quarta-feira, 6 de junho de 2012

‘E-lixo’ ganhará exército de catadores no Rio


Com a ajuda da Coppe/UFRJ, cooperativas criam rede para recolher, separar e reciclar resíduos eletroeletrônicos

Publicado:22/05/12 - 23h06
Atualizado:22/05/12 - 23h06
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Mulheres desmontam eletroeletrônicos: peças serão recicladasCUSTÓDIO COIMBRA / O GLOBO
RIO - Se muitas empresas de tecnologia não sabem o que fazer com o lixo eletrônico, imagine o consumidor com seu computador velho, sem uso, em casa. Preocupados com o destino final dos eletroeletrônicos, que no Rio costuma ser o lixão, cooperativas de catadores da Região Metropolitana, em parceria com a Coppe/UFRJ, resolveram se unir em busca de uma solução. E essa rede começa a dar resultado: 620 quilos de placas de CPU, que iriam parar nos aterros misturados com resíduos orgânicos, serão vendidos a preço de ouro e transformados em novos equipamentos na China.
O material é parte de 12 toneladas de computadores recolhidos em um mês e meio do projeto, iniciado com duas cooperativas — a Coop Céu Azul, da Ilha do Governador, e a Cooperativa Popular Amigos do Meio Ambiente (Coopama), do Jacaré. A ideia da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), da Coppe, é criar uma rede com mais de 20 grupos de catadores que hoje trabalham apenas com outros materiais recicláveis, não tão valiosos, como PETs, latinhas, papel, papelão e vidro. Em Maria da Graça, num galpão com 1.400 metros quadrados, de uma antiga fábrica de transformadores, funciona, em fase experimental, o primeiro ponto de coleta, separação e desmonte de e-lixo, como é chamado o resíduo eletrônico.
Durante a Rio+20, a Coppe vai lançar oficialmente o projeto e instalar um ponto de coleta no Parque dos Atletas, em Jacarepaguá, que abrigará exposições dos países que participarão da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, de 13 a 22 de junho. A instituição montará um estande no local. Apenas a UFRJ tem para doar oito toneladas de eletroeletrônicos.
— Antes, isso aqui era ferro-velho — diz o pesquisador da Coppe Gonçalo Guimarães, coordenador do ITCP, em frente à cesta lotada de placas de CPU. — Elas têm ouro, prata, cobre. Uma empresa vai exportá-las e, lá fora, os elementos serão separados e servirão a novos equipamentos.
Quilo de placas de computador pode custar R$ 12
Enquanto um quilo de material velho custa em média R$ 0,30 no mercado de recicláveis, a mesma quantidade de placas de computador vale de R$ 8 a R$ 12. Para serem vendidas a esse preço, elas precisam ser separadas das CPUs, trabalho que começa a ser feito pela Coopama e pela Coop Céu Azul. Uma empresa de Mato Grosso vai comprar e cortar as placas, que serão exportadas para a China. Por meio de um sistema sofisticado de separação, indústrias chinesas vão reaproveitar cada um dos elementos.
O restante das peças dos computadores também é desmontado e reciclado. Os plásticos ABS, de computadores, por exemplo, são transformados em baldes. E os vidros dos monitores viram tinta fluorescente. A mesma filosofia vale para outros eletroeletrônicos, como TVs, celulares e geladeiras.
O ITCP vem capacitando os cooperados na área de gestão, logística e formação do grupo para a ação, que, além de benefícios para o meio ambiente, gera inclusão social. Na ponta desse processo de transformação do e-lixo, está Sandra Maria Mello, de 59 anos: ao lado de outros três profissionais, ela trabalha hoje desmontando eletrônicos no galpão de Maria da Graça. Antes, separava todo tipo de resíduos.
— Eu recebia por produção, por isso tinha que disputar saco de lixo. E o valor do papelão, ou do jornal, é de centavos — lembra Sandra, moradora do Complexo do Alemão, que não vê no seu emprego atual apenas uma forma de melhorar a renda. — Temos que pensar no futuro, nos filhos dos meus seis netos.
Presidente da Coop Céu Azul, Luiz Cláudio Lima diz que um catador que não atua com e-lixo recebe por mês, R$ 600. No projeto da rede, a média hoje é de R$ 840. Mas a meta é subir esse valor para R$ 2 mil mensais.
O diretor da Coopama, Luiz Carlos Fernandes, que é da Federação de Cooperativas do Estado do Rio, afirma que o projeto deverá reunir 500 catadores. Interessados em colaborar podem enviar e-mail para luicoop@gmail.com ou ligar para 7848-4769 (Copama) e 7896-0040 (Coop Céu Azul).

*Fonte: Jornal O Globo



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