sábado, 21 de julho de 2012

Após vender casa para comprar crack, ex-usuária reconstrói vida como catadora de lixo no Rio


Por causa do vício, Maricélia perdeu patrimônio construído em 25 anos
Bruno Rousso, do R7, no Rio
coop2Bruno Rousso/R7
Maricélia tenta reconstruir a vida em meio ao lixo

Maricélia Silva Dantas, a Lindinha, deixou João Pessoa, na Paraíba, em 1982, com o sonho de construir uma nova realidade no Rio de Janeiro. Sem estudo, trabalhou em diferentes lugares e fez de tudo um pouco. Ao longo de 25 anos, conquistou seu maior bem, uma casa na rua do Fubá, na Penha, zona norte. Mas o vício do crack a fez perder tudo em pouco tempo. No fundo do poço, buscou na cooperativa de catadores de lixo Beija-Flor forças para se reerguer e largar as drogas.
O drama de Maricélia começou aos 43 anos, em 2010, quando vendeu por apenas R$ 1.000 seu único bem para comprar bebida alcoólica e pedras de crack. Segundo ela, o imóvel valia ao menos R$ 10 mil, o que já seria motivo suficiente para arrependimento. Mas a pior notícia estava por vir. Pouco depois, a prefeitura demoliu todas as casas — erguidas em área que pertencia ao município — e deu apartamentos novos em Santa Cruz, na zona oeste, a todos os proprietários.
— Quando soube disso, me droguei tanto que tive a minha primeira overdose. Vendi tudo que tinha na alucinação do crack e estava vendo todo mundo ali ganhando uma casa novinha. Foi horrível.
A situação de Lindinha se agravou. Ainda em 2010, foi internada em uma clínica pública de reabilitação. Lá, lhe cortaram todos os vícios, inclusive o cigarro. Ela não aguentou e, dias depois, voltou para a rua. Sem rumo, buscou auxílio nas amigas da cooperativa Beija-Flor. Teve recaídas, mas os catadores e a presidente, dona Iraci, incentivaram como puderam. Cada um do seu jeito.
— A Iraci parou de me dar dinheiro, disse que não ia me dar dinheiro para eu me drogar. As amigas e os amigos pediam por favor para eu ficar, não me render. Então, encontrei aqui a esperança. Me mantendo ocupada foi mais fácil. E o apoio e carinho de todos foi fundamental.
O vício de Maricélia durou dois anos — entre 2008 e 2010. Hoje, ela diz não correr mais riscos de voltar a usar drogas, mas ainda sofre com crises de abstinência. E quem “paga o pato” são os companheiros de trabalho.
— Eu tomava remédio, mas acabou e não tenho mais como comprar, pois é caro e precisa de receita. Queria um psicólogo, mas não consigo atendimento. Às vezes, tenho crises fortes e fico maltratando todo mundo aqui. Ainda bem que eles entendem e têm consideração comigo.

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