segunda-feira, 9 de julho de 2012

Transformação sustentável



fotoArlindo e Delaide, com oito filhos e 16 netos, terão milho de melhor padrão para comercializar
fotoQualidade é o diferencial dos grãos conservados nas propriedades
fotoConstruíndo um silo de pneus
fotoCisterna de pneus
fotoEmater quer expandir uso da estufa iniciando pelas crianças
Produtores rurais gaúchos estão contrariando estatísticas e encontrando alternativas úteis, criativas e ecológicas para o lixo seco produzido no campo. Com uma "mão amiga" de especialistas, o pneu velho de trator deixa de acumular água nos fundos da propriedade para ser transformado em parte de um silo armazenador de grãos. E a garrafa PET de refrigerante, que levaria séculos para degradar-se no meio ambiente, vira matéria-prima para estufa. Dados divulgados recentemente pelo IBGE revelam que, na verdade, os destinos mais comuns são outros. Conforme o levantamento, os resíduos são, preferencialmente, queimados, jogados em terrenos baldios ou enterrados. Devido à dificuldade e ao alto custo, a coleta é feita em apenas 26,9% dos 8.097.418 domicílios rurais brasileiros.
No interior de Teutônia, no Vale do Taquari, o agricultor familiar Arlindo de Oliveira e Silva, 58 anos, e sua esposa, Delaide, 56, apostaram em uma alternativa criada pela Emater para driblar o alto custo da armazenagem e a carência de silos no Estado. A produção de milho 2011/2012 da propriedade de 6 hectares ainda não foi semeada, mas a família Silva já tem onde guardar parte da produção. Com R$ 240,00, assistência técnica e o auxílio de filhos e vizinhos, eles construíram um silo de pneus traseiros de trator com capacidade para 40 sacas (2.400 kg). "Antes, guardava o cereal em espiga no galpão, mas, no fim, por causa dos ratos, metade virava farinha."
Quase tudo o que é produzido no sítio é destinado ao consumo da família, que possui oito filhos e 16 netos. Além disso, parte da produção de feijão, do milho, da cebola e do aipim é vendida na cidade. Agora, com a possibilidade de armazenar os grãos com qualidade, ele pretende incrementar a renda familiar. Economia, durabilidade e ganho ambiental são as vantagens citadas pela idealizadora do projeto, que é inédito no país, a técnica em pecuária e chefe do escritório municipal da Emater em Teutônia, Claudia Paraiba. "Estes pneus que estão aqui não vão trancar um arroio ou juntar mosquito", comenta o produtor, que, em breve, também terá uma cisterna feita com a mesma matéria-prima para reter água da chuva.
Inspirada em um trabalho da Esalq, que utilizava pneus velhos na confecção de caixas d''água, Claudia começou a desenvolver o silo no início do ano, com auxílio do agrônomo da Emater de Lajeado e especialista em armazenagem, Ricardo Martins. Agora, após a primeira implantação na propriedade dos Silva, a meta é vencer as barreiras do preconceito e disseminar a prática pelo Rio Grande do Sul. Já existem grupos de produtores de Sinimbu e Nova Pádua interessados. Para fazer com que a iniciativa deslanche, ela conta com o apoio da prefeitura municipal e empresas do segmento, que doam os pneus. "Há demanda por tecnologias alternativas de construção sustentáveis e de baixo custo, que não agridam o meio ambiente", avalia Claudia.
Com 25 anos de experiência em armazenagem, Martins garante que a qualidade é o diferencial do produto guardado na fazenda. Ele exemplifica citando o caso de um suinocultor assistido pela Emater, que economiza, no mínimo, R$ 80 mil por ano desde que construiu um silo de alvenaria na propriedade. Antes da estrutura, eram necessários 2,73 quilos de ração para produzir um quilo de carne. Agora, devido à qualidade do grão utilizado, a conversão alimentar é de 2,3 quilos de ração para um quilo. "Com isso, ele economiza 4 mil sacas por ano." Além de ser mais resistente, o silo construído a partir de pneus é mais barato que as estruturas como as de alvenaria, que custam R$ 480,00. "O produtor consegue imprimir qualidade nos grãos de uma forma simples e econômica." O Brasil produz cerca 35 milhões de pneus por ano, destinando quase um terço disso para a exportação, conforme o Instituto Ambientalista Reviverde. Apenas 20% dos pneus são reciclados no país.
Faltam armazéns- O Estado tem capacidade estática para 26,2 milhões de t, um déficit de 9%, se consideradas as 28,8 milhões de t colhidas na safra 2010/2011. Fonte: Conab/RS
Com quantos pneus se faz um silo- Capacidade: 40 sacas (2.400 kg)
- Custo: R$ 240,00*
- Material utilizado: dois sacos de cimento, meio metro de areia e 350 tijolos para a base; quatro pneus traseiros de trator para a estrutura e 30 parafusos para fixar os pneus.
* A estrutura também pode ter a função de secar os grãos. Para isso, deve ser acrescido R$ 1.200,00 ao custo para aquisição de um ventilador de 0,5 HP, que será acoplado à base.
Faça você mesmo - Cisterna de pneus"É correto utilizar água potável para lavagem de salas de ordenha e pocilgas?" Foi esta pergunta que levou a extensionista da Emater Claudia Paraiba, de Teutônia, a desenvolver o projeto, que é a adaptação de um trabalho da Esalq (caixa d''água de pneus). A função é armazenar a água da chuva, que pode ser utilizada para regar plantas, lavar a sala de ordenha ou matar a sede dos amimais. Na cor original (preto), é mais indicada para limpeza, já que a água sairá aquecida. Se a ideia for regar plantas ou fornecer água para a criação, o ideal é que seja pintada de branco.
Capacidade: 1.500 litros
Custo: R$ 200,00
Material utilizado:
- Seis pneus de caminhão, do tipo radial;
- Um rolo de filme Stretch;
- Um tapete de borracha com um centímetro de espessura;
- Quatro tubos de vedador de calha;
- Oito caixas (350 gramas) de massa para calafetar;
- Uma boia de caixa-d''água - 3/4 polegada;
- Uma tampa do tamanho do pneu (pode ser de plástico, lona de silo, borracha ou madeira);
- Quatro mourões de madeira de 1,80 metro de altura;
- Dois metros de arame;
- Quatro metros de mangueira;
- 3 metros de plástico.
*Mais informações: Emater de Teutônia, pelo telefone (51) 3762.1313 ou pelo e-mail emteoton@emater.tche.br. Fonte: Emater/RS


Blindagem da produção com PETs
Em Putinga, no Vale do Taquari, são os filhos que estão ensinando aos pais a importância do reaproveitamento de materiais. No trabalho educativo na Escola Estadual de Ensino Fundamental Demétrio Berté, em parceria com a Emater, garrafas PET são utilizadas na construção de uma estufa. Ainda em fase de conclusão, a estrutura será abrigo de hortaliças que farão parte do cardápio da merenda dos 75 estudantes, filhos de agricultores da comunidade de Xarqueada, no interior do município. "Os pais têm participado dos mutirões. Eles acham o projeto fantástico, mas querem vê-lo funcionando para implantar em suas casas", conta o técnico agropecuário Edson Ritter. O segredo, segundo ele, é conscientizar as crianças. "Elas acabam incentivando os pais", explica.
A ideia é que a estufa funcione como uma unidade demonstrativa que auxilie na divulgação do projeto. De acordo com Ritter, a estrutura evita a queimação das folhas no verão, pois o material plástico protege da ação dos raios ultravioleta. No inverno, o benefício é a proteção contra a ação de vento e da geada, mesmo com grau de dificuldade um pouco maior. "A temperatura fica 10° C, mas o ideal seria 15°C, o que não impede o cultivo."
Construção do bem- Capacidade: 200 pés de alface por mês;
- Custo: R$ 300,00;
- Material utilizado: 2.700 garrafas PET, plástico para a cobertura (6 m x 4,5 m), rolo de 100 metros de arame 16 mm, 1 quilo de pregos e troncos para a base e a estrutura.

Fonte: Correio do Povo
Fotos: Tarsila Pereira (1, 3, 4), Inor José Assmann (2) e Edson Ritter (5)

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