sexta-feira, 26 de julho de 2013

A nova escola

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A nova escola Suzana Camargo


O modelo pedagógico utilizado na grande maioria das salas de aulas de escolas do mundo todo ainda é o mesmo com o qual os professores ensinavam nos séculos passados. Alunos sentados em carteiras observam o mestre, que fica à frente. Mas será que os estudantes de hoje ainda aprendem e raciocinam da mesma maneira do que no passado? Certamente não.
As crianças digitam trabalhos na tela do computador, fazem pesquisas usando as ferramentas de busca da internet, deslizam os dedos agilmente sobre tablets. Esse é o mundo em que os pequenos vivem hoje. São alunos multitarefas, que conseguem raciocinar mais rapidamente e absorver um maior volume de informações. Essas crianças nasceram na era digital, falam uma linguagem diferente. São novos alunos e portanto, precisam de uma nova escola.
Especialista em educação, o professor universitário Celso Zilbovicius* acredita que o sistema atual de educação é autoritário e engessado. Para ele, um novo modelo pedagógico irá permitir uma troca de saber mais rica entre aluno e professor. Zilbovicius fala sobre o que precisa ser mudado na entrevista abaixo.
Como é a educação hoje?
Apesar de toda a evolução que tivemos nos últimos tempos e os grandes movimentos na educação e na pedagogia, que democratizaram um pouco mais o ensino e reviram o papel da educação na sociedade e claro, todas as questões ligadas às estratégias de ensino e didática, ainda assim sinto que na grande maioria das vezes há relações autoritárias na educação. Acho que ainda temos um pouco dessa herança do século XIX, da figura do professor como o grande foco do conhecimento e que, portanto, o confere com um poder na sala de aula e em todos os ambientes escolares de uma posição bastante diferenciada. Há um ranso de relações muito autoritárias nesse processo.
Estamos subestimando a maneira como a criança pode assimilar a informação?
Acho que na verdade a gente subestima a capacidade dela absorver o conhecimento de uma forma mais crítica e autônoma e mais ainda, buscar um conhecimento que lhe é importante. Esse é um grande desafio do processo. Na grande maioria dos ambientes escolares você vai ver ainda uma dinâmica com uma posição de poder bastante delimitada: as cadeiras estão voltadas para a lousa, o professor está lá na frente, todos têm que prestar atenção no que ele está falando e absorver o máximo do conhecimento dele, que é muito pouco contestado. E nos processos de avaliação, é medido quanto aquela criança absorveu dos conhecimentos daquele agente pedagógico. Tem uma coisa muito engessadaainda.
Quais são os modelos pedagógicos mais modernos e que têm apresentado resultados bem sucedidos?
Há grandes experiências na pedagogia brasileira que contestam, sem dúvida nenhuma, o método tradicional. Temos um legado, que presenteamos para o mundo, que se chama Paulo Freire. Ele contestava essa relação autoritária no processo de aprendizagem. Hoje você tem uma série de experiências em escolas que vem do movimento da pedagogia crítica e de teóricos afirmando que o modelo de hoje está muito ultrapassado. A questão é que ele ainda se mantem. Acho que essa é a grande pergunta: se é sabido que essas estratégias são ultrapassadas para o momento que a sociedade vive, por que elas se mantêm?
E qual seria a sua resposta?
Acho que a sociedade ainda tem medo de quebrar com alguns parâmetros. Esse modelo tradicional vem sendo mantido por muitos e muitos anos a serviço de uma certa estrutura e organização da sociedade, principalmente da capitalista onde através desse exercício de poder formava conhecimento voltado para ela – asociedade do consumo, da produtividade e assim por diante. Na medida que o sistema ainda requer a transmissão do conhecimento para esse fim, digamos assim, essa estrutura se mantem. Quebrar com esse paradigma requer uma visão crítica muito complicada e que mais ainda, vai mexer com estruturas muito assentadas ao longo da história, que vem inclusive de casa, de como as famílias enxergam a razão de enviar a criança para a escola.

Existe algum sinal de início de mudança no sistema?
Eu sou bastante otimista e acho que a gente já avançou bastante. A própria tecnologia nos últimos 20 anos tem forçado a transformação desses modelos.

O que é necessário fazer para que alunos não percam a sede pelo conhecimento e o interesse pela sala de aula?
Acho que as crianças sentem uma certa frustração perante aquilo que encontram na escola e imagino que isso vai piorar cada vez mais. As crianças hoje, até por conta da tecnologia, estão vindo para a escola com certos conhecimentos já dominados – ela já sabe navegar na internet. A instituição escolar vai ter que passar por reformulações conceituais muito grandes, assim como o próprio papel do professor e a didática. Sem dúvida nenhuma, a sala de aula não vai ser mais ogrande cenário da aprendizagem como a gente conhecia. Acho que já não é mais. A sala de aula vai ter outra função no processo de aprendizagem dos alunos.

Qual será essa função?
Formá-los de uma maneira mais crítica. Muitos dos conhecimentos que os alunos trarão de fora da sala de aula vão de alguma forma ser utilizados e o professor vai ter que instrumentalizar essa criança e esse jovem para que consiga filtrar de forma crítica esse conhecimento, decidir o que é pertinente, o que serve para ele, se isso o insere na sociedade.

Os professores vão ter que olhar para os alunos de forma diferente?
Sem dúvida nenhuma. Esse poder autoritário do professor vai se diluir. Tanto ele como o aluno virão para a sala de aula dominando conhecimento. Obviamente que a criança não terá o mesmo nível intelectual que o professor, mas o novo modelo vai permitir trocas muito maiores.

A nova escola vai influenciar na mudança da sociedade?
Eu espero … eu espero. Acho que será uma sociedade mais crítica no sentido de se autoperceber e se autoanalisar melhor e formar seres humanos mais sensíveiscom o seu entorno e a sua realidade. E mais ainda, não adianta só formar seres humanos mais críticos, mas devem ser mais pró-ativos para interferir nesse processo.

 *Celso Zilbovicius será um dos palestrantes do 102º Fórum do Comitê da Cultura da Paz, promovido pela Associação Palas Athena, no próximo dia 12/03, às 19 horas, no auditório do MASP, em São Paulo. Janusz Korczak – Uma vida que se renova nos direitos de cada criança  é o título do encontro que terá ainda o educador e psicanalista Silvio Hotimsky como palestrante.

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