quinta-feira, 21 de junho de 2012

Pequeno paraíso ecológico resgatado do lixo no morro do Vidigal




Uma escada estreita feita com velhos pneus de carros cheios de cascalhos leva ao "Sitiê", um antigo depósito de lixo da comunidade do Vidigal transformado por alguns moradores em um "Parque ecológico" com vista para o mar e para os ricos bairros do Rio de Janeiro.
Pouco conhecida pelos cariocas, a iniciativa desses voluntários entrou no programa da cúpula da ONU sobre o desenvolvimento sustentável Rio+20. No dia 18 de junho delegações estrangeiras vão poder visitar este "oásis verde", como é chamado por seus criadores, surgido do lixo.
"Espero que a Rio +20 nos traga parcerias para continuarmos este trabalho iniciado há seis anos. A favela colocou tanta esperança na Rio+20 (...) Espero que as delegações se unam a nós", disse um dos voluntários, Manoel de Jesus Silvestre.
Este pedreiro de 58 anos reciclou 120.000 garrafas de plástico, retiradas por ele e por seus amigos de toneladas de lixo, e que ele usa para decorar os bancos do parque ou para fazer baús e poltronas vendidas para pessoas do Vidigal. "Trinta anos atrás, pessoas invadiram esta parte da Mata Atlântica e construíram três casas. Como aqui era um local isolado, as pessoas vinham para se livrar de suas geladeiras velhas, fogões, pneus e até mesmo cachorros mortos.. Havia muito lixo e mau cheiro", contou o músico e artesão Mauro Quintanilha, 52 anos, fundador do Sitiê.
A Prefeitura acabou expulsando e indenizando estes moradores. Quintanilha, que vivia no limite desta área protegida, decidiu com um grupo de amigos desmantelar a montanha de lixo que se estendia morro abaixo até a Avenida Niemeyer, ao longo do mar.
Como em outras comunidades do Rio, os serviços públicos não chegavam ao Vidigal, e, portanto, não havia coleta de lixo. Com a expulsão no ano passado de traficantes de drogas e com a pacificação, a situação começou a mudar.
"Uma experiência modelo para as outras favelas"
"Com a ajuda de amigos, começamos a limpeza até criarmos um jardim com flores e uma horta", comenta. Ele espera que a experiência seja repetida em outras favelas e que sirva de exemplo para as próximas gerações. Um pequeno pedaço do parque foi construído para as crianças aprenderem jardinagem, mas o trabalho com a natureza ainda não enche tanto os olhos das crianças. Um exemplo é João Vitor, de seis anos, que deseja ser jogador de futebol e não um jardineiro.

O trabalho difícil de limpeza com a ajuda de vinte voluntários durou um ano e muita coisa já foi recuperada ou reciclada. Neste parque, onde micos pulam de galho em galho nas árvores, caixas de leite são transformadas em vasos de mudas, assim como uma bota velha. A partir de rodas de bicicletas, Quintanilha faz quadros em um ateliê de reciclagem montado nas ruínas de uma casa expropriada.
"Foi difícil convencer os moradores de que aqui já não era mais um lixão. Tivemos que conversar muito e agora eles nos ajudam", acrescenta Quintanilha.
No Brasil, menos de 26% da população recicla seu lixo, de acordo com uma pesquisa do instituto Ibope, mesmo que 86% das pessoas acreditem que isto "é dever de todos".
"Fazemos artesanato com tudo que encontramos. Qualquer coisa vinda do lixo que possa ser transformado em objetos decorativos. Este é o nosso ideal, pegar nas latas de lixo e reciclar, porque existe riqueza em nosso lixo", afirma Vitor Alves de Souza, 38 anos, artista e outro voluntário do Sitiê.

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