ministrou uma oficina sobre diagramação e publicação da revista digital em uma plataforma online.

ESTUDAR A REALIDADE LOCAL
Uma palestra com o promotor de Justiça foi organizada. Ele falou sobre a preservação da mata ciliar no município. A questão é muito debatida na região devido às novas leis de preservação. A vegetação nativa é a Floresta Amazônica e a economia, historicamente exploradora, se desenvolveu no ciclo da borracha e atualmente vive da extração de minérios e de madeira.

A agropecuária também é bastante presente na região, o que levou a mais desmatamento. “Estamos passando por um processo de aceitação dessa lei. Muita gente não admite preservar a vegetação, pois ainda tem aquela concepção tradicional de que área produtiva é floresta derrubada”, explica Telma.

Durante a palestra, os alunos entraram em contato com a legislação ambiental. “Assim, eles perceberam que havia muitas outras pessoas igualmente preocupadas em preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, com o desenvolvimento”, diz a professora.

Por fim, os jovens, divididos em grupos, passaram à formulação de suas propostas. O contraturno foi usado para reuniões e pesquisas em livros e na internet (o Planeta Sustentável é uma boa indicação).

Eles abordaram um leque variado de temas, como a construção de um aquário com peixes da região, a conscientização dos moradores para o uso adequado e o reaproveitamento da água, a implementação de cisternas para captação da chuva, a criação de áreas verdes e de lazer em terrenos abandonados e a preservação da mata nativa.

O grupo de Gabriela de Kassia Fogaça Rosário, 15 anos, escolheu repensar a coleta de lixo, sugerindo que a população fizesse a separação dos materiais em casa. Em Ariquemes, isso ainda não é uma prática disseminada. “A gente sempre ouve falar que tem de reutilizar o lixo, mas isso ainda não é feito.”

Na sala de informática, os grupos organizaram as propostas em slides, com a ajuda da professora e da coordenadora de mídias. Depois, realizaram uma apresentação, na qual a professora fez a primeira avaliação dos trabalhos. Todos receberam retorno do que deveria ser melhorado para a exibição final.

Nesse momento, vale problematizar formas de viabilizar cada proposta novamente. “Construir cisternas é fácil?”, “Como isso seria feito?”, “De que adianta separarmos o lixo em casa se a cidade não possui um programa de coleta seletiva?” e “Como faríamos para transformar os terrenos baldios em áreas de lazer?”, “O município compraria esses espaços?” e “Teria dinheiro para tanto?” são questões que contribuem para o debate.

Depois das correções, foi a vez de reunir os projetos e publicá-los na plataforma virtual. O material foi enviado ao promotor de Justiça, que sugeriu a apresentação dele no auditório do Ministério Público Municipal, com a participação de pais, professores, colegas e comunidade em geral. “Foi ótimo fazer isso. As autoridades puderam nos ouvir e conhecer nossas propostas”, comemora a estudante Gabriela
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