quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cidades médias com problemas típicos da cidade grande


Municípios como Uberlândia, Resende e Tandil apresentam desigualdade de renda, trânsito caótico, violência, favelização e desequilíbrios ambientaisGILBERTO SCOFIELD JRdo:



IDH alto e engarrafamento que estica em meia hora a volta para a casa em Uberlândia
Foto: Fotos de Marcos Alves
IDH alto e engarrafamento que estica em meia hora a volta para a casa em Uberlândia
FOTOS DE MARCOS ALVES
Todos os anos os brasileiros são contemplados com listas que avaliam as melhores cidades médias do país para se viver. Estes municípios — cujo conceito costuma estar focado no tamanho populacional, ou seja, centros com algo entre 100 mil e 600 mil habitantes — são apontados como verdadeiros oásis alternativos às gigantescas, violentas e estressantes metrópoles. Fotos de famílias sorridentes contam histórias de gente que trocou a loucura das megalópoles pela pujança e tranquilidade dos municípios de porte médio.
As estatísticas oficiais não desmentem a tese. Segundo estudos do Ipea, nesta última década as cidades médias foram as que tiveram maior crescimento anual da economia (cerca de 4,7% ao ano) e da população (2% ao ano). Levantamento do IBGE sobre os municípios brasileiros divulgado em 2010 mostra que as cidades médias elevaram em 2,5 pontos percentuais sua participação no PIB nacional (Produto Interno Bruto, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) entre 1999 e 2008. Nada menos que 28,2% da economia do país são originados dessas cidades. As grandes metrópoles, por outro lado, passaram a contribuir menos. Exatos três pontos percentuais (41,8%).
Mas o festival de números mostra somente um lado do fenômeno. Apesar dos indicadores geralmente positivos sobre qualidade de vida, o crescimento econômico vem colocando um pesado fardo nestes municípios, mais vulneráveis em termos de infraestrutura, serviços públicos e planejamento urbano. A chegada maciça de imigrantes, a lentidão na resposta das prefeituras, a falta de planejamento de longo prazo e mesmo os gargalos financeiros vêm contribuindo para criar, nas cidades médias brasileiras, problemas típicos das grandes metrópoles. Os principais deles são desigualdade de renda, trânsito caótico, violência, favelização, ausência de infraestrutura e desequilíbrios ambientais.
Este é a principal conclusão de um dos mais ambiciosos projetos em Geografia hoje desenvolvido no país. Trata-se da Rede de Pesquisadores em Cidades Médias (ReCiMe), criada em 2007 e que reúne cerca de 40 pesquisadores e 80 pós-graduandos de 14 universidades em 11 estados brasileiros, além de instituições no Chile, na Argentina e em Cuba. Até então analisadas sob metodologias desenvolvidas para o estudo de megalópoles, as cidades médias ganharam um olhar dedicado. Os estudos já encerrados viraram três livros que acabam de ser publicados pela Editora Expressão Popular. É a série "Cidades em Transição" com os casos de Marília (SP) e Chillán (Chile), Tandil (Argentina) e Uberlândia (MG), Passo Fundo (RS) e Mossoró (RN).
Ao contrário do simbolismo que o interior brasileiro passa, com seus vaqueiros embalados ao som de sertanejo universitário, investe-se mais na cidade do que no campo ao redor. 
Em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul, a explosão do mecanizado negócio da soja foi seguida pelo declínio da população que trabalha no campo. A quantidade de trabalhadores da área urbana, por sua vez, aumentou 300%. Esta expansão urbana é tão vertical quanto horizontal, ou seja, há a especulação imobiliária dos altos prédios nas áreas centrais da cidade, mas há também a presença cada vez mais comum de condomínios fechados e programas de moradia popular em áreas afastadas do centro.
— Estas características trazem também para estas cidades as contradições do crescimento — diz a pesquisadora Beatriz Ribeiro Soares, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), vice-coordenadora da ReCiMe e chefe da equipe de professores que estudou a cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
— A periferia se expande de forma diferenciada, porque nos municípios médios, ela mistura os condomínios fechados para a alta renda e os conjuntos populares de programas como o "Minha casa, Minha vida", sem falar nas invasões, que levam à favelização — diz Arthur Whitacker, da Unesp de Presidente Prudente, coordenador do estudo da cidade de São José do Rio Preto, em São Paulo.
Efeitos colaterais em Uberlândia
Às margens da BR-050 na altura de Uberlândia, uma invasão de cerca de três mil barracos e casas inacabadas de alvenaria chama a atenção. Afinal, quem atravessa a periferia da cidade, com seus 604 mil habitantes e economia de R$ 16,1 bilhões, segundo o IBGE, vê de perto a pujança do maior município do Triângulo Mineiro. São desde condomínios cercados de alta renda e conjuntos habitacionais de baixa renda (como "Minha Casa, Minha Vida") estalando de novos em meio ao agronegócio, a gigantescos shopping centers e a imensos depósitos de grupos atacadistas, como Martins e Arcom.
Por ser tudo ali próspero e organizado, o amontoado de barracos se destaca estranhamente fora de contexto. Um lixão clandestino, ao lado da invasão, divide a comunidade — chamada pelos moradores de Paulo Freire — do bairro popular contíguo, conhecido como Bairro São Jorge. Num barraco de dois andares, espécie de sobrado que desafia as leis da gravidade no terreno irregular, mora Robert Felipe Luiz Silva, de 18 anos. Ele fica ali com amigos e duas crianças "guardando" o barraco, construído sobre um terreno ocupado por sua mãe há nove meses. Ele é de Uberlândia mesmo. Os amigos, do Pará. Todos esperam que a propriedade, um dia, seja deles.
— A gente torce para que regularizem isso aqui, né? Minha mãe disse que a casa vai ser minha — diz o rapaz.
O cenário evidencia dois dos efeitos do crescimento nas cidades médias brasileiras, objeto de estudo da Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe): concentração de renda e especulação imobiliária. O crescimento no valor de casas e terrenos empurra para a periferia a população de baixa renda. E os ricos fogem do Centro degradado. E é ali, onde se espalham terrenos aparentemente sem dono (o da invasão é da Universidade Federal de Uberlândia, a UFU), que os sem teto — organizados ou não — tentam a sorte das invasões. Está um ao lado do outro.
— Uberlândia é uma cidade com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), tem 100% de sua população abastecida com água e esgoto, mas sofre com problemas decorrentes do rápido crescimento, como favelização, concentração de renda, trânsito e violência — diz a professora da UFU Beatriz Ribeiro Soares, vice-coordenadora da ReCiMe.
O transporte público é simbólico deste dilema. Uberlândia possui um sistema de transporte que interliga toda a cidade por ônibus, além de ter sido um dos primeiros municípios a adotar os corredores dedicados de ônibus (conhecidos como BRT), ainda em 1997, num projeto desenhado pelo ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner. Mas os ônibus são antigos, a quantidade de carros — e motos — nas ruas só faz crescer com os incentivos do governo federal, enquanto os moradores na periferia aumentam explosivamente. O resultado são filas enormes de passageiros na hora do rush e um engarrafamento que estica em meia hora a volta para casa.
— Uberlândia é da era rodoviarista, a passagem não é barata e a infraestrutura não acompanha a enxurrada de gente e de carros no sistema todos os anos — diz a arquiteta Maria Eliza Guerra, diretora da Faculdade de Arquitetura da UFU.
— Estamos desconcentrando os investimentos e abrindo distritos industriais nas várias regiões da cidade, de modo que as pessoas não tenham que fazer grandes deslocamentos para ir ao trabalho — diz o prefeito Odelmo Leão.
Um pouco de planejamento pode evitar alguns problemas, como tratamento de esgoto. Há duas semanas, Leão inaugurou a ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto de Uberabinha, capaz de tratar o esgoto de 1,05 milhão de pessoas, bem acima da atual população da cidade. As obras custaram R$ 84 milhões em sete anos. Outros problemas, como a violência e a segurança, são mais complexos. Na recepção do prédio da prefeitura encontra-se uma pilha de jornais "Gazeta do Triângulo". A manchete é: "Uberlândia contabiliza mais três homicídios no final de semana". Todos os casos estão ligados ao comércio de drogas. Na reportagem, sabe-se que, este ano, com os três homicídios, a cidade contabiliza 140 mortos.
— Não tenho como botar guarda municipal armada nas ruas — diz ele.
O professor Eduardo Bevilacqua, ex-secretário de Meio Ambiente, lembra que faltam espaços públicos de diversão para os jovens na cidade. Uberlândia tem oito parques, mas as atividades de lazer são praticadas em espaços privados, como clubes. Além disso, a produção de cultura local é tímida.
E há a subjugação dos projetos urbanos pelos interesses de grupos privados. A Câmara de Vereadores de Uberlândia já não segue o Plano Diretor, autorizando construções em áreas que deveriam ter outro fim. Isso não é um privilégio das cidades médias, mas seus impactos são muito maiores.
Boom de negócios em Resende
No Oeste do Estado do Rio de Janeiro, o município de Resende tem jeito, sotaque e estrutura de cidade pequena. Mas está lá o coração da indústria automotiva da região Sudeste, responsável por um movimento intenso de carros, caminhões e pessoas dentro da cidade e na Rodovia Presidente Dutra, que corta o município. A estrutura ainda não acompanhou o aumento no número de pessoas circulando, mas os engarrafamentos dão o tom de um lugar que já está vendo as consequências de um Produto Interno Bruto (PIB) que só cresce em função das indústrias.Para um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a cidade é um exemplo de município de porte médio que já enfrenta problemas típicos de megacidades, como o trânsito intenso, a alta nos preços de imóveis e a chegada de grandes redes varejistas que acabam com o comércio local. Há quatro anos, o grupo, liderado pelo professor e geógrafo William Ribeiro, segue na pesquisa Reestruturação Urbana no Estado do Rio de Janeiro: o caso de Resende, que faz parte do programa de pós graduação do departamento de Geografia da universidade. Segundo Ribeiro, praticamente toda a literatura que se tem sobre cidades no mundo inteiro é focada em metrópoles. Por isso, o olhar dos pesquisadores se voltou para os municípios médios:
— As cidades médias têm uma função importante que é a intermediação. Elas se tornam centros regionais, cumprindo a função tradicional de distribuir bens e serviços. Pessoas de pequenas cidades vizinhas buscam nelas serviços médicos, bancários. E elas fazem a ponte com grandes cidades.
O pesquisador ressaltou que o estabelecimento dessas cidades como centros regionais é uma faca de dois gumes. Se por um lado, elas emergem e passam a receber investimentos que até então não chegavam à cidade, empresas multinacionais e outros recursos, por outro elas perdem o poder de gestão econômica do território, dependendo das ações das empresas que ali se estabelecem, enquanto a infraestrutura coordenada pelo poder público nem sempre acompanha:
— Esses municípios perdem gradualmente o poder de gestão econômica do território. Ou seja, passam a ser geridos por empresas, universidades, shoppings que são marcas de fora e se estabelecem no local. O comércio deixa de ser local, chegam as grandes redes, um capital mais forte acaba dominando. E isso aumenta o preço da terra urbana, criando periferias que abrigam os mais pobres.
O caso de Resende é interessante, pois, entre as cidades médias brasileiras, é uma das que mais recebeu investimentos industriais nos últimos anos. E é foco de uma aglomeração urbana que vem sendo estudada por conta da proximidade com a cidade de Itatiaia e com o município de Penedo, ambos com forte vocação turística. Grandes construtoras têm se estabelecido em Resende e uma massa de trabalhadores se desloca todos os dias da cidade para o polo industrial. Sem falar na população flutuante de executivos e pessoas de altos cargos em empresas, que nos fins de semana migram para suas cidades de origem.
Segundo o Censo de 2010, Resende tem 119.769 habitantes. Parte desse número deve-se aos profissionais que se mudam para a cidade em razão do trabalho, principalmente no polo industrial do município, que conta atualmente com sete empresas, além de mais uma fase de instalação. De acordo com a prefeitura, este setor é o responsável pelo maior número de empregos gerados e da arrecadação do município.
Se, por um lado, o crescimento da cidade traz investimentos e oportunidades de trabalho, algumas consequências podem não ser tão vantajosas. A auxiliar administrativa Aline Coutinho reside há seis anos na cidade. A saída da capital aconteceu em razão do marido, que trabalha numa das indústrias automobilísticas da região. Recentemente, a família procurou um novo apartamento, mas desistiu devido aos altos preços. A opção foi comprar um terreno e construir uma casa.
— O preço dos imóveis está absurdamente alto. Há três anos, o aluguel de um apartamento de dois quartos custava cerca de R$ 600, hoje esse preço dobrou — compara.
A especulação imobiliária é a justificativa dada pelo delegado de Resende do Conselho Regional de Corretores de Imóveis, Marcelo Duarte. Ele atribui à chegada das grandes empresas e à falta de investimentos em construções a alta nos preços.
— Há cerca de dois anos, o metro quadrado em regiões de classe média variava entre R$ 8 mil e R$ 12 mil. Hoje, não custa menos de R$ 40 mil — exemplifica. — A procura é grande, principalmente com as facilidades das linhas de crédito. Mas há pouca oferta. Nos últimos quatro anos, a cidade recebeu apenas dois grandes empreendimentos.
Outra reclamação constante dos moradores é o trânsito, que, no horário do rush, tira o humor dos resendenses. E isso não é à toa. Segundo dados do Detran, a frota de veículos na cidade cresceu 54% nos últimos cinco anos, passando de 34.309 para 52.780. Por este motivo, foram realizadas mudanças no tráfego da cidade, como a inversão do fluxo em ruas do Centro, a implantação de mão única nas duas pontes que cortam o município e das pistas de acesso.
Apesar disso, a vendedora Suelen Jacques tem uma lista de críticas, que começa pelo alto preço das passagens de ônibus:
— Estudo à noite e saio do trabalho direto para o colégio. Prefiro ir andando até lá. Levo 15 minutos para chegar. De ônibus, a viagem não dura menos de meia hora.
Não é apenas o engarrafamento que desagrada os moradores. A espera no ponto também é motivo de queixas. O prefeito José Rechuan esclarece que está previsto no acordo de concessão que a empresa administre novas linhas:
— A concorrência é saudável para o sistema e contribui para a melhoria na qualidade dos serviços prestados.
Tandil, uma cidade em transição
Há 11 anos, a cidade argentina de Tandil, localizada a 350 quilômetros de Buenos Aires, tinha 109 mil habitantes. Já era, na época, uma das promessas da província de Buenos Aires, a mais importante do país. Famosa por suas serras, a cidade hoje, segundo dados do Censo Nacional de 2011, tem 124 mil pessoas. Diariamente, novas famílias continuam chegando. Todas essas pessoas vêm atraídas pelos indicadores econômicos de Tandil, que são bastante convidativos.
Nos últimos oito anos, 20 novas empresas desembarcaram no Parque Industrial, que passou a contar com 140 companhias, em sua maioria produtoras de autopeças. O Polo Informático tem 45 empresas desoftware que empregam 1.200 pessoas. O crescimento do turismo foi explosivo e hoje a cidade tem 200 estabelecimentos não hoteleiros — basicamente pousadas e bangalôs — e um hotel cinco estrelas, o Amaiké, com campo de golfe privado. Nos feriados, a prefeitura de Tandil calcula que a cidade embolsa em torno de 2,8 milhões de pesos (US$ 600 mil). No centro, existem 13 sucursais de grandes bancos nacionais e estrangeiros, cinema, grandes supermercados, cinco hospitais e boas escolas públicas e privadas. Para muitos, uma verdadeira terra de oportunidades.
Tandil não para de crescer e, segundo Diana Lan, do Centro de Investigações Geográficas da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade do Centro da Província de Buenos Aires (Unicen), é um processo desorganizado. A expansão trouxe no seu rastro problemas como especulação imobiliária, limitações no sistema público de saúde e deterioração do patrimônio natural:
— Nosso território vem sendo modificado, sem que isso represente algo positivo para Tandil, pelo contrário.
Em seu trabalho, Lan menciona a presença de grandes empresas, como a rede de supermercados Carrefour, e de outros empreendimentos ligados ao turismo como uma de suas principais atividades econômicas:
— O Carrefour comprou supermercados locais, modificou costumes dos tandilenses, e o lucro obtido pela empresa não fica em nosso território.
Segundo ela, o desembarque de grandes empresas permitiu a criação de novos empregos, mas “não favoreceu o desenvolvimento territorial”:
— Nossa empresa emblemática, Metalmecánica Tandil, foi comprada por um consórcio, e hoje o controle acionário dela está nas mãos da francesa Renault.
De acordo com a pesquisadora, a companhia aplicou uma política de flexibilização trabalhista e reduziu o número de postos numa “empresa histórica da cidade”:
— Hoje estamos lutando para que esta empresa, que enfrenta sérias dificuldades, não quebre e saia demitindo.
O crescimento de Tandil superou a média da Argentina: US$ 11 mil por ano de Produto Interno Bruto (PIB) per capita contra US$ 8 mil.
Cálculos do secretário de Desenvolvimento Econômico local, Pedro Espondaburu, apontam que, em dez anos, a cidade passou a ter quase 15 mil novos habitantes. Só que esse crescimento populacional acabou provocando um déficit habitacional que, atualmente, afeta em torno de três mil pessoas — no país, a estimativa é de que 3,5 milhões de argentinos não tenham moradia.
O mercado imobiliário também sofreu expressivas modificações desde que Tandil deixou de ser uma pequena cidade e entrou na categoria que Lan define como “cidades em processo de transição”.
Os limites territoriais se ampliaram. Na região sul, apareceram novas, modernas e sofisticadas construções como o condomínio Sierras de Tandil, onde vivem representantes da classe média alta e alta da cidade. ONGs de defesa do meio ambiente denunciaram a “depredação das serras” para erguer bairros privados de luxo, que ferem a paisagem tandilense. No norte da cidade, os bairros mais humildes também receberam novos moradores, que vivem em condições muito precárias. Embora a pobreza não seja evidente em Tandil — é raríssimo ver uma pessoa pedindo dinheiro ou dormindo na rua — ela existe, como em todas as grandes cidades do país.
— Não temos um programa consistente para resolver o problema do déficit habitacional — critica Diana.

Disputas políticas

O governo municipal reconhece as falências, mas transfere a responsabilidade para a Casa Rosada, que administra 70% dos recursos do orçamento nacional. Os municípios, explicou o secretário de Planejamento e Obras Públicas, Mario Civalleri, “controlam apenas 6%”.
Tandil é governada pela União Cívica Radical (UCR), partido que integra a oposição ao governo da presidente Cristina Kirchner. As disputas partidárias, comentaram funcionários tandilenses, complicam ainda mais a situação da cidade na hora de pedir ajuda ao governo federal.
— Nossos e-mails sequer são respondidos — disse um funcionário local.
O atual prefeito, Miguel Lunghi, foi reeleito em outubro do ano passado, com 50% dos votos. Em seu terceiro mandato consecutivo (na Argentina não existe limitação de disputa de eleições para governos municipais), Lunghi, um médico pediatra, lançou um plano habitacional que teve de ser abandonado no meio do caminho, segundo Civalleri, porque o governo federal deixou de enviar os recursos necessários.
— Existe uma gravíssima ausência do Estado nacional na área habitacional — argumentou o secretário Mario Civalleri.
O governo de Lunghi lançou um novo projeto graças a um crédito do Banco Província de Buenos Aires, que permitirá a construção de 60 novas casas na cidade. Um passo importante, porém insuficiente para atender uma das principais demandas dos setores de baixos recursos.
Tandil oferece uma boa qualidade de serviços públicos nas áreas de educação e saúde. A cidade tem cinco casas de saúde, entre elas um moderno hospital infantil, construído graças à doação de um morador. Porém, o crescimento da população também trouxe algumas complicações, segundo apontou o médico Pablo Diaz Cisneros, chefe da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital Santamarina, o mais importante de Tandil.
— Temos um bom sistema de saúde, mas hoje temos uma capacidade de atendimento que não cobre a demanda local — avalia Cisneros. — O principal hospital da cidade precisaria ter 250 camas para dar conta da demanda e tem apenas 120.
Não bastasse isso, a cidade tem uma grande população longeva, além de um alto índice de doenças respiratórias, que se agravam nos meses de inverno, quando as temperaturas despencam variando entre zero a dez graus. Nesse período do ano, as consultas se multiplicam, e o déficit de leito nos hospitais fica ainda mais evidente.

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