terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Parlamentares de subcomissões da Rio+20 dizem temer ‘fracasso’


Parlamentares de subcomissões do Congresso criadas para acompanhar a organização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, dizem temer o fracasso do encontro devido, segundo eles, à possibilidade de ausência dos principais líderes mundiais. A conferência está prevista para o período entre 20 e 22 de junho, no Rio de Janeiro.
Para esses senadores e deputados, o foco da agenda internacional estará voltado para a crise econômica e para as eleições em países como Estados Unidos e França, o que dificultaria a presença de líderes mundiais em um evento internacional voltado para o desenvolvimento sustentável.
“Creio que o encontro caminha para ser um grande fracasso. Não está havendo interesse dos grandes países em enviar os grandes líderes mundiais. Estou em contato com muitas pessoas no exterior e percebo que a reunião não está sendo levada a sério”, disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que preside duas subcomissões no Senado sobre a conferência.
Para o senador, “o governo está trabalhando bem nas instalações [da Rio+20], mas não vejo envolvimento e esforço do governo brasileiro para trazer os líderes estrangeiros – me parece que o governo não se atentou para esta situação”.
O deputado Sarney Filho (PV-MA), que preside na Câmara uma subcomissão destinada a acompanhar os trabalhos da Rio+20, disse que “tem procedência essa preocupação” do senador Cristovam Buarque. “Enfraquece muito se os líderes não vierem”, afirmou.
Para o deputado, 2012 é um ano “difícil”, com uma conjuntura internacional complicada por causa da crise europeia e das eleições nos Estados Unidos. Segundo ele, esses fatores podem tirar o foco da Rio+20.
“Falta visão do governo brasileiro de mostrar que este é o grande encontro para discutir uma nova forma de desenvolvimento para o mundo”, disse Sarney Filho.
Para evitar o esvaziamento da conferência, o deputado disse esperar que a presidente Dilma Rousseff faça um “corpo-a-corpo” para trazer os líderes internacionais.
De acordo com o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), relator da Subcomissão Especial Rio+20 na Câmara, “a grande dúvida é se haverá a presença dos grandes líderes mundiais e isso depende de um trabalho pessoal da presidente Dilma”.
Segundo ele, “a crise econômica mundial acaba tendo um peso” em relação à presença de líderes internacionais no Brasil durante a conferência.
Expectativa – Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, a preocupação dos parlamentares é prematura. A assessoria afirma que a presidente Dilma tem feito convites a líderes estrangeiros, reiterado a importância do evento durante as viagens ao exterior e que por isso não faz sentido afirmar que o governo não está empenhado em trazer líderes estrangeiros para a cúpula.
De acordo com a assessoria, a expectativa do governo brasileiro é alta e espera-se um grande número de chefes de Estado na Rio+20, embora no momento ainda não seja possível determinar esse número. A assessoria afirma que é do maior interesse da presidente que os líderes estrangeiros compareçam.
O Ministério de Relações Exteriores conta com a presença de 100 a 120 chefes de Estado para a Rio+20.
“Não sabemos se virão, mas estamos nos preparando para recebê-los”, disse o secretário José Solla, do Itamaraty, que trabalha na logística da reunião sobre desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Ele deu a declaração durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 17), em Durban, na África do Sul, em dezembro de 2011.
Comparação – O deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), que preside a Subcomissão Especial Rio+20, disse que o encontro não terá a mesma relevância da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco 92, também realizada no Rio há 20 anos.
“De fato existe o recall da Eco 92, que foi um evento espetacular. Estiveram presentes o [presidente dos Estados Unidos] George Bush, o Mikhail Gorbatchev, o [então presidente de Cuba] Fidel Castro. Os olhos do mundo estavam voltados para o Rio. Foi um evento global. Hoje, a situação é diferente. É um desafio fazer com que a Rio+20 faça jus ao legado da Eco 92”, afirmou Sirkis.
Sirkis destacou a provável ausência do presidente dos Estados Unidos na Rio+20. “O Barack Obama não vem. É ano eleitoral nos Estados Unidos e qualquer coisa que ele faça por aqui será utilizada pelos republicanos. E os líderes na Europa estão voltados para a crise”, disse Sirkis.
“Há a possibilidade de ser um evento significativo, mas vai depender da capacidade do governo”, afirmou. Para Sirkis, os avanços obtidos na conferência devem ser limitados. “Não vai ter nada de muito espetacular, pode ser um sucesso como fator de mobilização”, afirmou.
Sirkis disse que está em estudo a criação de eventos paralelos à conferência, com a presença de personalidades internacionais para dar uma “turbinada” na Rio+20. Entre as opções, está a proposta de um evento com a presença de Gilberto Gil, Sting e Bono Vox, entre outros artistas.
Código Florestal – Os parlamentares que acompanham a organização da Rio+20 também consideram a aprovação do Código Florestal um sinal negativo para o mundo meses antes da realização da conferência.
“O que o Senado aprovou, com pequenas modificações, foi um retrocesso. Se a presidente Dilma não vetar determinados artigos, vai comprometer a posição de liderança do Brasil [na Rio+20]“, disse Sarney Filho.
A votação do Código Florestal na Câmara está marcada para 6 e 7 de março. O relatório do ex-deputado e atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), foi aprovado na Casa e sofreu alterações no Senado. Por isso, a proposta voltará a ser apreciada pelos deputados, que já anunciaram a intenção de fazer “pequenas alterações” no texto.
O deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), relator de uma das subcomissões de acompanhamento da Rio+20, afirmou que a aprovação do Código Florestal compromete a posição brasileira na conferência. “[O Brasil] vai para uma conferência onde os países vão cobrar isso”, disse. “Isso é uma cobrança certa”, completou.
Em relação ao eventual êxito da conferência, Tripoli disse que o veto da presidente a alguns pontos do Código Florestal “ajudaria bastante” a melhorar a posição brasileira no encontro.
Segundo Cristovam Buarque, a “aprovação do Código Florestal é um sinal negativo para o mundo. Ficamos muito atrás do que era necessário ao tentar conciliar interesses. O texto é um Frankenstein que buscou atender a todos e não atende a ninguém”.
Para Eduardo Azeredo, o Código Florestal não prejudica a imagem do Brasil. “Não chega a esse ponto. Não é uma polêmica que vai atrapalhar a participação do Brasil”, afirmou. 
(Fonte: Sandro Lima/ G1)

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