quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Empresa prepara ação nacional de limpeza de lixo em metrópoles

Roberto Saraiva

cidades@eband.com.br

Enquanto algumas pessoas não pensam duas vezes antes de jogar latinhas de refrigerante pelas janelas de carros e ônibus, frente a uma plateia atônita e desiludida, outras deixaram a preguiça e o ceticismo de lado para mudar a relação do mundo com o lixo.
A empresa Atitude Brasil, que trabalha com consultoria e comunicação social na área ambiental, montou uma parceria com a iniciativa Let`s Do It World para cumprir uma missão no mínimo ousada: limpar 14 metrópoles brasileiras em sete meses.
Batizada de Limpa Brasil, ela vai abranger cidades com mais de um milhão de habitantes: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Guarulhos, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A ideia é fazer um mutirão de um dia ou uma semana dependo do tamanho do local, dois municípios por mês.
Não bastasse a monstruosidade da tarefa, a mobilização será repetida a cada dois anos durante uma década, para “convencer a sociedade a refletir sobre o lixo e dar início a uma mudança de conscientização da população para o bem público”, como explica Marta Rocha, diretora executiva da Atitude Brasil. Com a geração de lixo crescendo 30% a cada década por conta do aumento do poder aquisitivo no país, o problema tende a se tornar insustentável, já que 13 doenças têm relação direta com o acúmulo inadequado dele.
Ideia mundial
A boa notícia vem da Estônia, onde o movimento nasceu. Por lá, em apenas um dia (3 de maio de 2008), dez toneladas de lixo foram recolhidas das ruas e florestas. Para concluir a tarefa, 50 mil voluntários colocaram a mão na massa, convocados pela maior campanha publicitária da história do país. Entre os 500 parceiros oficiais do Let`s Do It estavam imprensa, formadores de opinião, companhias, Ongs e governo. Até o atual presidente, Toomas Hendrik Ilves, se envolveu.
O poder público teria levado três anos e aplicado 22,5 milhões de euros para fazer um trabalho que a sociedade levou um dia, sem contar planejamento, e gastou 500 mil euros. Além do know-how e da certeza de que iniciativas do tipo são possíveis, a experiência também deixou como legado um software que mistura GPS, Google Maps e programas de código aberto para fazer um mapeamento das áreas a serem limpas.
O eco veio na sequência. Lituânia, Letônia, Portugal, Eslovênia, Romênia, Ucrânia e Índia tiveram suas versões do Let`s Do It basicamente nos mesmos moldes. O ambientalista ucraniano Rainer Nõlvak, um dos idealizadores do movimento, firmou oficialmente a parceria para a edição brasileira em maio de 2010.
Realidade local
Segundo Marta Rocha, o país representa o maior desafio, já que por aqui a ideia é limpar 14 metrópoles e não apenas a capital ou maior cidade. E os problemas já começam a sugir: “a parte mais cansativa é convencer o poder público. Se o prefeito não quiser o projeto eu não consigo fazer. Se a empresa responsável pelo lixo não compra, não dá pra fazer”.
Por conta da resistência local de setores políticos, apenas Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, São Paulo, Guarulhos e Campinas estão com os cronogramas em andamento. As outras sete cidades estão em fase de negociação e mapeamento, com os trabalhos pré-agendados.
O Rio de Janeiro será a primeira parada da Limpa Brasil. Lá os trabalhos ocorrerão em 27 de março de 2011. Porém, o estudo, planejamento, divulgação e as parcerias começaram cerca de um ano antes.
As cidades funcionam como pequenos países, já que têm realidades muito diferentes. “Em cada lugar temos uma limitação. No Rio de Janeiro tem áreas com menos de um ano de pacificação em que não poderemos entrar. São Paulo será dividido em cinco regiões. O dia em que estivermos limpando o norte, todo o resto vai ajudar o norte”, explica Marta.
O trabalho
O acúmulo de lixo será mapeado com o software adaptado da Estônia. Montanhas de lixo, por exemplo, serão removidas por empresas de transporte de entulho parceiras. “Muita parte irá para aterros, onde deveria estar”, afirma a diretora da Atitude Brasil.
Grupos de catadores de lixo cadastrados, estudantes, funcionários contratados pela Limpa Brasil e voluntários atuarão em postos de coleta para recolher o material trazido pela população convocada e separá-lo.
Parte disso será vendida para bancar os gastos da iniciativa. A empresa Votorantin, por exemplo, vai ficar com os pneus e usá-los para gerar energia e asfalto. O restante será reciclado.
“Nos chamava a atenção a quantidade de lixo que as empresas de reciclagem estavam comprando no exterior”, diz Marta, lembrando que, por falta de logística, apenas 2% dos rejeitos paulistanos são reaproveitados.
Os encerramentos serão marcados por shows de artistas e bandas como Milton Nascimento, Carlinhos Brown, Skank, Jota Quest, Lô Borges, Beto Guedes, Wagner Tisso, Lino Kriss, Fernanda Takai, Deia Trancoso, Renegados, MV Bill, GOG, Móveis Colonais de Acaju, Seu Jorge, Jair de Oliveira, Jair Rodrigues, Elza Soares, entre outros.
Segundo a diretora, os músicos doaram o cachê e tocarão em suas cidades, com poucos deslocamentos. A contrapartida das prefeituras será montar a estrutura de palco e logística. “A ideia é fazer um show limpo, vamos entregar uma pochete ou saquinho para as pessoas levarem o lixo”.
Marcas duradouras
Grande parte do efeito que o Limpa Brasil procura atingir não é a limpeza das cidades em si, mas uma mudança na maneira como as pessoas pensam o lixo no país. “A ideia é manter o assunto na mídia, em discussão. O dia é só um dia D, de comemoração”, diz Marta.
O trabalho de divulgação começou em janeiro de 2010, mas foi interrompido durante as eleições para que a mobilização não fosse confundida com iniciativas como a Ficha Limpa. O investimento maciço em redes sociais deve iniciar em janeiro de 2011.
Como a educação também desempenha um papel vital em uma sociedade mais cidadã, o Limpa Brasil também preparou conteúdos para serem abordados nas salas de aula das escolas municipais e estaduais.
Essa frente começará em maio. As crianças refletirão sobre padrões de consumo e aprenderão a colocar na prática soluções sustentáveis, como usar jornais velhos ao invés de sacolinhas de plástico no lixo do banheiro, por exemplo. Por conta da descentralização do sistema educacional brasileiro, inclusões como essa nos programas de ensino foram negociadas localmente.








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