quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Como as cidades podem ser criativas e inovadoras

Natália Garcia - 24/01/2013 às 14:26




















Foi nessa mesa que tomamos nosso primeiro café da manhã em São Francisco, onde começamos a segunda etapa do Cidades para Pessoas. Em busca de um local agradável para o desjejum, chegamos ao Mojo Café e nos acomodamos em mesas que ficavam em uma estrutura que não era destinada nem aos pedestres, nem aos carros. Logo descobrimos que os Parklets, novidades para nós, são cada vez mais comuns nessa importante cidade da Califórnia.
Os Parklets são prolongamentos da calçada móveis feitos de madeira para ocupar o espaço que, antes, era destinado a vagas públicas de estacionamento para carros. A construção dessas estruturas é feita hoje em um programa oficial da prefeitura de São Francisco, mas a invenção dessa forma de ocupação do espaço público foi feita por um movimento de ativistas liderados pela empresa de design urbano Rebar.
Um dos sócios da Rebar, o Jonh Bela, nos concedeu uma entrevista em um dos Parklets de São Francisco e contou que a ideia nasceu de um simples questionamento: “por que uma área tão grande dos espaços públicos é dominada pelos carros?” Para tentar propor que “as cidades fossem devolvidas às pessoas”, como ele diz, Bela e um grupo de ativistas criaram o Parking Day, uma ocupação artística de vagas públicas de estacionamento destinada aos carros com gramado sintético, mesas, cadeiras, árvores e toalhas de pique-nique.






















A ideia, que inspirou a versão brasileira chamada de Vaga Viva, foi mais bem aceita do que Bela imaginava. Com medo de acabar sendo preso, ele na verdade recebeu uma ligação de um membro da prefeitura da cidade que queria transformar aquela ocupação em algo permanente.
Em 2010 foi criado, então, o Pavements to Park, um departamento da prefeitura de São Francisco que tem como função, justamente, “devolver às pessoas as áreas dominadas pelos carros”. É o Pavements to Parks que regulamenta e emite autorizações para que cafés, restaurantes e galerias de arte construam seus Parklets, que são espaços públicos onde não é necessário consumir para ocupar e permanecer.  
Essa história é um belo exemplo de como ideias criativas, impulsionadas por movimentos de engajamento cívico, podem impactar positivamente uma cidade. Mas no caso de São Francisco, havia uma gestão política aberta para essas soluções criativas e disposta a afrouxar as amarras burocráticas da gestão para colocá-las em prática. Nem sempre, como bem sabemos, esse é o caso.
Além do poder político, há (pelo menos) três grupos de pessoas com enorme potencial para impactar positivamente as cidades: os acadêmicos das universidades (em várias disciplinas além do urbanismo, diga-se), os ativistas de movimentos de engajamento cívico e as grandes empresas. Ideias, conhecimento e dinheiro, se somados, poderiam fazer um bem enorme à cidade. Em especial se o poder público atuasse de maneira a facilitar esses encontros e potencializar essas trocas. Infelizmente essa é uma equação pouco comum, mas cujo potencial pudemos comprovar na cidade de Portland.
Interessado no potencial que esses grupos de pessoas tinham, se trabalhassem juntos, o prefeito Sam Adams, de Portland, criou o Portland Institute of Sustentability, um instituto financiado majoritariamente pela própria prefeitura que tem duas principais funções: criar indicadores interdisciplinares que ajudem a diagnosticar com precisão os problemas da cidade e fazer conexões entre aUniversidade Estadual de Portland (PSU), as empresas privadas (em especial do mercado imobiliário) e os movimentos de engajamento cívico. O executivo Rob Bennet, que já trabalhou nas secretarias de planejamento de 12 cidade pelo mundo, foi o escolhido para tocar o Instituto.
Bennet então criou os EcoDistricts, que define como “bairros com o compromisso de fomentar ações de sustentabilidade”. Trabalhar fazendo essas conexões na escala dos bairros, segundo ele, é muito mais fácil do que pensar na cidade como um todo. “Cada bairro possui usas peculiaridades, sua história, sua cultura e seus potenciais, ignorá-los querendo implementar projetos ‘universais’ nos faria perder a matéria-prima mais rica da inovação: os talentos individuais de cada um que mora ali”, diz Bennet.
Por enquanto, há cinco Ecodistricts na cidade de Portland. Um deles que atua junto com a prefeitura no projeto Grey to Green, já mencionado nesse blog, e outro que, junto ao mercado imobiliário, colocou em prática um projeto urbanístico da PSU que privilegiava os interesses dos moradores da região Sul da cidade: o South Waterfront, que revitalizou a margem do rio Williamette criando um espaço para ciclistas e pedestres, onde passamos, também, a nossa primeira manhã em Portland.
A criatividade é necessária para elaborar soluções para os complexos problemas da cidade. Os projetos pensados na escala do bairro, feitos com conexões como as do EcoDistrict, são um bom caminho para isso.
fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/cidades-para-pessoas/2013/01/24/como-dar-espaco-a-criatividade-e-inovacao-nas-cidades/?utm_source=redesabril_psustentavel&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_psustentavel

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