domingo, 28 de julho de 2013

Aiuê e o poder da imagem

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Suzana Camargo - FONTE :BLOG PLANETA SUSTENTÁVEL


Raramente uma palavra ou um texto são tão contundentes quanto uma imagem. Em poucos segundos uma foto ou um vídeo podem provocar um impacto sem igual. Podem causar indignação, alegria, tristeza, angústia ou mesmo indiferença. Podem mexer com alguns dos sentimentos mais profundos do ser humano.
Foi exatamente por essas razões que Sementes do Nosso Quintal foi eleito pelo júri popular como o Melhor Documentário Brasileiro na 36ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo* em 2012. O filme mostra de maneira sensível o cotidiano de uma escola de educação infantil, onde crianças aprendem com a natureza, a música, a arte e os próprios conflitos. O ensinar e o aprender vão além de métodos e fórmulas convencionais. O documentário foi produzido pela equipe da Aiuê, uma produtora de conteúdo, que busca levar às pessoas, através de recursos audiovisuais, temas ligados à educação, cultura e sustentabilidade.
No comando da Aiuê estão Fernanda Figueiredo e os primos Jorge e André Saad Jafet (os três aparecem na foto acima, no canto direito). Fernanda e Jorge são casados e começaram a carreira profissional como advogados. Mas queriam ir além. Sentiam que precisavam trabalhar com algo que fizesse diferença na vida das pessoas. Juntos criaram a Aiuê.
É Fernanda quem me recebe na sede da produtora para um bate-papo. A casa fica numa rua calma, arborizada no bairro de Vila Beatriz, em São Paulo. Decorado com objetos coloridos e feitos com materiais reciclados, o ambiente é perfeito para uma longa conversa.
Por que vocês decidiram largar o Direito?

O Jorge sempre gostou muito de escrever e aí começou a fazer roteiros. Eu sempre tive um respeito e uma conexão muito forte com a natureza. Achava que através do Direito iria fazer justiça e trabalhar com causas humanitárias. Mas estava no meio de um trabalho muito exaustivo e competitivo. Não me sentia coerente com os meus valores. Decidi então fazer um curso de educação ambiental em Barcelona, na Espanha. Encontrei um mestrado multidisciplinar incrível – Intervenção Ambiental:pessoas, sociedades e gestão. Isso me abriu muito a cabeça porque vi que através da consciência ambiental era possível ter uma atuação política e cidadã no dia-a-dia.

Esse é o principal foco de trabalho da Aiuê?

Sim. Achamos que havia um espaço interessante para falar de educação e sustentabilidade, que é a nossa praia. A gente encontrou um nicho e focou nisso: somos uma produtora de conteúdo focada em educação, sustentabilidade e cultura porque nós sabemos falar e interagir com esse assunto e gostamos disso. Temos nossos próprios projetos e também clientes diversos com programas de responsabilidade social ou na área de sustentabilidade.

Como surgiu a ideia para o documentário Sementes do Nosso Quintal?

Enquanto eu estava fazendo o segundo mestrado em educação ambiental, ainda na Espanha, comecei a pensar como seria possível usar a educação para que as pessoas tivessem o olhar para o outro, conseguissem se colocar no lugar do outro e enxergassem como está tudo interligado e uma ação aqui iria impactar mais adiante. Lembrei então da minha escola de educação infantil no Brasil, a Te-Arte, que sempre trabalhou com o que há de mais contemporâneo em educação ambiental, mas sem nunca falar sobre isso ou usar esse termo. Não havia um dia na minha vida que eu não tivesse sentido a presença daquilo que vivi na escola. Fiquei fascinada com essa descoberta e no mesmo momento escrevi uma carta para a diretora, com quem eu não tinha contato por décadas, e falei a ela sobre a ideia do documentário.

Como foi o processo de produção do documentário?

Começamos a filmar em 2007 e o processo todo de produção durou quase seis anos. Gravei durante quatro anos lá e fiz um acervo de 400 horas de imagens. Eu mergulhei no universo da infância. A escola não tem salas de aula e há crianças de oito meses a sete anos todas juntas, sem separação por idade. Elas aprendem interagindo entre elas, com os professores e os pais através de diversas linguagens e com muito contato com a natureza e a cultura brasileira. É uma escola de vida! … Para todo mundo. Optamos por um documentário sem entrevistas, somente com o áudio original, dessa maneira colocamos o espectador dentro da escola.

Qual foi a sensação de ver o seu primeiro trabalho na tela?

O documentário estreou no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, em Goiás e depois foi selecionado na Mostra de Cinema de São Paulo, em que recebeu o prêmio do público e para mim foi simplesmente uma surpresa, uma delícia… Foi meu primeiro trabalho e eu estava ali no meio daquele monte de cineastas. Foi muito bacana!

Como está sendo a repercussão do documentário depois da premiação?

Estamos exibindo o filme em vários lugares e terminando a gravação do CD, que será distribuído gratuitamente. Queremos gerar uma discussão sobre uma educação mais pautada pela cultura brasileira.

Em que outros projetos a Aiuê está envolvida?

Desde 2009 fazemos os vídeos das escolas vencedoras do projeto Aqui se brinca, promovido pelo Instituto Sidarta. É um prêmio pelo direito de ser criança, que reconhece as melhores escolas no Brasil, e incentiva as práticas do brincar e o aprender pela experiência. Também produzimos o programa Capital Natural na TV Bandeirantes, apresentado por Fernando Gabeira. Temos ainda uma parceria com o próprio Planeta Sustentável. Gravamos o documentário Novas Ideias para o Futuro da Amazônia e estamos finalizando o vídeo sobre o encontro Energia, Negócios e Meio Ambiente, realizado recentemente em Foz do Iguaçu. Vamos também começar a produzir agora no segundo semestre um novo programa para a televisão sobre arte na rua.

E qual é o poder da imagem?

É violento. Ele é muito impactante. Mexe com a emoção. Muitas vezes depois que exibimos o Sementes do Nosso Quintal, as pessoas não conseguiam nem falar. A imagem aciona um canal muito rico e que desperta um potencial que está adormecido nas pessoas. Acho que por isso mesmo precisamos parar de atuar somente na esfera da informação quando falamos em sustentabilidade e começar a mobilizar as pessoas. E isso passa pela emoção. A imagem tem esse poder.

A sustentabilidade precisa de uma linguagem diferente?

Ela precisa ser leve e fazer com que as pessoas se sintam conectadas a um grupo. É fundamental para o ser humano se sentir reconhecido na comunidade onde ele vive. A comunicação precisa mostrar um exemplo e conectar as pessoas que estão caminhando naquela mesma direção.




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