segunda-feira, 7 de junho de 2010

PAPELADA QUE EMPERRA A COLETA SELETIVA

O caminho entre a lixeira da sua casa e a cooperativa de reciclagem é uma maratona desanimadora. Para proteger o meio ambiente, na cidade do Rio, é preciso ter muito fôlego para enfrentar a burocracia ambiental. Falhas no serviço e muita desinformação emperram a coleta seletiva, que reaproveita apenas 1% do que é recolhido pela Comlurb. O montante reciclado em um mês é muito menor do que o volume retirado das ruas em um dia.Somente 42 dos 160 bairros cariocas contam com o serviço em casa. Estendê-lo para a cidade toda custaria R$ 29 milhões, segundo a Comlurb. Mas mesmo nas regiões já atendidas há buracos: caso de Dona Emy Soares, cuja rua, na Tijuca, nunca viu a seletiva passar — apesar de o site da Comlurb garantir o contrário. “No Brasil é tudo pela metade”, diz.Nos bairros desamparados, a maioria nas zonas Norte e Oeste, resta ao cidadão correr atrás — mas esse percurso é árduo. Em todo o município, só existem cinco cooperativas cadastradas pela Comlurb. “Não há espaço físico para processar o material reciclado que chega dos caminhões. O que sobra vai para aterros clandestinos. O esforço da população vai para o lixo”, afirma Edson Freitas Gomes, presidente da Associação das Empresas Recicladoras do estado.Caminhões erradosEdson vê erros já na coleta da Comlurb. “Não podem usar caminhões compactadores. Ensinam a gente a separar os materiais, mas eles acabam esmagando e misturando tudo. Isso atrasa demais o trabalho na cooperativa. E há o risco de contaminar a carga. Basta rachar uma garrafa com restos de bebida”, cita. O ideal seriam carretas do tipo gaiola, onde o lixo é levado solto, em sacolas.A prática do dia a dia desanima a quem aprende desde cedo a cuidar do planeta. Os irmãos Larissa, 13, e Felipe Marques, 9, sabem direitinho o que fazer com parte do lixo e até o separam. Mas, na Vila da Penha, onde moram, a dedicação é em vão. “Seria bom que toda a cidade tivesse coleta seletiva”, lamenta Larissa.Educadora ambiental do Instituto Aqualung, Verônica Castro faz duras críticas ao governo: “O programa de gestão ambiental do Rio se perdeu no caminho. Não há continuidade nem campanhas maciças em escolas e comunidades”.Na Tijuca, rua de D. Emy tem coleta ‘virtual’Todo dia, a professora aposentada Emy Soares Dias, 70 anos, separa o lixo, em seu apartamento na Tijuca, para a reciclagem. No site da Comlurb, a rua onde ela mora, a João Alfredo, está incluída no roteiro do caminhão da coleta seletiva. Mas, segundo ela, o veículo nunca passou na sua rua. “É uma coleta só para enfeite. Já liguei várias vezes para a Comlurb, pedindo o serviço. Eles dizem que o caminhão passa, mas ele apenas recolhe o lixo em duas ruas depois da minha”, reclama.A saída, encontrada por Dona Emy, foi continuar separando o material e esperar pela chegada dos catadores. “Eles escolhem o que querem e levam, mas deixam um rastro de sujeira em frente ao prédio”, queixa-se.Nem assim ela desanima. Moradora do bairro há 13 anos, a aposentada se preocupa em lavar todo o descarte para chegar limpo às cooperativas. A gordura que fica na panela não vai para o ralo. “Misturo farinha para secar e depois limpo com jornal”, explica. Ela ainda separa jornais e papelão. “Eu faço a minha parte, mas no Brasil infelizmente as coisas não funcionam”, lamenta.


Fonte: site Web resol e Eduardo Pierre e Maria Luisa Barros (O Dia)

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