quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Tecnologia promove lixo a energia em Belo Horizonte

Transformação é feita em usina no antigo aterro da capital, onde há 20 milhões de toneladas de detritos

Thiago Lemos - Repórter - 18/12/2010 - 10:56
EUGÊNIO MORAES
Gás emitido pelo aterro é transportado até a usina por meio de tubos inseridos no subsolo

Depois de passar pelo controle da queima do metano – gás produzido durante a decomposição do lixo – e de deixar de ser a segunda maior fonte de poluição atmosférica de Belo Horizonte, 20 milhões de toneladas de detritos acumuladas nos 30 anos de operação do antigo aterro sanitário da capital estão fornecendo energia. Desde dezembro, a usina termelétrica instalada no aterro, desativado em 2007, produz 4,2 megawatts por hora (MW/h) de energia limpa, suficiente para abastecer uma cidade de 30 mil habitantes. A produção será destinada a pequenas indústrias e ao comércio a partir de janeiro.
Antes da instalação da Estação de Aproveitamento de Biogás, há um ano, o gás metano era liberado para a atmosfera por meio de drenos e parte dele era destruído para a transformação de gás carbônico (CO2), 21 vezes menos causador do efeito estufa. Mas o processo, considerado ineficiente, permitia que cerca de 90% do gás poluente fosse direto para o ar.
Para o diretor de operações da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) de BH, Rogério Siqueira, a prática, usada na maioria dos aterros do país, é uma das mais danosas para a natureza no que se refere ao aumento da emissão de gases do efeito estufa. Conforme o diretor, o projeto de exploração do gás e sua transformação em energia são pioneiros em Minas, e foram terceirizados pela administração municipal a um grupo italiano.
“Além de colocar BH como uma das poucas cidades do país que contribui de forma eficiente para a redução de gases e a melhoria do meio ambiente, a iniciativa gera energia e lucro”, diz o diretor. Pela exploração, o consórcio pagou à prefeitura R$ 16 milhões, e 3% do dinheiro arrecadado com a venda da produção será repassado ao município.
Pelo acordo, o consórcio extrai o gás emitido pelo aterro – composto por 50% de metano, 49% de dióxido de carbono (CO2) e 1% de outros gases – por meio de tubos inseridos no subsolo e os leva até a usina. A produção alcança entre 4 e 5 mil metros cúbicos por hora de biogás. Deste total, 2.800 metros cúbicos vão para três geradores, onde viram energia. O excedente passa por um processo de queima que transforma o metano existente no gás em CO2, posteriormente descartado.
A energia obtida pela decomposição do lixo deve ser vendida pela Cemig já no início de 2011. Depois de gerada, ela é encaminhada por um ramal para a companhia, que posteriormente vai repassá-la aos consumidores.
De acordo com a estatal, essa energia deve ser 15% mais barata que a cobrada hoje. Por ser gerada pela queima de gás do aterro, sobre ela não incidem tarifas pelo uso da rede de distribuição das concessionárias.
De acordo com o engenheiro de produção civil Juderlei Souza Aguiar, o potencial médio de operação da usina é de 12 anos. No período, 4 milhões de toneladas de gás carbônico deixarão de ser lançadas na atmosfera.
Para o engenheiro ambiental Rafael Camargo Bassora, o grande beneficiado com este tipo de exploração é o meio ambiente. “O tratamento do metano deixa de enviar para a atmosfera um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa. Sem falar que estamos transformando um poluente, que era descartado, em energia”, diz. As ações geram um certificado de redução da poluição, chamado de crédito de carbono, que pode ser comercializado com países desenvolvidos que não têm como evitar as emissões.
Em até três anos, a expectativa é produzir energia pela queima direta do lixo e não mais a partir do gás produzido pela decomposição dele. Com isso, a capacidade dos aterros sanitários, que hoje é de 20 anos, em média, chegaria a um século, já que somente 20% dos rejeitos teriam que ser armazenados.









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