quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Inteligência emocional: dinheiro como consequência

“Pensar é o trabalho mais pesado que há, e talvez seja essa a razão para tão poucos se dedicarem a isso.” – Henry Ford
É muito difícil aceitar que pensar dá trabalho. Principalmente porque chegar a tal conclusão também dá trabalho! Não que eu considere Henry Ford um exemplo de gestão, mas é preciso reconhecer seu espírito empreendedor e sua contribuição para a administração[bb]. Preferindo agir na automação de suas fábricas, Ford deu inestimável contribuição para os conceitos de produtividade e qualidade discutidos no século passado – o fordismo foi um divisor de águas. Portanto, há muito valor na frase que abre este artigo.
Por pensar compreendo o ato de tomar decisões de maneira minimamente razoável e consciente, sem que apenas a emoção pontue a palavra final. Porque pensar é também planejar e agir conforme conhecidas e estudadas conseqüências – ou mesmo temores. Decidir por decidir, com toques da intuição e representando a necessidade de agir soa romântico, faz bonito em obras de auto-ajuda, mas mostra-se atitude pouco eficiente na vida da grande maioria, representada justamente por aqueles que precisam pensar mais.
O assunto é vasto e encampa discussões nas áreas filosófica, prática, financeira, pessoal, profissional e familiar. Minhas pretensões são mais humildes: que espaço você dá para o pensamento enquanto ato existencial e necessário para uma vida mais equilibrada? Se você prefere uma pergunta menos elaborada, quanto de sua vida está no piloto automático, enquanto importantes decisões são simplesmente ignoradas ou repassadas a terceiros? Você tem pensado ou prefere apenas agir sem avaliar os “arredores”? Agora leve a reflexão para o lado financeiro. Pois é, o diagnóstico é preocupante, não?
“Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, experiência e competência.” – Henry Ford
Ford reaparece com outra frase interessante. É no mínimo paradoxal observar um capitalista tão fervoroso dedicar palavras tão sensíveis ao tema dinheiro. Como é paradoxal observar inúmeros brasileiros vivendo, deliberadamente, problemas financeiros recorrentes, ainda que tenham plena consciência de como gerenciam mal suas finanças[bb] e das armadilhas escondidas no crédito fácil. Não me espanta perceber, na prática, que falar de dinheiro seja tão complicado e pouco valorizado. Ainda um tabu, como já disse em outra ocasião.
O que aprender com as palavras de Ford?
Arriscar-me a interpretar o raciocínio de um empresário tão bem sucedido parece uma aventura muito interessante, mas o desafio parece grande demais até para este atrevido blogueiro. Prefiro compartilhar minhas conclusões pessoais sobre a importância de se valorizar o conhecimento e a singular capacidade de pensar que apresentamos, além do papel do dinheiro em nossas vidas:
1. Inteligência emocional é fundamental. O lado subjetivo das decisões que tomamos no dia-a-dia influencia muito aqueles que nos observam e se espelham em nossas atitudes. Leve isso ao convívio familiar e a questão toma grande relevância, afinal os filhos tendem a agir conforme os princípios e valores dos pais. A inteligência emocional[bb] garante que o conhecimento e sabedoria adquiridos no ensino formal sejam plenamente aproveitados.
Pensando no ambiente profissional, cabe citar uma conclusão encontrada pelo Dr. Goleman, grande estudioso e pesquisador do impacto da inteligência emocional no cotidiano:
 “As emoções de um líder são, com freqüência, a primeira forma de influência vivenciada pelos colaboradores e formam, portanto, o elemento mais importante para estabelecer o clima organizacional”.
A emoção surge como principal elo entre as pessoas, mas deve ser tratada com cuidado. Através dela deixamos claras nossas intenções, mas também nossos medos. E o que isso tem a ver com dinheiro e a incrível capacidade de pensar? Tudo, afinal é a emoção o motor de muitas decisões financeiras incoerentes, simplesmente porque fazemos dela uma válvula de escape – conceito completamente equivocado, segundo a tese do Dr. Goleman. Inteligência emocional significa também pensar as emoções e transformá-las em benefício para a vida pessoal e profissional.
2. Decidir é preciso. Sair do piloto automático significa aceitar que o atual estágio da vida existe porque simplesmente decidimos abrir mão do direito de decidir – o que, em essência, também representa uma decisão. Ao escrever este texto tão diferente, abordando questões nem sempre triviais e de interesse de todos, pretendo apenas alertá-lo para a necessidade de repensar algumas áreas de sua vida, dando especial destaque para as decisões financeiras que você comumente toma sem dedicar merecida atenção.
3. Dinheiro é conseqüência. Sucesso financeiro é relativo, como bem pontuou Henry Ford em suas frases aqui citadas. Mas, sem que haja esforço no sentido de melhor avaliar as possibilidades de investimento, compra e venda de bens e ativos, é impossível construir um patrimônio sólido e duradouro. Isso significa incorporar três hábitos básicos em seu cotidiano: pensar, estudar e negociar. Quem pensa, sabe o que deve ou não estudar e por que. Ao negociar, aprende-se a valorizar a futura conquista. Segundo Dr. Goleman, trata-se da inteligência emocional aliada ao bom senso e conhecimento. Esta parece ser uma boa definição para vencer.
Há quem diga e defenda que não se pode ter tudo na vida. Deve ser verdade, mas a minha tese é mais simples: ter o possível só é possível com planejamento[bb], decisões inteligentes, estudo e muito bom senso. Nem sempre teremos serenidade e disciplina para agir conforme estas regras, mas esconder-se atrás da cortina das desculpas só fará aumentar a angústia diante de problemas financeiros cada vez piores. Sair do piloto automático e mudar é, antes de tudo, uma questão de força de vontade e atitude. Porque pensar dá trabalho, mas o resto se aprende.
Conrado Navarro, educador financeiro, formado em Computação com MBA em Finanças e mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI, é sócio-fundador do Dinheirama. Atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.

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